quinta-feira, 4 de julho de 2013

NOITE DE NATAL

BOSCO LOPES

As muitas outras cidades que me perdoem, mas Natal é fundamental. Não fosse pelo seu pôr do sol do Potengi, seria pelas pessoas que o contemplam, embriagas de poesia e que passeiam a beleza pelas suas ruas seculares.

Nasceste, Natal, entre o rio e o mar, com os teus alicerces ancorados nos arrecifes da Praia do Forte, estrela maior que guia a nau catarineta tripulada de poetas, que saem por tuas noites em busca de bares nunca dantes navegados. Caminhas ecologicamente banhada pelo rio e protegida pelas dunas. Foste a bem amada dos aventureiros gauleses, holandeses e lusitanos, para tempos depois servires de pilar de uma ponte de guerra que ia desta parte ao outro mundo.

Natal, admiro a ternura fotogênica dos teus becos: becos que não cantei num dístico. Mas que canto cotidianamente com a minha presença, pois num deles aconteceu, num acaso feliz, meu batismo de cachaça e poesia, apadrinhado por Berilo Wanderley e Celso da Silveira. Para citar apenas um, fico com o bar do beco de Nazi, que com suas alquimias prepara a melhor “ meladinha” deste mundo.

Nas tuas noites, vejo teu nome inscrito em gás neon: Maria Boa, educadora de várias gerações. Noites que varei violentando teu silêncio com violões, modinhas, amigos e tragos de aguardente. Noites inolvidáveis do Brizza Del Maré, do Cisne, do Granada Bar, do Acácia, tão distantes das tardes de minha infância, onde no patamar da Igraja do Galo meu velocípede azul pedalava esperanças. Mas é nas tuas manhãs ensolaradas que vejo tuas mulheres bonitas na passarela pública das praças, parques, praias e se perderem de vista.

Mas se é inverno, evito tuas praias e me agasalho no abrigo dos copos dos teus bares e no calor dos corpos de tuas mulheres. Tenho tudo para te agradecer, Natal, pois tudo me deste: poetas como Itajubá, Jorge Fernandes e Jaime Wanderley, cujos versos guardo de memória.

Eu, também etilírico poeta, de pé no chão aprendi o ofício da poesia para te dizer: muito obrigado, Natal, pelas dádivas que de ti recebo há 33 anos.

LANÇAMENTO DE LIVRO

“O Mundo Varzeano de Manoel Rodrigues de Melo”

"Além dos meus filhos e ter me formado em jornalismo depois de todos criados, registrar a região onde nasci e ao mesmo tempo reverenciar um escritor que admiro desde pequena, publicar esse livro é uma grande emoção por ser mais uma realização pessoal”, conta a professora Maria da Salete Queiroz da Cunha.

Com produção da Fundação Félix Rodrigues - Ponto de Cultura Casarão de Ofícios, será lançado nesta sexta-feira, dia 5, em Natal, a partir das 18 horas, na Pinacoteca do Rio Grande do Norte (Palácio Potengi), o livro “O Mundo Varzeano de Manoel Rodrigues de Melo”, de autoria de Maria da Salete com fotografias de João Vital Evangelista Souto.

Com apoio da Lei Câmara Cascudo e patrocínio da Petrobras, o livro retrata paisagens, tipos e costumes do Vale do Açu registrados na obra do escritor varzeano e que foram objeto de estudo da professora em sua dissertação de mestrado, aprovada pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2001.

“O texto desse livro é simplesmente o primeiro capítulo da minha dissertação de mestrado, todo ele está ali, onde destaco a visão poética e a riqueza de detalhes que o grande escritor Manoel Rodrigues de Melo (1907-1996) descreveu sobre a região que fica a nordeste da bacia hidrográfica do rio Açu e que engloba os municípios de Assu, Ipanguaçu, Carnaubais, Alto do Rodrigues, Pendencias, Porto do Mangue e Macau”, conta a professora.

