quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
EVOCAÇÃO A PADRE MONTE
ROSTAND MEDEIROS DEIXE UM COMENTÁRIO
Um texto do jornalista Aluízio Alves sobre sua amizade e a ocasião do falecimento daquele que é considerado um dos mais importantes intelectuais e cientistas potiguares
Autor – Aluízio Alves
Publicado em uma edição do jornal Tribuna do Norte em fevereiro de 1994.
Nas homenagens que o Rio Grande do Norte presta ao Cônego Luiz Monte, no 50° aniversário de sua morte, não tratarei de sua presença importante nos trabalhos da Igreja Católica, no ensino fundamental e na vida intelectual do Estado. Outros o farão com as condições de tempo para pesquisas necessárias na imprensa e nos depoimentos de quantos, na época, conviveram com a sua extraordinária figura.
Lembrarei, apenas, o amigo, que conheci, menino ainda em Angicos, e em curiosa circunstância.
O único automóvel de passeio que existia em Angicos era propriedade de meu Pai. E não havia automóveis de aluguel.
Numa tarde, véspera de natal, chegou à nossa casa o Padre Monte. Viera de trem contando com um transporte que passaria pela cidade e o levaria aquela noite à Vila de Afonso Bezerra para celebração da Missa da Grande Noite. E fora surpreendido com a notícia de que o carro, por defeito inesperadamente apresentado, não estava em condições de viagem. Soubera que meu pai possuía um automóvel e queria saber se poderia utilizar.
Posto a sua disposição veio a nova surpresa: o motorista Otacílio amanhecera com catapora.
Com a notícia o Padre Monte olhou para mim:
– Você não sabe guiar? Perguntou, rindo. Eu não podia saber, nos meus 14 anos.
– Eu ensino a você. E com certo constrangimento de meu Pai, fui com ele à garagem, assumi a direção, e ele, ao meu lado, indicando as providências manuais, me fez tirar o carro, e sob o olhar de alguns curiosos que nos cercavam, saímos para a grande viagem. Sim, porque enquanto o percurso era feito em normalmente uma hora e meia, em estrada de barro, daquela vez demorou quatro horas.
Voltamos na madrugada, e fomos tomar café em nossa casa.
Com a timidez própria pela companhia dos mais velhos, meus pais, e o hóspede, tentei tirar com o garfo uma bolacha, que pulou para o chão, sob severo olhar de minha mãe.
Antes da inevitável repreensão, padre Monte saiu em minha defesa.
– Tira-se mesmo com o garfo. Apenas, molha-se o garfo no café, antes. E o fez com êxito.
Vim morar em Natal, fui seu aluno no Ateneu, e aí fizemos uma boa amizade. Convidava-me para almoçar com ele no Seminário, dava-me livros e acompanhava o início de minha atividade como repórter, sempre achando graça no meu entusiasmo pela atividade política.
Quando fui dirigir o Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social e a LBA, enfrentei o problema dos mendigos e menores abandonados. Depois de construir em terreno cedido pelo Prefeito José Varela, o Instituto Juvino Barreto, para velhos; alugar uma casa na rua Seridó para menores do sexo masculino (onde fora fundado com a minha presença, aos 11 anos, o Partido Popular), o Instituto Mello Mattos, cuja administração entreguei a Orígenes Monte, hoje, padre, e irmão de padre Monte; com pioneira Clínica de Conduta, chefiada pelo médico João Machado, e construir, em Lagoa Seca, o Instituto João Maria, fechado anos depois, pondo-se em suas instalações, a CIDA, da Secretaria da Agricultura, resolvi tirar das ruas mendigos e menores abandonados. Mediante seleção, iniciamos o trabalho.
O “Diário de Natal” colocou-se contra a solução, acusando-a, inclusive, de nazista: dar um lar a mendigos, e dar oportunidade de educação e formação a crianças pobres…
Em plena campanha, cheguei ao meu gabinete e encontrei um bilhete, deixado pessoalmente pelo Padre Monte; “Alguma vez, você já viu alguém atirando pedras em fícus-benjamim? Certamente, não. Não dá frutos. Mas, todos os dias vê alguém jogando pedras em mangueiras que nos dão as nossas gostosas mangas. Seu trabalho está dando frutos. Continue com as bênçãos de deus. Padre Monte”. Continuei. E os mendigos e os menores abandonados só voltaram as ruas depois que, eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte, vim exercer outras tarefas. Fechou-se o Mello Mattos, com suas oficinas, fechou-se o Padre João Maria com seu coro orfeônico que tinha os aplausos da Cidade. Sobrou, apenas, o Juvino Barreto, que fui visitar, a pouco tempo, nos seus 30 anos de resistência.
