Craques do passado. Mestre Francisquinho, além de um músico de qualidade, também dava show com a bola nos pés. Fundou juntamente com irmãos e primos o Palmeiras, que acabou sendo o grande adversário por muitos anos do Centro Sportivo Assuense.
Na
história do Rio Grande do Norte diversas pessoas já relataram a passagem do
grande escritor e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry por Natal, ocorrida
no fim da década de 20.
Entre os
anos de 1985 e 1995 escritores potiguares como Pery Lamartine e Nilo Pereira,
escreveram artigos com relatos de testemunhas oculares da presença do francês
na cidade. De acordo com Lamartine, o que dificulta a pesquisa é o fato de que
nos anos 1920 os pilotos franceses e brasileiros não registravam seus voos.
Existe uma passagem no livro que diz: “vamos nos livrar das ervas daninhas antes de se tornarem baobás
que poderiam explodir o planeta”. O escritor estaria se
referindo ao baobá de Natal, que teria sido visitado por ele nas décadas de 20
e 30, quando teria sido inclusive hóspede da proprietária do terreno.
O poeta e professor Diógenes da Cunha Lima, que
comprou o terreno da árvore afim de preservá-la, conta também que há no livro
desenhos como elefante, estrela, vulcão, dunas e falésias,
elementos que lembram o mapa e outros símbolos do Rio Grande do Norte.
O poeta e professor Diógenes da Cunha Lima e o sobrinho-neto de
Saint-Exúpery. Foto: Canindé Soares
Já em
2009 a imensa árvore recebeu a visita do sobrinho-neto de Saint-Exupéry, o
engenheio François D’Agray. Ele esteve em Natal à convite da Prefeitura
Municipal para o lançamento dos livros “O Pequeno Príncipe Me Disse” e “Antoine
de Saint-Exupéry – A História de uma História”, da escritora paulista Sheila
Dryzun.
Alguns
atribuem também a relação do francês com o RN pela presença de
outro grande baobá plantado desde 1877 na cidade de Nísia Floresta,
próximo a Natal.
Mas afinal, Saint-Exúpery, autor de uma das obras
literárias mais traduzidas do mundo, passou mesmo por Natal?
Quem
conta é o francês Patrick de Bure, entusiasta da História da aviação que em
2010 foi morar em Natal.
Primeiro
ele relembra que Saint-Exupéry, deixou a cidade Bordéus, na França, e após
dezoito dias de cruzando o Atlântico no navio de carga S. S. Massilia chegou à
Buenos Aires, na Argentina. Ele, que também era aviador, foi visitar o
escritório da companhia de aviação Aéropostale, e permaneceu no país por
“apenas” 15 meses. Esta foi a única vez que o escritor veio à América Latina na
sua vida.
Assim,
Saint-Exupéry nunca esteve em Natal em missão oficial de avião, e portanto os
baobás potiguares não foram a fonte de inspiração do escritor. Segundo Bure, as
árvores foram avistadas quando ele estava voando sobre as paisagens do norte da
África, local que abriga milhares delas.
Mas o
escritor e pesquisador potiguar Rostand Medeiros diz ter uma hipótese. Segundo
ele, Antoine de Saint-Exupéry teria feito uma escala em Natal de navio, na
mesma viagem em que seguia para Argentina.
Exportações do estado cresceram 200% entre janeiro e agosto, na comparação com o mesmo período de 2016. Ao mesmo tempo, Ceará registrou queda de 95%.
Por Igor Jácome, G1 RN
Fazendas no RN produzem 96% do melão exportado pelo Brasil (Foto: Anderson Barbosa/G1
O crescimento das exportações de melão ultrapassaram a barreira dos 200% no Rio Grande do Norte, entre janeiro e agosto, na comparação com o mesmo período de 2016. Com o resultado e a queda de produção dos concorrentes diretos, o estado também se tornou responsável por 95,9% de toda a venda da fruta para o mercado externo.
Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Ao longo do ano passado, o estado já liderava o setor, mas era responsável por cerca de 50% das exportações das frutas frescas para fora do país, com US$ 75,3 milhões comercializados. O vizinho Ceará contava com outros 47% do mercado, com vendas de US$ 70,8 milhões.
Entre janeiro e agosto o RN comercializou US$ 47 milhões. Parece pouco, diante dos US$ 100 milhões estimados para o ano, mas existe explicação. De acordo com o empresário Luiz Roberto Barcelos, maior produtor do país e presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do RN, a produção se torna mais intensa a partir de setembro, até janeiro. "Neste período do ano, apenas o Brasil fornece as frutas para o mercado Europeu, que é o maior consumidor", revela.
