segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 




https://cantinho.live/

A mandioca tem inúmeros e distintos destinos, como a fabricação de papel e celulose, panificação, têxtil, indústria fármaco e de cosméticos, fertilizantes, bom emprego em campos de petróleo e siderurgia e como alimento..

Nomeada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como alimento mais relevante do século, a mandioca poder ser consumida por pessoas, animais e usada para fabricação.  A mandioca tem inúmeros e distintos destinos, como a fabricação de papel e celulose, panificação, têxtil, indústria fármaco e de cosméticos, fertilizantes, bom emprego em campos de petróleo, siderurgia e como alimento, e ainda serve produtos básico para a fabricação de alimentos sem glúten, lactose e ativados.

A mandioca tem a composição rica em carboidratos especiais que, entre outras funções, conseguem liberar a glicose mais lentamente no organismo, garantindo que não haja picos de açúcar, que a digestão seja realizada de maneira mais fácil e, além disso, que o corpo mantenha os níveis de energia altos por mais tempo. Além desses benefícios, a mandioca também é rica em vitaminas A, B1, B2 e C e é muito indicada para a dieta de pessoas diabéticas, mesmo contendo muitos carboidratos que, quando metabolizados, transformam-se em açúcar. Isso porque os carboidratos presentes na estrutura não geram picos de glicemia, ou seja, produzem açúcar mais lentamente.

Hoje, a fabricação da mandioca é mais concentrada em países como a Nigéria, Tailândia, Indonésia, Brasil, República Democrática do Congo e Gana. De acordo com o última declaração exposta pela ONU para a alimentação e agricultura(FAO), a fabricação mundial  da raiz da mandioca resulta em cerca de 270,28 milhões de toneladas em 2014, permanecendo o Brasil na 4ª colocação com uma plantação de 23,24 milhões de toneladas.

Dessa forma, o Brasil concentra 3 grandes centro produtivos: o estado do Pará(alimentício), a região Sul (industrial) e o Mato Grosso. Resultados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) comprova que o Pará foi encarregado do total de féculas de mandioca fabricada no país no ano de 2015 – este número está estável a cada safra, sendo ainda o Paranavaí (PR) uma citado como mundialmente em cultivo e qualidade.

Este artigo foi publicado originariamente no site- Norteste Rural, e foi reproduzido adaptado por equipe do blog cantinho.



Há 50 anos, o Concorde cruzava o Atlântico pela primeira vez e seu destino era o Brasil

 

- https://www.aeroin.net/

 



Concorde em voo de demonstração em 1971 – BAE

No começo de setembro de 1971, o icônico jato supersônico Concorde inciava um tour comercial global com objetivo de ser apresentado a importantes companhias aéreas, dentre elas a brasileira VARIG. Assim, no dia 4 daquele mês, o avião decolou para sua primeira travessia do Atlântico e um dos destinos era o Rio de Janeiro.

Em matéria de 7 de setembro de 1971, os jornalistas do The New York Times enviados ao Brasil diziam assim:

“O avião supersônico francês-britânico Concorde pousou aqui hoje, completando sua primeira viagem transatlântica. Ele voou de Caiena, Guiana Francesa, a 2.100 quilômetros por hora, o dobro da velocidade do som”.

“O jato deixou a França na semana passada e parou nas ilhas de Cabo Verde e em Caiena. Autoridades disseram que ele não estava equipado com tanques de reserva de combustível, o que possibilitaria um voo sem escalas”.

“O avião será demonstrado a funcionários de quatro companhias aéreas sul-americanas – Varig do Brasil, Aerolineas Argentinas, Avianca da Colômbia e Viasa da Venezuela. Deve voar até São Paulo, principal polo industrial da América Latina, para uma feira industrial francesa que abre quinta-feira, e depois segue para a Argentina”.

O vídeo abaixo foi feito pela fabricante e mostra esse voo sobre terras cariocas. No final, nenhuma unidade foi vendida a empresas brasileiras, mas a aeronave voou regularmente ao Rio de Janeiro nas cores da Air France, a partir de 1976.

