quarta-feira, 13 de setembro de 2023

JOSÉ ANTÔNIO DE SOUZA CALDAS - COMO ERA NATAL EM 1872

 https://tokdehistoria.com.br/, Por Rostand Medeiros.

26/11/2017Deixe um comentário

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Por esses dias encontrei um interessante texto bem interessante, que mostra vários aspectos da minha velha cidade Natal em 1872.

Foi um trabalho publicado no jornal “A República”, edição de 14 de maio de 1972, intitulado “Natal há 100 anos atrás” e de autoria do escrito pelo advogado, juiz, professor e jornalista Veríssimo de Melo. O autor resgatou um texto escrito originalmente por João Lindolpho Câmara e publicado em 1938, como um dos capítulos do seu livro Memórias e devaneios.

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Mas quem foi João Lindolpho Câmara?

Não encontrei nenhuma foto que mostre seu semblante, mas sabemos que nasceu em Natal no dia 14 de maio de 1863. Estudou no Ateneu e ingressou no Tesouro Provincial em 1881. Em Natal atuou politicamente em prol da campanha abolicionista e foi um dos que assinaram a Ata da Proclamação da República no Rio Grande do Norte. Formado em Direito no Recife passou a viver no Paraná, Bahia e depois no Rio de Janeiro. Neste último local atuou como inspetor e conferente da Alfandega e foi deputado federal pelo Rio Grande do Norte entre 1908 e 1911, onde se destacou por apresentar o primeiro projeto de repatriação dos restos mortais de Dom Pedro II para o Brasil e o de anistia da família Imperial.

Era extremamente destacado na função e duro com os que erravam. Lindolpho da Câmara chamou a atenção da imprensa nacional quando descobriu um desfalque na Caixa Econômica 400 contos de réis no Paraná e um outro desfalque de 178 contos no quartel do 39° Batalhão de Infantaria.

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Anos depois, com a vitória da Revolução de 1930, teve o nome cogitado para ser o primeiro interventor do novo regime no Rio Grande do Norte, mas abriu mão por problemas de saúde e o cargo foi ocupado por Irineu Joffily. Aposentou-se do serviço público em 1931.

Lindolpho da Câmara escreveu alguns livros, a maioria com foco técnico na área da atividade alfandegaria. Foram eles Contas assinadas (1923); Projeto de reforma das tarifas (1928); Projeto de Código Aduaneiro (1929); Tarifa dos impostos de consumo (1930). Escreveu um livro de cunho histórico intitulado Na República Velha: aspectos administrativos, econômicos, financeiros, políticos e sociais (1931) e seu último trabalho de prosa e versos denominado Memórias e devaneios (1938). É nesta derradeira obra onde se encontra um capítulo denominado “Natal do meu tempo”, onde o autor trás as suas memórias sobre a sua cidade de nascimento nos primeiros anos da década de 1870.

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Foi casado com Constança Valença Câmara, gerando uma família com dez filhos, mas ela faleceu em 1938. Lindolfo Câmara por sua vez morreu no Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1944, aos 81 anos, tendo o corpo sido enterrado no Cemitério São João Batista. O seu detalhado necrológico foi publicado no diário carioca Jornal do Commercio, edição de segunda e terça-feira, 3 e 4 de julho de 1944, na página cinco.

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Veríssimo de Melo – Fonte – http://www.tribunadonorte.com.br/

Aparentemente como resultado da publicação feita por Veríssimo de Melo no jornal “A República” de maio de 1972, esse material foi também publicado na Revista do Instituto de Ciências Humanas da UFRN em 2006 foi reeditado pela Editora Sebo Vermelho.

O leitor deve ficar atento que algumas passagens escritas por Veríssimo de Melo estão bem ligados a situações típicas do início da década de 1970, quando o texto foi escrito.

Gostaria de informar que devido a exiguidade de fotos da década de 1870 sobre Natal, utilizei o material do início do Século XX, quando muita coisa na cidade ainda tal e qual como visto e relatado por Lindolfo Câmara.

