domingo, 14 de abril de 2019

A FEIRA
Feira de louças de barro - anos 70, no Assu

Feira Livre no Assu - foto Jean Lopes
Feira Livre no Assu - foto Jean Lopes
 
A FEIRA

É sábado, amanhece o dia
Chegam primeiro os feirantes
Loroteiros, arrogantes
Arrumam as mercadorias.
Mais tarde vem os feireiros
Sempre em grupos separados
Ainda desconfiados
Com as sacolas vazias. 
 
Grita logo um barraqueiro:
“- Olha aqui feijão novinho
Tem enxofre e mulatinho
Tem o preto e o macaça
Esse amarelinho é bom
O pintado é um azeite
Se quer levar aproveite
Que hoje é quase de graça”. 
 
Muitos trazem pra vender
Couro de bode, algodão,
Batata, milho verde e feijão,
Porco, carneiro e peru,
Depois que terminam as vendas
Se reúnem, vão beber,
As mulheres vão comer
Pé-de-moleque e angu. 
 
Entra um rebanho no bar,
Lá já tem outra patota,
Ali começa a lorota
Pois o prazer é profundo.
Tomam a primeira dosagem
Logo após, outra bicada,
Com a terceira rodada,
Haja mentira no mundo.
 
Diz um, nunca me faltou
Dinheiro pra brincar
Quando eu quero vadiar
Boto a sela no jumento.
Responde outro, melado
Eu juro no evangelho
Que no meu cavalo velho
Derrubo até pensamento. 
 
Grita um mais exaltado
Comigo não tem ladeira
Eu topo toda zonzeira
Toda brincadeira é festa.
Grita outro, eu também sou
Osso duro de roer
Quem quiser venha saber
Um velho pra quanto presta.
 
A coisa está esquentando
Vai acabar o zum-zum
Chega a mulher de um
Do outro chega a esposa
Com pouco o filho do outro
Chega pra dar o recado
“- Mamãe está no mercado
Vamos comprar qualquer coisa"
 
O vendedor de galinha
Fala alto, “aqui freguês
Essa galinha pedrês
É pesada de gordura,
Esse pescoço pelado
É boa pra criar,
Eu garanto ela botar
Cem ovos numa postura.
 
Um galo velho surú
Pra cantar não tem mais som
O vendedor diz “É bom!
Pode levar que é novinho.
Esse galo, meu amigo,
Ainda tem outra coisa
Tem dado surra em raposa
Que ela perde o caminho. 
 
“- Olha a ovelhinha gorda!”
Gritam lá na criação
Grita o do porco “O leitão
É novinho, cavalheiro”!
O velho que está melado
Não presta muita atenção,
No porco compra barrão;
No bode, pai de chiqueiro. 
 
Na carne de gado mostram
Uma manta do pescoço
“- Aqui é carne sem osso,
Compra boa, quem conhece!”
A carne velha encardida
Como que foi de murrinha
Na panela não cozinha
Na brasa não amolece. 
 
Aquele que se entreteu
Na birita o dia inteiro
Acabou todo o dinheiro
Passou o tempo e não viu
Ficou sem nenhum tostão
No bolso da velha calça
O que sobrou da cachaça
O pife-pafe engoliu.
 
Arranja uma confusão
Quase ao morrer do dia
Vai para a delegacia
Para um repouso forçado
Coitado, caiu à crista.
De manhã faz a faxina
Inda vai dar entrevista
Com o doutor delegado. 

Chico Traíra
Do poeta Francisco Agripino de Alcaniz, o popular Chico Traíra – grande violeiro, assuense de coração, nascido no sítio Pau de Jucá – Ipanguaçu/RN. Em Assu existe uma rua, no Bairro Frutilândia, que tem Chico Traíra como patrono. Também é patrono da Academia Assuense de Letras.