Segundo o professor e pesquisador da literatura do Rio Grande do Norte Tarcísio Gurgel, “Não há ninguém melhor identificado e mais amorosamente vinculado à região do Vale do Açu que o escritor Manoel Rodrigues de Melo. Não lhe faltaram, é certo, contatos com outras regiões fascinantes do Estado – o Seridó, em cuja cidade de Currais Novos viveu boa parte da juventude, e a litorânea da Capital onde acabaria vivendo anos mais produtivos de sua atividade intelectual – daí resultando livros e sede própria da Academina Norte-rio-grandense de Letras cuja construção foi obra sua. Mas a experiência com essa outras regiões não pode jamais ser comparada com o afeto por ele demostrado pela região de origem”.

Complementa o texto a fotografia de João Vital Evangelista Souto. A sua experiência na área de meio ambiente, especialmente focada no bioma caatinga, característico do nordeste brasileiro, foi decisiva para a perfeita integração de texto e imagem que caracteriza o livro. “Quando o meu irmão Geraldo Queiroz me mostrou fiquei sem palavras, porque o maravilhoso registro fotográfico de João Vital Evangelista Souto completou toda a poesia que reflete a beleza da natureza daquela região que só aparece no inverno. Porque durante a o período da seca tudo muda de cor”, destaca a autora.

A programação de lançamento da obra conta ainda com a exposição fotográfica sobre o tema, organizada pela Fundação Félix Rodrigues. A instituição, que compõe a Rede Nacional de Pontos de Cultura, mantém em sua sede na cidade de Pendências o Espaço Cultural Manoel Rodrigues de Melo, que desenvolve um trabalho de preservação da memória do escritor e da região. A data foi escolhida em comemoração ao nascimento do autor de Várzea do Açu, Cavalo de Pau, Patriarcas e Carreiros, ocorrido em 7/7/1907.

“Destaco ainda a importância da Fundação Félix Rodrigues que fica na casa onde nasci em Pendências e a nossa família doamos a população da região, onde além, de cursos, eventos culturais, ações de estimulo a leitura, entre outros, esse livro também estará a disposição da comunidades, afinal é um registro histórico”, completa Maria Salete.

Além de Natal, as cidades de Assu, Macau e Pendências estão incluídas no programa. Em Assu, o lançamento será realizado no Cine Teatro Pedro Amorim, dia 25 de julho, às 10h. Em Macau, dia 8 de agosto, às 10h, no Centro Petrobras de Cultura Porto de Ama. O encerramento será em Pendências, dia 22 de agosto, na sede da Fundação Félix Rodrigues, onde ficará em caráter permanente a exposição fotográfica.
Fonte: Jornal de Hoje - Cultura.

Partido Novo

"Para mim, o NOVO significa a real perspectiva de mudança por meio de uma nova forma de fazer política, com cidadãos de bem, honestos, preparados e competentes. O NOVO é uma plataforma para melhorarmos a gestão pública, reduzir o peso dos tributos e oxigenar a política brasileira".

Cláudio Cavalcanti Barra, 36 anos, administrador pela USP e líder do NOVO em Brasília.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Charge

A RAMPA E O RIO POTENGI EM FOTOS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Publicado em 03/07/2013

