Como matéria especial, a edição dominical da TRIBUNA DO NORTE, edição de
07 de maio de 2000, publicou reportagem de minha autoria, como colaborador.
“Reside em Natal uma das testemunhas das ações de um movimento guerrilheiro
de caráter comunista que ocorreu no Vale do Assú, no RN, entre os anos de
1935/36. A dona-de-casa Áurea Cortez de Lima, 82, tinha 16 anos quando viu o
líder camponês Manoel Torquato de Araújo e dois companheiros, entrarem na
casa grande da propriedade do seu pai, Manoel Cortez, conhecida por “Ingá”, na
várzea do Assú.
A “guerrilha” foi resultado da luta reivindicatória dos trabalhadores das salinas e
fazendas de Mossoró, Assú, Areia Branca e Macau. Os estudiosos apontam o
então governador Rafael Fernandes, que reprimia violentamente os sindicatos e
mandava surrar os líderes dos trabalhadores, como o causador da revolta armada.
O pai de dona Áurea tinha terras em Assú, Macau e Pendências (1), mas não era
latifundiário. A razoável condição de vida do agricultor Manoel Cortez pode ter
aguçado a cobiça do grupo que chegou armado à casa da fazenda do povoado
Santa Luzia. Os camponeses queriam tomar as terras de Manoel Cortez,
obrigando-o a devolover uma gleba de sua propriedade que esteve arrendada
durante certo tempo a um dos aliados de Manoel Torquato, o chefe do bando
criado pelo provisionado Miguel Moreira. (2)Torquato era protestante.
“Esse pessoal era conhecido como o “Sindicato de Mossoró” e veio para tomar as
terras de papai. Lembro-me que chegaram lá em casa, pouco depois do meio-dia,
Manoel Torquato, José Domingos e Joel Paulista armados de revólveres e
peixeiras, todos à cavalo. Papai conhecia todos eles e disse que nós não
ficássemos amedrontadas, pois já sabia do que queriam. Manoel Torquato era de
Canto Grande, um lugarejo entre Assú e Macau, mas papai dizia que ele não era
bandido. José Domingos, natural de Alto do Rodrigues, era um detento, Joel
Paulista era o chefe do sindicato de Areia Branca. O José Domingos chegou lá
dizendo que não mexessem com a gente porque devia favores à família dos
“Targino” , como era conhecida a família de papai. Eles queriam tomar o sítio
“Cobé”, em Assú, e Manoel Torquato, com aquela pose toda, disse para papai: “o
senhor vai mandar o menino ficar na terra”.
Papai nem pestanejou, rebateu na hora que “eu já entreguei o caso ao juiz de
Assú” e explicou que o ex-meeiro Raimundo Nonato, vulgo “Raimundo Fumeiro”,
tinha passado vários anos explorando a terra sem pagar a renda. Diante da atitude
de papai, eles foram embora e nunca mais voltaram, disse dona Áurea, residente
na avenida Hermes da Fonseca, no bairro do Tirol, em Natal.
Apesar de não terem retornado para atanazar a família de dona Áurea, o grupo de
rebeldes comunistas distribuiu panfletos, impressos com tinta vermelha, com
pesadas críticas ao seu pai. Os boletins eram intitulados “O burguês Manoel
Cortez” e foram distribuídos em todas as casas entre Canto Grande e Comboeiro,
perto da cidade do Assú. (4)
“O povo dizia que eles eram comunistas, fizeram muita bagunça e quiseram tomar
terras pela pressão. Papai não deu muita atenção a eles, apesar de saber que
tinha cabras ruins no meio deles, como José Domingos, um verdadeiro cangaceiro
que acabou morto em Caraúbas”, relembra dona Áurea.
