segunda-feira, 11 de setembro de 2023

JOSÉ LÚCIO DE MEDEIROS

                                          

Fotografia do Blog.


A família Medeiros é oriunda de Portugal, que teve em Rui Gonçalves de Medeiros o seu
mais antigo e ilustre antepassado. Foi membro do Conselho Real de Dom Afonso III, 1º
Conde de Verlongo. Recebeu seu Brasão de Armas em 1285.

Mesmo antes do descobrimento do Brasil, muitos membros da família Medeiros emigraram
para as ilhas portuguesas de Açores e Madeira. Lá se estabeleceram,  partindo ao longo de
três séculos para a Ásia e América do Sul e do Norte.

Há cerca de 200 anos, parte da família veio para o Brasil. Alguns membros foram para o Rio
Grande do Sul e mais tarde outros membros emigraram para a região do Seridó,
estabelecendo-se no Rio Grande do Norte e Paraíba.

Filho de João da Mata de Araújo Melo e Enedina C. de Medeiros Neta, nasceu em 15 de abril
de 1888 em Vila Nova, atualmente Pedro Velho. Faleceu em 17 de julho de 1953.

Em 1905  José Lúcio Medeiros ou, simplesmente José Medeiros, chegou em nossa cidade
em companhia da família vislumbrando dias melhores.Em 1908, munido de coragem e ambição, abdicando da segurança familiar, partiu para a Amazônia em busca de trabalho e fortuna.
Aos vinte e sete anos, retornou a Açú, após ter perdido o que havia ganho e também a
saúde, vítima de beri-beri, doença neurológica causada pela falta de vitamina “B”, quase
paralítico e pobre.

Graças ao clima e a boa alimentação, José Medeiros aos poucos recuperou a saúde.
No comércio encontrou uma atividade possível e, assim, em 1915 abriu uma bodega – A
Paulistinha – que rapidamente cresceu, transformando-se em ponto de encontro
obrigatório da cidade.

Em 15 de abril de1919, José Medeiros casa-se com Maria Francisca Caldas de Medeiros,
filha do patriarca de Sacramento, e tiveram dois filhos João Moacir de Medeiros, em 1921, e
Maria Zaira, em 1928.

No mesmo ano, muda-se com a esposa para o pequeno povoado que aqui existia com o
nome de Sacramento, passando a residir na casa que depois a família herdaria do seu sogro e que na época era a sede da propriedade agrícola “Veneza de Baixo”. Era o início de suas
atividades agrícolas e participação na construção de nossa Evolução Histórica
Em 1919 chega a Sacramento José Lúcio de Medeiros, o pioneiro da irrigação e eletrificação
rural do Vale. Em 1920 começa a despontar o desenvolvimento de Sacramento, pertencente
ao município de Santana do Matos.

A vinda de José Medeiros mudou a vida do pequeno povoado, que se formara ao longo de
muitos anos a partir de duas modestas fileiras de casas, (três de tijolo e telha e quatro de
taipa) na estrada que ainda hoje liga Macau a Açu.

Essa estrada era inicialmente, a via de escoamento do sal de Macau (transportado em carro
de bois), e posteriormente dos demais produtos do Vale do Açu e Pataxó: algodão, cera de
carnaúba, gado, queijos, peixes e demais alimentos de subsistência.

José Lúcio de Medeiros logo percebeu que Sacramento reunia todas as condições para se
tornar um centro de desenvolvimento de comércio. Em 1922, conseguiu a instalação da
Fazenda de Sementes do Ministério da Agricultura, hoje conhecida como Base Física do
DNOCS, e atualmente, sede do Centro de Formação Tecnológico - CEFET.

Em 1923, empenhou-se na construção de casas, estimulando cada proprietário a construir
uma residência de alvenaria, iniciando, assim, a fundação de nossa cidade.

A posição geográfica do povoado colocava-o no centro de várias rotas que se cruzavam
entre as Lagoas de Ponta Grande e do Piató, eqüidistantes do rio Pataxó e Açu. Suas
vazantes propiciavam terra boa para trabalhar, o barro nas pequenas lagoas e os “barreiros”
(matéria-prima do tijolo e da telha), bem como a criação de animais domésticos e de serviço
garantia a carne, o leite, a coalhada e o queijo.

Em 1925, houve um movimento para a instalação de uma feira livre aos domingos, tendo
recebido apoio do presidente da Intendência Municipal e Prefeito, o Sr. Manoel de Melo
Montenegro.