sábado, 13 de abril de 2019

SPVA (Sociedade dos poetas vivos e afins-RN).
Sarau poético no Parque das Dunas.
AMOR DE UMA SERTANEJA
Verdadeiro nosso amor
É bonito no torrão
Comendo uma feijoada
Sobremesa de melão
À noite tem bom cuscuz
Carne guizada e pirão.
Eu beijo a mulher amada
Na linda colcha macia
Eu pego a fruta madura
Na rama da melancia
É grande o amor pelos filhos
Todo dia acaricia.
A minha linda mulher
Cheira mais que coalhada
Boneca de milho verde
É uma menina amada
Na varanda numa rede
Ela olha a noite estrelada.
Toma banho no açude
À sombra da quixabeira
E para se perfumar
Sabonete de aroeira
Depois passa no seu corpo
Líquido duma roseira.
Marcos Calaça é poeta matuto e cordelista

segunda-feira, 8 de abril de 2019


Vou-me embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira



Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu năo sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a măe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilizaçăo
Tem um processo seguro
De impedir a concepçăo
Tem telefone automático
Tem alcalóide ŕ vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de năo ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
– Manuel Bandeira, do livro “Bandeira a Vida Inteira”. Rio de Janeiro: Editora Alumbramento, 1986.
Assista aqui na voz de Antônio Abujamra
Saiba mais sobre Manuel Bandeira
Manuel Bandeira – estrela da vida inteira

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Por Wiliame Caldas

Olha, pra você eu serei sempre ontem,
estarei sempre preso no passado.
Pensarei sempre no futuro...
Num novo futuro, onde você
Não pertencerá, não estará.
Quando tudo estiver pronto
Quando a vida seguir em frente
Seguirei minha estada
Onde você não será mais nada
Apenas um ponto lá no passado
Um ponto distante na lembrança.
Não significará, mesmo nada
E estarei nesse momento
Seguro de tudo, de mim
Sem sequer um lamento
Em vez de, um sorriso que diz
Há, como hoje sou feliz...

Elegância é algo que a gente carrega, não veste!




Texto de Anieli Talon
Ser elegante vai além de ter bom gosto com roupas e saber se vestir. Elegância é algo que a gente carrega e não veste.
Regras de etiqueta da vida e não do armário para uma vida onde elegância é sinônimo de educação e bom comportamento.
Sabe o que é mesmo elegante? Ter bom senso e respeito.
Não é preciso estar em cima de um salto alto ou dentro de um terno caríssimo para ser elegante. As atitudes enfeiam pessoas que não tem bom comportamento.
A elegância está na simplicidade de um bom dia sincero para o porteiro que passou a noite toda acordado, no falar baixo quando o outro está perto, no saber ouvir quando o outro fala, e no saber sorrir quando isso é tudo o que você pode oferecer.
No saber agir sem agredir.
Uma pessoa elegante tem encantamento na voz, fala com propriedade e tem jeito com as palavras. Sabe chamar a atenção sem ser rude, saber observar sem se intrometer, sabe respeitar o espaço alheio.
A elegância está no tom da voz e no silêncio que também comunica. Na forma de se posicionar quando precisa, no jeito de ver o mundo.
Uma pessoa elegante não vive de fofocas, não inventa mentiras e não se mete em baixaria. Quem é elegante tem positividade, atrai pessoas do bem, vibra com a vida, com os sucessos, torce pelo outro, não tem inveja, carrega alegrias e otimismo, e sente com verdade. Não sabe viver de oportunismos, sabe se colocar nas oportunidades e não puxa saco nem tapete.
Elegância está no “com licença” e “muito obrigado”. No reconhecimento do esforço, na empatia e na colaboração. Está na mão que ajuda, está também na gratidão
E quanto mais conheço pessoas, mais percebo que a elegância está vestida de simplicidade e não de rótulos e invólucros sociais. Encontrei mais elegância calçada de chinelos que vestida de etiquetas, e isso não tem haver com situação financeira, mas com referência de vida, criação e sabedoria.
Encontrei a elegância no ser e não no ter, e percebi que é mais elegante aqueles que se vestem de amor. 

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Nasceu meu oitavo menino... E é um Menino Livro. Um não, O Menino Livro. Com muita esperança e alegria, anúncio o lançamento amanhã em Natal-RN, na Escola de Governo, às 14h. A obra, escrita em redondilha menor, é uma novidade em minhas publicações. Traz as ilustrações fantásticas do mossoroense Téo Viana e mais um trabalho editorial brilhante da M3 Editora. Conta uma história emocionante sobre o poder de transformação dos livros e da leitura na vida das pessoas. Viva, né?! Irruuuulll! Em breve anunciaremos lançamentos em outros lugares.

Maturidade é usar o silêncio quando o outro espera que você grite.