O TEXTO DE VERÍSSIMO DE MELO SOBRE AS MEMÓRIAS DE LINDOLPHO DA CÂMARA

“Natal há 100 anos passados”

Como seria Natal há cem anos passados? Quais as dimensões da cidade, topônimos, festas, superstições, costumes, condições gerais de vida da Província do Rio Grande do Norte aí pelos idos de 1872?

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Mapa de Natal nas últimas décadas do Século XIX. basicamente só existiam a região do centro da cidade e a Ribeira, cujo manguezal desta última área ainda não tinha sido aterrado.

Temos agora em mãos um depoimento de valor histórico, que nos permite visão e comentário em torno dos aspectos mais interessantes da nossa cidade, naqueles velhos tempos. Documento que não vimos citado pelos nossos historiadores, mas que tem valor não somente histórico, mas igualmente sociológico e antropológico. Trata-se do capítulo “Natal do Meu Tempo”, do livro “MEMÓRIAS E DEVANEIOS”, de autoria de Lindolpho Câmara, editado em 1938 no Rio de Janeiro. (Devemos ao Dr. Marciano Freire a lembrança de nos permitir compulsar o documento).

Esse Lindolpho Câmara, estamos sabendo agora, era homem probo, ligado à tradicional família Câmara, do Estado, tendo exercido postos os mais elevados no funcionalismo provincial e federal.

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Comparando-se os dados históricos de Lindolpho Câmara com os do historiador Manoel Ferreira Nobre, (“BREVE NOTÍCIA SOBRE A PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE”-1877), vemos que eles se completam e ampliam as informações sobre a época. Ferreira Nobre foi o nosso primeiro historiador. Seu livro já obedece a uma sistemática, atendo-se, preferentemente, aos aspectos político, educacional, administrativo e socioeconômico da Província. Lindolpho Câmara, embora consigne alguns dados estatísticos da cidade, estende-se mais a respeito de costumes e tradições. Seu depoimento, menos extenso, é mais pitoresco, mais vivo do que o de Ferreira Nobre. Em muitas passagens, escreve com objetividade e graça.

A primeira impressão de Lindolpho Câmara sobre Natal é a respeito da extrema pobreza da população. Em 1870, a cidade contava 12 mil almas. A população total da Província, segundo o censo de 1872, por ele citado, elevava-se a 233.960 habitantes, número quase idêntico ao que nos dá Ferreira Nobre.

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Os que aqui nasciam, diz o autor, em face da precariedade do meio, só tinham condições de ser pescadores, roceiros ou soldados de Polícia. O comércio era pobre. Não havia água encanada, nem esgoto, nem luz. Os poucos lampiões existentes, que queimavam azeite de mamona, antes do querosene, não se acendiam nas noites de lua… O 33º Presidente da Província, Henrique Pereira de Lucena, em 1872, pronunciava-se tristemente sobre Natal: “Vila insignificante e atrasadíssima do interior”. Daí o trocadilho da época, sobre Natal: Cidade? Não-há-tal.

A respeito da mendicância, Lindolpho Câmara afirma, simplesmente, que não havia em Natal, porque ninguém tinha o que dar… Nesse sentido, evoluímos muito.

Natal constituía-se da Cidade Alta e da Cidade Baixa ou Ribeira. As tradicionais lutas entre Xarias e Canguleiros são mencionadas pelo autor como fato de um século atrás, embora nada tenha visto a respeito. Além dos prédios públicos principais, a casa dos governadores, a Câmara e Cadeia e o Erário, só existiam quase as mesmas igrejas de hoje: a da Matriz, de Santo Antônio, do Rosário e do Bom Jesus.

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Os nomes de logradouros e ruas foram quase todos mudados, o que é lamentável, pois eram muito mais bonitos do que os atuais. O Canto do Mangue, por exemplo, era chamado o Canto das Jangadas. E as ruas principais eram a da Tatajubeira, das Virgens, das Laranjeiras, do Fogo, Rua Grande, Praça da Alegria, Rua da Palha, Rua Nova, Rua dos Tocos, Uruguaiana, Beco Novo. Os logradouros mais famosos eram o Baldo, a grande piscina pública, e o cais do Passo da Pátria, onde ancoravam as embarcações vindas do interior. A única devoção popular conhecida era a da Santa Cruz da Bica, hoje decadente. Há referência a uma lagoa de José ou João Felipe, e que deve ser a atual lagoa de Manoel Felipe.