Um hidroavião Martin PBM Mariner sendo baixado para o Rio Potengi pela rampa existente na Naval Air Statin Natal (NAS Natal), hoje conhecida como Ramoa
Um hidroavião Martin PBM Mariner sendo baixado para o Rio Potengi pela rampa existente na Naval Air Station Natal (NAS Natal), local hoje conhecido simplismente  como Rampa
NA ÚLTIMA SEMANA PAUTEI NESTE ESPAÇO ALGUNS MATERIAIS SOBRE O  SÍTIO HISTÓRICO DA ANTIGA RAMPA, NO BAIRRO DA RIBEIRA, EM NATAL. HOUVE UMA REPERCUSSÃO MUITO POSITIVO E UM GRANDE RETORNO POR PARTE DAQUELES QUE VISITARAM O NOSSO TOK DE HISTÓRIA E ASSIM CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE ESTE LOCAL, TÃO LIGADO A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
Pátio da Rampa e seus hidroaviões
Pátio da Rampa e seus hidroaviões
NO NOSSO BLOG TOK DE HISTÓRIA, ESPAÇO NA INTERNET PAUTADO PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO HISTÓRICA, TRAGO AOS MUITOS AMIGOS E AMIGAS QUE APRECIAM NOSSO TRABALHO, ALGUMAS FOTOS DA VELHA RAMPA DURANTE A GUERRA, EM MEIO A HIDROAVIÕES DA U.S. NAVY, O RIO POTENGI E SEUS BARCOS A VELA, OU A “PANO” COMO DIZEM ATÉ HOJE OS PESCADORES.
Decolagem no rio Potengi
Decolagem no rio Potengi
Os barcos típicos do rio Potengi
Os barcos típicos do rio Potengi
Flutuante da Panair, onde os hidroaviões eram amarrados quando no rio
Flutuante da Panair, onde os hidroaviões eram amarrados
Hidroavião na água
Hidroavião na água
Desembarque
Desembarque
Embarque
Embarque
Hidroavião subindo a rampa
Hidroavião subindo a rampa
Natal em uma das principais rotas aéreas durante a Segunda Guerra Mundial
Natal em uma das principais rotas aéreas durante a Segunda Guerra Mundial, o “Trampolim da Vitória”
Um piloto da U.S. Navy e seus óculos Ray-Ban
Um piloto da U.S. Navy e seus óculos Ray-Ban

Do blog: Tok de História

Poesia

Gosto de falar de tudo que dê leveza a Vida ao Coração e a alma..
De sentir a presença da humildade nas pessoas,a Esperança colorida das Crianças,de ficar bem pertinho dos apaixonados,pra sentir a força do amor.
Gosto do que faz parte de Deus,e que agora faz parte também de mim...

Rafaela Bueno

De: Jardim em Poesia 

Citação

"Castelo Di Bivar — em Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte."

De: APHOTO Associação Potiguar de Fotografia


















De Paulo Montenegro

Nota

Paulo Montenegro vem de público, com a sua humildade que lhe é peculiar, pedir desculpas pelo incidente ocorrido na cidade de Assu, no último dia 24, envolvendo a sua pessoa e o editor do jornal Tribuna do Vale do Açu chamado Liberato Júnior, conforme os versos transcritos abaixo:

Meu amigo Liberato
Aconteceu é um fato
A queda que eu levei
Você tirou a cadeira
Não gostei da brincadeira
Por isso revidei
Admito que errei
E você também errou
Por isso lhe perdoei
E você me perdoe
Diga ao nosso "Pó de Arroz"
Não vou deixar pra depois
Minhas desculpas pedir
Sei que estava mei-chumbado
Perdoe-me e fico calado
Não vou mais repetir.

(Fica o registro do pedido de desculpas do nosso amigo e conterrâneo ex-deputado estadual Paulo Montenegro).

Maria Eugênia Montenegro





Escritora assuense Maria Eugênia, entrevistada por Edmilson da Silva. Ela foi a primeira mulher  assumir a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, cadeira deixada por Rômulo Wanderley. É de sua autoria, o poemeto adiante:

Minhas mãos são asas.
Taças,
Preces:
Quando anseio a liberdade,
Quando tenho sede de amor, quando minha alma se transforma em dor.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Poema




Por Cristina Costa

Já não suporto falsa modéstia
nem humildade orgulhosa.
Não quero os amigos da fartura
nem das vitórias.
Quero verdades cruas e expostas.
Quero olhar para o espelho
e ver um diamante em lapidação.
Camadas da minha pele
lapidadas em pedra bruta.
Bruta, mas terna.
Rude, mas com delicadeza.
Contrastes de poesia
formando um todo transformado
e depurado em beleza!
Não quero que digam
que gostam muito de mim
e muito menos que me amam.
Quero apenas que o demonstrem.
Simplesmente! 

