quarta-feira, 10 de junho de 2009

A CAMPANHA ABOLICIONISTA, O BARÃO E A BARONESA DE SERRA BRANCA

Baronesa de Serra Branca Belizária Lins Wanderley de Carvalho e Silva.

Decreto que agraciou Felipe Néry de Carvalho e Silva Barão de Serra Branca.

A Campanha Abolicionista em Assu foi feita com muita euforia. Criaram a "Libertadora Assuense", presidida pelo vigário Antônio Germano de Barbalho Bezerra que obteve vitória, libertando a 30 de março de 1880, os 54 escravos existentes em Assu. Movimento este comemorado com muita festa. O Barão de Serra Branca Felipe Néry de Carvalho e Silva, ofereceu um banquete no sobrado (atual Casa de Cultura) onde ele residia com sua mulher Belizária Lins Wanderley de Carvalho e Silva (Baroneza de Serra Branca por casamento com Felipe Néry), servido por ela, Belizária, a todos os escravos libertados, existentes em Assu. A Felipe, foi decretado o título de Barão de Serra Branca, a 19 de agosto de 1888, pela Princesa Isabel quando governava o Brasil.

Depõe Lauro Antônio Bezerra (história contada por seu avô Antônio Bezerra) que Felipe Néry "costumava reunir os escravinhos pequenos para que eles tocassem e cantassem." Felipe nasceu em Santana do Matos e faleceu próximo a Caicó (RN), quando retornava de uma viagem que fizera a Juazeiro do Norte (CE), para visitar padre Cícero Romão Batista..

Felipe Néry (1829-1893) foi político, deputado provincial de 1878-79 e 1880-81, além de tenente-coronel da Guarda Nacional. O casal Belizária e Felipe Néry não deixou descendência. Alba Fonseca de Sá Leitão, salva engano, prima ou sobrinha segunda de Belizária, casada com José Wanderley de Sá Leitão (ambos assuenses e atualmente residindo em Natal), herdaram parte do patrimônio daquele ilustre casal que engrandece a História do Assu.

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terça-feira, 9 de junho de 2009

CONFRATERNIZAÇÃO DA COLÔNIA ASSUENSE EM NATAL

Da direita para esquerda: Cristóvão Ramalho, Souza Junior (Juninho), Mário Amorim e Fernando Caldas.
Na manhã deste último sábado, realizou-se na Igreja de São João Batista, de Natal, a tradicional missa (dos assuenses radicados naquela capital), promovida pelo Centro Assuense em Natal - CAN, entidade presidida pelo advogado Francisco de Souza Junior (Juninho). Após aquele ato religioso, deu-se início o café da manhã, no salão de recepção daquela igreja, seguido mais tarde, de uma festa dançante no salão da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB de Natal). Compareceram centenas de assuenses, como Cristóvão Ramalho (funcionário do INSS), Souza Junior (Juninho), dr. Mário Amorim (diretor na EMATER), Fernando "Fanfa" Caldas (autor deste Blog), Vice-prefeito do Assu Alberto Luiz, além do presidente da Funasa Zeca Abreu, dr. Anóbio Junior, empresário Gustavo Montenegro Soares, dr. Francisco Das Chagas Pinheiro (Chaguinha), além do jovem e dinâmico prefeito da terra assuense Ivan Junior que fez presença na AABB, onde cumprimentou todos os assuenses ali presentes, bem como Francisco das Chagas Azevedo (Secretário de Agricultura do Rio Grande do Norte), entre outros conterrâneos e amigos por demais conhecidos.

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sexta-feira, 5 de junho de 2009

ÍNTIMAS DE JOÃO LINS CALDAS

O grande bardo potiguar João Lins Caldas, era extremamente contrário ao casamento. Certa vez, recebera uma carta de seu único irmão chamado José Lins Caldas, que lhe pedira a sua opinião para se casar. E aquele vate solitário, solteiro convicto, respondeu conforme transcrito adiante:
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"(...) Mas que posso eu dizer quando mamãe aprova o teu ato, quando parentes o aprovam? Que vais bem encaminhado e... que fazes muito bem. Agora, se queres minha opinião a respeito do casamento... esse laço de moral que prende a humanidade - eu vou darte-a: Tolstoi, o gtrande Tolstoi da Russia, diz que, para o homem se casar, deve pensar vinte anos... Eu, porém, não posso deixar de, em parte, ser contrário a essa opinião. Quando o homem é, como tu, sem aspirações superiores às do sertanejo obscuro e trabalhador, o casamento deve ser o supremo ideal, o laço que o lace, a alma que o prenda... O primeiro caso, o juízo de Tolstoi, que aproveitem os loucos... Os iludidos das ilusões... Eu estou no caso. O casamento para mim mim seria a paralisação dos trabalhos com que sonho rendilhar o meu futuro distanciado e oculto... No teu caso, a mulher é o objeto principal, no meu é o segundo.