Mas, um dia de fevereiro de 1944, recebi um aviso: padre Monte saíra do Seminário, onde morava, na tarde anterior, com pequena maleta e o livro “Damião, o leproso”, e, sem qualquer aviso de viagem, não voltara para dormir nem para os compromissos de aulas no dia seguinte.
Com toda a discrição, em face ao título do livro, fui ao Leprosário São Francisco[1]. Depois ao Hospital então Juvino Barreto, hoje Onofre Lopes. Nada, final, fui encontrá-lo, já à noite, no Sanatório Getúlio Vargas onde recebera assistência medica de Milton Ribeiro Dantas. Pediu-me total segredo de sua doença e de sua presença ali. A razão desses cuidados eu não entendia. Conversei, depois, com Saul, velho enfermeiro e amigo, e dessa conversa tomei algumas providências: confidenciei a Margarida Filgueira, que trabalhava comigo, e muito amiga do padre Monte, e adquiri roupa de cama na loja “Nova Aurora”, na Ribeira, e alimentos no Armazém Chaves, e Margarida ficou incumbida da provisão necessária.
Todos os dias eu passava ali, pela manhã, e no fim da tarde, e me preocupava, não só seu estado de fraqueza, sem reação aparente, mas, sobretudo, a sua tristeza. Uma tarde, tirou do bolso superior do pijama, o seu relógio, de ouro, e me entregou. Supus que queria saber a hora. Não. Devolveu-me. “É seu”. Um presente com ar de despedida. Ainda hoje, deploro que, no tumulto da madrugada da deposição de Getúlio, tenha perdido aquela lembrança importante.
No dia 28, fui chamado por Saul, às pressas. Cheguei o mais rápido possível. Encontrei-o em processo de asfixia, e vi aproximar-se a morte. Acendi a vela, pus nas suas mãos, ante os olhos conscientes e tristes, que, pouco depois, se apagaram na minha presença, de Milton Ribeiro Dantas e Saul.
Saí dali para comunicar a família e ao Bispo Dom Marcolino. Fui encontrá-lo no Colégio das Neves, pregando Retiro Espiritual. Dei-lhe a notícia. Não segurou o pranto convulso. E verifiquei que nem sabia da doença, nem do internamento do Padre Monte.
Sobre esses fatos, passaram 50 anos. E esse meio século de amizade e testemunho não me deixam esquecer a lembrança e a saudade do grande sacerdote, do grande cientista, da grande figura humana que sempre marcarão o Rio Grande do Norte.
NOTA –
[1] Nascido Jozef de Veuster -Wouters, depois conhecido como Damião de Molokai, ou Padre Damião, foi um missionário católico nascido na Bélgica em 1840 e que pertenceu a Congregação dos Sagrados Corações. Quando completou vinte e um anos de idade um bispo do Havaí, arquipélago do Pacífico e então um reino independente, estava em Paris para ministrar algumas palestras e conseguir missionários para a região. Ele expunha os problemas ali existentes especialmente dos doentes de lepra, à época doença incurável, que eram por determinação do governo exilados e abandonados numa ilha chamada Molokai. Damião se interessou e se colocou à disposição para ir como missionário à ilha. Passou mais de dez anos no lugar e contraiu a lepra. Morreu em 15 de abril de 1889 e seu corpo foi transladado para a Bélgica, onde recebeu os solenes funerais de Estado. Em 1995, por seu trabalho e dedicação, padre Damião de Molokai foi beatificado pelo papa João Paulo II e em 11 de outubro de 2009 foi canonizado pelo Papa Bento XVI em presença do rei e da rainha da Bélgica. Para a Igreja Católica passou a ser chamado São Damião de Molokai. Já “Damião, o leproso”, a que Aluízio Alves se referiu em seu texto, é um livro que conta a história de Damião de Veuster na remota ilha de Molokai e foi escrito pelo antigo marinheiro australiano John Farrow (que mais tarde foi trabalhar como diretor de cinema em Hollywood e chegou a ganhar um Oscar). Nota TOK DE HISTÓRIA.
