Essa fotografia é de Vicente Maria da Costa Avelino, pai do Jornalista Pedro Avelino, avô do senador Georgino Avelino. Foi tirada em 1870 e dedicada ao Barão de Assú, Luiz Gonzada de Brito Guerra.
Publicado originalmente no site tokdehistoria.com em 25/06/2016.
Em um tempo quando o mar não trazia tanto lixo para a terra e um
vasilhame de vidro usado tinha certo valor comercial, à beira mar da
bela praia potiguar de Muriú alguém encontrou uma garrafa que continha
uma mensagem com um conteúdo diferente[1].
É quase certo que quem a encontrou, em fins de novembro de 1876, não
tinha a menor ideia do que ali estava escrito, já que nessa época grande
parte dos norte-rio-grandenses era analfabeta.
É provável, como seria normal deduzir, que a pessoa que realizou este
achado fosse um pescador, mas talvez não! Apesar da comunidade de Muriú
já existir[2], a beira mar era uma ótima alternativa como via de circulação de pessoas montadas em alimárias, em carroças, ou até mesmo a pé[3].
Fosse uma pessoa livre, ou um escravo que sofria nos engenhos de cana
de açúcar da região de Ceará Mirim, é provável que esta pessoa tenha
levado aquela garrafa com sua mensagem para ser lida por alguém mais
instruído. Naqueles tempos anteriores a criação de comunicação, a
descoberta deste tipo de mensagem requeria atenção e normalmente era
encaminhada a autoridades.
Sabemos que o objeto chegou lacrado no litoral, provavelmente com betume utilizado para calafetar embarcações[4],
mas não sabemos se ela foi aberta antes de percorrer as cinco léguas de
distância que separavam Muriú da pequena Natal, que neste tempo tinha
superado pouco mais de 20.000 habitantes[5].
Letras Desesperadas
Acredito que na capital potiguar a mensagem e a garrafa foram
encaminhadas às autoridades portuárias e alfandegárias, onde certamente
haveria algum funcionário afeito ao idioma bretão, pois não era incomum a
presença de barcos ingleses no porto da Cidade dos Reis.
Após aberto o recipiente surgiu uma mensagem que foi publicada na íntegra pelo pouco conhecido jornal natalense O Atalaia, na sua edição de 2 de dezembro de 1876, na página três, conforme reproduzimos na fotografia abaixo[6].
Em 29 de setembro daquele ano um tripulante, ou passageiro, escreveu
que estava a bordo de um barco inglês, que os jornalistas potiguares
designaram como “galera”, e que se chamava Collingrone. Este barco aparentemente se encontrava na costa sudoeste da África (ou “suéste”, como está descrito no texto original)[7].
Quem escreveu narrou que um “Máo tempo” tinha destruído a vela
bujarrona e outras velas do barco. Mais grave ainda era a informação de
que quatro pessoas a bordo já tinham perecido “pela febre”.
Em meio a este cenário um tanto caótico, em um texto onde a
desesperança e o medo são claros, a mensagem encontrada em Muriú é bem
direta ao apontar a objetiva finalidade do autor – Que alguém que
porventura encontrasse a missiva, a destinasse para a mãe de quem
escreveu. A destinatária seria a esposa de Mr. John Bryce, que vivia na
Fountain House, na pequena cidade de Loanhead, próximo a Edimburgo, a
capital da Escócia[9].
Pesquisando na internet descobri que Loanhead possui na sua área
algumas localidades e casas históricas que utilizam a denominação
“Fountain” (Fonte), mas não especificamente algum ponto conhecido como
“Fountain House” (Casa da Fonte).
Ao pesquisar algo sobre um certo John Bryce, ou sua esposa, que
viviam em Loanhead na metade da década de 1870, esbarrei em um
verdadeiro paredão de nomes similares, que só me levavam a becos sem
saída.
Como a edição do periódico “O Atalaia”, conforme podemos ver na foto
aqui mostrada, nada mais trazia informações sobre o tema eu fui procurar
em outros jornais da época. Infelizmente nada encontrei no material
arquivado na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte, ou nos jornais potiguares digitalizados e disponíveis
na Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional.
A história toda era muito limitada e necessitava de novas pesquisas
para responder a vários questionamentos. Tais como a natureza deste
veleiro e quem escreveu a mensagem? Qual a nacionalidade do barco? Qual
era sua rota marítima? O que aconteceu com esta nave e o autor da
mensagem?
Mastros que poderiam chegar a alturas de um prédio de vinte andares
Pessoalmente eu tenho uma grande admiração pela Grã-Bretanha,
principalmente pelo prazer que os súditos da Rainha Elizabeth II têm
pela sua história e pelo intenso esforço que instituições britânicas
fazem para democratizar preciosas informações históricas guardadas em
seus arquivos através da internet. Assim, sem maiores contratempos, é
possível acessar os arquivos do Lloyd Register, uma organização de
classificação marítima que remonta a 1760[10].
Mas ao pesquisar neste arquivo altamente acurado não encontrei nenhuma referência sobre algum veleiro denominado Collingrone, registrado na Inglaterra e que navegava na década de 1870. Mas sempre esbarrava na referência de um grande clipper denominado Collingrove. E comecei a suspeitar que 140 anos atrás os membros da redação de O Atalaia haviam reproduzido equivocadamente o nome do barco.