Casa... casa mas pensa... Mede os passos do passo que vais dar. Eu quase que não conheço a menina a quem amas, contudo a casa em que se acha é para mim uma recomendação suficiente. São regulares ou, mesmo boas, as informações que tenho tido a respeito da mulher que me queres dar por cunhada. Felecito-te por isto, me felicitando. Eu aceito-a como a uma irmã, de braços abertos. É preciso que mamãe veja nela uma filha e que essa nossa mãe ela veja uma mãe. Isto é necessário para que haja harmonia e na harmonia felicidade. Será assim? É só como serve. Essa mulher que aí tens a despejar-te carinhos e a renovar-me preces, vale a nossa preocupação mais constante. Ela continuará em tua companhia, não é assim? Ha de ser. Deve ser assim. Todo carinho para ela. Algum dia, quando eu, o louco de há muito tempo e o louco de muito sonho, realizar o velho ideal que o destino me emprestou no berço, hei de mostrar o muito que me vale essa mulher coberta de luto, carcomida de lágrimas. Beija-lhe as mãos todos os dias, todos os dias que te lembrares de mim. Por ora, vai cumprindo o teu dever. Reza o evangelho do teu amor, realiza o teu sonho no dia em que poderes e, sê feliz, se a minha bençam vale.
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(E Caldas desenganado de um amor desfeito, fracassado, escreveu ainda em Assu, estes versos datado de 24 (11 da noite) fevereiro de 1910, dizendo assim):
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Doente por não te ver, ver não te quero,
Dispenso-te a visita de saúde.
Dê-me Deus, que me vê, sempre a virtude
De, calado, sofrer meu desengano.

Infeliz que por ti meu sonho altero,
Tenho a crença feliz que não me ilude
De, perdido este amor profundo e rude,
Ser mais forte na vida e mais severo.

O amor que nos maltrata e às vezes mata
(É crença que agasalho, crença ingrata,
Crença que as asas levemente solta.)

Se, crescendo, não mata o que padece,
Morre no peito onde a desdita cresce
E o amor que morre para amar não volta.
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quarta-feira, 3 de junho de 2009

ELEICÃO PARA PREFEITO, 1972

Concentracão pública da campanha política de Walter Leitão e José André - Zezinho, em 1972, pela Aliança Renovadora Nacional - ARENA, contra Sebastião Alves e Elias Moreira - Lico, pelo Movimento Democrático Brasileiro - MDB, para prefeito do Assu. Em cima do carro de som (Rural), a escritora Maria Eugênia Montenegro (discursando) e, próximo a porta daquele veúculo), podemos ver o estudante José de Deus Alves dos Santos - Zé de Deus, hoje advogado. Era uma concetracão, salvo engano, das mulheres assuenses, em frente a prefeitura municipal. Walter e Zezinho, contavam com o apoio político do deputado Edgard Montenegro, e Sebastião e Lico, com o apoio do deputado Olavo Montenegro. Edgard e Olavo eram ferrenhos adversários na política local e Esrtadual. Fica, portanto, mais um registro sobre as campanhas políticas do passado, da terra de São João Batista.

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sexta-feira, 29 de maio de 2009

LEMBRANDO ZEZINHO ANDRÉ

José André de Souza ou Zezinho André, como era mais conhecido, era uma figura admirável. Eu morei próximo a sua casa (da rua Senador João Câmara), que eu passei a frequentar ainda menino, lá pelos idos dos anos sessenta e começo de setenta, como amigo de toda sua família, principalmente dos seus filhos Reges e Rogério.
Lembro-me dele, Zezinho, participando ativamente da memorável campanha política de 1962, quando Walter Leitão - Golinha (meu tio-afim), que tinha como seu vice-prefeito Francisco Assis da Cunha - Chico Pacaré, sogro de Zezinho, disputando a prefeitura do Assu, contra Maria Olímpia Neves de Oliveira - Maroquinhas, numa campanha da mais tensa e intensa que o Assu já viveu. Naquela eleição, Zezinho era candidato a vereador pela UDN - União Democrática Nacional, cuja bandeira no Assu, era empunhada pelo seu amigo e compadre, deputado e líder incontester Edgard Borges Montenegro.
Na iniciativa privada, Zé André, como era também conhecido, teve vários sucessos. Foi grande comerciante em Natal e no Assu, onde (no começo dos anos setenta) foi propritário de posto de gasolina, comprava e vendia castanha, peles e couros, produtos que ele comercializava com grandes empresários exportadores cearenses, entre outras atividades empresariais.
Figura aparentemente agradável, decidido, bom amigo, franco, sortudo, ganhador de loterias, extremamente vaidoso. No começo dos anos setenta, esnobava com o seu Dodje Dart cupê. Naquele tempo, era o único veículo de luxo existente no Assu e região.
Lembro-me dele, Zezinho, candidato a vice-prefeito do Assu, na chapa encabeçada por Walter Letão, nas eleições de 1972, pela ARENA - Aliança Renovadora Nacional, contra Sebastião Alves que tinha o apoio do prefeito João Batista Montenegro. E Zezinho e Walter, estruturados e embalados por uma marchinha (paródia) que pegou pra valer, ganharam a eleição folgadamente. E o povo cantava nas ruas do Assu, a seguinte marchinha: "(...) mas eu agora, não lhe dou satisfação, vou dar meu voto a José André e a Walter Leitão (...)."
Zezinho viveu tempos de glórias na política da terra assuense, graças o seu carisma e a sua determinação. Em sua casa (sou testemunha ocular), ele fora visitado muitas vezes, por influentes políticos da terra potiguar, como José Agripino, quando candidato ao governo do Rio Grande do Norte e já governador, além do deputado Vingt Rosado, prefeito de Mossoró Dix-zuit Rosado, deputado estadual Willy Saldanha, senador Jessé Freire, deputado federal Jessé Freire Filho (Jessezinho), dentre outros da terra potiguar, que tiveram o seu apoio político no Assu.
A campanha de 1982, foi a que mais marcou a sua trajetória política. Seus amigos e correligionários, entusiasmados com a sua candidatura para prefeito da terra assuense, custearam as despesas de campanha, organizaram as passeatas (que deixaram tontos seus adversários), como Arnóbio Abreu (do MDB), Ronaldo Soares e Herval Tavares que, como ele, Zezinho, disputavam também aquela prefeitura pelo PDS - Partido Democrático Social.
Afinal, é preciso registrar que um dia, Zezinho se fez líder incontestável, carregado nos braços do povo, nas praças e nas ruas da sua amada cidade de Assu.
Descança em paz valente lutador, ao lado dos seus e de Deus. Durma o sono dos justos, dos humanos.
Fica aqui nestas singelas palavras, a minha saudade e registrado o meu abraço solidário a Dasdores, extensivo a todos os seus familiares.
Fernando Caldas

