sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

"POUCAS E BOAS"

Por Valério Mesquita, escritor membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras

1 - Fernando Caldas, assuense de ótima qualidade, poeta e pesquisador, enviou-me alguns "causos" folclóricos de sua região. Agradecendo a remessa, vamos juntos nos deliciar com as suas histórias. "Bonzinho" era uma figura pedinte, lá do Açu, estava bebendo em um bar da cidade quando foi surpreendido por Joca Marreiro, seu pai, que lhe convidou a ir para casa, pois já era noite alta. Aceitou o convite paterno, mas foi taxativo e solene: "Papai, vá na frente que o mundo tá cheio de gente ruim".

3 - Comício de Ronaldo Soares em Açu. O povo doidão na praça. O locutor vibrante anuncia a palavra de Chico Galêgo, candidato a vereador, líder da Lagoa do Piató. Ao receber o microfone sem fio, assustou-se com o equipamento e tratou de reclamar: "Cadê a correia dele Lourinaldo, cadê a correia, esse bicho não vai falar de jeito nenhum!!!. Aí a galera vibrou.

4 - Açu é um filão de estórias que não tem fim. Ronaldo Soares, captador permanente dessa atmosfera densa e intensa, passou-me mais uma. Seu conterrâneo Zé Gago andava ás turras com a esposa Isabel. Em suma havia arranjado uma rival. Revoltada, a família se reuniu para lavrar aquele protesto e chamar o esposo e pai à responsabilidade. Em sua defesa, Zé Gago veio com um argumento genial: "Meus filhos, arranjei uma mulher, é verdade, mas foi pra poupar sua mãe". Inconformada, dona Isabel saiu do seu silêncio: "Se foi por esse motivo, pode me rasgar toda!!.

5 - Tico, motorista do ex-deputado Arnóbio Abreu, não foge à regra de muitos profissionais bons, mas broncos e teimosos demais. Certa noite, num comício em Açu apareceu por lá o servidor da secretaria de Saúde Alan Rio. Ao vê-lo, Tico comentou que já vira antes esse rapaz. Um interlocutor presente o ajuda afirmando que o nome dele é Alan. Tico repreende: "Não, Alan é apelido!!. Chamando a intervir, Arnóbio confirmou que o nome do visitante é Alan. Tico, na sua teimosia homérica, retruca: "Não, doutor Arnóbio, Alan é de ovelha por isso, é apelido mesmo"!!.

6 - Jobeni Machado, fazendeiro do Açu, lá pelos anos setenta não teve dificuldades para aprender, ao pé da letra, as lições dos filósofos da economia da época. Endividadíssimo e instado a pagar pelos bancos oficiais os seus empréstimos agrícolas vencidos e esquecidos, Jobeni utilizou a máxima do faraó Delfim Neto, ministro da fazenda: "Dívida pública não se paga, se rola". Não foi à toa que o governador de Minas Itamar Franco se inspirou no exemplo. No caso de Açu, até hoje tá rolando.

7 - Fernando Caldas manda-me algumas poucas e boas da rica safra açuense. Manoel Montenegro Neto (Manuca), disputou sem sucesso a prefeitura de Açu, em 1976, contra Sebastião Alves. Manuca foi deputado estadual por duas legislaturas e deputado federal durante alguns meses. Pertencendo ao então MDB, fazia discursos inflamados cumprindo o seu papel de oposição, combatendo a inflação e outros bichos. "Meus amigos, senhores deputados, quem é que pode comer uma galinha por três cruzeiros?" (moeda da época), indaga Manuca pateticamente da tribuna da assembléia.. Um correligionário que ouvia atentamente o seu pronunciamento respondeu da galeria: "O galo, Manuca!".

8 - Junot Araújo dos Santos foi vice-prefeito na chapa de Lourinaldo Soares nas eleições municipais de 1992 em Açu. Junot prometeu na campanha a uma senhora, uma cirurgia de períneo. A operação seria feita pelo seu pai dr. Nelson, logo após as eleições. Certo dia a eleitora procurou o vice-prefeito com outra conversa: "Junot, no lugar da cirurgia me arranje cinco sacos de cimento". Fátima, sua mulher, escutando a exploração daquela eleitora, saiu-se com essa: "Essa égua quer agora tapar o buraco com cimento!"

9 - O saudoso Ronaldo Ferreira Dias era importante funcionário do Senado da República. Norte-riograndense de Lages e com muita ligação no Açu. Nas eleições de 1982, concorreu a deputado federal mesmo sem ter vivência política no Estado do Rio Grande do Norte. Ronaldo seria o segundo suplente com qualquer votação. Foi a Açu e procurou seu primo Chico Dias que era candidato a vereador para fazer a sua campanha no município assuense. Certo dia, telefonou de Brasília para o primo: "Chico, como vai a aceitação do meu nome por aí?" Chico respondeu pausadamente: "Ronaldo, saí de casa com mil fotografias (santnhos) suas e voltei com duas mil".

Fonte: Poucas e Boas, de Valério Mesquita

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