Foi com este lide que iniciei minha matéria em celebração aos 70 anos
da ANL, publicada na edição 17 da Revista Preá. Lembro da sugestão do
editor Tácito Costa: “É uma instituição que, apesar dos pesares, merece
destaque”.
E lá estava eu, mero estagiário de jornalismo, no escritório do
advogado e ainda hoje presidente da ANL, Diógenes da Cunha Lima.
Colhi
as informações e escrevi oito páginas de texto para uma das melhores
edições da revista, que contou ainda com colaborações de Marcos Antônio
Felipe e Anchella Monte; Jóis Alberto em resgates das memórias de
Eugênio Netto; Carlão de Souza escrevendo sobre música popular; Manoel
Onofre Jr, sobre Zila Mamede; entrevista com Affonso Romano de
Sant’Anna; a coluna de poemúsica de Carlos Gurgel sobre Neguedemundo; e
mais duas cidades mapeadas: Florânia e São José de Mipibu, também sob
meus rabiscos.
E cá estou, dez anos depois. Muito dos escritos da edição permanecem o
mesmo: a poesia de Marize Castro resenhada na revista, os espaços
urbanos da Cidade Alta… Mas a ANL mudou, se modernizou. Coisa de poucos
anos pra cá, fruto de novos membros com sede de novidade.
E aquele editor que sugerira matéria em homenagem à instituição será um dos agraciados com comenda pelos 31 anos de jornalismo.
Tácito Costa receberá, na próxima segunda-feira, a Medalha de Mérito
Acadêmico Agnelo Alves. A programação tem início às 8h30 com missa
celebrada pelos acadêmicos padre João Medeiros e cônego Zé Mário na sede
da ANL (Rua São José, Petrópolis).
Também no hall de homenagens estão instituições e sócios beneméritos,
a exemplo do pesquisador e escritor Thiago Gonzaga, que tem se dedicado
não só às atividades da casa, como a edição da revista da ANL e outros
projetos, mas à literatura potiguar propriamente dita.
Após a missa pela manhã, acontecerá só às 20h palestra sobre o
aniversário da academia, ministrada pelo acadêmico Paulo de Tarso
Correia de Melo. Em seguida será feita a entrega das comendas
comemorativas.
Serão homenageados com a Palma Acadêmica Câmara Cascudo, o
ex-presidente da ANL, Manoel Rodrigues de Melo (in memoriam), o
Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo, o Instituto Histórico e Geográfico
do RN, e o jornalista e escritor Tarcísio Gurgel.
Além de Tácito Costa, também foram escolhidos à Medalha Agnelo Alves,
os jornalistas Alan Severiano (hoje correspondente internacional da
Rede Globo), Yuno Silva (da Tribuna do Norte) e Marcos Aurélio de Sá
(ex-Jornal de Hoje).
E ainda serão nomeados sócios beneméritos, Thiago Gonzaga, Derivaldo dos Santos, Alfredo Ramos Neves, e Carlos Alexandre Câmara.
HISTÓRIA DA ANL
A fundação da ANL foi uma resposta de Cascudo aos apelos da Federação
das Academias de Letras. Assim como a Academia Brasileira de Letras,
criada em 1896, a ANL também se emoldurou com base na Academia Francesa,
a primeira do mundo, fundada em 1635.
Presente na data de fundação da ANL, Adauto Câmara, Edgar Barbosa,
Januário Cicco, Otto de Brito Guerra, Antônio Soares de Araújo, Nestor
Lima, Floriano Cavalcanti e Luís Gonzaga de Monte, entre outros.
O RN colecionava intelectuais de reconhecida capacidade. Mas faltaram
nomes para preencher as 40 cadeiras (número inspirado na ABL) e apenas
25 imortais protagonizaram as primeiras vagas da ANL. Em 1943, o número
era de 30 acadêmicos, alcançando, mais tarde “a tarefa realizada dos 40 e
seus sucessos no tempo”, como afirmou Cascudo.
Mesmo fundador da Academia, Cascudo recusou-se a aceitar a
presidência. Mais tarde também rejeitaria o convite para ser membro da
ABL; convite enviado por votação unânime dos chamados imortais.
Segundo Diógenes da Cunha Lima, Cascudo alegou ser apenas um
provinciano. Talvez daí venha a origem da frase “Sou um provinciano
incurável”.
Cascudo seria o quarto representante potiguar na história da ABL. Os
outros três são o médico e ficcionista, estudioso das artes e ciências,
Peregrino Júnior; o historiador Rodolfo Garcia; e o jornalista e
escritor Murilo Melo Filho.
Com a recusa de Cascudo, o bacharel em direito e escritor Henrique
Castriciano foi eleito o primeiro presidente da ANL, tendo como
secretários Adherbal de França e Edgar Barbosa.