quarta-feira, 27 de maio de 2009

TIPOGRAFIA, JORNAL E TEATRO NO ASSU

João Carlos Wanderley foi quem em 1865, instalou a primeira tipografia no Assu. Olavo de Medeiros Filho (num artigo publicado no Jornal da Colônia Assuense, nº 3), depõe que "causava admiração o fato de a cidade contar com três tipografias, onde já havia sido impresso diversos jornais em épocas passadas, e nas quais eram publicados, em 1881, "O Brado", "Conservador", "O Jornal do Assu" e "A Cidade". - Este último circulou durante 25 anos, sobre a direção dos irmãos Palmério Filho, Otávio Amorim e Francisco Amorim, respectivamente diretor, redator e gerente.

O primeiro teatro era denominado São José, inaugurado a 19 de março de 1884, instalado num casarão da rua das Flores (onde mora a viúva de Sandoval Martins), esquina com a atual prefeito Manoel Montenegro e a travessa Pedro Amorim. Depois veio o Tetro São João, inaugurado a 24 de fevereiro de 1892, funcionando até 1897, bem como o teatro Alhambra que fazia suas exibições cênicas num antigo sobrado edificado ao norte da ireja Matriz de São João Batista (onde funcionou o escritório do DNOCS, hoje totalmente remudelado para funcionar o CDL - Clube de Diretores Logistas de Assu).

Outros grupos de teatros surgiram no Assu, como o Grupo Dramático Juvenil Assuense, que fazia suas exibições no teatro Alhambra, bem como outros organizados por João Marcolino de Vasconcelos (na década de sessenta), que fazia suas apresentações no palco da Sede dos Escoteiros, e por Ivan Pinheiro, na década de setenta.

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domingo, 24 de maio de 2009

ELEVAÇÃO DO AÇU

De Freguesia de São João Batista, da Ribeira do Açu, começou o desenvolvimento daquela região. O povo criava gado, cultivava a lavoura e instalava as Oficinas de Carne de Seca (se não foi a primeira, pelo menos, foi uma das primeiras charqueadas do Brasil). No desenvolvimento da pecuária foi pioneiro Manuel Filgueiras que chegou na região com um pequeno rebanho, tornando um fator comercial de muita importância. "O movimento de carnes e coiramas atraia as Oficinas três a quatro barcos, todos os anos, trazendo mercadorias." (A República, nº 160, de 9 de abril de 1892).

Depõe Nestor Lima que "em fins 1775 para 1776, a Freguesia de São João Batista "tinha quarenta léguas de comprimento por vinte de largura e o seu padroeiro já era o glorioso São João Batista." Elevou-se a município com a denomição de Vila Nova da Princesa, conforme Ordem Régia de 22 de julho de 1776. Foram, portanto, 57 anos de vila que tinha o seu próprio patrimônio, como terrenos e fazendas.

Celso da Silveira depõe que "O patrimônio de São João Batista, foi feito de três vezes: A primeira em 1712, por Sebastião de Souza Jorge, que deu o terreno estritamente necessário a construção da Matriz e da Paróquia; a segunda, em 12 de outubro de 1774, por dona Clara de Macêdo, que doou 75 braças menos dois palmos. A terceira, finalmente, pela mesma dona Clara de Macêdo, que doou a maior parte dos terrenos ao patrimônio no dia 6 de outubro de 1777." Está assim transcrito no livro "Breve Notícia Sobre a Província do Rio Grande do Norte", de Ferreira Nobre.

Criou-se então a Câmara Municipal, primeira organização de um governo local, em 1786, e instalada a 11 de agosto de 1788, sobre a presidência do Juiz Ouvidor e Corregedor da Paraíba, Antônio Phillipe de Andrade Brederodes. Foram membros daquela câmara (que tinha poder de administração), da recém criada Vila Nova da Princesa, os senhores Francisco da Silva Bastos, Francisco Dantas Barcelar, João Mendes Monteiro e Antônio Correia de Araújo Furtado.

De Freguesia de São João Batista da Ribeira do Açu, Julgado de São João Batista da Ribeira do Açu, Povoação de São João Batista da Ribeira do Açu, Vila Nova do Príncipe, Vila Nova da Princesa (também chamava-se aquela região de Vila do Açu) passou a ter foros de cidade, através da Lei º 124, originária do projeto de 30 de setembro que, em 16 de outubro de 1845, aprovado e sancionado pelo presidente Casimiro José de Morais Sarmento, com a denominação de Assú.

E Assú foi a segunda cidade, bem como um dos centros mais antigos da Província do Rio Grande, já com tradição de inteligência e heroísmo. Teve até Capitão General, patente que nem a própria capitania nuca teve. Foi autor da lei que deu foras de cidade de Assú, o assuense deputado provincial João Carlos Wanderley (1811-1899), que também presidiu aquela província, na qualidade de 1º vice-presidente, durante alguns meses dos anos de 1847,48, 49 e 50.