Palavras de amor

"Amar alguém é ótimo.. Ser amado por alguém é maravilhoso.. Mas ser amado por alguém a quem amamos é o paraíso.."

(Paulo Coelho)
1

Um poema de Walflan de Queiroz

A Tânia , numa tarde de crepúsculo místico

Por Walflan de Queiroz, poeta potiguar de São Miguel

Esta tarde meus olhos estão cansados de te esperar
E de te desejar na tranquila paisagem do porto,
Onde os barcos balançam mansamente sob o crepúsculo.
Esta tarde eu te ouço no murmúrio das águas, no voo
Da gaivota, quando desfalece em mim a visão da retirada ilha.
Esta tarde meu coração adormece docemente em tuas mãos
E penso no silêncio das estrelas e dos teus olhos.

Do bolg: Walflan de Queiros, tem orgulho em dizer, era meu primo segundo, por ser sobrinho de minha avó paterna Odete Fernandes Fontes de Queiroz Caldas. Fica o registro.


A quadra

Escreves bem divinamente errando
As palavras que escreves, que deparo
E que beijo, mil vezes enxugando
O rosto feio e de prazer avaro...

Foi entre meus papéis: num dia claro
Encontrei uma quadra e... soletrando,
Li esses versos teus, neles notando
Os belos erros d'um talento raro...

Se eu assim escrevesse! Se eu dissesse
Em versos tão errados, se eu pudesse
Dizer cismares que me são diversos...

Ah! Eu te invejo essa quadrinha errada:
Nunca vi comoção mais bem lembrada,
Nunca vi dizer mais em quatro versos!

João Lins Caldas, poeta potiguar do Assu

"Eu vivi tudo isso"

Poesia

Sentir-se amado por alguém é um dos melhores presentes que a vida pode nos dar.

(Silvana Gonçalves Luiz)

De: Poesia: Sentimento Abstrato



UM MAPA DE 1811 MOSTRA INTERESSANTES ASPECTOS DA TERRA POTIGUAR

Autor – Rostand Medeiros

Através do amigo José Cardoso de Paula Morais, que da sua bela Cidade Maravilhosa, me manda dos arquivos da fantástica Biblioteca Nacional, um interessante mapa digitalizado do nosso Rio Grande do Norte, do qual tenho enorme orgulho de ser filho desta terra.

O mapa conforme recebi no original. 
Fonte - Biblioteca Nacional, através de José Cardoso de Paula Morais

Intitulado “Mappa Topographico da Capitania do Rio Grande do Norte”, é datado de 1811 e a sua execução e foi realizado sob as ordens do então governador das terras potiguares, José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, um homem aparentemente bastante interessado em saber o que tinha as terras sob sua administração, conforme veremos mais adiante.

Aparentemente o autor específico da carta topográfica é um sábio de nome “Montenegro”, conforme está mostrado no canto esquerdo inferior deste material. Se não estou errado, vemos escrito “Montenegro desenhou” e acompanha um indicativo do local e do ano onde o “Mappa Topographico da Capitania do Rio Grande do Norte” foi feito – “Recife:1811”.

Um ponto de interesse são as desembocaduras dos rios, os cursos destes para o interior, o quanto estes eram caudalosos etc. Como na carta não aparece o mínimo rasgo de uma simples estradinha, estes rios eram os verdadeiros caminhos potiguares da época. Vemos os Rios Piranhas, “Apody”, o Maxaranguape, entre outros.

Já a nossa capital é denominada “Cidade do Natal” e está junto a “Barra do Rio Grande”.