Os dois mercados existentes eram precários: o da Ribeira funcionava debaixo de uma velha Tatajubeira. O da Cidade Alta, à Rua Nova, sob “frondosas gameleiras”. As medidas e pesos usados na época eram a cuia, a vara e a libra. As moedas eram o xenxém de 10 réis; dobrões de cobre de 20 e 40 réis; notas de 1$000 e 2$000; sendo que unidade era pataca, equivalente a dezesseis vinténs. Lindolpho Câmara faz uma afirmação importante do ponto de vista financeiro: “Naquele tempo, tudo era barato, menos o dinheiro”. É que a desgraçada da inflação ainda não tinha sido inventada pelos economistas…

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COMER E BEBER

Parece oportuno verificar o que comia e bebia o natalense há cem há anos passados: as frutas, os peixes, os doces, as bebidas, os pratos típicos.

Nos dois mercados, além da feira no Passo da Pátria, encontravam-se várias frutas apanhadas nos sítios e matas em redor da cidade. Umas abundantes ainda hoje. Outras, já raras. Por exemplo: eram e continuam abundantes, a mangaba, os cajus, cajaranas. Mas já não é fácil, nos mercados, frutas como a maçaranduba, guabiraba, camboins, oitis, ingás de corda, como ele chamava. E outras que até desconhecemos, como as ubais e os guajerus. Todavia, para colher essas frutas, havia que enfrentar os inimigos traiçoeiros dos matos: as formigas de fogo, cobras nas moitas e vespas na galhada. As caças mais abundantes na época eram os jacus, inhambus, cotias e tatus.

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Diz Lindolpho Câmara que não havia terra com maior abundância de peixes e crustáceos do que Natal daquela época. Trazidos pelas jangadas dos pescadores, enumeravam-se a cavala, o dentão, a cioba, o pargo, a pescada, a bicuda, o dourado, a corvina, o beijupirá e o cação. Nas praias, através dos currais ou da pesca de arrastão, com tresmalhos ou tarrafas, estavam as tainhas, sardinhas, espadas, palombetas, galos, carapebas, carapicus, bagre, baiacu, agulhas e agulhões. Pescados nos mangues e recifes da Fortaleza, lembra os camarões, lagostas, lagostins,  caranguejos, siris e aratus. Outras variedades eram os ouriços, ostras, mariscos, unhas de velho e polvos. De Ponta Negra, apesar da “longitude da travessia”, vinham os xaréus. Quanto à carne verde, o autor informa que eram abatidas duas rezes nos dias comuns e três, do sábado para o domingo e dias festivos, para toda população.

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A venda dos peixes, nos mercados, era feita tradicionalmente anunciada pelo eco de um grande búzio, “soprado por sujeito de fôlego e que estrondava pela cidade silenciosa até os seus confins”.

Os pratos típicos mais famosos parecem que eram as “dobradinhas”, “cobiça dos gastrônomos”, diz o autor, feitas com “livros” ou “folhoso”. A propósito desses “livros”, conta uma anedota de certo tipo popular, o negro Moisés, servente ou oficial de justiça, que andava sempre de sobrecasaca e cartola. Ao cruzar com o juiz de direito, sobraçando um “livro” (estômago de boi), indagou a autoridade:

– O que levas aí, é a Bíblia?

Resposta rápida do negro:

– Não senhor, é o Código Penal.

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O autor faz referências a outros pratos cuja fama chegou até nós: os mocotós, para as mãos-de-vaca ou panelada; os miolos, para as fritadas; as tripas e linguiças.

Das bebidas, só há registro da cachaça de Papari, que ele chama “a deusa dos ébrios”, e a “laranjinha”. Para as pessoas de categoria, havia a “genebra de Holanda”, importada em botijas de barro vidrado.