O Projeto

O Concorde foi um projeto franco-britânico lançado em 29 de novembro de 1962, entre a British Aircraft, a Rolls Royce e a Aerospatiale mais a SNEC-MA, que enfrentou diversos problemas desde seu início.

As empresas, British Aircraft Corporation e Sud-Aviation não se colocavam de acordo sobre as particularidades da aeronave. A British Aircraft Corporation apoiava um avião de longo alcance capaz de cruzar o Atlântico, enquanto a Sud-Aviation defendia uma aeronave de médio alcance à imagem e semelhança de seu famoso Caravelle.

Até o próprio nome do projeto foi motivo de desavença, entre “Concord”, à inglesa, e “Concorde”, à francesa. Em 1967, o britânico Tony Benn, secretário de Estado de Tecnologia, resolveu a questão dizendo que seria adicionado ao final um “e” de “excelência”, “England” (Inglaterra), “Europa” e “entendimento cordial”.

Para o que veio?

Muito mais do que sua aparência diferente à época, o Concorde veio para se tornar um ícone, exclusivamente para ricos e famosos, cruzando continentes numa velocidade que superava os 2.400 km/h e voando a mais de 20.000 metros de altura.

Podia-se ir de Paris a Nova Iorque em pouco mais de 3 horas, o que na época e até mesmo nos dias atuais causa espanto, tamanha rapidez e performance.

O supersônico ainda foi o primeiro jato de passageiros a dispor a sistema fly-by-wire, ou sistema de controle por cabos elétricos, e também foi a primeiro a empregar circuitos híbridos, com controles computadorizados do motor, e a usar a eletrônica de maneira tão extensiva.

Operações

Mesmo sendo uma maravilha tecnológica na época, o Concorde acabou sendo um fracasso comercial.

Com cerca de 100 unidades encomendadas no início do projeto, feitos por diferentes e importantes companhias aéreas, tais como Japan Airlines, Lufthansa, American Airlines, Qantas e TWA, acabou recebido apenas pelas duas companhias que faziam parte do projeto.

Depois de realizar seu primeiro voo em 1969, dois anos depois, em 1971, o protótipo 001 começou a realizar turnês de demonstrações pelo mundo, onde acabou acumulando cerca de 60 pedidos.

No entanto, diversos cancelamentos começaram a surgir devido a fatores como a crise na época, a alta do petróleo, adversidades financeiras por parte dos parceiros, etc. Por fim, apenas Air France e British Airways conseguiram manter os Concordes.

O Concorde no Rio em 1971

O fim

No dia 25 de julho de 2000, um Concorde decolava de Paris para Nova Iorque quando, ainda na corrida de pista, passou sobre um pedaço de metal que rompeu um dos pneus e foi arremessado em direção à asa, culminado na perfuração de um tanque de combustível.

A asa pegou fogo e o incêndio foi se ampliando nos instantes iniciais do voo, até o jato da Air France colidir com um hotel, matando 100 passageiros, nove tripulantes e quatro pessoas no chão.

O modelo ainda operou por poucos anos, até que o último voo comercial operado pela companhia Air France foi realizado entre Nova York e Paris em 31 de maio de 2003, enquanto a British Airways realizou seus últimos voos entre Londres e Nova York no dia 24 de outubro de 2003.

Depois do último voo comercial pela British Airways, o Concorde ainda fez alguns voos de traslado, sem passageiros, voando para alguns museus na Europa e nos Estados Unidos.

O Concorde ainda pode ser visto atualmente no Museu do Ar e Espaço, no aeroporto de Le Bourget, em Paris (França), no Museu do Voo, em Seattle (EUA), no aeroporto de Heathrow, em Londres e também no museu em Bridgetown (Barbados), que em breve poderá ser reaberto para as pessoas, como mostramos nesta matéria publicada anteriormente.





sábado, 18 de setembro de 2021

AS FLÔ DE PUXINANÃ - ZÉ DA LUZ


Severino Andrade da Silva é o nome de batismo do famoso bardo paraibano de Itabaiana, nascido no ano de 1904 e falecido no Rio de Janeiro em 1965 apelidado Zé da Luz . O seu célebre poema intitulado As flô de Puxinanã (Puxinanã é um pequeno municipio do Estado da Paraíba) está espalhado Brasil afora. Conta-se que é uma paradódia de As flô de Gerematáia, poema de autoria do poeta e jornalista cearense de Uruburetama, Ceará, Napoleão Meneses (1903-33). As flô de Puxinanã é uma história (irònica e satírica) sobre três irmãs. Senão vejamos para o nosso deleite: 

 

Três muié ou três irmã,

três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.