Destaque também para as pequenas áreas habitacionais, muitas destas nada mais que simples arruados, marcados com um símbolo que mostra uma cruz. Esta era uma marcação muito comum em mapas desta época, que serviam também para mostrar a um crente seguidor da igreja, que naqueles ermos havia uma casa do senhor, onde ele poderia fazer suas orações.

Como era uma época sem estradas de qualidade, sem placas indicativas (a maioria do povo era analfabeta) e muito menos GPS, o mapa mostra as muitas serras do nosso sertão, servindo como pontos de referência para possíveis viajantes que seguissem a conhecer a região. Vemos a Serra de Martins, a de Luís Gomes, de “Sta. Anna” e a grande Serra do Camará, hoje mais conhecida como Serra de São Miguel.

O mapa se mostra bastante amarelado, mas ainda bem visível no original. Não tenho ideia de suas dimensões reais. Mesmo com todas as dificuldades da baixa resolução, vemos que o autor olhou o nosso estado como um observador posicionado ao norte, parecendo a olhos atuais que a carta está de cabeça para baixo.

Mas na perspectiva de quem o concebeu, importava mostrar principalmente a localização dos pontos de atracação ao longo do nosso litoral (marcado com pequenas âncoras), uma ação muito importante para o principal meio de transporte e de escoamento de mercadorias da época, o marítimo.

Tanto assim que na base do mapa encontramos 34 indicações dos pontos do nosso litoral, com informações para os navegantes e marcações de áreas ao longo de nossas praias. Tudo de suma importância para os navegadores daquela época.

Muitas das denominações litorâneas foram alteradas, esquecidas, ou alteradas. É o caso da de número 1, com a denominação “Mossoró”, a nossa primeira praia a partir do Ceará e vem acompanhado do indicativo “Banco de Areia”.

Já outras marcações permanecem, como as de números 2 e 3, onde aparece a denominação ainda corrente da bela praia de Redonda. Interessante é que neste ponto do mapa aparece o nome “Ponta do Mel”, mas a localidade não foi contemplada com uma numeração e nem algum indicativo sobre a área.
O mapa com alterações do programa PICASA

Já na de número 9 aparece o nome “Guamaré” e não mais “Água-Maré”, como era denominado em tempos anteriores a feitura desta carta.

A marcação 10 é apresentada como “Gallos” (ainda existente, próximo ao município de Galinhos) e seguem inúmeras outras como o Cabo de São Roque e Maxaranguape (25), Ponta Negra (28), Pirangí (29), Tabatinga (31) e Baía Formosa como a nossa última praia antes da mal traçada fronteira com a Paraíba.

O mapa chega a mostrar locais que sumiram da face da terra, como no caso da Ilha de Manuel Gonçalves.

Neste local consta que existiu uma pequena fortaleza, construída pelo mesmo governador que mandou fazer o mapa aqui mostrado. Ali teve início uma povoação que hoje é a cidade de Macau. Ocorre que devido a ações da natureza, esta ilha desapareceu, tornando-se uma verdadeira “Atlântida Potiguar”. Com ela sumiu o fortim, as primeiras casas de Macau e grande parte de sua história. Os Macauenses mudaram suas casas para outro local e lá a cidade permanece até hoje.
Detalhe do mapa de 1811, mostrando a região de Macau

Mas o mapa mostra que a “Manoel Gonçalves”, com o número 7, estava lá em 1811.

A partir do local onde está a desembocadura do Rio Piranhas, seguindo os contornos do rio um pouco mais acima, vamos encontrar o local “Oficinas”. Esta era uma antiga povoação que aproveitava a grande quantidade de sal existente na região, junto com a carne de gado dos rebanhos que ali eram criados e produzia charque em suas denominadas oficinas. Um pouco mais acima de “Oficinas” encontramos a “Villa da Princeza”, o atual município de Assú. E por aí vai o que se pode aproveitar desta interessante carta.

Sobre o homem que mandou confeccioná-lo, consta que José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque foi um militar de artilharia e funcionário público da coroa portuguesa com muitos serviços prestados.