Já há cem anos certas bebidas se confundiam com remédios poderosos: a genebra era receitada também para cólicas intestinais, defluxeiras, espinhela caída, maus-olhados, sarampo e bexiga recolhida… Hoje, a cachaça corta resfriado e o uísque é bom para o coração…

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Em matéria de fumo, o melhor cigarro era o de fumo picado em papel de milho.

Só o nome depreciativo chegou até nós: Era o mata-rato…

SERENATAS E TERTÚLIAS

Há cem anos passados, Natal apresentava alguns costumes e tradições que chegaram até nós. Outros, porém, já se diluíram no tempo. Praticamente desapareceram da cidade em crescimento. Claro que ainda hoje, por exemplo, temos serenatas e tertúlias (estas com outros nomes). Mas os “Cantões”, – de que nos fala Lindolpho Câmara, – já desapareceram.

As festas de São João e Natal ainda persistem, embora perdendo sempre o brilho e entusiasmo de antigamente. Sobraram alguns vestígios, mas, estes mesmos, parece que estão fadados a se transformar rapidamente. Examinemos.

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As serenatas, há cem anos atrás, nas noites de lua, eram feitas ao som de violões, flautas, clarinetes e pistões. (Ora, quem sair, nos dias de hoje, com pistom e clarinete, pela madrugada, estará muito arriscado a ser levado pela Radiopatrulha. A lei do silêncio será logo lembrada, pelo telefone).

Lindolpho Câmara nos fala com tal entusiasmo das serenatas, do seu tempo, que chega a afirmar: “… até as pedras das calçadas se levantavam para ouvir” os seresteiros. Cantavam coisas assim: “Linda deidade chega à janela, vem ver a lua como está bela”. (A lua, coitada, depois que os astronautas estão lá dentro, já está meio desacreditada pelas moças). Mas frisa o autor que não era só a janela, que se abria, para os seresteiros. Era a porta, para deixar entrar “o bando canoro”. E o trago de vinho do Porto era servido a todos, “em um copo único”. A tradição do copo único, que já não existe, lembra a do mate gaúcho, servido de igual maneira. Com a divulgação dos princípios de higiene, ninguém mais se arrisca a beber no copo usado até mesmo por uma donzela… As festinhas familiares de hoje, aniversários, comemorações de qualquer espécie, entre amigos, eram chamadas antigamente de “tertúlias”.

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Lindolpho Câmara refere que a falta de clubes recreativos na cidade determinava as comemorações caseiras. Parece que esse não era o motivo principal. Hoje, a cidade está cheia de clubes e as festinhas familiares continuam. São as mais gostosas.

Naquele tempo, já se recitava ao som de Dalila, um dedilhado ao violão, que chegou até nós. Alguns conservadores ainda fazem questão de Dalila, para recitar besteira. Numa dessas tertúlias, há cem anos passados, o autor lembrou distinta dama da sociedade, que a todos encantou interpretando uma melodia e acompanhando-se ao violão. Atualmente, de tanto “encher” a cidade as Maysas Matarazzos e outras vedetes do gênero, é mais aplaudida a dama que não canta e nem toca violão.

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Os “Cantões” eram reuniões permanentes de pessoas amigas, nas calçadas de certas residências, para bater papo e falar da vida alheia. O mau hábito de falar da vida alheia é universal e eterno. Mas em Natal, já agora, não se fala apenas em locais determinados. Fala-se por toda parte. Lembra Lindolpho Câmara o “Cantão” famoso do capitão José Antônio de Souza Caldas, na calçada da sacristia da Matriz. O capitão, que morava defronte, fornecia as cadeiras e a turma se reunia, toda tarde. Era uma roda de Conservadores, diz o autor, o que excluía os Liberais da época. Sabemos hoje, de raros casos de pessoas distintas de Natal, que ainda se reúnem em cadeiras nas calçadas, para papear. Mas, Deus nos livre de citá-los nominalmente e nem lembrar de quem ali se fala e toda a cidade sabe no dia seguinte… O perigo maior de sentar na calçada, nos dias atuais, para falar da vida alheia, não é tanto devido à possível repercussão dos assuntos tratados. O perigo mesmo está na passagem dos chamados “playboys”, com suas máquinas voadoras, podendo levar todos nós de roldão, para o beleléu…

SÃO JOÃO E NATAL

Duas grandes festas do povo, na cidade, há cem anos passados, eram também o São João e o Natal, afirma o memorialista Lindolpho Câmara.

