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Eterno exemplo de homem público. De estilo inovador, foi o único prefeito da cidade de Natal a governar sabendo ouvir e atender às reivindicações da população. Djalma Maranhão já deveria ter sido agraciado e lembrado pelos livros didáticos de história. Político honesto e íntegro cumpriu com zelo, lisura e ética suas funções enquanto esteve à frente da Prefeitura de Natal por dois mandatos, de 1956-1959 e 1960-1964, e também como legislador, quando foi eleito deputado estadual em 1954 e deputado federal, de maio de 1959 a outubro de 1960.
Jamais buscou tirar proveito do exercício dos respectivos mandatos a seu favor ou de quem quer que seja: amigos, aliados políticos ou parentes de qualquer grau. Detestava a corrupção, a falsidade e a traição. Para ele, honestidade e transparência com os recursos públicos tinha que ser regra e não exceção nem um favor do gestor e sim uma obrigação.
Portanto, não é exagero nenhum afirmar que Djalma Maranhão foi e ainda é o político mais importante da história do Rio Grande do Norte, pela sua ousadia, dignidade, caráter, coerência e capacidade administrativa com visão voltada para o futuro. Além do mais, tinha uma comunicação direta e uma estreita relação com as camadas mais pobres e carentes da cidade.
Com recursos públicos escassos, enfrentou as dificuldades administrativas com coragem, firmeza e criatividade. Sua grande parceria foi com a população. Aliás, a formulação das propostas de seu programa de governo durante a campanha eleitoral de 1960 e a execução das diversas políticas públicas, após ser eleito pelo voto direto o primeiro prefeito de Natal, tiveram a participação decisiva de diversos setores da sociedade natalense.
De personalidade forte, mas humanista por princípio, possuía uma grande sensibilidade: sabia ouvir as pessoas, suas reivindicações. Coerente e sincero, 'não levava desaforo para casa'. Vivia com intensa alegria, participava de forma efetiva das diversas manifestações populares, como o carnaval, as festas juninas, os ciclos natalinos, ou autos e folguedos folclóricos.
Sua grande capacidade administrativa de gerir os poucos recursos públicos que dispunha na época, transformou Natal num verdadeiro canteiro de obras. A cidade, antes de areia e argila vai ganhar ruas asfaltadas; galerias pluviais; iluminação a vapor de mercúrio e fluorescentes; estação rodoviária; quadras esportivas e parques infantis; pavimentação a paralelepípedos de mais de cento e vinte ruas, entre outras tantas obras importantes.
No entanto, sua extensa rotina de trabalho à frente do Executivo Municipal trazia-lhe ansiedade e insônia. Geralmente dormia pouco menos de quatro horas por noite. Resolvia então, inspecionar obras e serviços da prefeitura em plena madrugada ao volante de seu veículo, um Jipe, que batizara de "Fura Mundo".
Além da honestidade, do compromisso e respeito com o contribuinte, Djalma Maranhão notabilizou-se por implementar uma revolucionária obra de educação popular: a "Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler". Esta tornou-se símbolo da alfabetização e democratização da cultura, conhecida nacionalmente e recomendada pela UNESCO e a OEA, para a erradicação do analfabetismo nas áreas do mundo subdesenvolvido.
O golpe militar de 1964 eclode no auge da Campanha pela educação democraticamente aberta a todos, fiel à problemática brasileira e comprometida com a emancipação do Brasil e do seu povo. No dia 2 de abril daquele ano, Djalma Maranhão é deposto do cargo de prefeito de Natal e levado à prisão no 16º Regimento de Infantaria do Exército (16 RI), no bairro do Tirol.
Quais os crimes teria cometido Djalma Maranhão para sofrer tamanha arbitrariedade? Seria o "crime" de ter alfabetizado e dado ao povo pobre de Natal acesso às fontes do saber? Talvez tenha sido por causa da sua marcante administração, onde não havia negociatas nem superfaturamento de obras.
Em 15 de julho do mesmo ano, é transferido do 16 RI, para o quartel da Polícia Militar de Natal. Um mês depois, em 15 de agosto, é levado e confinado à Ilha de Fernando de Noronha. Será que existe uma explicação, no mínimo razoável para esse confinamento e essas prisões deste homem que honrou de verdade os votos da grande maioria dos natalenses e que jamais e em tempo algum desviou verbas do erário público? Talvez, quem sabe, a devida explicação esteja no fato de Djalma Maranhão ter sido um democrata e patriota e ter tido um amor indescritível pelo Brasil e pela cidade de Natal.
Em novembro de 1964, consegue asilo político na Embaixada do Uruguai, no Rio de Janeiro. Em julho de 1965, viaja para Montevidéu, onde permaneceu por seis anos, com imensa saudade de seu povo e de seu país. Esse grande líder político brasileiro sobrevivia vendendo jornais e revistas de turismo. Não aguentou a solidão e a angústia de viver longe de sua cidade Natal. Faleceu há quarenta anos, na capital uruguaia no dia 30 de julho de 1971.