A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação!
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.

A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué critão
os oiá déssa minina.

Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.

A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscús de mandioca.

Dois cuscús, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.

Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui ei vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.

(fernandocaldas110@gmail.com

Uma escritora mineira no Assu

 

A partir deste 15 de agosto de 2021, Navegos presta homenagem à memória da escritora mineiro-potiguar que viveu mais de 70 anos de sua vida no Rio Grande do Norte, publicando uma antologia de bolso funcional © Feedback Livros.


*Da Redação

Nascida na antiga cidade de Lavras do Funil [Minas Gerais] em 1915, Maria Eugênia Maceira Montenegro radicou-se no Rio Grande do Norte em 1938, mais precisamente no município do Açu, onde faleceu em 2006, após longo sofrimento físico e moral. Escritora, artista plástica, poetisa, pertenceu à Academia Norte-rio-grandense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Exerceu o mandato de prefeita de Ipanguaçu, onde o seu marido, deputado Nelson Borges Montenegro, tinha a sua base eleitoral. Um pouco antes de falecer recebeu o título de “Cidadã Norte-rio-grandense”, por proposição do deputado Valério Mesquita, em reconhecimento aos inumeráveis serviços prestados ao povo e à cultura potiguares. Tendo estreado com um livro de memórias, através do qual contou sua história de menina, encerrou suas atividades literárias publicando as memórias de sua mocidade [“Lavras, terra de lembranças”].

O escritor Franklin Jorge [Ceará-Mirim, RN, 1952-] considera-se seu discípulo. Tendo convivido com a escritora por mais de 50 anos, de quem recebeu contínuos ensinamentos, desde a época em que tinha apenas 14 anos, reuniu em livro [“Paraísos de Papel”], ainda inédito, uma série de artigos e ensaios que escreveu sobre Maria Eugênia, do qual extraímos os fragmentos reproduzidos a seguir. As fotografias que ilustram esse material pertencem ao arquivo do autor e constituem parte do acervo do Museu Virtual de Literatura Norte-rio-grandense que está organizando, no momento e que a seu ver constitui a obra capital de sua vida dedicada à cultura e às letras.

Bibliografia resumida de Maria Eugênia Maceira Montenegro

Saudade, teu nome é Menina

Lavras, Terra de Lembranças [memórias da infância e da mocidade]

Alfar, a que Está Só [conto filosófico]

Azul Solitário [poesia]

Tradições e Costumes do Açu [ensaio etnográfico]

João Lins Caldas [ensaio]

(Do blog: Da esquerda para direita: Maria Eugênia Maceira Montenegro, Nelson Borges Montenegro, Edmilson Lins Caldas, José Caldas Soares Filgueira e Franklin Jorge Roque. Na Janela Ruan Montenegro)

 


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

 

"Doer, dói sempre.
Só não dói depois de morto.
Porque a vida toda é um doer."

- Rachel de Queiroz, in "Dôra, Doralina:
romance". José Olympio Editora, 1984.
Rachel de Queiroz - a dama sertaneja das letras

De Clau Almeida


Conselho de María Sabina, uma curandeira e poeta mexicana.
′′ Cure-se com a luz do sol e os raios da lua. Ao som do rio e da cascata. Com o balanço do mar e o bajulamento dos pássaros. Cure-se com menta, neem e eucalipto. Adoce com lavanda, alecrim e camomila. Abrace-se com o feijão de cacau e uma pitada de canela. Coloque amor no chá em vez de açúcar e beba olhando para as estrelas. Cure-se com os beijos que o vento te dá e os abraços da chuva. Fique forte com os pés descalços no chão e com tudo que vem dele. Seja cada dia mais inteligente ouvindo sua intuição, olhando o mundo com a testa. Pule, dance, cante, para que você viva mais feliz. Cure-se a si mesmo, com amor bonito, e lembre-se sempre... você é o remédio."