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No São João, acendiam-se as fogueiras diante dos lares pobres ou remediados, para assar o milho verde e as batatas doces. Dentro das casas, armavam-se altares de banqueta, com a efígie de São João no alto. Entoavam-se cantos alusivos à data e na mesa de jantar estavam os pratos de canjica e bolos os mais variados. Moças e rapazes tiravam sortes, – como ainda hoje, – para saber com quem casavam. À meia-noite, diante do altar, cumpria-se velha superstição: todos deveriam olhar um espelho, para verificar se viam a própria cabeça. (É claro que todos a viam). Mas afirmava-se que, aquele que não a visse, deveria logo mandar encomendar o caixão mortuário…

Variante da mesma abusão, que já registramos no passado, mandava que se olhasse para o fundo de uma jarra com o mesmo fim. Sobre a festa do Natal, o autor refere que saíam às ruas o Bumba-meu-boi, o samba, o maracatu e o batuque. A referência ao maracatu é curiosa. Sabíamos da existência do tradicional maracatu do Recife, e, mais recentemente, em Fortaleza. Mas nunca tivemos notícia de maracatu em Natal. Pena que o autor não tivesse descrito o folguedo popular.

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Nas casas de famílias armavam-se os “vistosos presépios”, a nossa verdadeira tradição latina, hoje praticamente substituída pelas chamadas “árvores de natal”, pagãs e sem qualquer vinculação com a tradição brasileira e portuguesa. À meia-noite, informa Lindolpho Câmara, serviam-se comidas típicas, algumas “hoje” quase desconhecidas: os pastéis de carne de porco, o chouriço, os doces secos, os sequilhos, as castanhas de caju confeitadas.

Os cordões de pastorinhas invadiam as casas, entoando os cânticos tradicionais: “Entrai, entrai Pastorinhas, entrai, entrai em Belém vinde ver nascido Jesus, nosso Bem”. É preciso considerar o comportamento das moças nessa época, segundo refere o autor. O recato era rigoroso: “Não podiam pôr o pé fora do sapato,não podiam cruzar as pernas, nem falar alto, nem comer qualquer iguaria à porta ou à janela, nem olhar para rapazes”.

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O namoro era considerado indecoroso. As moças só casavam com quem os pais determinavam. Conta, a propósito, o que se verificou na casa do Dr. Loló, senhor de engenho no Ceará-Mirim. Certo dia apareceu um sujeitinho para pedir a mão de uma das suas filhas em casamento. Dr. Loló reuniu as meninas, avisou-as antecipadamente de que não deveriam aceitar a proposta e mandou-as para a sala. Falou na presença de todos: – O Sr. Manuel veio pedir uma de vocês em casamento. Qual a que quer? – Eu não quero, disse uma. – Eu também não, disse outra. Então o Dr. Loló exclamou diante do fracassado pretendente: – Está vendo Manuelzinho, elas não querem. Não posso satisfazer o seu pedido, embora fosse muito do meu agrado…

Mas, apesar disso, é fora de dúvida que as moças namoravam e casavam, vencendo ou driblando os obstáculos paternos. E havia muitas que fugiam, exatamente como hoje.

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MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Quanto menor a cidade e mais pobre, mais precários são os seus meios de comunicação. Por aí já se tem uma ideia de como seriam os veículos de comunicação na velha cidade do Natal, há cem anos passados.

Das memórias de Lindolpho Câmara, que estamos comentando, destacam-se, nesse sentido, os sinais semafóricos, através do telégrafo ótico da Catedral e o movimento dos carretos à cabeça, em animais e carros de bois. Esse telégrafo, por meio de bandeiras e cores, montado no alto da torre da Matriz, foi também um dos nossos alumbramentos na meninice. Muitas vezes, foi também um dos nossos alumbramentos na mesmice. Muitas vezes, ficávamos horas esquecidas sentados no telhado de casa, só prá ver os escoteiros mudar as bandeiras coloridas. Mesmo sem entender o significado dos sinais, estamos convencidos, hoje, de que aquele serviço foi, na verdade, a nossa primeira TV a cores.