Ela diz que os episódios ocorridos no Vale do Assú, entre 1934/36, provocaram
mortes, mas não recorda os nomes das vítimas, além de Artur Felipe Montenegro,
um filho de fazendeiro rico que foi abatido na embocadura do açude Canto
Comprido, em Assú, em 2 de janeiro de 1936. Segundo Amaro Sena, em
depoimento prestado de 2 de março de 1999, quem atirou em Artur Felipe foi
Manoel Domingos, de Cobé, com um único tiro de rifle ou fuzil. “Foi um disparo
certeiro...”. (3)
Em represália, a família de Artur Felipe matou o pai de Manoel Torquato, que não
tinha nada a ver com a guerrilha. “O bando era comunista mesmo, não me lembro
de suas reivindicações, não. Não havia latifúndio no vale. Por exemplo, a terra que
o meeiro Raimundo queria era de 50 braças. Os homens de Manoel Torquato não
tomaram terras, só dinheiro, porque a lei não estava do lado deles; naquele
tempo, a lei, o juiz, era do lado do proprietário. Eu tinha um panfleto desses, mas
emprestei a uma pesquisadora e não me foi devolvido”.
Depois da morte de Artur Felipe, a polícia investiu contra eles, forçando-os a
recuar para perto de Mossoró. Manoel Torquato foi executado por um liderado,
Manoel Feliciano.
Rebeldes foram condenados
Derrotada a guerrilha, quase todos foram presos pela Polícia Militar do RN.
Processados, todos foram condenados. Mas pelo decreto-lei 474, de 8 de junho
de 1938, foram absolvidos Amâncio Leite, Raimundo Jovino de Oliveira, Manoel
Veras Leite, Tertuliano Alves Primo, Vicente Florêncio da Mota, Francisco
Agostinho Bezerra, Mestre Chaves ou Francisco Chaves dos Anjos e José Nicácio
Sobrinho das acusações de envolvimento na guerrilha de Manoel Torquato e
Miguel Moreira.
Em 29.06.1938, o juiz Raul Campelo Machado, por deficiência de prova, absolveu
Benedito Saldanha, Cirelino Bezerra da Costa, José Lopes Bastos, Homero
Agostinho, José Lins, José Perico, Belarmino Abel Ferreira, Pedro Mendonça,
Francisco Bernadino, Francisco Chaves, João Reginaldo, Antonio Reginaldo,
Francisco Paulino, Manoel Ferreira do Nascimento, Francisco Ferreira, Homero
Couto, Antonio Falcão, Francisco Agostinho, José Cassiano, Gonçalo Izidro,
Francisco Machado, Sandoval Oliveira Sales Lira, Ricardo Torquato, Antonio
Pereira, Feliciano Alexandre, Marcelino Alexandre, Manoel Nunes da Silva,
Honório Máximo, João Abre, Vicente Ferreira Gomes, Francisco Dobrinha, Chico
João e Cassiano Preto.
O magistrado declarou extinta a ação penal contra Sebastião Caldeira, “por ter
sido o mesmo, segundo se vê dos autos, morto em combate com elementos da
força pública estadual do RGN”. Os denunciados foram defendidos pelos
advogados Cícero Aranha e Maria da Glória Pinheiro Moss, que defenderam a
tese de perseguições políticas.
O jornal católico “A Ordem” (Natal/RN, p.4, edição de 02.07.1938) ao publicar
trecho do processo criminal diz que o bando era oriundo de Mossoró e
responsável por “propaganda subversiva eficiente, que resultou na formação de
um grupo de bandoleiros, chamados “os bandidos vermelhos” que, por motivos
políticos, e incitados por Miguel Moreira, praticaram no Estado do RN, em 1935,
assaltos, roubos, depredações, ferimentos”.
O ex-tenente Moisés Costa Pereira e o sargento Amaro Potengi da Silva foram
condenados a 3 anos.
Luta armada tinha caráter comunista
Não somente os documentos e cartas apreendidos nas casas dos dirigentes do
Partido Comunista do Brasil-PCB, no Rio de Janeiro, em 1936 (Movimento
Comunista de 1935 – Excertos da publicação “Arquivos da Delegacia Especial de
Segurança Política e Social – Volume III – Polícia Civil do Distrito Federal – Rio” –
1938 – Natal – Imp. Oficial – 1938) atestam que a guerrilha do Vale do Assú era
mesmo de caráter comunista.