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sábado, 23 de maio de 2009

DE TABA-AÇU A CIDADE DE ASSU


Por volta de 1650 habitavam a região do Assu, os indígenas. Ficaram notabilizados de Janduís. Aquele lugar era denominado Taba-Açu, que quer dizer Aldeia Grande na linguagem Tupy-Guarany. Eram guerreiros, ferozes, supersticiosos e extremamente selvagens. Viviam quase nus, vestiam apenas uma pequena saia feita de palha de carnaubeira ou carnaúba (árvore nativa então abundante naquela região). Para sobreviver, os Janduís alimentavam-se de frutas, mel e raízes. Caçavam os veados (matavam e comiam somente as suas tripas cruas) e pescavam preferencialmente as traíras (peixe de água doce muito comum nos rios e lagoas).

Até a década de 1686/1696 os indígenas punham em pânico as hostes portuguesas, atacando-as até as proximidades da Capitania do Rio Grande. Na chegado dos brancos, foram eles dominados e eliminados quase por completo. Foi uma guerra sangrenta que a história denominou de Guerra dos Bárbaros ou Guerra dos índios também registrado na história de Guerra do Açu.

Agostinho César de Andrade, capitão-mor daquela capitania, sem poder cumprir a Ordem Régia, deu lugar ao seu sucessor capitão-mor Bernardo Vieira de Melo que veio a Ribeira do Açu, chegando a 6 de fevereiro de 1696, de acordo com o Ouvidor Geral Cristóvão Soares Reymão, acompanhado de 30 soldados negros, procedentes da Capitania de Pernambuco.

Arraial de Santa Margarida, data de 20 de julho de 1687, Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres, fundado por Bernardo Vieira de Melo, à 24 de abril de 1696. "Sendo o dia 24 de abril consagrado a Nossa Senhora dos Prazeres, é natural que fosse o da fundação do Arraial. Porque costumam os portugueses assinalar os seus feitos com o nome do santo do dia." (Capitães Mores).

Os Tapuias (chefiado por Janduí) e os Janduís (travaram novas lutas sanguinárias contra os colonizadores em defesa de suas terras, preferindo a morte a serem subordinados e subjugados pelos portugueses e colonos. Nestor Lima depõe que "a colonização da Ribeira do Açu teve, porém, enormes dificuldades opostas pelos naturais da terra, numerosa tribo Tapuia, que declarou guerra de morte aos colonizadores, a quem causava toda sorte de danos em medonhas investidas."
E Taba-Açu se tornou então a Freguesia de São João Batista da Ribeira do Açu, Julgado de São João Batista da
Ribeira do Açu, Povoação de São João Batista da Ribeira do Açu, Vila Nova do Príncipe, Vila Nova da Princesa (também chamada de Vila do Açu), elevou-se a município com a denominação de Assú.

Fernando Caldas

segunda-feira, 18 de maio de 2009

CONTO

SANTA TEREZA

*Por Ivan Pinheiro

Apressa menina, senão vamos chegar atrasados! - Gritou Dona Francisca para sua filha Tereza.
A garota estava ansiosa e nervosa. Este dia era esperado há muito tempo. De família extremamente religiosa, ela tinha um sonho: se confessar com Frei Damião - o santo milagreiro do povo nordestino.
A década de sessenta tinha sido difícil para os nordestinos: estradas precárias, falta de energia em quase todos os lugares, meios de transporte escassos, falta d'agua nos sertões secos... Este quadro foi diversas vezes bem retratado nas poesias de Renato Caldas, José Coriolano, Francisco Amorim, Chico Traíra e tantas outras feras da li-teratura poética que habitavam a região do Vale do Açu.
A pequena comunidade de Juazeiro, onde residia à família de Dona Francisca ficou praticamente desabitada. Até o velho Lourenço que estava acometido de um forte reumatismo, viajou para a cidade do Assú numa carroça para participar da missão de Frei Damião e Frei Fernando, dois frades pertecentes à Ordem dos Capuchinhos que percorriam as cidades da região Nordeste, como andarilhos das estradas afora, a levarem às pessoas a mensagem do evangelho com muito radicalismo e muita fide-lidade aos ensinamentos bíblicos.
Quando a família de Tereza chegou defronte à Matriz de São João Batista, a luz solar já começava a desaparecer no horizonte. A multidão se comprimia para tocar em Frei Damião na sua "procissão de penitência", da casa paroquial à igreja, passando lentamente entre os fiés.
Era a última missa do dia. Dela participaria certamente o maior número de católicos. Em decorrência do atraso, toda família de Tereza teve de ficar em pé. A celebração começou pontualmente às dezoito horas.
"No inferno o calor é bilhões de vezes pior que no Nordeste. As labaredas sobem e queimam sem parar o corpo dos adúlteros, das prostitutas, dos afeminados e dos criminosos..." - Disse o Frei na abertura de sua homilia com a voz rouca, quase inaudível.
Depois da pregação foi formada uma fila quilométrica para confissões. Sentado num tamborete de madeira, o frade capuchinho escutava cada devoto com muita atenção, olho no olho, o cotovelo no joelho e a mão no queixo apoiando a cabeça. Desta posição quase não se mexia, vez por outra, parava por alguns segundos para tomar um golinho de café bem forte. Afinal precisava de resistência para adentrar até altas horas da noite.
Tereza estava na fila acompanhada pelos seus pais. Estava nervosa... Era a primeira vez que iria se encontrar com Frei Damião. Não bastasse, estava alí com o privilégio de se confessar com ele. Tinha plena certeza de que aquele momento marcaria sua vida, realizaria um sonho, fortaleceria sua fé no catolicismo e a devoção pelo Santo milagreiro do sertão.
A fila andava lentamente. Quando Tereza conseguiu chegar à porta principal da Matriz, fez um sinal da cruz, dobrou-se num gesto de respeito e adoração ao santíssimo. Verificou seu vestido branco de cambraia bordada para ter a certeza de que ele estava bem composto... Ajeitou a mantilha na cabeça, segurou com as duas mãos o terço e começou a rezar incessantemente. Suas feições eram como se estivesse caminhando rumo ao céu. Vez por outra, era interrompida pelos cochichos da mãe que estava por trás.
- Cuidado com o que vai dizer minha filha. Não quero que Frei Damião lhe passe nenhum castigo. Ele é um santo.
- Pode deixar mamãe, eu vou tomar muito cuidado.
O pai de Tereza vendo que a mãe estava exagerando tentou aliviar a pressão.
- Francisca, deixa a menina em paz! Vai dar tudo certo. Afinal Tereza já tem 14 anos. Está bem grandinha, sabe se pecou ou não.
Mesmo a contragosto, a mãe se comportou melhor. Já passava das oito da noite quando chegou o momento crucial. Tereza chegou perante o capuchinho, curvou-se, fez o sinal da cruz e ajoelhou-se. Ela tinha a certeza de que estava ali diante de um homem diferente... De alma pura. Frei Damião a encarou e ela, na sua ingênua timidez, baixou a vista.
- Conte seus pecados minha filha... - Falou pausadamente o Frei.
Tereza ficou calada. Olhou para ele como que pedindo socorro. O nervosismo era tanto que as palavras não chegavam nem a serem balbuciadas.
Está nervosa, menina? Calma! Vou lhe ajudar. Tudo que eu perguntar você vai dizendo se fez ou não. Já desejou mal ao próximo?
- Não senhor Frei Damião!
- Já desrespeitou pai e mãe?
- Ave Maria... Deus me defenda!
- Já levantou falso testemunho?
- Nunca! Deus me guarde!
- Já sentiu inveja de alguém?
- Jamais! Deus me castigue se isso acontecer.
Frei Damião olhando cara a cara para a adolescente, mais uma vez, perguntou:
- Qual o seu nome garôta?
- Maria tereza da Silva - Respondeu Tereza com voz trêmula, instante em que Frei Damião lhe anunciou a penalidade:
- Faça o seguinte minha filha: se levante, procure um altar aqui na igreja e fique lá... Santa Tereza!