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Temos agora em mãos o folheto intitulado “CÓDIGO DO TELÉGRAFO ÓPTICO”, trazendo o Decreto Estadual n.º 156, de 18 de novembro de 1921, do Governador Antônio José de Mello e Souza, que restabeleceu o serviço semafórico, sob a direção da Associação dos Escoteiros do Alecrim. Segundo as “explicações”, o telégrafo começaria a funcionar a “um quarto antes do nascimento do sol, terminando um quarto de hora depois do ocaso”.

São centenas as convenções, de acordo com o Código Marítimo Internacional, mas o nosso, da Catedral, só empregava três bandeiras – azuis e vermelhas, quadradas e em forma de quadriláteros, – e três galhardetes. Entre outras informações, os sinais indicavam a saída e entrada dos navios; se eram de guerra ou transporte; nacionalidade; se estavam passando noutra direção ou vinham ancorar em Natal; se havia enfermo a bordo; se pediam o prático; nome da embarcação e da companhia de navegação, etc. Havia até um sinal que indicava se o navio batera na “baixinha”, a pedra famosa onde encalharam várias embarcações. O telégrafo óptico prestou serviço real à população natalense desde o século passado até, talvez, a década de trinta.

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Sobre os outros meios de comunicação, convém registrar a observação de Lindolpho Câmara quanto ao nosso primeiro carro de passeio. Afirma que, há cem anos passados, Natal não dispunha de um só veículo para tráfego na cidade. Tudo era feito a pé ou em animais. E ninguém cogitava de adquirir nem mesmo “uma caleça ou um tilbury”.

Daí, relata coisas incríveis como estas: o Presidente da Província, com o seu séquito, partia a pé, do Palácio (na Rua do Comércio, na Ribeira), subia a ladeira e vinha abrir a sessão da Assembleia Legislativa na Cidade Alta. Diz ele: “… chegavam esbaforidos, suarentos, que quase nem podiam subir as escadas do edifício…” Finda a cerimônia , tornava pela mesma rota ao Palácio.

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Os enterros eram penosos, acrescenta. Todos “chegavam deitando a alma pela boca, menos o defunto“.

Os casamentos “eram ridículos”: todo mundo a pé, inclusive os noivos, na frente, subindo e descendo ladeira, dando topadas nas pedras pontudas…

Só nas proximidades da proclamação da República, o Dr. Celso Caldas, médico, adquiriu um carro usado, no Recife, nele atrelando dois cavalos magros. Fazia as visitas aos doentes nesse carro e também passeava, emprestando-o, muitas vezes, para cerimônias oficiais.

CONCLUSÃO

Foi esta a imagem que pudemos inferir de Natal há cem anos passados, segundo o depoimento do Dr. Lindolpho Câmara.

Era, positivamente, uma cidade pobre, desprovida dos meios mais elementares ao desenvolvimento urbano. De certa forma, refletia a influência do plano nacional. Todavia, nestes cem anos de existência, Natal cresceu e desenvolveu-se muito mais do que poderia imaginar os já nascidos nas primeiras décadas deste século XX. Daqui a cem anos, isto é, no ano de 2072, o que dirão de nós os nossos pósteros? Possivelmente, ainda nos considerarão subdesenvolvidos como nós achamos hoje os nossos antepassados do ano de 1872. E assim é a vida…


 