 Por Renato Caldas*

Logo de noite,
Quando vórto do trabáio,
Pégo a vióla e me espáio.
Coméço logo a cantá.
Enquanto a lua
Tá no céo dipindurada
Ouvindo a minha toáda
Com vontade de chorá.
Oh! Lua cheia, oh! Lua cheia.
Não óie nas teia
da casa de meu amô.
Pruquê se oiá,
Se espiá,
Cabô-se lua cheia
O teu furgô.
Eu tenho raiva
quando vejo a lua cheia,
Espiando pelas teia
Da casinha de meu bem!
Eu penso inté
Qu'essa lua tão marvada,
Qué levá a minha amada
Pra uma casa que ela tem.
Mas, se eu pegasse
A lua pelas guéla,
Dava tanta tápa nela
Qui nem é bom se falá...
Que me importava
Que o mundão escurecesse,
Ou que ela se escondesse,
Só com mêdo de apanhá.
Se Deus deixasse,
Se Deus aconsentisse,
Que pro céo eu assubisse
E fosse lua também...
Passava a noite,
Lá no céo dipindurado,
Oiando pulo teiádo
Da casinha de meu bem.
(O bardo do Assu, Renato Caldas juntamente com o menestreu maranhense Catulo da Paixão Cearense, autor da famosa canção Luar do Sertão, além de Zé da Luz, foram os responsáveis pela introdução da poesia matuta na Literatura Popular Brasileira. O poema canção acima, está publicado na antologia de Renato intitulada Fulô do Mato, 1954).
Pode ser uma imagem de árvore
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quinta-feira, 16 de setembro de 2021

DADOS HISTÓRICOS DA CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO – NOVA ESPERANÇA




A Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Nova Esperança, situada à margem da RN 016, que liga Assú- Porto do Mangue, tem suas raízes ainda no século XIX, quando a devoção a Imaculada Conceição se espalhou pelas fazendas da Várzea do Assú, em tempos remotos, dos quais não temos muitos registros. Porém, queremos trazer alguns dados que ajudarão a remontar a história desta capela, tão cara para todos os católicos da imensa várzea do Assú que, de alguma maneira, se identifica com a história pessoal e religiosa de cada um.

No ano 2000, os jovens de Nova Esperança, movidos pela força do Espírito e numa atitude protagonista, resolveu fazer uma reforma na Capela. Retirou todo o reboco (de dentro e de fora) com as próprias mãos, mas não imaginava que na torre, por baixo daquele reboco à base de areia e cal, deteriorado pelo tempo e ações da natureza, existiam vestígios de uma outra torre, com janelas abaixo das atuais. Isso confirmava a tese de que existiu uma outra capela, menor e ainda mais antiga, com a frente virada para o lado do Cemitério, (informação que chega até nós através da tradição oral), anos depois, reconfirmado no livro História da Paróquia de Assú , da jornalista Auricéia Antunes de Lima) (1). Aquela descoberta reforçava as indagações de muita gente, pois seria a primeira vez que, de maneira real, tínhamos contato com um dado histórico tão concreto. Estávamos diante de um fato histórico? Fazíamos parte de um “sítio arqueológico”, sem nos dar conta?