Mercado externo representa cerca de 50% da produção nacional de melão (Foto: Anderson Barbosa/G1)
O mercado externo, ainda de acordo com Luiz Roberto Barcelos, consome 50% da produção nacional do melão. Apesar de não ter grandes variações positivas, ele considera que essa fatia é mais estável, ao contrário do mercado interno.
Segundo governo, dinheiro entrará nas contas nesta
terça-feira (19). Ainda não há data para pagamento de quem recebe acima dos R$
4 mil.
Por G1 RN
18/09/2017
Governo anunciou pagamento de quem ganha entre R$ 3
mil e R$ 4 mil (Foto: Thyago Macedo)
O governo do Rio Grande do Norte anunciou que vai
depositar nesta terça-feira (19) o pagamento da folha de agosto, aos servidores
ativos, aposentados e pensionistas que recebem entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.
Ainda não há data prevista para o pagamento dos
salários de quem recebe acima R$ 4 mil. "Será realizado o mais breve
possível, a partir da disponibilidade de recursos", informou a
administração estadual, em nota.
O montante pago nesta terça soma R$ 51.370.510,23.
No último dia 9, foram pagos os vencimentos de quem recebe até R$ 3 mil. Além
destes, servidores da Educação e dos órgãos da administração indireta, que têm
arrecadação própria, também receberam dinheiro.
De acordo com o governo, com a realização do
depósito nesta semana, 80,49% do funcionalismo público terá recebido
integralmente seus vencimentos, o que dá um valor total de R$ 190.925.074,92.
domingo, 17 de setembro de 2017
Eis abaixo, um dos poemas em linguagem matuta, rude do sertanejo nordestino, de autoria de Renato Caldas, página 20, do livro intitulado 'Fulô do mato' (uma raridade) segunda edição, publicado em 1953, pelo jornal "Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, com ajuda dos deputados federais Aluísio Alves e Carlos Lacerda, que depois fora governador da Guanabara, atual Rio de Janeiro. Renato Caldas "foi quem deu nome ao Rio grande do Norte, nas letras nacionais" com a publicação do referenciado livro publicado em primeira edição em 1940. Ele, Renato Caldas, era discípulo e amigo do menestrel maranhense Catulo da Paixão Cearense, autor da célebre canção intitulada 'Luar do sertão
O Plenário da Câmara Municipal de Natal aprovou, na sessão ordinária dessa terça-feira (12), um veto integral ao Projeto de Lei nº117/2017, de autoria do vereador Fernando Lucena (PT), subscrito pela vereadora Natália Bonavides (PT) e pelo vereador Klaus Araújo (SD), que declara Patrimônio Cultural Imaterial da cidade de Natal o Teatro Municipal Sandoval Wanderley. Foram 12 votos a favor, 6 contra e 4 abstenções.
Localizado no bairro do Alecrim, na Avenida Presidente Bandeira, o Sandoval Wanderley é um teatro de arena com capacidade para 150 espectadores. É referência de divulgação e cumpre um papel importante na cena cultural da cidade. Foi o segundo a ser construído na capital, em 1962, e leva o nome do ator assuense Sandoval Wanderley, que criou os grupos Conjunto Teatral Potiguar, em 1941, e o Teatro de Amadores de Natal, em 1951.
“Hoje é um dia de luto para a cultura popular do Rio Grande Norte. Infelizmente, a bancada governista enterrou sem choro e sem vela a história do Teatro Sandoval Wanderley. Porque ao declarar Patrimônio Cultural Imaterial a gente queria impedir que o ‘Teatrinho do Povo’ fosse destruído, haja vista que a intenção do prefeito Carlos Eduardo Alves é acabar mesmo”, criticou o vereador Fernando Lucena.
Segundo ele, com a paralisação dos teatros Sandoval Wanderley e Alberto Maranhão, os movimentos artísticos populares ficam sem espaço para apresentar os seus trabalhos. “Resta apenas o Teatro Riachuelo, mas esse é um teatro de shopping: caro, requintado e elitizado. Grupos teatrais de escolas públicas, emboladores de coco, cantores locais, entre outros, não tem acesso fácil. Outra coisa, embarcar na promessa de que vão construir um novo teatro na Ribeira em substituição ao Sandoval Wanderley é a mesma coisa que acreditar em papai noel”, acrescentou.