Mas nem tanto assim.

Segundo os “Annais de Pernambuco”, em 21 de Maio de 1801, um delator informou às autoridades da Capitania de Pernambuco os planos de um grupo de conjurados, que desejavam deflagrar um movimento separatista, o que conduziu à detenção de diversos implicados. Vejamos o que foi publicado sobre o fato.
O Forte dos Reis Magos, na Barra do Rio Grande, na época dos holandeses. 
Fonte - Foto do autor, feita no Instituto Ricardo Brennand, em Recife, Pernambuco

“Em 10 de junho do mesmo ano é preso o comandante militar da freguesia do Cabo de Santo Agostinho, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, ilustre e alentado fidalgo, senhor do engenho Suassuna em Jaboatão, como chefe de uma conspiração política, que tinha por objeto formar de Pernambuco uma república independente sob o protetorado de Napoleão Bonaparte, o grande líder francês.

Um dos seus irmãos, o terceiro, José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, então em Lisboa, figurava na conjuração como agente no Reino, e escapou de ser preso, fugindo para a Inglaterra.

O público jamais penetrou os esconderijos deste mistério, porque molas reais e secretas fizeram correr sobre ele cortinas impenetráveis; foi certo, contudo, que rios de dinheiro correram pelas religiosas mãos de Frei José Laboreiro, respeitável pelo seu saber e virtudes, lente de teologia dogmática do Seminário Episcopal de Olinda, e de grande prestígio na corte, de onde recentemente chegara, tirando por fruto serem os acusados restituídos à liberdade, à posse dos seus bens sequestrados, e à estima e prêmios do soberano”.

José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque soube dar a volta por cima nesta situação e em 23 de março de 1806 é designado para governar a capitania do Rio Grande do Norte.

Câmara Cascudo (In “História do Rio Grande do Norte”, MEC, 1955, páginas 130 e 131) comenta que Cavalcanti foi um dos melhores governadores que o estado já teve e exerceu seu mandato até maio de 1811.

Além de erguer pequenos fortes de pedra e cal ao longo do litoral potiguar, Cavalcanti fundou um asilo para as viúvas dos soldados. O governador mandou proceder em 1805 a um censo demográfico, que apontou existirem 49.181 potiguares, sendo 24.834 homens e 24.347 mulheres, entre brancos, pardos, negros e índios.

Escreveu Cascudo que este governante se preocupava desde abrir estradas, a comida dos presos e teria sido o primeiro a promover, em 1809, a vacinação de potiguares contra doenças, tendo sido utilizada a vacina jenneriana. (1)

Cavalcanti estava no poder quando o viajante inglês Henry Koster passou por Natal a cavalo, vindo de Recife e seguindo em direção ao Ceará. Cascudo informa que Koster elogiou alguns aspectos gerais da capital da pequena província. (2)

Este governador reformou até mesmo os costumes sociais em Natal, onde introduziu o uso de tecidos ingleses e promoveu o costume das reuniões sociais. Será então que os natalenses cobriam suas “vergonhas” com simples panos de chita e mal colocavam a cabeça para fora de seus alpendres de tão matutos que eram?

Não sei se José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque esteve envolvido na Revolução de 1817. Creio que não, pois em fevereiro de 1817 ele assumiu o posto de governador de Moçambique, na África. Consta que lá restaurou a Fortaleza de Mossuril e faleceu em setembro do ano seguinte.

Notas

Nota 1 – Descoberta pelo criador da vacinação, o médico inglês Edward Jenner (1749 a 1823), a forma como esta vacina chegou ao Brasil é uma verdadeira história do terror, do que era a escravidão e de como seus senhores utilizavam suas “peças”.