JANEIRO 23, 2019


 

Seremos testados, em vários momentos, por pessoas destemperadas, seja em relacionamentos, no serviço, em casa, na escola, seja na vida. Muitos criam tempestades e, em vez de tentarem sair delas, desejam trazer para debaixo de seus raios e trovões quem estiver por perto.

Enquanto vivermos, estaremos sujeitos a sermos contrariados por pessoas, por acontecimentos, imprevistos, pela vida. É assim e sempre será, desde que nascemos, até nosso último suspiro. Somos várias pessoas nos encontrando e nos desencontrando em ambientes variados, cada uma com seus pensamentos, objetivos e visões sobre o mundo. Inevitável, portanto, trombarmos com quem em nada concordará conosco, ou até mesmo com quem adore azucrinar a paciência alheia.

Infelizmente, existe muita gente cuidando da vida do outro. Seremos questionados sobre o porquê de não namorarmos, de ainda não termos nos casado, de não termos filhos ou de termos determinada quantidade dos mesmos, sobre o porquê do porquê do porquê, e, pior, por pessoas que mal nos conhecem. Ou seja, muitos nem interesse sincero terão por nossas vidas, estarão apenas curiosos mesmo.´

Da mesma forma, muitas pessoas farão observações desagradáveis e incômodas sobre nós, deixando-nos desconfortáveis. Haverá quem dirá que engordamos, que envelhecemos; haverá quem nos censurará e nos julgará pelo modo de vida que escolhermos; haverá quem nos repreenderá por alguma atitude que tomarmos. Incrivelmente, mesmo que nosso comportamento não lhes afete de maneira alguma.

Seremos testados, em vários momentos, por pessoas destemperadas, seja em relacionamentos, no serviço, em casa, na escola, seja na vida. Muitos criam tempestades e, em vez de tentarem sair delas, desejam trazer para debaixo de seus raios e trovões quem estiver por perto. Não se percebem, jamais se responsabilizam pelo que eles próprios provocaram, culpando o mundo, vitimizando-se e espalhando discórdia por onde estiverem.

Caberá a nós manter o controle, o equilíbrio, para que não nos permitamos adentrar a doença do outro, para que não nos molhemos sob tempestades que não são nossas. Teremos que tentar ajudar quem estiver pronto a ouvir, porém, o silêncio será sempre a melhor resposta a quem espera e aguarda pelo nosso destempero, pois assim é que neutralizamos todo o mal que nos rodeia. Isso é maturidade e autopreservação. É sobrevivência.

Autor: Prof Marcel Camargo.

De: https://www.paporetolive.com

NA CIDADE DE ASSU/RN de tudo acontece. Pois bem. Na década de noventa, chega naquela terra pluralista, certo Juiz de Direito, muito exigente. Aquela autoridade foi logo determinando ao tabelião do Cartório de Registro que não casava moça que usasse calça comprida nem rapaz cabeludo. O poeta João Fonseca, vigilante permanente dos acontecimentos da cidade, escreveu essa décima:

Nasceu no tempo da valsa
Cueca samba canção;
Eu não sei por qual razão
Não casa moça com calça
Vestido tem que ter alça
E terá que cobrir tudo.
Do contrário fica mudo
Em tudo bota defeito
Não quer ver bico de peito
E nem rapaz cabeludo.

Historiador alemão resgata 5 mil fotopinturas feitas no Nordeste

Tatiana Mendonça

Titus Riedl já expôs a coleção nos Estados Unidos, México, São Paulo, Ceará e Salvador - Foto: Divulgação

