quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

MEU TORRÃO VELHOS CARNAVAIS


Que saudades dos velhos carnavais, tanto da minha infância quanto da adolescência. Na festa momesca de outrora, quando criança, eu tinha um medo danado de ‘papangu’ e ‘papafigo’ quando estes saíam do hotel de Chico Travessa para a tarde de matinê no Country Club, juntamente com a banda do 16 RI, comandada por Praxedes e Heitor.

O club era bem administrado, com carteira de sócio e muita organização. A comissão julgadora determinava o bloco carnavalesco vencedor. Lembro de alguns blocos que participavam do desfile do domingo de carnaval, pela manhã:
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-Os Econômicos: esse bloco era representado por jovens estudantes. Eles tinham uma grande criatividade, principalmente, na alegoria incomensurável e na roupa. Tinham base em Tio Patinhas. Geralmente eram os campeões.

-Jovem Samba: era comandado por rapazes e moças com o seu enredo oficial. Consideravam um bloco elitizado, inclusive com muitos universitários. Era um eterno perdedor. Nem lembro se foi vice-campeão alguma vez. Um pouco do enredo: ’ ...olha a rapaziada, oba; que também tem mulher, oba...é o jovem-samba que eu trago guardado no meu coração, oba, oba, oba...’. É danado que eu torcia por esse bloco, pois tio Hélio Carneiro participava dessa juventude nada sambista.
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-Xafurdo: esse bloco era composto por rapazes e moças. Eram pessoas mais maduras e mais experientes, embora fossem também eternos perdedores. Esse bloco também tinha enredo: ‘mamãe vou sair de casa, papai eu vou xafurdar , meu irmão quem sabe depois se posso me casar...’.
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-Metralhas: não podemos esquecer a fantástica batucada nota 10 desse bloco, comandada pelo amigo Nego Baião.

-Inocentes: participavam por puro prazer. Eram verdadeiros carnavalescos.

É bom lembrar que à noite existiam blocos de moças que transbordavam rios de alegria e de charme, com suas belas roupas ou mortalhas desfilando no Country Club.

Antes do carnaval de club se acabar, apareceram outros blocos carnavalescos, como Piratas, Magnatas, Chefões, Xavantes, Patotinhas e outros que eu não recordo.

Existiam alguns blocos improvisados que numa brincadeira sadia saíam nas ruas com muita batucada e mistura de maizena com talco. A bateria era improvisada com panelas velhas, lata de óleo, que servia de reco-reco, além de bombo e tarol.

É preciso lembrar de pierrôs, colombinas, confetes, serpentinas e palhaços. Sim, a mamadeira no pescoço, com Coca-Cola e Ron Montilla, que a juventude embriagada perdia paixões efêmeras com os mistérios da ressaca de uma ilusão perdida.

O ‘assalto’ era pré-determinado nas casas de alguns carnavalescos. Antônio Rufino ‘assaltava e era assaltado’, era um grande folião e não largava o lança-perfume argentino. À noite, no Country Club, pedia as grandes marchinhas carnavalescas a Praxedes. Raimundo Cavalcanti, outro grande folião, jogava confetes e serpentinas do palco do Club para o salão.

Agora, aqui pra nós, eu duvido um carnaval antigo sem João Adauto. Animado, puxava o carnaval no sábado de Zé Pereira ao lado do rei momo, da rainha e de muitos foliões. Animava os quatro dias de carnaval, tanto de rua como de club, dia e noite.

Ei, Gerson, não esqueci de você, que ao lado de João Ferreira saíam os quatro dias de carnaval numa carroça. Bêbados, eram comandados por um jumento.

Na hora que estava fazendo essa crônica, lembrei-me de um bloco composto só de mulheres. Moças jovens, bonitas e animadas que brincavam os quatro dias de carnaval na carroceria de um caminhão. Que moças eram elas?. Nome do bloco: ‘Só Pra Chatear’. Eu era menino e o bloco era de 1969 e 1970. Você se lembra?

Finalmente vale lembrar uma frase de Câmara Cascudo: “Um povo sem raiz cultural não tem identidade; e um povo sem identidade é um povo morto”.

E você participou desse belo e velho carnaval?

Marcos Calaça, jornalista cultural.

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ALICE WANDERLEY poetisa de ilustre familia do Assu poético. Tipo baixa, olhos negros, se não me engano. Conheci dona Alice já usando bengala...