A pequena feira que reunia produtores, comerciantes e compradores da região, aos
domingos, debaixo de uma “latada” coberta de palhas de carnaúba no meio de sua única
rua, era um indicador dessa possibilidade e começou a alimentar o sonho de ver o vilarejo
crescer e de um dia vir a construir um Mercado Público.

Em 1926, José Lúcio de Medeiros, conseguiu com o então prefeito, no Governo de José
Augusto, um contrato para a construção do Mercado Público, no mesmo local do atual, com
a concessão de explorá-lo por vinte anos, doando-o depois à Prefeitura.

Esta foi a primeira revolução pacífica e popular em benefício de Ipanguaçu, realizada com
recursos próprios de José Lúcio de Medeiros que transformou a Feira de Sacramento, numa
das mais concorridas e famosas do Estado. Atraia uma verdadeira multidão de
comerciantes, vendedores e compradores de todos os gêneros de mercadorias vindos dos
municípios e das cidades vizinhas desde Macau à Mossoró, de Açu a Angicos e Santana do
Matos.

Homens, mulheres, crianças, cantadores, repentistas, ciganos, mágicos e bêbados!
Impossível acreditar que nas épocas de safra matavam-se e vendiam-se por feira de 20 a 30
bois! Era um sucesso, uma festa popular: cavalos e carroças ocupando todos os espaços,
amarrados nas cercas ou debaixo das árvores. Panelas, potes, tachos, alguidares, etc., eram
feitos manualmente pelas louceiras locais, verdadeiras artesãs.

Mais tarde, os primeiros “Fordes de Bigodes” e os caminhões “GMC” despertavam imensa
curiosidade. Era também, a oportunidade de ter notícias de parentes e amigos, saber das
novidades e ouvir o “causos”.

O comércio começou a ser impulsionado com a instalação de uma casa comercial de tecidos
por José Lúcio de Medeiros e posteriormente, com a fundação de uma usina de
beneficiamento de algodão em caroço, adotando também, a compra de cera de carnaúba.
Em 1927, José Lúcio de Medeiros conseguiu trazer uma Agência dos Correios e um Posto de
Telefonia, oferecendo de graça a casa para sua instalação e doando os postes.

Dedicado também, ao meio ruralista, fundou, em 1930 um sítio de fruteiras, o primeiro da
região do Baixo - Açu. Com uma visão adiantada dos meios técnicos a serviço da produção
agrícola, empregou a energia elétrica na irrigação da terra, captando água do nosso lençol
freático, tornando-se assim, o pioneiro da eletrificação e irrigação rural do Vale.

A criação de um oásis verdejante de árvores frutíferas em meio à terra seca, mediante o uso
de bombas elétricas, colocou em evidência o nome de José Lúcio de Medeiros e o nome do
povoado de Sacramento no mapa do Rio Grande do Norte, porque foi este, sem dúvida, o
fato mais relevante a revolucionar e impulsionar a produção agrícola naquela época,
setenta anos atrás. Sequer sonhávamos com a grande barragem Armando Ribeiro
Gonçalves. A água e o peixe das lagoas e açudes eram privilégios de poucos.

Em 23 de dezembro de 1948, o povoado de Sacramento desmembra-se de Santana do
Matos e passa a ser sede do município denominado Ipanguaçu, por ato governamental do
Dr. José Augusto Varela, pela Lei Estadual nº146. Dia que terminava a grande luta do Major
Manoel de Melo Montenegro emancipando a terra que lhe serviu de berço. No dia 1º de
Janeiro de 1949 foi instalado o Município de Ipanguaçu.

Não podermos deixar de reconhecer a JOSÉ LÚCIO DE MEDEIROS na história de nosso
município, por seu idealismo, sua visão de progresso.

(O texto acima fora enviado por João Celso Filho. JC informa que o texto transcrito acima, teria copiado de algum lugar)..

Nota do Blog: A mulher de José Lúcio de Medeiros era Maria Francisca Caldas de Medeiros que solteira chamava-se Maria Francisca Lins Caldas, filha do Major Luiz Lucas Lins Caldas era o segundo de cinco sucessivos Lins Caldas, avô do meu avô paterno Luiz Lucas Lins Caldas Neto (segundo João Moacir de Medeiros., o fundador do povoado de Sacramento, atual Ipanguaçu, em terras de sua propriedade, depois José Lúcio de Medeiros - Zé Medeiros - começou a fazer benfeitoria naquele lugar, construindo com recursos próprios, o mercado, conseguiu instalar os Correios, doou terreno para construção do cemitério e etc. Duplamente pioneiro: da electrificação e irrigação no Vale do Açu. 