Em 1804 comerciantes baianos, sob o patrocínio de Felisberto Caldeira Brant Pontes Oliveira e Horta, o poderoso Marquês de Barbacena, bancaram a viagem de alguns escravos à Europa para serem inoculados com o chamado “pus vacínico” e trazerem a vacina jenneriana para o Brasil. Já no ano seguinte, os capitães-mores de algumas províncias tornavam a vacinação obrigatória, entre estes estava o atuante Cavalcanti.

Para entender melhor o porquê de enviar escravos nesta viagem nada turística, a vacina descoberta por Jenner no final do século XVIII a partir de observações sobre a relação entre a varíola e a imunidade provocada no homem quando em contato com o “cow-pox”, ou pústula da vaca, doença similar à varíola desenvolvida pelos bovinos. O produto extraído do “cow-pox” foi denominado “vacina” e ao ser inoculado no homem causava erupções semelhantes às da varíola. A vacina jenneriana consistia na inoculação da “linfa” ou “pus variólico” produzido por estas erupções da pele humana provocadas pelo “cow-pox”. Por este motivo, também era chamada vacinação “braço a braço” devido ao método. Este tipo de vacina, porém, começou a ser questionado quando se percebeu que, além de perder o efeito após algum tempo, ele poderia estar associado à transmissão de outras doenças, em particular da sífilis.

Nota 2 – Filho do comerciante inglês de Liverpool, John Theodore Koster, Henry Koster nasceu em Lisboa, Portugal. Não se sabe ao certo a data do seu nascimento, mas ao chegar no Recife, no dia 7 de setembro de 1809, consta que tivesse 25 anos de idade. Considerado um dos mais importantes cronistas sobre o Nordeste brasileiro, Koster viajou para o Brasil em busca de um clima tropical para curar uma tuberculose.

Teve um papel importante na vida social, artística e até política do Recife na época. Fez muitas amizades, conheceu governadores, senhores-de-engenho, comerciantes, coronéis.

Falava o português com fluência, o que fazia com que algumas pessoas duvidassem da sua nacionalidade, tratando-o brasileiramente por Henrique da Costa.

Em 1810, sentindo-se bem melhor da doença que o acometia, resolveu viajar a cavalo para a Paraíba e de lá foi até Fortaleza, no Ceará. Voltou ao Recife no início de fevereiro de 1811 e já no final do mês viajou novamente, desta vez por mar, para o Maranhão, de onde regressou para a Inglaterra.

Em 27 de dezembro do mesmo ano, voltou ao Recife e fez uma viagem ao sertão de Pernambuco. Quando retornou, arrendou o engenho Jaguaribe, na ilha de Itamaracá, tornando-se agricultor e senhor-de-engenho.

Como bom observador anotava, com detalhes, tudo o que via em suas viagens e no seu dia-a-dia. Tomava parte da vida brasileira, conhecendo seu povo, seus usos e costumes, convivendo nas ruas com as mais diferentes camadas da população e frequentando festas da sociedade local.

Retornando à Inglaterra, em 1815, resolveu escrever um livro sobre o Brasil. Publicou-o em Londres, sob o título “Travels in Brazi”l, em 1816. A obra obteve uma grande repercussão na Europa, com várias edições publicadas em diversas línguas. A primeira edição brasileira do livro, com tradução de Luís da Câmara Cascudo foi publicada em 1942, com o título Viagens ao Nordeste do Brasil.

Koster não pretendia voltar ao Brasil, mas ao concluir o livro e sentindo o recrudescimento da tuberculose, retornou a Pernambuco em 1817.

Transferiu-se depois para a Goiana, ao norte de Pernambuco, à procura de um clima melhor para sua saúde. Segundo informações de um outro viajante inglês, seu contemporâneo James Henderson, Henry Koster teria retornado ao Recife em fins de 1819, onde faleceu no início de 1820, sendo enterrado no Cemitério dos Ingleses, em local não identificado.

P.S. – Antes que alguém reclame da resolução do mapa, eu recebi o material com 406 KB e, mesmo não sendo nenhum expert, tentei dar uma melhorada através do programa PICASA. Mas o resultado não ficou 100%. De forma alguma reclamo o regalo recebido, antes disso. Mas é o que tenho para mostrar.