Por sua vez, a líder da base governista, vereadora Nina Souza (PEN), falou que o projeto que declarou o Sandoval Wanderley como Patrimônio Cultural e Imaterial foi votado sem um debate aprofundado. “Como entrou na ordem do dia 20 de junho em regime de urgência, a instrução do processo não foi observada da forma correta. Existe uma lei municipal que determina o encaminhamento à Funcarte de todas as matérias que versam sobre Patrimônio Imaterial para serem submetidos ao Conselho de Cultura. O veto aconteceu porque a tramitação do texto foi equivocada, fizemos apenas uma correção”, explicou a parlamentar.
Vereadores lançam Frente Parlamentar em Defesa da Gestão Pública
Na sequência, em botação única os parlamentares deram parecer favorável ao Projeto de Resolução nº00023/2017 apresentado pelo vereador Dinarte Torres (PMB) que dispõe sobre a criação e regulamentação da Frente Parlamentar em Defesa da Gestão Pública.
“Estamos trazendo profissionais, professores e estudantes de Gestão Pública para participar dos debates conosco no Legislativo natalense. Sabemos que a profissionalização para os servidores públicos apresenta-se de extrema importância na gestão pública atual. Diante disso, nosso objetivo é abrir um espaço de construção de conhecimentos sobre essa e outras questões”, concluiu Dinarte.
Essa que eu hei de amar perdidamente um dia será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela, que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela, trazer luz e calor a essa alma escura e fria.
E quando ela passar, tudo o que eu não sentia da vida há de acordar no coração, que vela… E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,
quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro, e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro do poente, me dizia adeus, como um sol triste…
E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado, mas ias tão perdido em teu sonho dourado, meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!" Guilherme de Almeida
“O terreiro da fazenda, todo em barro vermelho batido, chapeado por lajes brancas, rebrilhava ao sol forte de Agosto. Das latadas, vinha o burburinho das gentes apinhadas. Uma multidão de vaqueiros encourados de novo, caracolava airosamente. Mocinhas de fita à cintura, de flor ao cabelo negro, olhavam, com o pasmo quieto dos espíritos mansos, para os cavalos suados que pulavam sob a pressão dos acicates. Era dia da apartação. De muitas léguas ao redor, tinham vindo pessoas assistir a festa. A música da vila mais próxima tocava. Numa atmosfera da alegria serena, toda a terra era um tapete verde, e de longe, grandes oitizeiros, robustos juazeiros, oiticicas imensas, esgalhavam-se gloriosamente como múltiplas mãos abençoando aquela terra fecunda.
No curral de pau à pique, atropeladamente, entrevia-se o gado rebanhado. Bois enormes, pesados e magníficos como velhos sultões, touros ágeis, nervosos, de musculatura potente, de olhos brilhantes e pontas aguçadas, novilhos irrequietos, saltitantes, erguendo as narinas como se aspirassem o cheiro da várzea florida, todos se apertavam no estreito espaço da porteira, olhando pasmadamente ao aspecto festivo da fazenda calma. Parou a música. Dois vaqueiros pularam com varas de ferrão para o curral. Outros, encourados, vermelhos de sol, com os gibões enfeitados de fios de retrós branco, colocaram-se do lado da porteira. Uma novilha apareceu, pulou e num salto brusco desatou numa carreira terrível pelo campo. Os cavalos iam-lhe no piso.
O esteira conservou-a em linha reta, o outro baixou-se, apanhou a cauda, firmou-se na sela, e numa nuvem de pó as patas da novilha ergueram-se para o ar. Todo o dia este fato se repetiu inúmeras vezes. A tarde caía. O gado já se tinha apartado. Só uma grande parte pertencente ao dono da fazenda, é que se premia no curral. Deviam mandá-la ao rio que se estendia, preguiçoso e límpido, a alguma distância. Fizeram um círculo de vaqueiros. Falavam surdamente. De repente puxaram de um tamborete, um negro e o levaram para a costumada façanha. Era Joaquim do Riachão, o melhor aboiador das cercanias.