O Collingrove era uma embarcação do tipo clipper, foi
construído em 1869 pelo estaleiro de Sir James Laing & Sons Ltd., em
Deptford Yard, na cidade de Sunderland, Nordeste da Inglaterra. Tinha
861 toneladas brutas, 181,4 metros de comprimento, 33,5 de largura e foi
registrado em Londres no início dos anos 1870 para a empresa de
navegação A. L. Elder & Co.
O barco estava envolvido no comércio de carga e transporte de
imigrantes entre a Inglaterra e o sul da Austrália, se destinando
principalmente para a cidade de Port Adelaide e retornando a Londres.
Podia transportar 75 passageiros e carga geral.
O Clipper Collingrove fazia parte de uma classe de barcos
que marcou época, sendo os mais rápidos, elegantes e imponentes veleiros
desenvolvidos no século XIX. Estas belas naves começaram a ser
construídos a partir da década de 1830 e várias qualidades definiram a
história deste tipo de veleiro. Um clipper era tecnicamente um navio com
três mastros, que possuía uma grande extensão de velas quadradas, muito
rentável em longas distâncias e que desenvolviam alta velocidade.
Com mastros que poderiam chegar a ser tão altos quanto um prédio de
vinte andares, linhas de casco longas, combinados ao enorme poder de
condução das velas, fazia com que a maioria deles percorressem 250
milhas náuticas em um único dia. Os melhores atingiam velocidades que
cobriam 400 milhas por dia.
Já o Collingrove era considerado um barco muito regular e
seguro. Relatos apontam que seu tempo mais rápido entre Londres e Port
Adelaide foi de 65 dias e os mais lentos 85, com uma média de 74 dias
por viagem. Era comum nestas grandes viagens que os clippers seguissem
com um médico a bordo para atender os passageiros e não era incomum
haver em alguns destes barcos uma vaca para fornecer leite fresco. Como o
tempo de viagem era longo, sem escalas, era normal o incentivo para que
os passageiros que tinham algum dom artístico, realizassem
apresentações.
Medo de Viajante
Descobri através dos arquivos do Collingrove que em 1876 o
seu comandante, ou Mestre, como os ingleses designavam, era H. Angel, um
veterano navegador, sem máculas em sua ficha e com extrema capacidade
profissional.
Aparentemente o que a carta na garrafa significou foi apenas o medo
de uma pessoa pouco experiente com viagens marítimas, em meio a uma
tempestade que danificou, mas não afundou o Collingrove. Certamente
esta pessoa também estava extremamente estressada diante das mortes em
decorrência de uma febre em um ambiente limitado, em um tempo onde as
pessoas pouco compreendiam a possibilidade de contrair esse tipo de
doença.
Infelizmente nada encontrei que apontasse que no final de 1876 este
barco tenha se envolvido em uma tempestade que o deixou com danos de tal
ordem que significasse um perigo real de afundamento e nada sobre
mortes provocadas por um surto de febre.
Como notas finais desta história marítima posso comentar que o Collingrove continuou navegando por mais 24 anos sem maiores alterações, até ser vendido no ano de 1900 em Xangai.
Já o experiente comandante H. Angel, em outro barco da empresa A. L.
Elder & Co., comandou o mais famoso dos tripulantes de barcos
clippers. Este foi o imigrante polonês chamado Józef Teodor Konrad
Korzeniowski, que na Inglaterra passou a ser conhecido como Joseph
Conrad.
Considerado um dos maiores romancistas a escrever no idioma inglês,
foi um mestre da prosa que trouxe uma sensibilidade diferenciada para a
literatura inglesa. Nas suas obras Conrad escreveu contos e romances,
muito destes baseados na sua larga experiência náutica, enquanto
explorava profundamente a psicologia humana, retratando através de
ensaios um universo impassível, inescrutável.
Um visitante regular para Port Adelaide a partir do momento que ela foi construída até o final de 1890.
[1]
Enviar garrafas com mensagens pelo mar não é nada recente na história
da humanidade. o primeiro registro de uma mensagem lançada ao mar foi
realizado pelo filósofo grego Theophrastus que, por volta de 310 a.C.
jogou garrafas ao Mar Mediterrâneo para tentar provar que as águas deste
mar eram formadas por um fluxo que vinha do Mar Atlântico. Este
pensador é considerado o sucessor imediato de Aristóteles, por quem foi
nomeado como sucessor e guardião de toda a biblioteca de seu mentor!
Sobre este tema ver – http://tcmuseum.org/collections/message-in-a-bottle/
[2] Nesta época Muriú já tinha um quadro populacional que necessitava de uma escola primária. Nas páginas 45 e 46 da Coleção de Leis Provinciais do Rio Grande do Norte para os anos de 1872 e 1873,
encontramos a Lei nº 667, sancionada pelo então Presidente da Província
João Bandeira de Mello Filho, em um exemplar existente na biblioteca do
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, se lê no seu
Artigo 1º que “Ficam criadas cinco cadeiras de instrução primaria para o
sexo masculino nossa lugares Muriú e Capela, do município de Ceara
Mirim, Poço Limpo, do Natal, Laranjeiras, do de São José de Mipibu, e
praia do Tibau, do de Goianinha”. Vale frisar que grande parte das
comunidades de pescadores que conhecemos hoje entre a capital potiguar e
a cidade litorânea de Touros também já existiam.
