quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 Corpo de mulher, colinas brancas, coxas brancas,

você se parece com o mundo em sua atitude de entrega.
Meu corpo de camponês selvagem te mina
e faz o filho pular do fundo da terra.
Eu era como um túnel. Os pássaros fugiram de mim
e a noite entrou em mim com sua poderosa invasão.
Para sobreviver, forjei você como uma arma,
como uma flecha em meu arco, como uma pedra em minha funda.
Mas chega a hora da vingança, e eu te amo.
Corpo de pele, musgo, leite guloso e firme.
Ah os óculos do peito! Ah, os olhos da ausência!
Ah, as rosas púbicas! Ah sua voz lenta e triste!
Corpo de minha mulher, persistirei em sua graça.
Minha sede, meu desejo sem fim, meu caminho indeciso!
Canais escuros onde a sede eterna continua, a
fadiga continua e a dor infinita.
Pablo Neruda

Arte:Omar Ortiz






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