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POESIA

GARIMPEIRO DA ILUSÃO

Tal qual, os garimpeiros,
aventureiros,
mergulhado, nas águas
turvas dos ribeiros,
a procura do ouro!...
Eu, em vão procuro
no caudal das minhas máguas
um oculto tesouro.
Trabalho noite e dia,
a cata de ilusões...
necessito apenas de alegria,
pra amenizar
minhas decepções!
E, quanto mais procuro,
mais escuro
parece ficar
o corrente das minhas fantasias.
Na ansiedade
de encontrar
me aprofundo nás águas...
Ao retornar,
trago nas mãos
lavadas e vazias...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .
E a razão
me diz: -
Garimpeiro infeliz
da ilusão,
Por que?... e para que
tanto labor?!
Jamais terás a palma
de encontrares no fundo
da tu'alma,
outra coisa a não ser,
a SAUDADE e a DOR.

Renato Caldas

sábado, 16 de maio de 2009

O CABAÇO DE DASDORES ABRIU-SE EM BANDAS

*Por Gilberto Freire de Melo

Quem não viveu, mas se aventurou pela várzea do Açu, certamente participou do crucial e ao mesmo tempo divertido processo de extração da cera de carnaúba. Ou, no mínimo, conviveu com a população afeita às tarefas dessa atividade.

Na indústria rudimentar de extração da cera de carnaúba, havia, dentre outros, o processo de batimento para decolar o pó existente nas palhas que, depois de secas, eram transpotadas, em trincheiras, pelos homens e batidas, a cacetes, pelas mulheres, num processo trabalho manual feito à noite para evitar que os ventos prejudicassem a fixação do pó, que mais tarde seria transformado em cera, no piso que era igualmente forrado por lona para que não se misturasse com areia. Cada rachador tinha a sua ou as suas batedeiras, pois os mais habilidosos rachavam palhas para mais de uma mulher.

Não havia trabalho mais árduo, porém, ao mesmo tempo, mais divertido. As pilhérias, as chacotas, os ditos, as brincadeiras amenizavam as asperezas e divertiam sempre, sem, porém, ofender pessoas ou ferir a dignidade das famílias, moças, senhoras e crianças que ali trabalhavam. Uns cantavam "cocos" e "emboladas" ao rítmo do batuque improvisado por alguém mais competente que soubesse arremedar a batucada do "baião". O que não deixava, entretanto, de reservar certas intimidades a casais, dada a aproximação que, evoluindo, entremeava-se de afeto, de contatos, de esfregação, de namoro e de xamego, num ambiente estritamente de trabalho, porém com doses de acentuados encantos e estimulantes sexuais.

Como ninguém é de ferro, vez por outra alguém passava os pés adiante das mãos e os tampos voavam.

Foi o que ocorreu com Dasdores, filha de Zé Beradeiro, um cinquentão respeitável, trabalhador, de procedência ignorada, porém com muitos indícios seridoenses. que alí viera ter ainda moço e ali contituíra numerosa família, após seu casamento com Maria do Rosário, uma varziana de dezoito quilates.

Dasdores, já moça feita, era a filha mais velha do primeiro casamento de Zé Beradeiro que inviuvara e vivia àquela época, com D. Esmerina, com quem os filhos se davam relativamente bem, sem ter que se queixar. Com atrativos e exuberâncias capazes de desarticular exércitos, Dasdores engraçou-se de Chico Bozó, fornido caboclo, rachador de palhas, bem parecido, que não desmerecia a família da namorada e que rachava palha para Dasdores bater.