[3]
Em 25 de maio de 2016, junto com o pesquisador argentino, radicado em
Natal, German Zaunseder, ao realizar uma pesquisa sobre a chegada de um
grupo de náufragos ingleses na cidade litorânea de Rio do Fogo em 1941,
entrevistamos o Sr. Miguel Alves de Souza, nascido nesta comunidade em
18 de setembro de 1921. Sobre a carência de estradas e transportes para
as comunidades do litoral potiguar, ele comentou que até sua juventude
era normal as pessoas da localidade seguirem principalmente em barcos
para Natal. Mas não era incomum que muitos realizassem este trajeto pela
beira mar em lombo de animais e até mesmo a pé.
[4]
Popularmente conhecido como piche, é uma mistura líquida de alta
viscosidade, cor escura e inflamável. É formada por compostos químicos
(hidrocarbonetos), e que pode tanto ocorrer na natureza como ser obtido
artificialmente, em processo de destilação do petróleo. Produto
conhecido desde a Antiguidade é considerado uma das melhores opções para
acabamento e calafetagem para impedir vazamentos de cascos de barcos de
madeira. Ver – http://lojadoimper.blogspot.com.br/2014/11/primeira-referencia-sobre.html
[6] O jornal O Atalaia era
um jornal de apenas quatro páginas, publicado duas vezes por mês, sendo
apresentado como “Literário, crítico, noticioso e dedicado aos
interesses da liberdade, igualdade e do progresso”. Tinha a sua sede na
Rua Correia Telles, número 29, Ribeira e era impresso na tipografia
Independência, na Rua Santo Antônio. Só encontrei apenas um exemplar
deste jornal, disponível nos jornais potiguares digitalizados e
disponíveis na Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional.
[7]
É possível que este barco não estivesse tão próximo da costa africana.
Pois a garrafa teria sido lançada ao mar em 29 de setembro de 1876 e
chegou à praia de Muriú cerca de um mês após.
[9]Na
atualidade Loanhead é uma pequena comuna onde habitam pouco menos de
7.000 escoceses e fica localizada a cerca de dez quilômetros ao sul da
dinâmica cidade de Edimburgo. Ver https://en.wikipedia.org/wiki/Loanhead
Ladeira da antiga Estrada do Farol, atual Rua João XXIII, no Morro de Mãe Luiza na década de 1950 ou início dos anos 60. Foto: Acervo CSPNSC - Mãe Luiza
Batismo do Dr. Pedro Soares de Amorim, lá no Assú Pedro,
filho legítimo de José Gomes de Amorim e Ana Clarinda Soares de Amorim,
nasceu a 2 de dezembro de 1845, e foi batizado, em oratório privado,
nesta cidade, pelo Padre Mestre Francisco Teodósio de Seixas Baylon, a
12 do mesmo mês, e lhe impôs os santos óleos, de minha licença. Foram
padrinhos João Soares de Macedo e Clara Maria da Ressurreição, do que
para constar, fiz este assento em que me assino. Manoel Jerônimo Bezerra
Cavalcante, Vigário do Assú.
Segundo o livro que trata da família
Casa Grande, Pedro Soares de Amorim formou-se em Medicina e Farmácia,
pela Faculdade da Bahia, a 21 de dezembro 1878.
Prontooo! Ele chegooou... Meu 13° livro. O Livro dos Diferentes. Uma obra sobre pessoas, uma obra cheia de gente, friviando, gente que precisa de amor e de respeito. Um livro para as escolas, para os alunos, para os professores, professoras. Um livro que é sinônimo de acessibilidade, compreensão e inclusão. Especial em tudo, é meu primeiro livro infantil de edição própria, traz ilustrações do genial amigo Marcos Pê e edição da CJA editora.
Faremos o lançamento na Feirinha de Nossa Gente, em Pau dos Ferros, nos dias 26 e 27. Sexta e Sábado. Vocês vão, porque vocês sabem que se vocês não forem, o véi do saco carrega vocês.
O livro já está disponível e eu envio para todo o Brasil. Em Pau dos Ferros entrego e para as cidades circunvizinhas a gente dá um jeito também, manda por um conhecido, um carro de linha, deixa num canto que a pessoa pegue depois, eu só sei que o livro vai.
A vereadora Margarete Régia (PROS) propôs a concessão de título de Cidadã Natalense à empresária Maria das Dores da Silva, a Maria do Bar, proprietária de uma "boate de entretenimento adulto" e que é candidata a deputada estadual. A vereadora justifica a proposta afirmando que Maria "tem dedicado sua vida tanto a atividade de entretenimento noturno nesta Capital, como a assistência social". À Justiça Eleitoral, Maria do Bar declarou bens que somam quase R$ 2 milhões.