sábado, 15 de março de 2008

"SAÚDE NO FIOFÓ"

O título referenciado acima é o último verso do poema intitulado de "Qué vê matuto humilhado, é tá doente das parte", do poeta matuto Jessier Quirino. Aquele bardo paraibano, no seu livro de estreia sob o título "Paisagens de Interior", 1996, editora Bagaços, do Recife, faz referência, na introdução daquele volume, ao consagrado poeta assuense Renato Caldas na qualidade de seu admirador. Sobre o poeta de "Fulô do Mato", disse, certa vez numa entrevista, Jessier Quirino: "particularmente eu admiro muito o Renato Caldas, os poetas do Assu em geral. Como pesquisador, minha admiração pela obra de Renato Caldas é latente porque a poesia dele tem um lado lírico, como Zé Limeira e Zé da Luz". Jessier, penso eu, é o poeta matuto mais aperfeiçoado da Literatura Popular Brasileira, além de excelente declamador, sabe com maestria, contar os causos matutos, ou mulher dizendo: é um grande artífice, igualmente a Renato, da poesia escrita em linguagem genuinamente sertaneja. Eis o citado poema para o nosso bem estar:

No tronco do ser humano
Nos finá mais derradêro
Tem uma rosquinha enfezada
Que quando tá inframada
Incomoda o côipo intêro.

Se tussí se faz presente
Se chorá se faz também
O caba não pode nada
Cum nada se entretem
Eu lhe digo, meu cumpade,
Não deseje essa maldade
Pra "rosca" de seu ninguém.

Não sei o nome da cuja
Desta cuja eu tiro o já
O que resta é quase nada
Bote o nada na parada
Quero vê tu aguentá.

Eu lhe digo, meu cumpade,
Que é grande humilhação
Um caba do meu quilate
Adoecido das parte
Fazê uma operação
Não suportando mais dô
O meu ato derradêro
Foi procurá um doutô
De "bocá de arenguêro

De bocá de arenguêro
Fejoêro e Fiofó
Bufante, Fresco e Lôrto
Apito, Brote e bozó.

De Furico e Fedegôso
Piscante, Pelado e Bóga
Fosquete, Frinfra e Sedém
Zuêro, Ficha e Vintém
De Ás de Copa e de Fóba.

De Oiti, Ôi de Porco
Ané de Couro e Caguêro
De Gira-sol e Goiaba
Roseta, Rosa e Rabada
Bôto, Zéro e Mialhêro.

De Nó dos Fundo e Buzéco
De Sonoro e Pregueado
Rabichol, Furo e Argola
Ané de Ouro e de Sola
Boca de Véia e Zangado.

Um doutô de Aro Treze
De Peidante e Zé de Bóga
Que não aperte o danado
Nem deixe com muita folga.

Um doutô piscialista
Em Bocá de Tarraqueta
Doutô de Quinca e Dentrol
Zebesquete e Carrapeta.

Doutô de Rosca e Rosquinha
Tareco, Frasco e Obrom
Ceguinho, Butico e Zero
Tripa Gaitêra e Fon-Fon.

Mialhêro e Mucumbuco
Buraco, Brôa e Boguêro
For Ever. Cruaca e Urna
Gritadô, Frande e Fuêro.

Cano de Escape e Pretinho
Rodinha, X.P.T.O.
Zerinho, Subiadô
Tripa Ôca e Fiofó.

De Joli de Zé de Quinca
Canal 2 e Cagadô
Buzina, Vesúvio e Cego
Federá e Simsinhô
Fagulhêro e Zé Zuada
Rosquete, Fim de Regada...
... Eu só queria um doutô.

O doutô se preparou-se
Parecia Galileu
Aprumou um telescópio
Quem viu estrela foi eu
Ele disse arribe as perna
- Tenha calma, sonho meu
A parti daquela hora
Perante Nossa Senhora
Não sei o que sucedeu.

C´as as força da humildade
Já me sinto mais mió
Me desejo um ânus novo
Cheio de velso e forró
Pros cumpade com franqueza
Desejo grande riqueza:
Saúde no Fiofó.

Posta por Fernando Caldas

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