DAVID CUNHA - O ESPANTA
Uma trajetória marcada por muito sucesso
‘‘Espanta’’ foi o
codinome que o humorista David Cunha Alves pediu a Deus para fazer
sucesso. O nome artístico, fora de qualquer convencionalismo, funcionou
como um imã ou mecanismo de marketing que elevou seu talento para o
Brasil. É notório o celeiro de humoristas produzidos no Nordeste. Mas em
Natal os nomes que conseguem sucesso são poucos. E David Cunha foi o
maior deles. Morreu como o maior humorista do Rio Grande do Norte.
BOM HUMOR NAS TERRAS DE POTI
Apesar de tímida, cena humorística no Rio Grande do Norte
tem conquistado espaços, público e adeptos por esse Brasil afora
Por
Sérgio Vilar
O
porquê de o Ceará exportar tantos humoristas permanece um mistério tão
insondável quanto a vida em Plutão. No Rio Grande do Norte, a cadeia
produtiva do humor tem crescido em ritmo lento. Está muito aquém dos
vizinhos mais engraçados. Ainda são poucas as oportunidades por aqui.
Menos ainda os humoristas qualificados para abraçar os espaços cedidos
nos poucos bares abertos ao gênero. É um cenário ainda amador, mas o
melhor e mais promissor, na visão dos principais humoristas da cidade.
Durante a Bienal do
Livro do Ceará, em 2008, a reportagem perguntou ao mestre do humor,
Chico Anysio, qual seria o motivo de tanto humorista no Ceará. Ele
respondeu: "O Ceará tem muitos problemas. Não existe bons humoristas
suecos, holandeses, suiços. Nenhum humorista conserta nada, mas
denuncia tudo". O repórter insistiu e questionou a falta de humoristas
em outros estados nordestinos sofridos: "Natal não tem as caatingas, o
sertão duro que o Ceará tem. É com certeza o Estado mais sofrido do
Brasil".
Humorista Mafaldo Pinto
FESTIVAL DE HUMOR POTIGUAR
Fato é que o Rio Grande
do Norte, Piauí, Ceará ou qualquer estado nordestino sofre com a seca e
pobreza. Na visão do humorista potiguar Mafaldo Pinto, para a cena do
humor natalense se igualar à de Fortaleza é preciso iniciativa. "Temos
muita gente. Mas falta segurança à maioria porque também falta coragem
para montar um show completo e se apresentar, dar a cara a bofete nos
bares, teatros. Banquei minha primeira apresentação.
Mafaldo é hoje um dos
humoristas mais prestigiados do Estado. Fará em outubro o 1º Festival
de Humor Potiguar SolRiso, no TAM. Inscrições aos humoristas amadores
ou profissionais já estão abertas (8824-7208 ou 9902-1804). "Já sei de
antemão que pouca gente vai se inscrever. E mesmo sendo apenas seis os
selecionados para se apresentarem, se não houver qualidade, reduzo o
número", disse o humorista, que fará parte da banca julgadora com mais
dois integrantes.
A intenção do Festival é
descobrir, dar oportunidade e valorizar os humoristas potiguares.
Muitos vendem CDs repletos de piadas gravadas nos bares da Zona Sul.
Abordam clientes, contam piadas e tentam comercializar o produto. "Esse
Festival servirá para o público ver quem tem segurança em cima do
palco. Uma coisa é contar piada em bar. Outra é se manter dez, vinte
minutos no palco. O público paga e é exigente. Ninguém ri forçado. E
poucos humoristas seguram a onda quando o público não ri".
Humorista Gibran Torres adota a linha da imitação
O IMITADOR DE NATAL
O
radialista e jornalista de formação Gibran Torres adota a linha da
imitação. Começou a carreira em 2006 no grupo Humor Bagaço, junto com
Mafaldo, François Carízio, Flavio Café, Junior Cloner e Tázio Nery.
Desses, apenas Mafaldo, ele e François continuaram. Participou esse ano
do concurso "Os maiores imitadores do Brasil", no programa de Ana
Hickman, na Record. Das cinco etapas, ficou na segunda. Segundo Mafaldo,
Gibran é um talento que ainda precisa montar um show completo e se
apresentar.
