sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

No tempo de "doutor" Vingt Rosado


Hoje faz 16 anos da morte do ex-deputado federal Vingt Rosado. Foi o sucessor do líder familiar e governador Dix-sept Rosado, com a morte trágica deste em 1951.
Vingt é do tempo do radicalismo na política, de arengas homéricas, intrigas longevas. Período em que pelo menos ficava mais fácil saber quem é quem.
Quem não era aliado, era inimigo. Encarnado ou verde. E ponto final.
Fase da política em que a palavra era honrada, transformando-se em compromisso.
Seu bordão "eu estimaria", em tom de pedido, na verdade significava uma ordem. Para bom entendedor, a mensagem era logo compreendida, quando pronunciada por "doutor Vingt", como era solenemente tratado por amigos e próceres políticos.
Em 1960, ele foi candidato derrotado a vice-governador na chapa encabeçada por Djalma Marinho. À época, o vice era votado em separado.
Informado de movimento para ser eleito, sem o companheiro de dobradinha, Vingt rugiu: "Agradeço o voto que me seja dado, desacompanhado do meu companheiro de chapa".
Em 1982, desafiou o próprio regime militar, a quem servia, por não aceitar a candidatura do engenheiro e ex-prefeito do Natal José Agripino Maia a governador. Pregou o que ficou denominado de "voto-camarão", cortando a cabeça de chapa e pôs sua reeleição à Câmara Federal em risco.
Escapou por pouco.
Em praça pública, em Mossoró, o presidente-general João Batista Figueiredo o desdenhou. Afirmou que iria comer camarão "com cabeça e tudo".
Em 1988, com o genro-deputado estadual Laíre Rosado candidato a prefeito, num confronto com a pediatra Rosalba Ciarlini, voltou a dar mostras do seu humor irascível.
Assediado por populares à porta da casa do genro, o deputado federal Vingt Rosado ouve uma ameaça que o enfurece: "Só voto em doutor Laíre se me derem uma camiseta."
Retornando do interior da residência, o deputado lança uma pergunta: "Quem foi que pediu uma camiseta aí?"
Saltitante, alguém levanta o braço e brada:
- Foi eu, foi eu... aqui ó, doutor Vingt!!
Apesar da visão turva, o deputado mirou o vulto e arremessou o presente com o devido desaforo:
- Tome essa merda! Eu não acredito em eleitor que se vende por uma camiseta.
- Taí um cabra macho! – replicou o eufórico perturbador-mor, agarrado ao material de propaganda.
Esse era o "doutor" Vingt.

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