Zé Beradeiro, num daqueles famosos batimentos de palha, surpreendeu casualmente uns lances de que não gostou. Sua filha, Dasdores, se espojava com o namorado, Chico Bozó, sobre uns montes de palha batida, fora da empanada, a quem se entregava de corpo e coração, sem qualquer reserva. O pai ficou calado, porém furioso, e no outro dia, chamando o conquistador aos carretéis, disse não aceitar o que havia presenciado, sendo necessário providenciarem o casamento. Chico, o sedutor, argumentou que precisava pensar, pois casamento era coisa séria. Zé Beradeiro, que também não estava brincando, disse que não queria conversa. E não estava disposto a bater boca. Queria uma decisão.

Os ânimos se alteraram e Zé Beradeiro acabou ouvindo o que não queria:

- A sua filha não era mais moça e eu não sou pedreiro pra tapar buraco de ninguém. Ela já é de maior e pode procurar seus direitos.

Zé Beradeiro, porém, não engoliu o bocado. E não era para um pai de família ficar calado diante de semelhante situação. Tinha que tomar alguma providência. Nem que fosse a última decisão de sua vida. Não podia aceitar a desonra da filha, de seu nome e de sua família. Não seria qualquer Chico Bozó que iria desfeiteá-lo. Tinha pouca coisa na sua vida e a honra da família era o mais importante. Teria que agir ligeiro, antes que o atrevido comentasse com alguém e se espalhasse o boato de sua desdita. Era questão de vida ou morte.

O desapareciemento de Chico até que não foi notado imediatamente, vez que ele era acostumado a sumir por alguns dias, visitando alguns parentes, reapareccendo, em seguida, pouco tempo depois. Mas não tanto assim como da última vez. Já dava o que falar. Parentes seus perguntavam sem obter qualquer notícia.

Foi-se avolumando a ausência de Chico, já consubstanciada pelos boatos do namoro que tivera, conforme insinuações motivadas por gabolices do próprio, de intimidades mantidas com a filha de Zé Beradeiro. Dissera ainda a alguns vizinhos que ela não era mais moça. E que fora chamado às favas pelo pai que queria casamento. E que ele não era otário para pagar pecado que não havia cometido.

Os comentários se faziam e nada de Chico aparecer. Já fazia mais de um ano que havia sumido. Zé Beradeiro, há muito, havia-se mudado dali com a família.

A polícia, tomando conhecimento do sumiço do homem através de queixa prestada por familiares, abriu inquérito e passou a ouvir pessoas da localidade. O próprio Zé Beradeiro fora localizado e ouvido, com sua filha, pelo delegado. Permaneceu preso ainda, por alguns dias e solto depois, enquanto se investigava o caso que, por falta de qualquer prova, acabou arquivado o processo e esquecido o assunto. Só que os familiares não aceitavam e mantinham a suspeita do assassinato de Chico. Mas como provar se nem o cadáver aparecia?
Não se podia justificar. O sumiço de Chico deixava inconformados os seus parentes. E Seu José também havia saído do cenário da culpa.

A família de Chico apelou para tudo. Chegou até a insinuar que, em certo local, onde se havia construído uma vila de casas residenciais, ali antes, Chico havia sido enterrado. Derrubaram-se algumas casas, sem qualquer sucesso, até que desistiram dada a inconviniência de se derrubar todo o arruado.

Dasdores, noutras paragens, já com os burros n'agua, passou a viver amancebada com um vaqueiro com quem teve alguns filhos sem maldizer a vida e sem queixar da sorte.

O sedutor é que nunca justificou o seu desapracecimento.

* Gilberto Freire de Melo é sociólogo, escritor potiguar de Pendências

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

POESIA

O VALÔ DO ANÉ

Seu dotô, pode me crê:
Se tenho aprendido a lê,
Eu era dotô também.
Pruque hoje na cidade,
Nós só temo validade
Pela péda qui o ané tem?

Meu pai, era home pobre,
Porém morreu como nóbre,
Honesto e trabaiadô!
Morreu no mez de Dezembro
Ainda hoje eu me alembro...
Cuma a cidade chorô.

Era amigo da pobresa,
Inimigo da avaresa,
Cuma todo home de bem!
Num media sacrifíço
Para fazê benefíço...
Num despresava ninguem.

Veja a força do destino:
Morreu... Eu fiquei menino
Sem dinheiro pra estudá!
Fui cantadô e poéta;
Do mundo peguei a réta,
Num queria trabaiá.

Mas, graças a Providença,
Tenho o ané da inteligença,
Maió riqueza qui hai...
Num precisô de inventaro.
Sô rico, milionaro,
Do que herdei de meu pai.

Dotô, num é caçoada.
O ané num vale nada,
Sô mióra a posição!
Parece uma coisa incrive,
Quarqué um, compra no ourive,
Por cem cruzeiro, um anelão.

Olegaro Mariano
Poéta pernambucano,
Home de muito valô!...
Entrô para a cademia,
Amostrando a poesia,
Não, o ané de dotô!

... Adeus dotô, vô me embora.
Está chegando a hóra...
Eu preciso viajá.
Mas, pense na deferença
- Num se compra inteligença
E ané se póde comprá.

