domingo, 27 de junho de 2010

UMA VIAGEM PELA MEMÓRIA SERIDOENSE

Sobrado do Padre e senador Francisco Brito Guerra
  Por Josetônio dos Santos Fernandes Lisboa
        
Sobrado do Padre Guerra                         Imagem: Gilton Filho
       
O termo sobrado tem origem na palavra latina superatu ( “que está por cima”), denominando em português o edifício com mais de um andar.
O sobrado do Senador Brito Guerra teve sua construção iniciada em 1810 e ficou concluído no ano de 1811. O Padre Guerra decidiu construí-lo, após ter retornado do Rio de Janeiro, onde se submetera ao concurso para provimento do cargo de vigário colado (sacerdote fixo, na época nomeado pela   coroa), da freguesia do Seridó. O vigário passou então a residir no sobrado, acompanhado de sua mãe e das irmãs. Lá, ele morou por 34 anos, vindo a falecer no Rio de Janeiro, no dia 26 de fevereiro de 1845. Figura expressiva na política provincial e imperial, Brito Guerra teve sua primeira legislatura, como deputado geral, entre os anos de 1831 e 1833 e foi senador vitalício do Império em 1837. Foi projeto seu a Lei de 25 de outubro de 1831 que delimitava o território do Seridó fazendo-o definitivamente pertencer à Província do Rio Grande do Norte, acabando com a polêmica com a Paraíba que reivindicava essa porção espacial para si.
A edificação assobradada revolucionou as técnicas de construção até então vigentes na região, sendo um marco para a época e impulsionando o desenvolvimento urbano de Caicó. No prédio, funcionou por muito tempo a famosa Escola de Latim, visto que o padre Guerra era um exímio latinista.
Outra figura de destaque que visitou o sobrado e dele deu notícias foi o frei Caneca, que por aqui esteve em 1824, fugindo das tropas realistas que reprimiam a Confederação do Equador.
Grandes reuniões ocorreram no sobrado, para o qual acorria a sociedade seridoense, curiosa das novidades que trazia o padre, sempre que voltava de suas viagens à Corte.
Arquitetonicamente, o sobrado apresenta dois pavimentos, tendo uma sóbria fachada, na qual se divisam cinco portas e igual número de janelas, estas protegidas por grades de ferro. O seu interior já sofreu alterações. A mobília original, infelizmente, já se perdeu com o tempo; consta que o padre Guerra tinha bom gosto, utilizando móveis de madeira de lei e talheres, copos, colheres, estribos, salva, brida de prata.
O sobrado ele deixou para seus dois sobrinhos padres: Francisco Justino Pereira de Brito e Joze Modesto Pereira de Brito. E outro bens deixou também para seus filhos (!), conforme em vinte de novembro de 1844 anota em seu testamento: “que por fragelidade humana tive deis filhos; a saber Manoel Daniel, de Joanna da Rocha, em tempo que ella era solteira, o qual já faleceo, mas existe hum filho delle do mesmo nome, havido na constancia do matrimonio com Thereza, minha Sobrinha; Izabel, Theodora, Alexandrina, Jacinto, e Francisco, filhos de Maria José, aos quaes todos reconheço pello prezente Testamento por meos filhos, e os instituos, únicos e universaes herdeiros de minha fazenda”

Endereço: Rua Padre João Maria, 134  ( por trás da Catedral de Sant’Ana) 


NOTA DO AUTOR DESTE BLOG: Francisco de Brito Guerra era natural do Açu (quando denominava Vila do Açu), onde nasceu no dia 18 de março de 177. Foi, portanto, além de sacerdote em Olinda, deputado provincial, geral (O que hoje equivale ao  cargo de deputado federal, depois, senador do Império. Foi o primeiro potiguar a assumir a mais alta corte do país, o que hoje representa o cargo de senador da República.

Fernando Caldas



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