Existe um livro organizado e editado por João Moacir de Medeiros intitulado 'JOSÉ MEDEIROS: - quase uma biografia de Ipanguaçu". Tenho o livro aqui comigo.


(Fernando Caldas)




sábado, 9 de setembro de 2023

Por Fenando Pessoa

Meus versos são meu sonho dado.
Quero viver, não sei viver,
Por isso, anónimo e encantado,
Canto para me pertencer.
O que salvamos, o perdemos.
O que pensamos, já o fomos.
Ah, e só guardamos o que demos
E tudo é sermos quem não somos.
Se alguém sabe sentir meu canto
Meu canto eu saberei sentir.
Viverei com minha alma tanto
Tanto quanto antes vivi.

Poesias Inéditas (1919-1930)

Compartilhado com Seus Por Fernando PessoaPoMeus versos são meu sonho dadoQuero viver, não sei viver,Por isso, anónimo e encantado,Canto para me pertencer.O que salvamos, o perdemos.Poesias Inéditas (1919-1930)

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

 .NOTA

À tardinha de ontem, setembro 6, de frente ao mar de Areia Preta/Natal, visitando um primo querido chamado Domingos Sávio de Medeiros Marinho que reside há mais de quarenta anos no Rio de Janeiro, para onde regressou e passou a morar e conviver com seu tio João Moacir de Medeiros, um potiguar nascido no Assu, que se fez publicitário e se tornou famoso na publicidade brasileira. (Esse Moacir era publicitário da JMM Publicidade, idealizador da famosa propaganda do Guarda Chuva (Banco Nacional de Mins Gerais, de Magalhães Pinto, que abria, acho que até os anos setenta, o Jornal Nacional da TV Globo,. Por por sinal, a sigla JN - Jornal Nacional, fora de sua ideia. Moacir foi pioneiro do Marketing Político no Brasil fazendo em 1954, a campanha de Celso Azevedo para prefeito de Belo Horizonte, com sucesso. Muito tem a se contar e dizer sobre a sua trajectória vitoriosa. Era ele, Moacir, meu primo próximo pela lado da família Lins Caldas com raíses no Assu e Ipanguaçu, então Sacramento, onde seu pai foi o benfeitor da cidade). Pois bem, naquela oportunidade recebi de Domingos que chegou à Natal, sua terra natal, anteontem para rever familiares e amigos, um caderno manuscritos do poeta assuense João Lins Caldas, também primo de Moacir. Anos antes já teria eu recebido outros cadernos com centenas de poemas e pensamentos filosóficos inéditos que organizo para publicação. Deste caderno que recebi hoje de Domingos, que estava em poder de Moacir, transcrevo um dos sonetos, aliás um dos belos sonetos dos milhares de que Caldas, este vate potiguar do Assu, que engrandece as letras Norte-riograndenses e brasileiras, escreveu entre o Rio Grande do Norte e sudeste do Brasil. Senão Vejamos para o nosso deleite:

Meu Coração não bate como outrora,
Meu coração mudou - fez-se verdade...
Há uma pátria de dor e um sol que chora...
- O céu, a imensidão, a solidade.
Os corações são trágicos, saudade...
E vista em tudo a mesma negra aurora,
Tudo é um profundo caos - morto descora...
Olho em torno de mim a imensidade.
Para nascer, gemendo, fui gemido...
Meu verbo nunca foi na terra ouvido,
Minha voz nunca foi na Voz se vendo...
E, solitáriorio, como a morte em tudo,
Fui cada vez mais frágil, mais mudo
E mais mudo, mais trágico, nascendo...