A entrevista do ex-militante do PC mossoroense Francisco Guilherme (PCB na
mira da história – Camaradas rebatem duras críticas do livro W. Waack,
reportagem de Carlos Peixoto e Nilo Santos, TN, 28.11.1993, páginas 12 e 13) é
elucidativa. Referindo-se à insurreição de novembro de 1935, disse Chico
Guilherme: “Mossoró estava preparada para também instalar o Governo
Revolucionário Popular a partir de apoios na Polícia Militar e no Exército (Tiro de
Guerra), além da logística da guerrilha – cerca de 45 homens – do grupo
conhecido como “Sindicato do Garrancho”, todos na clandestinidade, porque a
polícia vivia prendendo e espancando e a única salvação deles era o partido
chegar ao poder”.
A primeira referência em livros sobre a guerrilha comunista do Assú é de autoria
de Edgard Barbosa, em “História de uma campanha”, Imprensa Oficial, Natal,
1936. Edgard Barbosa, que foi jornalista a serviço das forças conservadoras do
Partido Popular, de José Augusto Bezerra de Medeiros, diz que o movimento era
de caráter comunista, com ramificações em municípios vizinhos e que o
“numeroso bando armado surgia mais do ambiente político e da confusão reinante
do que do entusiasmo pelas doutrinas vermelhas, pois se constituía de homens
rudes, analfabetos e dispostos a todas as modalidades do crime. Era o
cangaceirismo acoitado à sombra de uma bandeira que encarnava um credo
exótico. Em nome do tal credo, os malfeitores que puseram em cheque as forças
policiais de Assú, Angicos, Santana do Matos e Macau”. Barbosa informa que os
comunistas fizeram “uma verdadeira rebelião, que aliás constou do relatório de um
representante brasileiro em uma das sessões da III Internacional, reunida em
Moscou”.
Segundo Barbosa, o movimento foi debelado na interinidade do interventor José
Lagreca, que enviou uma tropa de 60 homens sob o comando de Severino
Campelo, que libertou o fazendeiro Jorge Barreto, seqüestrado pelos guerrilheiros.
Segundo Manoel Rodrigues de Melo, os guerrilheiros contavam com forte adesão
dos protestantes.
O historiador Raimundo Nonato da Silva, como os demais estudiosos do assunto,
aponta influência comunista na rebelião desordenada no baixo Assú, “dirigido por
enviados do sul do país que, militarmente, organizavam a resistência pósnovembro
de 1935. Houve uma morte no campo de batalha de um engenheiro,
que tirou o ânimo dos revoltosos”.
O jornal “A República”, de 18.07.1936, p.2, informa que Sebastião Caldeira,
armado e com um cinturão de dinamites, morreu após a explosão dos explosivos
devido a um tiro recebido durante um tiroteio.
Notas
1 - O município de Pendências, em 1935, ainda não tinha sido criado.
2 - Miguel Moreira era membro do Partido Comunista.
3 - Segundo Amaro Sena, já falecido, Artur Felipe saiu de uma festa, embriagado
e, juntamente com o cabo Bondade, foi provocar os insurretos que estavam
acantonados perto do açude.
4 – A professora Brasília Ferreira confirmou, na época da publicação da
reportagem, que o boletim que dona Áurea lhe emprestou foi extraviado.
5 – Mais detalhes ver: Pequena História do Integralismo no RN – Fundação José
Augusto, Natal/RN, de Cortez, Luiz Gonzaga ; Trabalhadores, Sindicatos,
Cidadania – Nordeste em tempos de Vargas, de Ferreira, Brasília Carlos,
Cooperativa Cultura da UFRN; Várzea do Assú, de Melo, Manoel Rodrigues,
Edição Cadernos, São Paulo-SP e Gilberto de Melo Freire.
www.dhnet.org.br
07 de maio de 2000, publicou reportagem de minha autoria, como colaborador.
