segunda-feira, 9 de outubro de 2017

UM POUCO SOBRE RENATO CALDAS


Renato era um poeta eclético. Ficou famoso com seus poemas matutos em linguagem rude, própria do sertanejo, bem como pelos seus versos populares,  suas glosas de temas diversos, suas tiradas espirituosas, suas estórias pitorescas. Era discípulo do menestrel Catulo da Paixão Cearense e conviveu na capital carioca na década de trinta, com o músico Silvio Caldas, além de Almirante, Chico Alves (O Rei da Voz) e o notório compositor Noel Rosa. O famoso poeta paraibano, de Campina Grande, Jessier Quirino depõe que começou a escrever poesias e causos matutos lendo aquele bardo assuense. Pois bem, o seu poema mais famoso intitula-se ‘Reboliço’, que por sinal, fora lido na década de cinquenta através da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, pelo poeta potiguar Celso da Silveira, bem como por Zé Praxedes (O Poeta Vaqueiro) nas apresentações que fazia pelo Brasil afora, além do deputado federal pelo Rio Grande do Norte, Ney Lopes, que leu no plenário do Congresso Nacional, a propósito da morte de Renato em 1991. Ainda mais declamando (em parte) durante uma cena de novela da TV Globo, se não me engano, há uns dez anos atrás. Diz assim, o célebre e irreverente poema:

Menina me arresponda,
Sem se ri e sem chorá:
Pruque você se remexe
Quando vê home passá?
Fica tôda balançando,
Remexendo, remexendo...
Pensa tarvez, qui nós véio,
Nem tem ôio e nem tá vendo?
Mas, se eu fosse turidade,
Se eu tivesse argum valô,
Eu botava na cadeia
Êsse teu remexedô...
E, adespois dele tá preso,
Num lugá, bem amarrado,
Eu pedia: - Minha nêga,
Remexe pro delegado.

Certa feita, ao passar pela feira livre de certa cidade do interior nordestino, Renato Caldas já muito conhecido em todo o Brasil, principalmente no Nordeste (ele morreu em 1991 aos 89 anos de idade, se não me falha a memória) fora abordado por uma feirante vendedora de legumes: - "Seu Renato, faça um versinho para eu divulgar minhas batatas!” - E ele de imediato escreveu num pedacinho de papel de cigarro esses versinhos que aquela senhora começou a divulgar em voz alta, dizendo assim:

Batata, batata doce
Batata que o povo gosta,
Um quilo dessa batata
Dá vinte quilos de 'bosta'.

- E as batatas daquela vendedora ficaram mais encalhadas ainda.
Renato namorava uma jovem chamada Maria da Conceição que, certo dia, regressou à São Paulo para passear e rever familiares. Conceição comprometeu-se com ele, Renato, que retornaria em trinta dias. Na hora da despedida Renato entregou a sua amada, o seguinte bilhete rimado:
Maria da Conceição
Faça uma boa viagem
E leve meu coração
Dentro da sua bagagem.
Passaram-se dias, meses, anos e nada de notícias de Conceição. Ao tomar conhecimento que ela, sua amada, teria se casado naquela capital paulistana, bem como do seu endereço, vingou-se num telegrama rimado, dizendo assim:
Maria da Conceição
Você fez boa viagem?
Devolva meu coração
Que foi na sua bagagem.

Na memorável eleição municipal de 1988 eu fui candidato à reeleição, para vereador do Assu minha terra natal querida. Passando pelo centro da cidade, me deparo com certo vendedor de canjica (iguaria típica da culinária do Nordeste brasileiro). Comprei e mandei aquele vendedor entregar a Renato Caldas em sua casa. Dito e feito. Pouco tempo depois recebi um papel de cigarro, com a seguinte inscrição:

Fernando você triste fica
A proposta não convém
Por um prato de canjica
Eu não voto com ninguém.

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