segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

 

O Crepúsculo Romântico

Quão belo é o sol quando no céu se ergue risonho,
E qual uma explosão nos lança e seu bom dia!
– Feliz quem pode com amor e ébria alegria
Saudar-lhe o ocaso mais glorioso do que um sonho!

Recordo-me! Eu vi tudo, a flor, o sulco, a fonte,
Murchar sob o esplendor dessa pupila que arde…
– Corramos todos sem demora ao poente, é tarde,
Para abraçar um raio oblíquo no horizonte!

Mas eu persigo em vão o Deus que ora se ausenta;
A irresistível Noite o seu império assenta,
Úmida, negra, erma de estrelas ou faróis;

Um odor de sepulcro em meio às trevas vaga,
E junto aos pantanais meu pé medroso esmaga
Inesperadas rãs e frios caracóis.

– Charles Baudelaire, 1862

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