Cartão postal com vista aérea do Cais do Porto e parte da cidade
Fotógrafo: Jaeci Galvão
Ano: 1964
Ano: 1964
De: André Madureira
Bandolim
Se acaso você viesse
eu te daria tudo
aquele abraço que tem gosto de beijo
o beijo que tem sabor de abraços
daria aquele sorriso como um olhar
um olhar sorrindo, doce, inebriado de ti
se acaso tu viestes
eu me daria tudo
alegria e aquela canção dos bandolins
isto seria um acaso - ocaso - caso, sim!
Amélia Freire.
Se acaso você viesse
eu te daria tudo
aquele abraço que tem gosto de beijo
o beijo que tem sabor de abraços
daria aquele sorriso como um olhar
um olhar sorrindo, doce, inebriado de ti
se acaso tu viestes
eu me daria tudo
alegria e aquela canção dos bandolins
isto seria um acaso - ocaso - caso, sim!
Amélia Freire.
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
Vinho do amor
Por João Lins Caldas
Este é o vinho que as almas embebeda,
Que os peitos envenenam sem cautela.
Corre dele um rio que não gela,
Que lava as dores, que a tristeza arreda.
Corações que o buscou, que a crença leda
Bem que do vinho a taça seja bela
Mais tereis inteira, que ele azeda.
Breve, depressa a mocidade passa...
Passa-lhe o saibro de prazer profundo
E ele caminha de outros gostos traça...
A velhice chegando ele não foge
Mas chegando a velhice - cor do mundo -
Feliz de quem o não provar arroje...
Linda Flor, 19.10.11
Por João Lins Caldas
Este é o vinho que as almas embebeda,
Que os peitos envenenam sem cautela.
Corre dele um rio que não gela,
Que lava as dores, que a tristeza arreda.
Corações que o buscou, que a crença leda
Bem que do vinho a taça seja bela
Mais tereis inteira, que ele azeda.
Breve, depressa a mocidade passa...
Passa-lhe o saibro de prazer profundo
E ele caminha de outros gostos traça...
A velhice chegando ele não foge
Mas chegando a velhice - cor do mundo -
Feliz de quem o não provar arroje...
Linda Flor, 19.10.11
ESTA FOI A PRIMEIRA IGREJA DO RN E AQUI ESTÃO 7 CURIOSIDADES SOBRE ELA
https://curiozzzo.com
Pra você que até já teve a curiosidade mas nunca procurou saber mais a respeito.
Pra você que até já teve a curiosidade mas nunca procurou saber mais a respeito.
A primeira igreja do Rio Grande do Norte foi construída em 1599
Foi criada por um Alvará Real, em 1601, do rei de Espanha e Portugal Dom Felipe III.
Ela era uma simples capela sem portas, que hoje é compreendido no espaço que ocupa o altar central da igreja, onde o visitante pode encontrar o alicerce original.
Ela se chama Igreja de Nossa Senhora da Apresentação (nome da padroeira da cidade), ou Catedral de Natal
Ela fica localizada na atual Praça André de Albuquerque, no bairro da Cidade Alta. Hoje, devido à construção da Catedral Metropolitana de Natal na Av. Floriano Peixoto (Tirol), ela passou a se chamar Catedral Antiga ou ainda Catedral Velha.
A primeira missa da cidade foi celebrada nela em 25 de Dezembro de 1599
E foi rezada em homenagem à fundação da cidade pelo padre jesuíta Gaspar de Sampére (ou Gonçalves de Sampére), que era arquiteto militar e projetou também o famoso Forte dos Reis Magos.
Na época, como Natal não tinha cemitério, os fiéis eram sepultados dentro dela
E também nos arredores do cruzeiro.
Ela sofreu várias alterações ao longo da história
Em 1862 a torre foi construída, em 1871 ganhou piso novo, em 1874 veio um sino pequeno que às 21h dava o toque de recolher na cidade.
Mas no ano de 1909, já concluída em seu projeto original, recebeu altares laterais e vários adornos arquitetônicos de estilo neo-gótico, descaracterizando sua feição colonial original.
Em 1994, durante uma restauração, foi descoberto um corpo
O de André de Albuquerque Maranhão, coronel que foi Capitão da capitania do Rio Grande (onde hoje é o RN) entre 1775 e 1817, que foi jogado pela janela do palácio e deixado morrer durante a Revolução de 1817 – ainda com suas mãos presas a grilhões. Além de outras descobertas arqueológicas preciosas.
Toda a restauração removeu elementos do gosto eclético impostos no início do século 20
E então a igreja foi devolvida à comunidade natalense em 15 de Agosto de 1995.
Hoje ela está assim
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