Postado por Fernando Caldas

/
Da esquerda para direita: Domingos Sávio de Medeiros Marinho e Fernando Caldas


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Capa da 2ª edição do Fulô do Mato publicado em 1953, pela Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, enviado pelo matrogrossense Salomão Rovedo, uma prova que o bardo assuense Renato Caldas ainda é uma figura das letras matutas conhecida em todo o Brasil. Guardo comigo a primeira edição sem, emprestado pelo médico e cel. da Policia Militar Franklin Firmino.
(Fernando Caldas)


 


Capa do livro Fulô do Mato, segunda edição, Tribuna da Imprensa, do Recife (1953). Enviado por Salomão Rovedo.
O título do livro é o mesmo título do poema em linguagem matuta que abre as páginas daquele volume: Senão vejamos:
Sá Dona, vossa mecê,
é a fulô mais cheirosa,
a fulô mais prefumosa
Qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume,
de tudo qui fô prefume,
de tudo qui fô fulô
qui nem um, nenhuma só
tem o cheiro do suó
qui o seu corpinho suô.
- Tem cheiro de madrugada,
fartum de reia muiáda
qui o uruváio inxombriô.
É um cheiro bom, déferente,
qui a gente sentindo, sente,
das outa coisa o fedô.
Renato Caldas, poeta do Assu que o Brasil consagrou. Discípulo do menestrel Catulo Da Paixão Cearense, autor da célebre canção 'Luar do Sertão!.
Pode ser uma imagem de texto
Assu Antigo
Comunidade

terça-feira, 29 de agosto de 2023

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

 

INXURRADA MARDITA
Capítulo 1
J. A. Simonetti

Sentado no terreiro com os pés dentro de uma poça d'água, Antônio recorda a seca, enquanto seu coração lamenta a chuva.

*

“Seu moço, inda me alembro,
me alembro cuma ninguém
o tempo véio num léva
aquilo qui se quiz bem,
nem hai dinheiro qui págue
um amô qui a gente tem.

Faz muito tempo, seu môço,
nós morava no sertão
e a sêca véia danasca
veio qui nem um ladrão,
furtando os verde das fôia,
rôbando ás águas do chão.”

*

Depois das rezas e benditos e finda a esperança a solução era partir para sobreviver na cidade grande.

Antônio e Francisco parados junto a porta da casa maltratada pelo tempo observam as nuvens claras no horizonte.

Na paisagem seca um grupo de retirantes caminha fugindo do sol, que do céu castiga a terra dura e árida pela falta de chuva.

Como que hipnotizados pelo calor escaldante os irmãos Francisco e Antônio tentam resistir as claras nuvens que no céu vão sumindo para dar lugar a pálida imensidão azul.

Os irmãos caminham pelo terreiro com passos incertos.

Francisco, sentado embaixo do pé de juá, observa o dia querendo ir embora.

- Mais um dia que se vai. - Comenta com seu irmão Antônio.

Antônio olha para a imensidão seca.

- E nós aqui, né Francisco? Vamo imbora, meu irmão. Vamo s'imbora.

Amanhã - Capítulo 2

INXURRADA MARDITA
Baseada na obra de Renato Caldas
@todos
@ja_simonetti 
Ver menos
Todas as reações:
Maria Helena DE Sá Leitão, José Alberto Simonetti e outras 4 pessoas

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Justiça do Trabalho vai realizar audiências na edição do Justiça na Praça em Assú


O vice-presidente, desembargador Eduardo Rocha, e a Vara do Trabalho de Assú vão representar o Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região (TRT-RN) no projeto Justiça na Praça, que será realizado na cidade no dia 17/08. O projeto é realizado pelo Tribunal de Justiça do RN com diversas instituições parceiras e leva serviços judiciais, de saúde e informativos para a população.