“Reside em Natal uma das testemunhas das ações de um movimento guerrilheiro
de caráter comunista que ocorreu no Vale do Assú, no RN, entre os anos de
1935/36. A dona-de-casa Áurea Cortez de Lima, 82, tinha 16 anos quando viu o
líder camponês Manoel Torquato de Araújo e dois companheiros, entrarem na
casa grande da propriedade do seu pai, Manoel Cortez, conhecida por “Ingá”, na
várzea do Assú.
A “guerrilha” foi resultado da luta reivindicatória dos trabalhadores das salinas e
fazendas de Mossoró, Assú, Areia Branca e Macau. Os estudiosos apontam o
então governador Rafael Fernandes, que reprimia violentamente os sindicatos e
mandava surrar os líderes dos trabalhadores, como o causador da revolta armada.
O pai de dona Áurea tinha terras em Assú, Macau e Pendências (1), mas não era
latifundiário. A razoável condição de vida do agricultor Manoel Cortez pode ter
aguçado a cobiça do grupo que chegou armado à casa da fazenda do povoado
Santa Luzia. Os camponeses queriam tomar as terras de Manoel Cortez,
obrigando-o a devolover uma gleba de sua propriedade que esteve arrendada
durante certo tempo a um dos aliados de Manoel Torquato, o chefe do bando
criado pelo provisionado Miguel Moreira. (2)Torquato era protestante.
“Esse pessoal era conhecido como o “Sindicato de Mossoró” e veio para tomar as
terras de papai. Lembro-me que chegaram lá em casa, pouco depois do meio-dia,
Manoel Torquato, José Domingos e Joel Paulista armados de revólveres e
peixeiras, todos à cavalo. Papai conhecia todos eles e disse que nós não
ficássemos amedrontadas, pois já sabia do que queriam. Manoel Torquato era de
Canto Grande, um lugarejo entre Assú e Macau, mas papai dizia que ele não era
bandido. José Domingos, natural de Alto do Rodrigues, era um detento, Joel
Paulista era o chefe do sindicato de Areia Branca. O José Domingos chegou lá
dizendo que não mexessem com a gente porque devia favores à família dos
“Targino” , como era conhecida a família de papai. Eles queriam tomar o sítio
“Cobé”, em Assú, e Manoel Torquato, com aquela pose toda, disse para papai: “o
senhor vai mandar o menino ficar na terra”.
Papai nem pestanejou, rebateu na hora que “eu já entreguei o caso ao juiz de
Assú” e explicou que o ex-meeiro Raimundo Nonato, vulgo “Raimundo Fumeiro”,
tinha passado vários anos explorando a terra sem pagar a renda. Diante da atitude
de papai, eles foram embora e nunca mais voltaram, disse dona Áurea, residente
na avenida Hermes da Fonseca, no bairro do Tirol, em Natal.
Apesar de não terem retornado para atanazar a família de dona Áurea, o grupo de
rebeldes comunistas distribuiu panfletos, impressos com tinta vermelha, com
pesadas críticas ao seu pai. Os boletins eram intitulados “O burguês Manoel
Cortez” e foram distribuídos em todas as casas entre Canto Grande e Comboeiro,
perto da cidade do Assú. (4)
“O povo dizia que eles eram comunistas, fizeram muita bagunça e quiseram tomar
terras pela pressão. Papai não deu muita atenção a eles, apesar de saber que
tinha cabras ruins no meio deles, como José Domingos, um verdadeiro cangaceiro
que acabou morto em Caraúbas”, relembra dona Áurea.
