Transcrevo, apenas transcrevo um pouco da obra de uma das maiores poetisas sonetistas lusitanas chamada Virgínia Vitorino (1898-1967). Nascida em Alcoçaba, cidade que fica 92 Km a norte de Lisboa, e falecida em 1967, naquela capital portuguesa. Por sinal, para registrar, aquela poeta tinha no Rio Grande do Norte um grande entusiasta que era o poeta João Lins Caldas (1888-1967) também como Virgínia, sonetista de escol (reconhecido por grandes entendedores de literatura como um dos maiores poetas da língua portuguesa). O bardo Caldas (amoroso e ao mesmo tempo amargurado), no dia em que veio a falecer (poucos dias antes de Virgínia), acabara de ler o livro daquela grande poeta intitulado de Apaixonadamente.
Virginia cursou filologia romântica pela Facudade de Letras de Lisboa, foi dramaturga.. É autora de outros grandes livros de poesias intitulados de Namorados e Renúncia, respectivamente. De Namorados, seu mais famoso livro já publicado em catorze edições, transcrevo adiante:
DESPEITO
Digo o que noutro tempo não diria:
Foi tudo um grande sonho enganador...
Nego o passado, e juro que este amor
Só existiu na tua fantasia...
Sinto a volúpia da mentira! A dor
Não transparece. Nego... Que alegria!
Fiz crer ao mundo inteiro, por magia,
Que és de todos os homens o pior...
Nunca me entonteceu esse sorriso...
E, vê lá tu, se tanto for preciso,
Nego também as cartas que escrevi!
Quero humilhar-te, enfim... Mas não entendo
Porque me exalto e choro e te defendo,
Se alguém, a não ser eu, diz mal de ti...
ORGULHO
És orgulhoso e altivo, também eu...
Nem sei bem qual de nós o será mais...
As nossas duas forças são rivais:
Se é grande o teu poder, maior é o meu...
Tão alto anda esse orgulho!... Toca o céu.
Nem eu quebro, nem tu. Somos iguais.
Cremo-nos inimigos... Como tais,
Nenhum de nós ainda se rendeu...
Ontem, quando nos vimos, frente a frente,
Fingiste bem esse ar indiferente,
E eu, desdenhosa, ri sem descorar...
Mas, que lágrimas devo àquele riso,
E quanto, quanto esforço foi preciso,
Para, na tua frente, não chorar...
TRISTEZA
Nos dias de tristeza, quando alguém
Nos pergunta, baixinho, o que é que temos,
Às vezes, nem sequer nós respondemos:
Faz-nos mal a pergunta, em vez de bem.
Nos dias dolorosos e supremos,
Sabe-se lá donde a tristeza vem?!...
Calamo-nos. Pedimos que ninguém
Pergunte pelo mal de que sofremos...
Mas, quem é livre de contradições?!
Quem pode ler em nossos corações?!...
Ó mistério, que em toda parte existes...
Pois, haverá desgosto mais profundo
Do que este de não se ter alguém no mundo
Que nos pergunte por que estamos tristes?!
RENÚNCIA
Fui nova, mas fui triste... Só eu sei
Como passou por mim a mocidade...
Cantar era o dever da minha idade,
Devia ter cantado e não cantei...
Fui bela... Fui amada e desprezei...
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade...
Devia ter amado e não amei...
Ai de mim!... Nem saudades, nem desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis prender...
E o que me resta?! Uma amargura infinda...
Ver que é, para morrer, tão cedo ainda...
E que é tão tarde já, para viver!...
Postado por Fernando Caldas
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