Garotas de programa revelam o que esperam dos gringos na Copa do Mundo em Natal
Apesar da concorrência, uma delas garante que, em 'mês bom', chegam a faturar entre 8 e 10 mil reais
Conrado Carlos
Editor de Cultura
Na tarde desta última quinta-feira (3), curioso para saber o que as garotas de programa esperam da Copa do Mundo, entrei em um site para conseguir uma entrevista. Diante do anúncio de que chegarão milhares de turistas por estas bandas, daqui a pouco mais de 70 dias, a classe profissional mais antiga do mundo movimentará uma quantia incalculável na festa armada por franco-suíços. Portanto, ouvir mulheres que representam parte da cultura nacional faz sentido, sobretudo por desconfiarmos que a promessa de que teremos algo a oferecer, em termos de estrutura e organização, será descumprida. Nosso maior atrativo será a esbórnia tropical, e não há gritaria governamental que mude isso. Ao todo, liguei para treze números, e posso garantir que a coisa foi difícil, com direito a desligadas na cara e algumas respostas sugestivas. “Estou no quarto trabalhando, me respeita”, disse Ellen Minerato. “Não estou podendo falar agora”, soltou Victória Prado. E por aí foi. Até que Fernanda e Ana Flávia me salvaram e abriram o jogo (com todo o trocadilho possível). Em lados opostos do campo, uma paraibana e uma pernambucana bateram bola sobre o que esperam dos ‘gringos’.
Digamos que os dados pessoais expostos a seguir sejam verdadeiros. Pois se ambas estavam desconfiadas de lá, eu também estava de cá. Fernanda informa em seu perfil no site de acompanhantes que tem 22 anos, mas ao telefone confessou ter 29. Ela passará uma curta temporada em Natal (até semana que vem), onde pretende encher o bolso com os R$ 400,00 cobrados por cada rodada de prazer. “Na verdade, não tenho expectativa alguma. Estrangeiros nunca foi meu foco. Não digo todos, mas a maioria deles é sujo e acha que somos bestas. Muitos são pobres em seus países, mas aqui pensam que são ricos e que podem nos humilhar”. Com 1,64m e 58kg, a recifense malha de três a quatro vezes por semana e recebe cerca de 50 ligações por dia. “Mas isso não quer dizer que tudo vira programa. Faço uns três ou quatro por dia. Depende da época. Cheguei a fazer seis por dia. Foi meu máximo”. Na iminência de concluir o curso de direito, juntar dinheiro para, no próximo ano, montar o próprio negócio é sua meta. O cansaço venceu, após nove temporadas de libertinagem. “Só que muitas amigas minhas acham que vão ganhar muito dinheiro [com a Copa]”.
Sem falar outro idioma, como taxistas e a turma dos bares e restaurantes despreparados para o evento esportivo de junho que vem, e dona de uma franca antipatia por estrangeiros, Fernanda diz que a concorrência aumentou e que optou por trabalhar em horários menos traiçoeiros, por medo da violência. “Hoje está mais concorrido, apesar de que os preços aumentaram. Mês bom eu consigo fazer R$ 8mil, R$ 10 mil. Poderia fazer mais, só que eu seleciono com quem eu saio. Se o cara falar pornografia na ligação ou demonstrar que está bêbado ou drogado, eu não saio”. Seu expediente começa às 10h e termina à meia-noite. “Não trabalho de madrugada, nem de manhã cedo” – horários em que a razão pode ir para o espaço, nos mais volúveis ao álcool e aos entorpecentes. “Estamos aqui para realizar fantasias, mas tem limite”. Com ela, a chance de viver o conto de fadas e ir morar no exterior é zero. Como boa profissional do sexo, se envolver emocionalmente com clientes é raro, nada que comprometa a ideia de abandonar os serviços na alcova. “Tive só umas duas ou três paixonites, mas passou rápido”.
Se a fluência em língua inglesa, italiana ou espanhola fará falta, a ‘retórica do amor’ sai fácil da boca de Ana Flávia. Ciente de que o mercado do sexo paulista espera ter um aumento de até 60%, a morena de Campina Grande acredita que o mesmo acontecerá em Natal, onde reside desde dezembro passado. “Com certeza vai melhorar. Essa agonia toda na cidade, com esse trânsito horrível, será recompensada com muito dinheiro que eles [turistas] deixarão”. Com 27 anos de idade e três de profissão, abrir os braços para europeus e norte-americanos é corriqueiro, e um novo cálculo para o cachê (omitido no site) começou a ser feito. “Eu adoro estrangeiro. Já sai com alemão, francês, italiano, de todo lugar. Sempre fui muito bem tratada, com respeito e carinho. Comigo não tem isso. Pode ser preto, branco, de todo jeito” – nos extremos das etnias das seleções que jogarão na Arena das Dunas, temos africanos e japoneses, com os míticos libertinos das Ilhas Gregas de reserva. Para demonstrar seu apego aos forasteiros, Ana Flávia tem um projeto de morar na Espanha, em 2015.
Enquanto Natal, típica cidade turística brasileira, pouco investiu na capacitação idiomática das pessoas que atuam no ramo, São Paulo, acostumada com o grande fluxo de farristas durante o Grande Prêmio de Fórmula 1, por exemplo, vê casas noturnas incrementarem seu atendimento com aulas de inglês para as meninas. Frases como “Do you do anal?”, “Yes, but I charge a plus” (“Você faz anal?”, “Sim, mas cobro um extra”) ou “Please, take a shower” (Por favor, tome um banho) correm soltas, em meio à negociação de valores. Para Ana Flávia, técnica em enfermagem em dupla jornada, é como no futebol, em que ter o português como a única forma de comunicação passa longe de ser um problema. O importante é ser bom de bola e assimilar os sinais. “Nunca deixei de sair com alguém por não saber inglês ou outra língua. Na hora H, damos um jeito e a coisa acontece normalmente”. Com a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios e no entorno, e a felicidade estampada na cara de todo habitante de uma região fria no instante do desembarque nas zonas quentes e úmidas Equador abaixo, o legado da Copa para as garotas de programa parece garantido.
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