A tradição oral, passada às famílias mais antigas da comunidade e, consequentemente, às lideranças da Capela, refere-se a esta como muito antiga. Conta-se que existia uma família muito rica, que possuía uma fazenda e que teria encomendado uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, diretamente de Portugal. Chegada a “encomenda”, no porto de Macau, um grupo de pessoas (especialmente senhoras) dirigiu-se até aquela cidade para trazer a imagem em procissão. Esta imagem, ao chegar a Nova Esperança, teria ficado na “Casa Grande” (2) até a construção da primeira Capela. O que se sabe (conferindo os livros de batismo da Paróquia de são João Batista), é que desde o final do século XIX, há registros de batizados feitos em Nova Esperança, sem a expressa referência a uma capela. No entanto, em 2003, quando a comunidade, encabeçado pelo seu então coordenador José Antonio Guimarães, resolveu datar e registrar a fundação desta capela, talvez motivado pelas recentes descobertas e indagações provenientes delas, mas sem respostas concretas, recorreu aos livros da Paróquia para averiguar se havia algum registro que possibilitasse confirmar o que todos sabiam da tradição: A CAPELA É CENTENÁRIA (3). Para nossa surpresa, depois de muitas buscas, nos registros começaram a aparecer batizados a partir de 1904, feitos em oratório público (o que se traduz por capela pública) (4). Foi o bastante para, com a aprovação do pároco, Pe. Canindé, começarmos a preparar uma festa de cem anos, com o intuito de selar uma data que marcasse definitivamente a origem da capela. A celebração aconteceu em 2004, com muitos eventos.

A festa de cem anos serviu para ajudar a comunidade a recobrar os ânimos por que, depois daquela, a tradicional Festa da Imaculada Conceição voltou a tomar a proporção devida de uma festa não só religiosa, mas de cunho cultural e social. Foi um momento que redescobrimos nossas tradições, onde pudemos rever algumas hipóteses e consolidar aquelas que a tradição oral nos dizia.

Para esta celebração de cem anos, envolvemos todas as comunidades da Várzea e algumas da zona urbana. A Imagem peregrina, devidamente restaurada, peregrinou durante 100 dias, obedecendo um calendário de visitações. No dia 27 de Novembro de 2004, data marcada para o encerramento da peregrinação, uma comitiva de devotos foi até a matriz de São João Batista para trazer em procissão motorizada a imagem peregrina, juntamente com a Imagem da Imaculada Conceição da Matriz. Foi um evento histórico, pois naquele ano, alem de celebrar os 100 anos da Capela de Nova Esperança, celebrava-se também os 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição; foi elaborado um CD com o Hino dos 100 anos, Hino da Padroeira, Hino do Sociedade Esporte Clube, Hino de São João Batista e Hino do Assú; foram celebrados matrimônios, batizados, 1ª Eucaristia, tudo em função do Jubileu; pela 1ª vez (talvez em cem anos) a Tradicional Missa Solene foi transferida, do horário das 9 horas da manhã, para as 16 horas (sob consulta popular). Enfim, o Jubileu de 100 anos marcou a todos nós.

Passados os anos, algumas perguntas não se esclareciam, pois se era verdade que uma imagem da Virgem veio de Portugal, não podíamos acreditar que fosse a mesma que temos no altar principal, que é de gesso e demasiadamente nova, não correspondendo ao século XIX. Estávamos convencidos de que a “procissão de Macau” era mais um mito para ilustrar a nossa história, especialmente depois que descobrimos uma etiqueta na base da Imagem grande, que traz o endereço “rua da Quitanda”, no Rio de Janeiro. Porém, uma luz clareou o fim de um túnel cheio de perguntas. Durante as Santas Missões populares, entre 2006 e 2007, um missionário (5), ao passar numa residência, nos procurou e fez a seguinte declaração: “Existe uma Imagem de estilo barroco, em madeira, de Nossa Senhora da Conceição na casa de uma senhora (6), que não pode passar despercebidamente. Procurem investigar o quanto antes a origem desta imagem”. Até então, era uma grande novidade para todos nós, embora esta senhora fosse conhecida de todos, justamente por ser filha de um antigo sacristão que zelou durante muitos anos, ainda da primeira capela. Ela, depois de muitos anos residindo em Mossoró, havia retornado para morar em Nova Esperança, perto da casa onde se criou.

