segunda-feira, 21 de outubro de 2013

BISPO DE OLINDA VISITA ASSÚ

No período de 15 a 23 de outubro de 1839 – O 18º Bispo de Olinda, Dom Frei João da Purificação Marques Perdigão (1829-1864) visita o Assú e faz relatório: 

Dia 15. “... Chegamos à Vila do Assú pelas 7 horas, vindo ao meu encontro alguns cavaleiros, precedidos do pároco, que já pela manhã tinha vindo ao meu encontro, e de quem recebi mui boas notícias a cerca do seu comportamento, gozando eu complacência a tal respeito por ter sido por mim ordenado de presbítero. Desde o princípio da vila fui conduzido à Matriz debaixo do pálio, acompanhando-me considerável número de povo. Entrando na Matriz cantou-se o Te Deum por dois seculares, e posteriormente à oração diante do Santíssimo Sacramento, fui hospedado pelo pároco com decência, passando a despedir os que me acompanhavam, depois de lhes dar a mão a beijar, e lhes significar o fim de minha visita. Também foi ao meu encontro o padre Baylon (assuense Padre Francisco Teodósio de Seixas Baylon), professor de gramática latina e por mim ordenado de presbítero, que se tem conduzido dignamente, ouvindo eu dizer que desde a mais tenra idade jamais experimentou os efeitos provenientes de irregular conduta. 

Dia 16. Despachei alguns requerimentos.

Dia 17. Pelas 10 horas fui à Matriz conduzido debaixo do pálio, e abri a visita, praticadas as cerimônias do costume, cujo ofício foi cantado. O sacrário, a custódia, a pia batismal, os paramentos e mais utensílios estão decentes. A igreja está muito suja por causa da grande inundação de morcegos, que no tempo de inverno ser acoutam dentro. Mas por que a capela mor está decente, consenti que ali existisse o Santíssimo Sacramento, concebendo esperança de se reparar a igreja, de maneira que não seja mais ocupada por morcegos.

Dia 18. Examinei sinodalmente o padre Manoel Januário com os vigários de Buique e o desta freguesia, concedendo-lhe licença para confessar um e outro sexo por espaço de 6 meses, no fim dos quais deve examinar-se com o Visitador (o Visitador era o Padre Francisco de Brito Guerra) desta província, antes que parta para o Rio de Janeiro na qualidade de Senador, e cujo exame deve ser-me apresentado para lhe deferir para o futuro. De tarde crismei mais de 100 pessoas, assistindo à prática mais 300. Este ato foi celebrado fora da porta da matriz por causa do mau cheiro dos morcegos, ficando as mulheres dentro da igreja, por que o campo existia mui quente, por causa da ardência do sol. Nesta freguesia, como em outras, tem recorrido a mim muitos pais de família  para que eu obrigue a casar com suas filhas os moços, que delas tem abusado com promessa de casamento, fazendo-lhes vez por esta ocasião quais deviam ter sido os seus deveres, e  como se deviam conduzir segundo as leis existentes. Neste dia compareceu o vigário encomendado dos Angicos (era o padre Manoel Antonio dos Santos Moraes Pereira Leitão – 1836 a 1838) para me visitar, e nesta ocasião fui ciente de que ele é brasileiro adotivo, quando natural de Lisboa.

Dia 19. Foram por mim convocadas as principais pessoas desta vila para lhes fazer ver a urgente necessidade de repararem as ruínas da matriz, e prestando-se todas a concorrer, e assinando cada um sua esmola, montaram as quantias à soma de 700$ réis, inclusa a minha esmola de 50$ réis que logo entreguei. No mesmo ato compareceu o novo tesoureiro dos bens da matriz nomeado pelo juiz de direito, e foram nomeados para administradores da obra o coronel Wanderley (Coronel Manoel Lins Wanderley – 1804/1877) e o juiz de direito Bezerra, homens pobres e honrados. O vigário da freguesia deu 100$ réis, e mandei suplicar a outras pessoas as suas assinaturas, acreditando que depois deste ato se principiará a dita obra, outrora malograda. De tarde crismei quase 300 pessoas, assistindo à pratica mais de 400. 

Dia 20. Ouvi missa na matriz, cujo padroeiro é São João Batista, e depois compareceram algumas pessoas, prestando assinatura para a obra em projeto. Neste dia me visitou o vigário de Santana do Matos (o vigário de Santana do Matos, em 1839, era o padre João Teotônio de Sousa e Silva, de 1822 a 71, colado), 10 léguas distante desta vila. De tarde crismei quase 500 pessoas, assistindo à prática maior número. Por motivos atendíveis tenho principiado a crismar pelas 6 horas da tarde, finalizando tais atos, quando havia maior concorrência de povo, pela meia noite, e uma hora com a melhor ordem e atenção, que prestavam às práticas ordinariamente pelo tempo de uma hora.
Neste dia concedi uma dispensa de cunhados por motivos urgentes.

Dia 21. Fui passar o dia em casa do tenente coronel Fonseca, 2 léguas distante desta vila, onde crismei quase 100 pessoas, pelas 6 horas da tarde, antes de regressar para a vila. 

Dia 22. Crismei particularmente algumas pessoas que vieram da distância d 8 léguas, e depois conferenciou comigo o vigário de Santana do Matos acerca de vários objetos, respectivos à sua freguesia. Este pároco goza bom nome, e me parece existir nele inteligência sob os seus deveres paroquiais. Veio ter comigo um militar, suplicando-me nova nomeação de pároco para a freguesia de Touros, visto que o proprietário existe presentemente em Pernambuco por causa de moléstia. Como porém o padre, que ficou fazendo às vezes de vigário, não me tenha suplicado demissão, nem dele existia queixa, não deferi a tal súplica. Concedi uma dispensa de cunhados a um quase moribundo, amigado com uma cunhada, de quem tem alguns filhos, atentos os motivos que me foram expostos por 3 pessoas de probidade, sendo uma destas o vigário desta freguesia, à qual os agraciados pertencem. Nesta freguesia como em outras tenho feito ver em minhas práticas, que não existe faculdade para dispensar este 1º grau, para que os cunhados se abstenham de suplicar tais dispensas, bem como não poderem os filhos menores casar, sem licença de seus pais ou do competente ministro, e sem serem proclamados, pois que os párocos me têm asseverado como são vexados para por em prática os maus desígnios de seus paroquianos a respeito. Concedi outra dispensa de cunhados, concubinados e constituídos em iminente perigo de vida, ambos nascidos e moradores desta freguesia, precedidos os depoimentos do costume em tais casos. 

Dia 23. Saí do Assú pelas 6 horas da manhã, acompanhado de alguns cavaleiros, pernoitando em Santa Quitéria".
 Fonte: (MARINHO, Francisco Fernandes. O Rio Grande do Norte Sob o olhar dos Bispos de Olinda. Natal/RN, 2006).

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