Um forte abraço ao amigão José Cardoso de Paula Morais, a Laura, a Paulinha e estou na luta para ir para o Rio no fim do ano e visitar estes maravilhosos arquivos.

Postado por Tok de História

MEMÓRIAS

MEMÓRIAS

BOI MASCARADO
Foto ilustrativa
Por Ivan Pinheiro
As pacatas ruas do Assu próximas ao Matadouro Público da Rua José Leão / Bernardo Vieira sempre se agitavam quando ecoava o grito de um de seus habitantes:

- Lá vem um boi mascarado!!!!

Na Praça Vereador Luiz Paulino Cabral – a popular “rua do córrego”, por exemplo, saiam meninos de todos os recantos... Donas de casas fechavam suas portas... Os adultos gritavam nervosos para que seus filhos viessem para casa. Mas os garotos não ouviam os apelos desesperados dos pais, queriam participar da algazarra... Cada um pegava uma pedra, um tijolo, um pedaço de madeira ou ferro para melhor se defender.

Na “Rua do Córrego”, nesta época (anos setenta) existia uma fileira de pés de fícus onde abrigava, diariamente, dezenas de meninos (meninas não frequentavam ao recinto). As sombras das frondosas árvores serviam de ponto de encontro para os desocupados. Lá diversas brincadeiras eram executadas. Não demorava muito para que brigas fossem travadas.

Uma coisa que mudava, realmente, a rotina da rua era o boi mascarado. Geralmente conduzidos por dois vaqueiros que ficavam desorientados com tantos meninos batendo ou apedrejando o animal que, valentemente, corria sem rumo certo na direção do barulho provocado pela gritaria da garotada. Quando era “uma boiada” a farra era deslumbrante, em algumas ocasiões durava a tarde inteira.

Não era difícil a invasão domiciliar. O bicho entrava quebrando o que estivesse pela frente. Sorte daqueles que tinham as casas com piso de “cimento queimado” porque o boi deslizava e caia logo na sala. Quem tinha aquele tipo de assoalho usava cera ou pó de carnaúba para ficar lisinho e dar brilho ao piso... Escorregava igual a sabão. O boi ali abria escala e era preciso ser arrastado pelo rabo. Aventura à parte.

Terminada a “farra do boi” era hora de retornar para casa, pedir perdão aos pais, dizer que não ouviu seus chamados... Muitos “esquentavam os couros” calados para que os colegas não ouvissem seus gritos e no dia seguinte fizessem “praia” em baixo dos ‘pés de fícus de João da Rocha’.

A “farra do boi” era na verdade uma despedida. Os meninos maiores só ficavam satisfeitos quando chegavam ao curral do matadouro. Lá o pobre e indefeso animal bebia água, descansava e ficava aguardando a madrugada chegar, hora de ser conduzido ao colchete para receber a certeira machadada na cabeça.

Reminiscências do meu tempo de criança...

Hoje, relembrando aqueles tempos me deparo com a poesia do mestre poeta João Lins Caldas:

UM TOURO

Vais morrer, vais morrer...
O cepo do marchante breve te pesará
Sobre a cabeça rude...
E tu, pobre animal, sem crime e sem virtude,
Nunca mais hás de ver e ter curral distante.
Jamais há de provar, num mourejar constante,
Entre vacas e bois, a revelar saúde
Das águas de cristal do mais sereno açude
Ou do verde capim do campo mais fartante.
A tua pobre carne há de servir de pasto...
E quando fores nada, quando fores gasto,
Te resta esse consolo, o consolo dos mortos:
Morreste para servir, alimentando vidas,
Muito franco pesar, muitas dores compridas,
Muitos cegos que vão pelos caminhos tortos...

"Luiz Gonzaga e a Música Potiguar", de Leide Câmara

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...