Há a hipótese de que, quando foi necessário derrubar a antiga capela, em meados entre 1930 a 1950, para dar lugar a atual (de proporção bem maior), sentiu-se a necessidade de adquirir uma nova Imagem, grande, que combinasse com a nova capela. É sabido pelos mais antigos que, durante o período em que a nova capela foi construída, as atividades religiosas foram transferidas para a Casa Grande. Portanto, os objetos e móveis da capela confundiam-se aos de quem morava na Casa Grande. Terminada a construção, com uma imagem nova, imponente, não “seria necessário” duas imagens de Nossa Senhora na nova capela. Portanto, nada mais natural que, por mérito, a imagem ficasse com o sacristão. Recentemente, em entrevista concedida à atual coordenadora da capela, Maria José dos Santos, Dona Neumam confirmou alguns dados, dos quais ela é testemunha ocular. Quando perguntada sobre a atuação do Monsenhor Júlio Alves Bezerra e a relação dele com sua família, ela responde: “Monsenhor vinha à cavalo, de Assú, almoçava na Casa Grande (que era rodeada de alpendres) e dormia em uma rede”. De maneira entusiasmada ela confessou que foi preciso algumas mulheres fazerem curso para ajudar o Monsenhor a paramentar-se na Missa. Quando indagada sobre a origem da Imagem Relíquia, ela confirma que esta veio em Procissão de Macau, mas que veio direto para a Igreja velha.

Ao saber da notícia da descoberta da Imagem de madeira, procuramos o Pe. Canindé, falamos-lhe da hipótese e da veracidade dos fatos. De imediato, ele se encarregou de resgatar a imagem, para o bem da comunidade e integridade do Patrimônio. O Padre Canindé tinha um laço afetivo mais próximo da senhora, pois havia concedido um espaço no terreno da capela, justamente nas proximidades da antiga Casa Grande, onde ela havia passado a infância. Por isso, seria mais conveniente que ele, representante legal do Patrimônio, se dirigisse com sabedoria e caridade, para que a imagem voltasse à sua casa em caráter de doação. Na noite de 31 de dezembro de 2007, antes da celebração de fim de ano, convidado para dar uma bênção na referida casa, ele pediu a Imagem, que foi-lhe entregue depois de muitas recomendações. Ao retornar, a capela estava cheia e, de maneira muito natural, todos ficaram de pé e aplaudiram. Não sabemos se por obra da Virgem, mas estávamos presenciando um evento histórico: o encontro do Passado com o presente. A primeira imagem da comunidade retorna à sua casa, depois de décadas. A Imagem foi levada à casa paroquial, onde ficou até ser construído um nicho para, solenemente, ser entronizada. No dia 08 de dezembro de 2008, após a Missa solene da Imaculada Conceição, com a praça lotada de fiéis e pelas mãos do então prefeito Ivan Júnior, do presidente da Câmara, Odelmo de Moura e do pároco, Pe. Francisco Canindé, a imagem foi solenemente entronizada no seu nicho, de onde nunca mais saiu.
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1 No livro, a autora transcreve do livro de tombo a Visita Pastoral do então bispo Dom Jaime Câmara(era a década de 1930). Nesta visita, após descrever a pequena Capela, informando que existe um patrimônio considerável, o bispo promete mandar uma planta direto de Mossoró, para a construção de uma nova capela(que seria a atual). 
2 A casa Grande,rodeada de alpendre, com 09 quartos, possivelmente pertencente à antiga fazenda, tornou-se base de apoio ao Monsenhor Júlio Alves Bezerra, que atendia (à cavalo) aos municípios de Assú, Carnaubais e Porto do Mangue. É possível que, quando ainda não existia capela, servia-se como referência para as outras famílias da região.
3 Muita gente acreditava que a capela tivesse mais de cem anos, pois o cemitério, importante patrimônio histórico que faz parte do complexo religioso da comunidade, traz túmulos datados de meados do século XIX( 1850). 
4 Encontramos outros batizados, mais antigos, a partir de 1890 por diante, mas nunca em oratório público. 
5 O Missionário era o então seminarista Antonio Adailton Macedo. 
6 A senhora chama-se Neumam. É filha do senhor Francisco Evangelista Bezerra, conhecido como Chico Pedro, já falecido. O senhor Chico Pedro durante muito tempo foi sacristão e colaborador de Monsenhor Júlio Alves Bezerra. Ele, com sua família, morou 50 anos na Casa Grande, onde a senhora Neumam nasceu e se criou.

Foto: Joserley carlos

FONTE – BLOG ASSU NA PONTA DA LÍNGUA

Do blog https://jm-novaesperanca.blogspot.com/

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