É o que ele está
fazendo. "Tenho me apresentado pouco em bares porque estou montando meu
show agendado para novembro, no Teatro de Cultura Popular". O pouco
tempo é porque Gibran leva o humor como hobby. São poucos os que vivem
apenas da profissão de humorista. Em Natal, entre os humoristas mais
experientes se destacam além, de Mafaldo e Gibran, os cearenses
radicados em Natal Butuca e Bisteca, Karlberg, Geraldo Maia, e Seu
Dedé, o mais antigo e talvez o único a se alimentar apenas do humor.
João Ricardo e seu personagem: Seu Dedé
DUAS DÉCADAS DE PROFISSÃO
O
personagem Seu Dedé talvez seja hoje o mais conhecido dos natalenses. É
também o ganha-pão de João Ricardo Costa da Silva, 41, o mais antigo
humorista em atividade. João começou na época de Davi Cunha, o Espanta. É
dos poucos no Estado que vivem só da profissão. Foi o primeiro a
sugerir e participar de um projeto de humor em Natal: a Quinta do Humor,
na antiga Pizzaria Orla Grill, na Praia do Meio. Hoje é um dos
humoristas do principal espaço de humor da cidade: o restaurante e
pizzaria Páprika, em Ponta Negra.
João lembra que há 20
anos a situação era bem pior. Pouca gente acreditava no produto Humor
para atrair clientes. "Hoje qualquer programa de TV tem um quadro de
humor. E os comerciantes sabem que essa realidade deu certo em
Fortaleza e pode ser uma boa sacada também pra cá". Mas infelizmente,
as tentativas têm dado erradas. Afora o Páprika, que mantém convênio
com hotéis e sempre lota as quartas-feiras do humor, outros bares
desistem mesmo quando atraem um público razoável.
"Participei do projeto
noBar Original (na Prudente de Morais). Mas o dono achou que precisava
lotar sempre e desistiu. Em Parnamirim, o bar Cai Pedaço também abriu
espaço, mas também não seguraram. E tem sido assim". Mas Seu Dedé
também atende convite de empresas. É de onde retém a maior parte do
orçamento para alimentar a prole de seis filhos. "O pessoal pergunta se
eu não tinha TV em casa. Claro que tenho, mas o intervalo do programa
dura uns três minutos, né?", brinca.
Raimundo, o criador do Cafuçú, é defensor ferrenho da cultura nordestina
CORONÉ CAFUÇÚ
O Nordeste se destaca
por um tipo de humor peculiar à região, ligado à poesia popular, ao
cordel, ao repente e cantorias; à cultura sertaneja. O nome mais
expressivo é o paraibano Jessier Quirino. Nairon Barreto, o Zé Lezin,
também é encarna a figura do matuto. No Rio Grande do Norte, o assuense
Paulo Varela também apresenta versos metrificados. Mas é em Currais
Novos de onde se conhece a autoridade no assunto. "Ótoridade" de
patente militar e tudo: o Coroné Cafuçu.
Paletó,
óculos escuro tomando metade do rosto, chapéu, barba pintada e calça
vermelha (ele diz que a cor vermelha só serve para vestir mulher e
doido). É a indumentária do "coroné" Raimundo Ferreira Campos. Se tem
patente verídica, é a de sertanejo criado na roça com uma enxada na mão e
uma ideia na cabeça: ser poeta. E da poesia matuta reconhecida entre
músicos renomados como Joca Costa e o maestro Bembem, Raimundo incutiu o
humor repleto de causos de um sertão que lhe é conhecido e vivido.
"O
humor é o que carrega meu trabalho. É o que vende mais. Quando abro a
boca e recito meus versos, quem tá perto se bola de rir. E sem dizer
palavrão ou frase de duplo sentido, porque é uma ferramenta perigosa:
pode onstranger a família que vai lhe assistir". Raimundo se acha
humorista por vocação porque o sertanejo tem no humor o seu alimento.
"Três coisas salvam o sertanejo e o mantém vivo: cuzcuz, rapadura e
humor. É o alimento que lhe tira o sofrimento diário; as vitaminas do
Sertão".
Raimundo
toca no improviso um programa de Rádio de grande audiência em Currais
Novos. O personagem Coroné Cafuçu ele leva aos interiores e capitais
nordestinas, junto com o último CD Humor, Forró e Poesia. Essa semana se
apresentou em Cajazeiras, na Paraiba, e nos municípios Riacho da Cruz e
Luís Gomes, terra onde nasceu. "Às vezes penso que o Coroné sou eu
mesmo. Sou um sertanejo natural, matuto, e por isso, humorista nato, de
carne e alma".
...crédito fotografia Mafaldo Pinto...
Ana Silva