O preto era baixo, magro, vestia calça de zuarte azul, cinto vermelho e uma camisa de algodãozinho que lhe mostrava o peito descarnado e as clavículas rompendo a pele. O pescoço fino, cheio de músculos, numa alto relevo de estatuária, prendia-lhe a cabeça poligonal, desbastada à largos golpes de camartelo, com o cabelo encarapinhado, o rosto chupado, com a arcada zigomática acusada através da epiderme franzina. Completava-o uns olhos claros, tristes, contemplativos como se evocassem silenciosamente a saudade da pátria distante, a África longínqua dos seus avós. Caminhou balouçantemente para o cercado. Trepou ao moirão da porteira. Tirou o seu chapéu de couro ponteado de botões de madrepérola, bateu-o na coxa, pô-lo na cabeça, ergueu-a e soltou um grito moldurantemente forte, estridente, alto como uma fanfarra gloriosa de clarins em tarde de vitória. O gado continuava impaciente, pulando, apertando-se no estreito espaço do curral.
O negro aboiava.
Potente, sinuoso, dobrado em curvas felinas, o som se espraiava em tonalidades estranhamente emotivas. Dir-se-ia um rapsodo, o último cantor das terras do sertão, cantando sem uma palavra, somente encantando pelo som. Desdobrava-se o surto sonoro, num grito estridente. Depois descia, quebrava-se, vinha em volutas para um smorzado magoado, sentido, bizarro, esdrúxulo.
O negro aboiava.
Recordação musical das dores sofridas. Cantava naquela tarantela febril, a ânsia dolorida de uma raça. Febre, lutas, vibrações, sentimentos, a coragem eterna do trabalho heroico contra os elementos. Era um canto triste, uma melopeia vagamente monótona, que subia aos céus levando envolta em notas a saudade sem fim dos dias que passaram. Estalava no ar a voz de Riachão. De repente parava e no silêncio religioso do pátio repleto, só se ouvia o rumorejo farfalhante das ingazeiras distantes.
O negro aboiava.
Lembrança da terra querida. Impressão indelével dos trabalhos da seca. A morte do gado, os rios secos, o açude esgotado, o sol em fogo, a terra em brasa, os caminhos ladeados pelas ossadas brancas, o sussurro gemente do carnaubal esguio, o grito agônico e último do derradeiro boi morrendo ao pé das árvores ressequidas.
Som, queixume, esperança, prece e desalento se alavam para aquele céu azul, meigo, sereno, bendito, o mesmo céu da seca passada, o mesmo azul, puro, tranquilo, implacável. O gado se aquietava junto à porteira. Os focinhos se inclinavam para a terra como procurando as pegadas deixadas pelas retiradas dolorosas.
O negro aboiava.
Era um soluço. Um canto tristíssimo que impressionava. Cantos doloridos de pesar, era o aboio, o lamento lançado ao sol moribundo, como se imprecasse a sua luz que fecundava a terra e que depois a ressequia. Recordava o sofrer angustioso das retiradas, quando faiscava a luz da madrugada, e a levada dos retirantes, sem pão, sem lar, sem descanso, nua, esfarrapada, doente, cambaleando procurava o caminho de uma natureza mais clemente, das terras melhores, de um céu mais amigo. Desenrolava-se no ar a sonoridade doentia do aboio.
Riachão desceu devagar, abriu a porteira tirando pau a pau aboiando sempre, pôs a vara de ferrão no ombro ossudo de artrítico, e vagaresco, soberbo, andou para o caminho serpenteante que levava ao rio espelhento aos últimos raios do sol. O gado saiu do curral, todo ele, bois imensos, touros nervosos, novilhos tráfegos, cabisbaixo, pensativo, numa fila lenta, num mugido doloroso e foi seguindo no rasto do vaqueiro, o trilho sonoro do aboio. Nenhum correu, nenhum se apressou, nenhum daqueles animais rompeu a forma original daquela parada. Atravessaram o pátio cheio de vaqueiros descobertos, ladearam a casa de farinha e desceram para o rio, entre as juremas em flor e o cheiro forte dos pereiros verdes.
E assim, homem e gado, desapareceram na volta da estrada, e no ar sereno da tarde luminosa, ficou perdurando a dolência rítmica do aboio, o canto distante da dor eterna das gentes do mato, tão saudoso, tão forte e tão sonoro, como se fosse a própria alma do sertão que ia cantando…
Natal, Julho de 1920.”
FONTE: Revista do Brasil, N. 67, Julho, 1921, Editor: Monteiro Lobato & Comp., São Paulo. Este raríssimo artigo foi enviado pelo escritor Jorge Baleeiro de Lacerda, de Francisco Beltrão, Paraná, em 2006, e constitui um dos primeiros textos de Luís da Câmara Cascudo sobre a temática folclórica.