"Viajando o Sertão (IV)"
[Percurso – Santa Cruz – Cabeço Branco – Serro Corá – São Romão – Angicos – Assú - Paraú]
"Rodamos para Paraú, povoação que bati inteira com os pés infantis, há vinte anos. Corríamos em campos suaves, ladeados de vegetação fina e verde. Conversa-se em plantas têxteis, aproveitamento de fibras. Eu penso em Assú. Assú era a cidade literária da Província como Natal era a capital política. (...) Van Gennep demonstrou isto. Assú era, literariamente, o mais vivo centro da Província até os anos da República. Depois as andorinhas políticas cortaram os ares (...) para outros quadrantes. Assú ficou deserto e cheio de recordações (...). Lembro-me do velho Lucas Vanderlei, orgulhoso do Assú, recordando-lhe o passado. Tempo velho. (...) o caminho não permite um ‘memorial day’ assuense."
"O auto corre, galga os primeiros metros, num impulso rouco, pára trepidando (...). Um a um os autos se detém. Eu aproveito para pular a cerca e ir ver um milharal, imenso, (...), cheirando a São João, prometendo o cardápio sem par do nordeste. No lamaçal luta-se cortando mato para evitar o piso falso. Empurra-se. Conversa-se. Finalmente, num bramido de motores enfurecidos, os autos arrancam, atirando lama e folhas pelo ar. Passam. Eu ando a pé e vou retomar meu lugar adiante. A um dos caboclos que ajudaram a desvencilhar os carros, pergunto o nome do local. Tenho uma resposta que é uma ironia: – Isto aqui é ‘corredor da Fortuna’!..."
"A festa de Paraú é para mim um sopro que vem de longe (...). Vários homens eram meninos do meu tempo de irresponsabilidade jurídica. Dona Maroca Véras, Silvestre, Luiz Gondim, meu primo, a fama do meu nascimento em terras de Campo Grande e daí a aclamação para que eu falasse em nome da saudade que o ambiente revigora, tudo reapareceu, súbito numa vida poderosa."
"Depois do jantar fico dentro do automóvel parado com Alcides Franco falando sobre Integralismo, liberalismo e república democrática. Para mim é um encanto narrar como Plínio Salgado começou com nove rapazes e tem duzentos mil em dois anos, com o silêncio dos jornais e todas as baterias do ridículo assentadas contra ele."
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L. da C. C.
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