domingo, 15 de dezembro de 2013

NATAL ENCRUZILHADA DO MUNDO – UM ESPETÁCULO TEATRAL QUE TRABALHA COM A NOSSA HISTÓRIA


Publicado em 13/12/2013


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Aqueles que me conhecem sabem que sou um grande crítico pelo pouco, ou quase nada, que é realizado em prol da ampliação do conhecimento da nossa história para grande parte da população de Natal. Sou daqueles que acreditam que a democratização desta informação pode gerar uma gratificante mudança de pensamento na capital potiguar.
Até então não via muitas iniciativas para melhorar esta informação. Mas parece que isto está mudando.
Avião S-64, dos italianos Ferrarin e Del Petre, em Touros, 1928
Avião S-64, dos italianos Ferrarin e Del Petre, em Touros, 1928
Segundo reportagem de Yuno Silva publicada pela Tribuna do Norte, a Fundação Capitania das Artes abriu mão do formato mega espetáculo para investir na criação de duas montagens – “A Estrada ou O Milagre da Fé” e “Encruzilhada do Mundo ou Sobre a Areia e o Vento”, valorizando aqueles que fazem o teatro em Natal.
Estes espetáculos teatrais foram projetos contemplados no edital Natal em Cena 2013 (Prefeitura de Natal/Funcarte) e suas primeiras apresentações ocorreram ontem, às 20h, na Praça da Árvore de Mirassol (zona Sul) e na área externa do ginásio Nélio Dias (zona Norte). As apresentações seguem por três dias, até sábado (14), sempre no mesmo horário; e retornam próxima semana, (dias 19, 20 e 21), quando os grupos fazem rodízio de palco e encerram a temporada de seis encenações cada. O acesso é gratuito.
Focando mais objetivamente no espetáculo “Encruzilhada do Mundo ou Sobre a Areia e o Vento”, em outra reportagem de Yuno Silva, publicada pela Tribuna do Norte em outubro último, mostra que este projeto traz ao palco a Natal das décadas de 1920 e 40.
Aqui era então um lugar cosmopolita, sacudido por aventureiros que tinham a capital potiguar como porto seguro para as primeiras travessias aéreas do Atlântico e pela “ocupação” yankee durante a Segunda Guerra Mundial. Depois a urbe mergulhou em um período de marasmo, com um clima de fim de festa que se instalou após os anos de efervescência. Dentro desse contexto, o aviador Petit, inconformado com o fato do fim do conflito não ter significado a vitória sobre a injustiça e nem a garantia de paz, decide construir um avião a partir dos restos deixados pelos estrangeiros e assim seguir na luta por um mundo melhor.
O Lockheed Model 8 Sirius, do norte americano Charles Lindbergh no Rio Potengi
O Lockheed Model 8 Sirius, do norte americano Charles Lindbergh no Rio Potengi
O avião de Petit representa a possibilidade de novos caminhos, e o convite para ajudá-lo na empreitada coloca seus pares em uma encruzilhada: embarcar rumo ao desconhecido ou ficar e manter as aparências?
A peça propõe que devemos ver a cidade de uma nova maneira, pela ótica da poesia e da fábula, e não somente segundo aquela exposta nos livros de história. Que nos entendamos como personagens dessa História, protagonistas na nossa vida: nós podemos escolher nossas encruzilhadas.
Em cena, o (in)consciente coletivo da capital potiguar está representado por auxiliares e anônimos, gente que ficou à sombra de figuras conhecidas como o próprio Augusto Severo, Câmara Cascudo, a famosa cafetina Maria Boa, o aviador Petit e mais uma porção de sobrenomes que até hoje estão em evidência – principalmente no cenário político. O hangar, o avião e uma escada também são elementos importantes para o enredo e devem ser encarados como personagens.
Um hidro Martin PBM-3 Mariner sendo colocado no Rio Potengi
Um hidro Martin PBM-3 Mariner sendo colocado no Rio Potengi
Outros órgãos da imprensa apontam que “Encruzilhada do Mundo ou Sobre a Areia e o Vento” foi concebido pelos coletivos Bololô Cia Cênica e Atores à Deriva, que apostam na subjetividade e no lúdico para evidenciar o protagonismo de gente simples e sonhadora, até então tida como coadjuvante pelos registros históricos.
Costurada a partir de referências a personalidades reais, algumas mais sutis que outras, a montagem – apesar de ser de época – traz uma carga de atualidade e crítica que, no fim das contas, funciona como uma injeção de autoestima capaz de “devolver” ao natalense o direito de repensar e contar sua própria história. Conduzido pelo diretor paulista Luis Fernando Marques, o Lubi, conhecido por seu trabalho junto ao Grupo 19 de Teatro (São Paulo) e por dirigir espetáculos calcados no cotidiano e no retrato de fatos históricos.
Em São Paulo um dos parceiros do diretor Luis Fernando Marques é o natalense João Júnior. Ele comentou na imprensa local que “Encruzilhada do Mundo ou Sobre a Areia e o Vento” tem o potencial de indicar um caminho a ser refletido. “Vejo como um espelho retrovisor, que olha para trás para saber como a cidade evoluiu, como isso refletiu nos dilemas atuais, inclusive os dilemas de cada pessoa envolvida com o espetáculo. A montagem vai atravessar cinco décadas, sempre de olho no futuro”, adiantou o diretor. “A história oficial todos conhecem, mas o que ela significa para essa geração? Por isso gosto muito da metáfora do avião, das possibilidades. Vejo um momento de virada, incluindo a Copa do Mundo, capaz de revelar contradições e questionar a perenização do poder de oligarquias”, acrescenta.
Decolagem de um Um hidro Martin PBM-3 Mariner, visto pelos arcos da Rampa, no Rio Potengi vista no Canto do Mangue
Decolagem de um Um hidro Martin PBM-3 Mariner, visto pelos arcos da Rampa, no Rio Potengi vista no Canto do Mangue
O embasamento histórico de “Natal: Encruzilhada do Mundo” contou com consultoria do professor Durval Muniz de Albuquerque Júnior. Por ser paraibano, Durval traçou um panorama histórico um tanto distanciado, sem amarras. Ele afirma que “o brasileiro desconhece sua a própria história, que dirá o natalense. Somos uma população que não presta atenção na história, e uma das explicações está no fato de sermos um país muito novo e estamos mais preocupados com o futuro”. Para o professor, “o grande desconhecimento causa estranheza. Cascudo, por exemplo, é um mito desconhecido. Poucas pessoas abriram um livro dele”.
Durval Muniz lembra que no primeiro encontro com Luana Menezes, responsável pela dramaturgia da peça, o texto estava muito voltado para a Segunda Guerra Mundial, a base norte-americana. “Li, gostei bastante, mas sugeri ampliarmos o assunto. Natal é uma encruzilhada desde antes da Guerra, com os voos intercontinentais. A cidade tem essa veia aventureira, Augusto Severo seguiu seu sonho de voar em vez de se escorar na tradição familiar. Até mesmo aquela semana em 1935, com o governo comunista, mostra esse perfil aventureiro de Natal”, exemplifica.
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Pessoalmente não posso negar que me agrada a ideia que sejam incentivados espetáculos pela Prefeitura de Natal, visando fortalecimento do teatro local. Bem como não posso deixar de louvar esta iniciativa, que ocorra este tipo de investimento e, o melhor em minha opinião, que ele seja apresentado igualmente na zona Norte de Natal.
Vamos assistir e espero sinceramente que este espetáculo alcance os seus objetivos, cresça e que a iniciativa seja cada vez mais repetida.

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