A ação vai acontecer na Praça São João Batista, na Av. Presidente Getúlio Vargas, 89, Centro, em Assú, a partir das 8h, e vai contar com a emissão de RG, de 2ª via de certidão de nascimento, com serviços eleitorais e ligados à Marinha do Brasil, além de jogos e recreação, aplicação de flúor, atendimento odontológico, psicológico e de clínica geral. 
O vice-presidente do TRT-RN, desembargador Eduardo Rocha, também estará presente no Justiça na Praça e terá reuniões com advogados e com o chefe do Executivo Municipal, Gustavo Soares.
“É com imensa satisfação que estaremos na cidade de Assú, cumprindo uma das promessas da atual administração, que é encabeçada pelo desembargador Eridson Medeiros, nosso presidente, de que a Justiça do Trabalho iria, literalmente, à Praça Pública na busca pelas conciliações”, disse o vice-presidente.
Para o desembargador Eduardo Rocha, é importante que a Vara do Trabalho de Assú participe do projeto “tentando solucionar de forma mais rápida os conflitos e encerrando o processo, independente da fase que ele esteja, lembrando ainda que a solução é construída por quem está diretamente envolvido que são as partes”, avaliou.
No dia do evento, a partir das 9h, na Câmara Municipal, a equipe da Vara do Trabalho de Assú e do Cejusc Natal vão iniciar uma pauta com processos de conciliação nas fases de conhecimento e execução.
“Estamos bem engajados e, com o apoio do Cejusc Natal, realizaremos um mutirão de cerca de 50 audiências de conciliação, tentando resolver pela composição amigável diversos processos em curso na Vara do Trabalho de Assú”, informou a juíza titular, Maria Rita Manzarra. 
Além das audiências, a unidade judiciária vai disponibilizar serviços de reclamação a termo quando “as partes poderão ajuizar reclamações trabalhistas, ainda que não assistidas por advogado”, explicou a magistrada.
O projeto será encerrado com a realização de um casamento coletivo, na Praça São João Batista, a partir das 17h. Além do TRT-RN, participam do Justiça na Praça em Assú as instituições Câmara Municipal de Assú, Senai, Senac, Corregedoria, Ser Mulher, TRE, Assembleia Legislativa, Cejusc Vara de Assu, 2 ofício de Notas, Marinha, PM, Itep, Codaci, entre outras.

Fonte
Comunicação TRT-RN

sábado, 12 de agosto de 2023

Por Diogenes da Cunha Lima 
 

[ Escritor, advogado e presidente da ANL ]

Nenhuma região do país é tão pródiga na inventividade como o Nordeste. A arte do repente identifica a nossa região. É o exercício da poética popular, do sertão ao litoral, com versos de fazer inveja a poetas eruditos.

O repente nordestino é duelo verbal de cantadores com o acompanhamento de viola, rabeca ou pandeiro (embolada). Em todas as suas formas, participa do rico Patrimônio Imaterial do Brasil. É o diálogo do improviso e da liberdade vocabular.

Muito se discute sobre a sua origem. Como sempre, Câmara Cascudo vai mais longe. Para ele é o desafio oriundo do canto amebeu, grego, do tempo de Homero. É canto alternado, obrigando resposta às perguntas do companheiro.

Muitos poetas cantadores tornaram-se célebres. Pinto do Monteiro (sempre considerado o mestre da cantoria), um dia, recebeu Lourival Batista, crescente em versos quentes. Glosaram os dias da semana com o humor produzido por trocadilho. Pinto: “No lugar que Pinto canta/não vejo quem o confunda. / Que o rio da poesia/o meu pensamento inunda. /Terça, quarta, quinta e sexta, /sábado, domingo e segunda”. Lourival respondeu: ”Sábado, domingo e segunda, /quarta e quinta. / Na sexta não me faltando/a tela, pincel e tinta/pinto pintando o que eu pinto. /Eu pinto o que o Pinto pinta”.

Ninguém sabe dizer melhor das coisas da região do que o poeta mossoroense Antônio Francisco. É sempre expressiva a sua linguagem para fazer pensar. Brevíssimo exemplo: Falando sobre a fome, ele começa: “Engoli três vezes nada...”.

Fabião das Queimadas, escravo que tangia bem o verso e a rabeca, foi provocado para falar sobre a paga dos seus vinténs arrecadados. Que seria um poeta? Ele explicou: “Canta longe um passarinho/do outro lado do rio, /uns cantam porque têm fome, /outros cantam por ter frio. /Uns cantam de papo cheio, /outros de papo vazio”.

Não era cantador, mas poeta popular, popularíssimo. Aliás, Renato Caldas foi um lírico, improvisador, bem-humorado. Pediram-lhe que fizesse saudação ao escritor e pintor Newton Navarro. Versejou: “Adão foi feito de barro/mas você Newton Navarro foi feito de inspiração. / Dos passarinhos, das cores/da noite feita de amores/do luar do meu sertão”. Certa vez, o poeta tomou café em uma residência na cidade de Angicos e ao guardar suas coisas, distraidamente, incluiu uma colherinha. Já na sua cidade, em Assu, verificou o equívoco e voltou. Desculpou-se dizendo: “Eis aqui, dona Chiquinha, /devolvo sua colher. / De coisa que não é minha/eu só aceito mulher”.

Na função de conselheiro do Iphan, esforçar-me-ei para que o Repente Nordestino seja reconhecido como Patrimônio Imaterial Brasileiro. 


PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...