A primeira coisa que o impressionou foi que os mortos pudessem ressuscitar. Estavam ali no caixão, rodeados por flores, e de repente apareciam em fotografias pintadas com os olhos abertos, para serem pendurados vivos. O historiador alemão Titus Riedl, que em 1994 veio morar no Brasil, mais especificamente no Crato, interior do Ceará, resolveu estudar essas imagens, para mostrar que fotos podem ser mais que verossímeis.
Lembra do caso de uma viúva que recebeu a visita de um desses artistas. A mulher lhe conta que não tem foto junto com o marido, e ele pergunta se não há um 3x4 da identidade que seja, ou da carteira de trabalho. E aí, de repente, está a senhora de 80 anos ao lado de um homem com 19. “Quando você vê a fotopintura, tem 60 anos às vezes no meio deles. Você acha que é o neto. Mas não, era o marido”.
Pressentindo que essas imagens desapareceriam com o tempo, Titus decidiu, mais que pesquisá-las, guardá-las. Essas de mortos-vivos, mas também dos vivos-vivos. É hoje o maior colecionador de fotopinturas no Brasil. Tem “na faixa” de cinco mil delas. Uma pequena parte do acervo foi exposta no final de semana passado em Salvador. Um monte de rostos anônimos, mas tão familiares, mirava quem subia ou descia os degraus da escadaria da Igreja do Passo.
A mostra integrou o Festival Transatlântico de Fotografia, promovido pelo Instituto Mario Cravo. Titus também palestrou no evento, falando sobre a tradição dos retratos pintados do Nordeste. Quem é que nunca viu, numa casinha pelo interior, uma foto dessas penduradas na parede? Meus avós têm umas, os seus também devem ter.
Nobreza
Era quando a pobreza tornava-se nobre. “Antigamente, era praticamente a única referência visual que existia dentro das casas. As imagens transmitiam uma autoridade, mostrava quem eram os donos. Hoje as pessoas fazem fotos com chifre, sorriem, tem sempre uma gaiatice, e ali não. Era sério, sereno. Envolvia um ritual de mudar de roupa, pagar pela foto. Tinha de dar certo”.
Às vezes, acontece de algum retratado querer dar as fotopinturas para Titus, sabendo que ele é tão interessado nelas, mas ele não aceita. Construiu sua coleção nas visitas que fazia aos locais onde os artistas trabalhavam, com cópias rejeitadas pelos clientes. “Eram telas com algum defeito, fungo, mancha, ou as pessoas queriam alterar a imagem. Tirar uma figura, botar outra... Comecei a comprar nas oficinas o que eles iam jogar fora. Outras estavam abandonadas há anos pelos vendedores”. 
Hoje, as fotopinturas estão praticamente extintas, diz Titus. Em meados da década de 1990, quando ele passou a reunir os retratos, os pintores já tinham dificuldades de conseguir papel fotográfico e materiais de pintura.
Nos anos 2000, passaram a trabalhar no computador. Titus não gosta muito dessas digitalizadas. Primeiro, porque não duram – no máximo dois, três anos – e, depois, porque perdem o cuidado do fazer manual e uma certa “ingenuidade”. “Ainda dá para fazer fotopintura, mas já pagando muito”.
Os fotógrafos-pintores viajavam o Nordeste produzindo imagens, por isso a coleção de Titus tem obras de vários estados, inclusive da Bahia. Também há retratos pintados similares aos feitos aqui em outras regiões do país e no exterior, em países como Argentina, Uruguai, México. Mais para o sul, elas vão ficando mais elaboradas, conta Titus, mas por isso mesmo “menos legais”, na visão do pesquisador.
Ele já expôs sua coleção nos Estados Unidos, México, São Paulo, Ceará e também aqui em Salvador, em 2007. Viajaram mais que seus donos ali retratados. É como se ganhassem olhos para ver um mundo novo, apartados da casa onde viveram.
Vencer o coração é a maior das forças; domar a razão, a maior das loucuras.

Caldas

quarta-feira, 3 de abril de 2019

AÇUDE MENDUBIM - ASSU-RN

A imagem pode conter: oceano, céu, nuvem, atividades ao ar livre, água e natureza

Você é tudo. É tudo para mim!
Um formidável e imenso "Mendubim"
Pejado de desejos!
Eu sou o rio Assu - das grandes cheias,

Em busca dos seus beijos!
Você tem a alegria das alvoradas,
A beleza da noite enluarada
Com serestas de amor!
Eu tenho na alma dobres de finados...
Encanto por cima dos telhados
Na hora do sol-por.

Você é o acalanto! A melodia
Que as mães solfejam cheias de alegrias
Pro filho adormecer!

Eu sou o cantochão, triste e profundo
O doloroso ai do moribundo
No instante de morrer!

Você é tudo. É tudo para mim!
Um formidável e imenso "Mendubim",
Sangrando de emoções...
E sou apenas, uma poça dágua,
Aonde se reflete a minha mágoa
E as desilusões!


Autor: Renato Caldas 

(O Açude Mendubim começou a ser construído na década de sessenta. A sua inaugura foi no ano de 1970. Está localizado no Rio Paraú "afluente à margem esquerda do Rio Piranhas/Açu.Distante aproximadamente 11 km. do Centro da cidade de Assu-RN)

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