Ela diz que os episódios ocorridos no Vale do Assú, entre 1934/36, provocaram
mortes, mas não recorda os nomes das vítimas, além de Artur Felipe Montenegro,
um filho de fazendeiro rico que foi abatido na embocadura do açude Canto
Comprido, em Assú, em 2 de janeiro de 1936. Segundo Amaro Sena, em
depoimento prestado de 2 de março de 1999, quem atirou em Artur Felipe foi
Manoel Domingos, de Cobé, com um único tiro de rifle ou fuzil. “Foi um disparo
certeiro...”. (3)
Em represália, a família de Artur Felipe matou o pai de Manoel Torquato, que não
tinha nada a ver com a guerrilha. “O bando era comunista mesmo, não me lembro
de suas reivindicações, não. Não havia latifúndio no vale. Por exemplo, a terra que
o meeiro Raimundo queria era de 50 braças. Os homens de Manoel Torquato não
tomaram terras, só dinheiro, porque a lei não estava do lado deles; naquele
tempo, a lei, o juiz, era do lado do proprietário. Eu tinha um panfleto desses, mas
emprestei a uma pesquisadora e não me foi devolvido”.
Depois da morte de Artur Felipe, a polícia investiu contra eles, forçando-os a
recuar para perto de Mossoró. Manoel Torquato foi executado por um liderado,
Manoel Feliciano.
Rebeldes foram condenados
Derrotada a guerrilha, quase todos foram presos pela Polícia Militar do RN.
Processados, todos foram condenados. Mas pelo decreto-lei 474, de 8 de junho
de 1938, foram absolvidos Amâncio Leite, Raimundo Jovino de Oliveira, Manoel
Veras Leite, Tertuliano Alves Primo, Vicente Florêncio da Mota, Francisco
Agostinho Bezerra, Mestre Chaves ou Francisco Chaves dos Anjos e José Nicácio
Sobrinho das acusações de envolvimento na guerrilha de Manoel Torquato e
Miguel Moreira.
Em 29.06.1938, o juiz Raul Campelo Machado, por deficiência de prova, absolveu
Benedito Saldanha, Cirelino Bezerra da Costa, José Lopes Bastos, Homero
Agostinho, José Lins, José Perico, Belarmino Abel Ferreira, Pedro Mendonça,
Francisco Bernadino, Francisco Chaves, João Reginaldo, Antonio Reginaldo,
Francisco Paulino, Manoel Ferreira do Nascimento, Francisco Ferreira, Homero
Couto, Antonio Falcão, Francisco Agostinho, José Cassiano, Gonçalo Izidro,
Francisco Machado, Sandoval Oliveira Sales Lira, Ricardo Torquato, Antonio
Pereira, Feliciano Alexandre, Marcelino Alexandre, Manoel Nunes da Silva,
Honório Máximo, João Abre, Vicente Ferreira Gomes, Francisco Dobrinha, Chico
João e Cassiano Preto.
O magistrado declarou extinta a ação penal contra Sebastião Caldeira, “por ter
sido o mesmo, segundo se vê dos autos, morto em combate com elementos da
força pública estadual do RGN”. Os denunciados foram defendidos pelos
advogados Cícero Aranha e Maria da Glória Pinheiro Moss, que defenderam a
tese de perseguições políticas.
O jornal católico “A Ordem” (Natal/RN, p.4, edição de 02.07.1938) ao publicar
trecho do processo criminal diz que o bando era oriundo de Mossoró e
responsável por “propaganda subversiva eficiente, que resultou na formação de
um grupo de bandoleiros, chamados “os bandidos vermelhos” que, por motivos
políticos, e incitados por Miguel Moreira, praticaram no Estado do RN, em 1935,
assaltos, roubos, depredações, ferimentos”.
O ex-tenente Moisés Costa Pereira e o sargento Amaro Potengi da Silva foram
condenados a 3 anos.
Luta armada tinha caráter comunista
Não somente os documentos e cartas apreendidos nas casas dos dirigentes do
Partido Comunista do Brasil-PCB, no Rio de Janeiro, em 1936 (Movimento
Comunista de 1935 – Excertos da publicação “Arquivos da Delegacia Especial de
Segurança Política e Social – Volume III – Polícia Civil do Distrito Federal – Rio” –
1938 – Natal – Imp. Oficial – 1938) atestam que a guerrilha do Vale do Assú era
mesmo de caráter comunista.