Renato Caldas

A PONTE FELIPE GUERRA E FRANCISCO GAAG

A ponte sobre o Rio Piranhas/Assu, denominada Felipe Guerra (ele foi bacharel em direito, desembargador, deputado constituinte, secretário de educação e ainda é nome de um município potiguar, na Chapada do Apodi). Aquela ponte começou a ser construída em 1948 e a sua conclusão se deu em 1952. Naquela época era o prefeito do município do Assu, Edgard Borges Montenegro. A sua extenção é de 555 metros. Ainda hoje é a maior ponte de concreto armado do Nordeste. Foi construída pelo técnico em carpintaria Francisco Gaag, de nacionalidade austríaca, naturalizado brasileiro. Gaag, a quem reverencio com saudades, foi o mesmo técnico que reconstruiu a parede do Açude Pataxó, em Ipanguaçu, quando esteve para ser arrombada, salvo engano, em 1966. Por sinal, naquela época, Seu Gaag, hospedava-se na casa de meu pai (em Assu) Edmilson Caldas que também trabalhou na construção daquela ponte. Ele, Seu Gaag, comentava que teria também participado da construção do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro). Finalmente, aquela ponte hoje faz a divisa entre entre os municípios de Assu, Itajá e Ipanguaçu. E Gaag, faleceu em Natal (onde morava), na década de setenta.

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quarta-feira, 13 de maio de 2009

CONTO

ACIDENTE UTÓPICO

*Por Ivan Pinheiro

Traga cerveja aí como quem trás oró pra burro!... Estão olhando o quê? Eu tenho dinheiro! - Gritou Aléxis para as mulheres presentes na sala central do "Mina de Couro".

"Mina de Couro" era o mais caro e requintado cabaré de Coruripe, no Estado de Alagoas. Aléxis era um comerciante. Vendia mangalhos e telhas industrializadas no pólo cerâmico do Assú. Naquele dia ele tinha ido entregar trinta mil telhas encomendadas pela cooperativa de Pindorama. A carga foi transportada em um caminhão Mercedes trucado.

Tão logo recebeu o pagamento. Aléxis quitou o frete do veículo e liberou-o. Retornaria à cidade do Assú, no Rio Grande do Norte, onde morava, de ônibus. Logicamente depois de umas boas farras.

Todo entusiasmado, Aléxis jogou sobre a mesa um maço de notas de cinquenta reais atadas com ligas. Quando a putada viu o dinheiro, a animação tomou conta do recinto. Ele rapidamente recolocou o pacote de cédulas em sua boça capanga.

- Meu filho, está estressado? Calma, fique tranquilo... Nós resolveremos seu estresse. - falou uma garota passando o braço sobre o ombro de Aléxis.

- Sua cerveja, bem geladinha. - A garçonete puxou uma cadeira e o convidou a sentar-se. - Deseja mais alguma coisa?

Aléxis estava radiante com o recinto e o atendimento. Observou quando a garçonete se afastava da mesa. Ela usava uma mini-saia de aproximadamente vinte centímetros. Cada passada que dava, mostrava a pequenina calça vermelha de rendas.

Em menos de três minutos, a mesa estava composta por três belas jovens. Uma loira, uma morena e a outra ruiva. O "Mina de Couro" tinha mulher para todos os gostos e gastos.

- Podemos pedir umas doses de Campari, meu tesão? - Perguntou alisando o peito de Aléxis, a loira.

- Se pode? Eu vim aqui pra farrear. Quero beber e comer até dar uma coisa ruim.

A farra se estendeu até à noite. A cidade começava a repousar. Aléxis já estava em estado de putrefação alcoólica. Chamou a garçonete e apontando para a piscina ordenou.

- A partir de agora quero vocês desfilando nuas na beira da piscina. E a primeira será você.

Todas se entreolharam discordando da proposta. A garçonete tomou a palavra.

- Vamos fazer o seguinte: o senhor paga esta primeira despesa e a partir de agora, nós iremos negociar as suas exigências. Aqui quem manda é o freguês.

- Fechado!... Traga a conta, feche as portas dessa espelunca e vamos fazer um bacanal... Cada mulher que desfilar pelada ganha "cin-quen-tinha". - Falou Aléxis, retirando um maço de notas da capanga.

A realização de Aléxis foi plena quando a garçonete tirou a última peça, a calcinha vermelha de rendas, e a passou delicadamente sobre seu rosto. A loira que ele estava a namorar reclamou.

- Deixa de tolices mulher. Acabe com esse ciúme besta, você será a última a desfilar... Quero ver agora na passarela a vermeinha! - Disse Aléxis apontando o dedo indicador em direção à ruíva.

Quando ele acordou, estranhou o recinto. O dia já tinha amanhecido. Olhou para o lado e viu a loira dormindo ao seu lado. Levantou rápido e foi até sua roupa pendurada num cabide no canto do quarto. Abriu a capanga. Restavam-lhe apenas quatro notas de cinquenta reais. Rapidamente, tomou banho, vestiu-se e foi saindo quando viu a voz da "companheira".

- Já vai meu bem? Não se esqueça de deixar meus cem.

- Vá roubar outro abestalhada, rapariga imunda! - esbravejou Aléxis, saindo do quarto apressado. Na rua tomou um táxi com destino a rodoviária.

O vento norte soprava com suavidade as últimas brisas da tarde. A força da luz solar já havia sido quebrada pelo crepúsculo da noite. Madalena sentada na calçada de sua casa, rodeada por cinco crianças, respirava aquele ar agradável. Seu pensamento era em Aléxis, seu marido, havia três dias que tinha saído pelo "meio do mundo" negociando.

- Mamãe, lá vem papai! - Gritou uma das crianças. Madelena olhou rapidamente para a rua sombria. O aspecto maltrapilho de Aléxis dificultou o reconhecimento à primeira vista. Ela levantou, correu ao encontro do esposo que chorava aos soluços.