Ativista pelos direitos da mulher, sobretudo no campo da educação
(criou a Escola Doméstica de Natal), Henrique Castriciano escolhe
patrona de sua cadeira a idealista, revolucionária e escritora Dionísia
Gonçalves Pinto, ou Nísia Floresta Brasileira Augusta, como é mais
conhecida.
A irmã de Castriciano, a poeta Auta de Souza, que morreu
prematuramente aos 24 anos, também foi homenageada pela ANL como patrona
da cadeira de número 20.
PATRONOS E AUSENTES
Além dos 40 patronos escolhidos quando da fundação da ANL pelos 40
primeiros ocupantes das cadeiras, houve mais de 80 sucessores ao longo
dos 80 anos de história da Academia.
Muitos ficaram de fora, seja por derrotas em suas candidaturas, seja
por rejeição ao convite ou por esquecimento da instituição. Casos de
Deífilo Gurgel, Zila Mamede, Moacy Cirne, François Silvestre, Marize
Castro…
Entre os imortais, estão padres, políticos, jornalistas,
historiadores, artistas plásticos, folcloristas, cronistas,
pesquisadores, médicos, juristas… Mas predominam mesmo os poetas.
E, tristemente, uma amarga maioria de homens. Entre os 40 patronos,
três mulheres: Nísia Floresta, Isabel Gondim e Auta de Souza. Entre os
40 primeiros ocupantes, apenas Carolina e Palmyra Wanderley.
E o quadro parece não se alterar. Entre os mais de 80 sucessores,
apenas mais quatro mulheres: Maria Eugênia Montenegro, Anna Maria
Cascudo, Sônia Fernandes Ferreira e, mais recentemente, Leide Câmara.
PRIMÓRDIOS E DIFICULDADES
No início, ainda sem sede própria, as primeiras reuniões dos acadêmicos
se davam em locais variados. O Instituto Histórico e o Atheneu foram os
espaços mais usados.
Foi o então governador Sylvio Pedroza (depois acadêmico) quem doou o
terreno na rua Mipibu para construção do prédio da ANL, inaugurado em 28
de junho de 1958, na administração de Manoel Rodrigues de Melo.
Hoje, sendo associação privada sem fins lucrativos, a ANL é mantida
pelos acadêmicos. Por vezes recebe verba do Governo do Estado, mas sem
regularidade. Alguns espaços do prédio são alugados e ajudam na
manutenção.
PROJETOS EM 80 ANOS
Alguns projetos encabeçados pela ANL passam despercebidos pela imprensa,
a exemplo da idealização do Presépio de Natal, com assinatura de Oscar
Niemayer.
Também obra de Niemayer é a União dos Continentes, arcos em forma de chifre, localizado na BR 101, em Touros.
Muitos nomes pitorescos e históricos de cidades, bairros, etc, também
foram mantidos graças a campanhas da ANL, a exemplo de Parnamirim, que
estaria hoje com o nome Eduardo Gomes. Ou Monte das Gameleiras, Barra de
Maxaranguape e Caiçara do Rio dos Ventos.
ELEIÇÕES E CANDIDATURAS
As eleições para presidência da ANL acontecem a cada dois anos, sempre
em janeiro. Em 80 anos de história, a Academia teve nove presidentes,
eleitos por maioria de votos. Todos os acadêmicos podem ser votados e o
voto é secreto.
Para o sistema de substituição da cadeira dos imortais cabe ao
presidente declarar a vaga aberta após a morte de um dos ocupantes. A
partir daí publica-se na imprensa e admitem-se candidaturas em até 60
dias. Por vezes a própria ANL sugere convites.
Hoje, duas vagas estão abertas: a cadeira do jurista Francisco Fausto
de Medeiros e a do médico Ernani Rosado. Esta última só será aberta em
definitivo quando houver o necrológio.
Para vaga do jurista, cujo patrono é Pedro Velho, estão candidatos o
poeta e procurador federal Lívio Oliveira e o pesquisador Ormuz
Simonetti. O resultado tem previsão para dezembro.
Os que pensam ser a obra literária o fator preponderante, estão
enganados. O primeiro item analisado é a qualidade ética, segundo
Diógenes da Cunha Lima. O segundo item é a exigência de livro publicado
de reconhecido valor.
“A Academia está sempre vigilante em favor da cultura e trabalha com a
colaboração do tempo. Costumo dizer que a ANL, como a antiga UDN (União
Democrática Nacional) tem a eterna vigilância”, me disse Diógenes da
Cunha Lima dez anos atrás, ainda hoje presidente.
FOTO: WELLINGTON ROCHA / PORTAL NO AR
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Diógenes da Cunha Lima.
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