A entrevista do ex-militante do PC mossoroense Francisco Guilherme (PCB na
mira da história – Camaradas rebatem duras críticas do livro W. Waack,
reportagem de Carlos Peixoto e Nilo Santos, TN, 28.11.1993, páginas 12 e 13) é
elucidativa. Referindo-se à insurreição de novembro de 1935, disse Chico
Guilherme: “Mossoró estava preparada para também instalar o Governo
Revolucionário Popular a partir de apoios na Polícia Militar e no Exército (Tiro de
Guerra), além da logística da guerrilha – cerca de 45 homens – do grupo
conhecido como “Sindicato do Garrancho”, todos na clandestinidade, porque a
polícia vivia prendendo e espancando e a única salvação deles era o partido
chegar ao poder”.
A primeira referência em livros sobre a guerrilha comunista do Assú é de autoria
de Edgard Barbosa, em “História de uma campanha”, Imprensa Oficial, Natal,
1936. Edgard Barbosa, que foi jornalista a serviço das forças conservadoras do
Partido Popular, de José Augusto Bezerra de Medeiros, diz que o movimento era
de caráter comunista, com ramificações em municípios vizinhos e que o
“numeroso bando armado surgia mais do ambiente político e da confusão reinante
do que do entusiasmo pelas doutrinas vermelhas, pois se constituía de homens
rudes, analfabetos e dispostos a todas as modalidades do crime. Era o
cangaceirismo acoitado à sombra de uma bandeira que encarnava um credo
exótico. Em nome do tal credo, os malfeitores que puseram em cheque as forças
policiais de Assú, Angicos, Santana do Matos e Macau”. Barbosa informa que os
comunistas fizeram “uma verdadeira rebelião, que aliás constou do relatório de um
representante brasileiro em uma das sessões da III Internacional, reunida em
Moscou”.
Segundo Barbosa, o movimento foi debelado na interinidade do interventor José
Lagreca, que enviou uma tropa de 60 homens sob o comando de Severino
Campelo, que libertou o fazendeiro Jorge Barreto, seqüestrado pelos guerrilheiros.
Segundo Manoel Rodrigues de Melo, os guerrilheiros contavam com forte adesão
dos protestantes.
O historiador Raimundo Nonato da Silva, como os demais estudiosos do assunto,
aponta influência comunista na rebelião desordenada no baixo Assú, “dirigido por
enviados do sul do país que, militarmente, organizavam a resistência pósnovembro
de 1935. Houve uma morte no campo de batalha de um engenheiro,
que tirou o ânimo dos revoltosos”.
O jornal “A República”, de 18.07.1936, p.2, informa que Sebastião Caldeira,
armado e com um cinturão de dinamites, morreu após a explosão dos explosivos
devido a um tiro recebido durante um tiroteio.
Notas
1 - O município de Pendências, em 1935, ainda não tinha sido criado.
2 - Miguel Moreira era membro do Partido Comunista.
3 - Segundo Amaro Sena, já falecido, Artur Felipe saiu de uma festa, embriagado
e, juntamente com o cabo Bondade, foi provocar os insurretos que estavam
acantonados perto do açude.
4 – A professora Brasília Ferreira confirmou, na época da publicação da
reportagem, que o boletim que dona Áurea lhe emprestou foi extraviado.
5 – Mais detalhes ver: Pequena História do Integralismo no RN – Fundação José
Augusto, Natal/RN, de Cortez, Luiz Gonzaga ; Trabalhadores, Sindicatos,
Cidadania – Nordeste em tempos de Vargas, de Ferreira, Brasília Carlos,
Cooperativa Cultura da UFRN; Várzea do Assú, de Melo, Manoel Rodrigues,
Edição Cadernos, São Paulo-SP e Gilberto de Melo Freire.
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