- O que aconteceu homem de Deus? Você está todo arranhado, sujo, esmolambado, o que houve?

- Madalena, a história é longa. Dê graças a Deus eu estar vivo. O carro que levava a telha virou... Sic... Escapei por pouco. Perdi tudo mulher!

Os meninos abraçaram o pai chorando, enquanto Madalena agradecia de mãos postas o retorno do esposo ao lar. Ela providenciou o banho, colocou mercúrio nos seus leves ferimentos e serviu o jantar.

"Como fui tão imbecil... Como pude arranhar-me com cacos de telha para simular um acidente? Como gastei tanto dinheiro em vão? Como vou viver em paz com minha consciência e minha família? E o dinheiro para voltar a negociar?... Se perguntava Aléxis , recolhido e encolhido em sua rede.

* Ivan Pinheiro é historiador e secretário de Governo da Prefeitura Municipal do Assu.
(texto extraído do livro de sua autoria intitulado "Dez Contos Cem Causos, 2008).

segunda-feira, 11 de maio de 2009

SONETO DO POETA CALDAS

PRAGA

Persigam-te meus beijos e carinhos.
A bênção do amor e o coração da vida,
Sejam de flores teus lindos caminhos...
Estação da luz e estação florida.

Que te comova o fazer dos ninhos
E, em cada rosa de ilusão sentida,
Longe da mágoa e livre dos espinhos,
Palpite a tua imagem reflorida...

Que cante em as noites luminosas,
Dentro em teu seio, o teu sonho, vindo
D'alma das flores do íntimo das rosas...

E que teu nome só de luz imerso,
Um dia seja no meu verso, lindo,
A rica chave do meu triste verso.

Publicado em Almanaque de Pernambuco, para 1909

POESIA

Aquela casa branca, edificada
Sobre um alto, no meio do sertão,
Parece uma igrejinha iluminada
para a festa do amor e da ilusão.
Aquela casa, em noite constelada
Ou mesmo em dias quentes de verão
Tem para mim sorrisos de alvorada
E carícias de um terno coração.
Vejo-a sempre cercada de verdura
De borboletas e singelas rosas
Como o reino dourado da ventura.
Vivem nela, a sorrir, sempre vibrando
Duas almasa felizes e ditosas
Como um casal de pássaros cantando.

Júlio Soares
(Poeta do Assu)

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TIPOS INESQUECÍVEIS

POESIA

Qual o remédio jocundo
Que ao mal nos serve de escudo?
"Fechai os olhos a tudo
Sorrir de tudo no mundo."
Foi esta a receita clara
Que me deu certa vez interrogado
Um homem que tinha achado coisa rara
A ventura neste mundo.

João Lins Caldas

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O GRACIOSO CHICO DIAS

Francisco de Medeiros Dias, alcunhado de "Chico Dias", é uma figura querida e das mais espirituosas da cidade de Assu. Ele é cearense de nascimento e assuense por opção e escolha. Naquela terra do interior norte-riograndense ele chegou ainda menino de calças curtas. Lá, foi comerciário trabalhando na camisaria de seu primo também espirituoso chamado Oscarzinho Fernandes. Chico em Assu foi presidente do Grêmio Estudantil do Ginásio Pedro Amorim (da CNEG), fundou o Clube de Diretores Logistas (CDL), foi candidato a vereador por várias vezes, cabo eleitoral, comerciante e, atualmente é corretor de imóveis. Figura andarilha quando jovem. O Brasil ele conhece de ponta a ponta. "Era um romântico caminheiro". Pois bem, na década de noventa ou começo dos anos dois mil, salvo engano, foi instalado na cidade de Assu um novo hospital e um cemitério público ). Numa das campanhas políticas de Ronaldo Soares e Zeca Abreu candidatos a prefeito e vice-prefeito respectivamente, Chico trabalhou na certeza de arranjar uma colocação na prefeitura daquele importante município. Ronaldo e Zeca foram eleitos e, já passados mais de seis meses, nada de chico ser nomeado naquela edilidade. Foi quando um certo amigo perguntou-lhe: "Chico Dias e aí, já arranjaram um emprego pra você na prefeitura? Como vai a nova administração de Ronaldo?" " Ótima, estou aguardando se vão me colocar no novo ou no velho!" Respondeu Chico. Aquele amigo intrigou-se com aquele resposta e lhe fez nova pergunta: "No Hospital?" Chico que sempre tem a resposta na ponta da língua, não se fez de rogado, soltou essa de tal modo: "Não amigo! No cemitério!

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VALE DE LÁGRIMAS

O escritor veríssimo de Melo no seu livro intitulado sob o título "Várzea do Açu", primeira edição, diz que a região do Assu "se por um lado possui todos os dons que a Natureza é pródiga em conferir-lhe, não deixa, vez por outra, de sofrer os revezes caprichosos do clima e do meio, levando ao desespero o grosso da sua população.
pode ser, acertadamente, classificada como a "região dos contrastes".
Quando não é inverno copioso, com as cheias torturantes, é a seca dizimadora dos rebanhos, provocadora da fome, arrebatando as famílias ao seio bom e sossegado dos lares, arruinadora do comércio e da vida em geral". Afinal, qual é a solução para resolver o problema das enchentes? Será que somente com a Barragem de Oiticica, no leito do Piranhas/Assu (o terceiro maior rio do Nordeste), pode evitar as enchentes no Vale do Assu? A Barragem Ribeiro Gonçalves foi projetada também com o objetivo de evitar as enchentes naquela região! Mas, como "não sou médico para abrir barriga de ninguém", vou ficando por aqui.

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PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...