O longo poema abaixo transcrito, é produção de um grande poeta brasileiro nascido em 1888, ainda esquecido e injustiçado da poesia nacional chamado João Lins Calda. Caldas é de família do Assu, interior do Rio Grande do Norte. Viveu a Belle Époque brasileira (em português, bela época) no Rio de Janeiro entre 1912-33. Autor compulsivo, personagem de romance intitulado Território Humano de autoria de José Geraldo Vieira, um dos pioneiros do romance moderno brasileiro, encarnado no personagem "Cássio Murtinho", porém teve a infelicidade de não ter conseguido publicar seus treze livros que tinha organizado em manuscritos, mas teve o privilegio (além de ser personagem de romance) de um dos seus poemas ter sido lido através da rádio britânica BBC, isso, salvo engano, na década de quarenta.
Poeta de diversos estilos e temas. Os poema que Caldas escreveu aos milhares, são de versificação profunda. Será que foi a toa que o poeta pernambucano Mauro Mota externou que João Lins Caldas tem poemas dos melhores da língua portuguesa? Pois bem, os versos adiante (inédito) é testemunho da grandeza do seu poetar. Senão, vejamos:
Senhor a vasta mancha dessa negra alma de todo a vasta imensidão de todo o Vosso imenso céu.
Um mar escuro, sonolentas águas,
E vagas de queixumes, a profunda mistura de gemidos,
E de choro, e de gritos, e de imprecauções, e de blasfêmias,
Gira no negro ar, um ar espesso e pestilento, a angustia de todas as torturas e de todas as descendências.
Um mar escuro, sonolentas águas,
E vagas de queixumes, a profunda mistura de gemidos,
E de choro, e de gritos, e de imprecauções, e de blasfêmias,
Gira no negro ar, um ar espesso e pestilento, a angustia de todas as torturas e de todas as descendências.
Senhor, o Vosso céu está toldado.
Da terra para o céu, sobem, de dedos longos, num pavor crispados,
AS preces que Vos pedem, os anseios e os apelos que Vos apontam o condenado.
Senhor, eu grito e apelo para o céu.
Clamo, diante de Vós, o testemunho de todas as plantas da terra
E de todos os seres da terra
E de todos os caminhos, palmilhados e não palmilhados
E de tudo que brilha das estrelas
A noite para de olhos desvairados
Ele, e os meus olhos, a minha boca toda de carregados soluços.
Senhor, vede esse monstro negro, a su'alma carregada de esterquilínio de todos os pecados.
Da terra para o céu, sobem, de dedos longos, num pavor crispados,
AS preces que Vos pedem, os anseios e os apelos que Vos apontam o condenado.
Senhor, eu grito e apelo para o céu.
Clamo, diante de Vós, o testemunho de todas as plantas da terra
E de todos os seres da terra
E de todos os caminhos, palmilhados e não palmilhados
E de tudo que brilha das estrelas
A noite para de olhos desvairados
Ele, e os meus olhos, a minha boca toda de carregados soluços.
Senhor, vede esse monstro negro, a su'alma carregada de esterquilínio de todos os pecados.
Senhor, há varrer de um só gesto tudo que dos seus andrajos.
A sua noite para desaparecer.
Para sumir-se, da sua noite, tudo que dele da face da terra.
E para ele na terra nenhum logar,
Nem no céu, o espaço negativo para conte-lo
Para conte-lo, cousa alguma, em qualquer parte, indefinidamente, para se contar.
E ele e a sua noite para desaparecerem.
Para de todo desaparecerem.
Só a lâmina do inferno para os seus olhos.
Tudo na sua sombra, ele na sombra para mergulhar.
A sua noite para desaparecer.
Para sumir-se, da sua noite, tudo que dele da face da terra.
E para ele na terra nenhum logar,
Nem no céu, o espaço negativo para conte-lo
Para conte-lo, cousa alguma, em qualquer parte, indefinidamente, para se contar.
E ele e a sua noite para desaparecerem.
Para de todo desaparecerem.
Só a lâmina do inferno para os seus olhos.
Tudo na sua sombra, ele na sombra para mergulhar.