FILME JESUÍNO BRILHANTE, O CANGACEIRO (1972)
Embora de família rica, Jesuíno é rude e afeiçoado à vida no campo. Por influência de um primo, começa a seguir as ideias abolicionistas e desagrada a elite local. Após o assassinato do primo, o rapaz jura vingança.
Varias pessoas da sociedade assuense deram a sua colaboração como figurantes tais como Pedro Cícero de Oliveira, José Soares Filgueira Filho (Dedé Caldas), Zélia Amorim, Francisco Evaristo de Oliveira Sales (dr. Sales) que foi médico em Assu durante décadas, José Marcolino de Vasconcelos (Dedé de Aiá), Raimundo Márcio Borges de Sá Leitão (Itinho de Durval), Monte Lacerda, Fernando Montenegro, entre outros.
Além do município do Assu, as suas filmagens foram produzidas também em Ipanguaçu, Mossoró, Tibau, Patu e nos cerrados de Lages e Natal,onde foram concluida as suas filmagens.
Fonte: Trechos da Postagem "Jesuíno Brilhante, O Filme" do Blog do Fernando Caldas








Pode ser uma imagem de texto que diz "CORREIO DA MANHA RJ 2 de Novembro de 1932 A inauguração do cáes do porto de Natal DECORRERAM BRILHANTES AS FESTAS ENTÃO REALIZADAS NAQUELLA CAPITAL NORTISTA Commemorando Uma vista do novo cáes, vendo-se atracado paquete "Almirante Jaceguay", quando vlagem turistica segundo Companhig ctor Braslleiro, representando queloss declara aquelles melho-"
Todas as reações:
Edgar Magno Wanderley Ferreira e 1 outra pessoa

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

JOSÉ LÚCIO DE MEDEIROS

                                          

Fotografia do Blog.


A família Medeiros é oriunda de Portugal, que teve em Rui Gonçalves de Medeiros o seu
mais antigo e ilustre antepassado. Foi membro do Conselho Real de Dom Afonso III, 1º
Conde de Verlongo. Recebeu seu Brasão de Armas em 1285.

Mesmo antes do descobrimento do Brasil, muitos membros da família Medeiros emigraram
para as ilhas portuguesas de Açores e Madeira. Lá se estabeleceram,  partindo ao longo de
três séculos para a Ásia e América do Sul e do Norte.

Há cerca de 200 anos, parte da família veio para o Brasil. Alguns membros foram para o Rio
Grande do Sul e mais tarde outros membros emigraram para a região do Seridó,
estabelecendo-se no Rio Grande do Norte e Paraíba.

Filho de João da Mata de Araújo Melo e Enedina C. de Medeiros Neta, nasceu em 15 de abril
de 1888 em Vila Nova, atualmente Pedro Velho. Faleceu em 17 de julho de 1953.

Em 1905  José Lúcio Medeiros ou, simplesmente José Medeiros, chegou em nossa cidade
em companhia da família vislumbrando dias melhores.Em 1908, munido de coragem e ambição, abdicando da segurança familiar, partiu para a Amazônia em busca de trabalho e fortuna.
Aos vinte e sete anos, retornou a Açú, após ter perdido o que havia ganho e também a
saúde, vítima de beri-beri, doença neurológica causada pela falta de vitamina “B”, quase
paralítico e pobre.

Graças ao clima e a boa alimentação, José Medeiros aos poucos recuperou a saúde.
No comércio encontrou uma atividade possível e, assim, em 1915 abriu uma bodega – A
Paulistinha – que rapidamente cresceu, transformando-se em ponto de encontro
obrigatório da cidade.

Em 15 de abril de1919, José Medeiros casa-se com Maria Francisca Caldas de Medeiros,
filha do patriarca de Sacramento, e tiveram dois filhos João Moacir de Medeiros, em 1921, e
Maria Zaira, em 1928.

No mesmo ano, muda-se com a esposa para o pequeno povoado que aqui existia com o
nome de Sacramento, passando a residir na casa que depois a família herdaria do seu sogro e que na época era a sede da propriedade agrícola “Veneza de Baixo”. Era o início de suas
atividades agrícolas e participação na construção de nossa Evolução Histórica
Em 1919 chega a Sacramento José Lúcio de Medeiros, o pioneiro da irrigação e eletrificação
rural do Vale. Em 1920 começa a despontar o desenvolvimento de Sacramento, pertencente
ao município de Santana do Matos.

A vinda de José Medeiros mudou a vida do pequeno povoado, que se formara ao longo de
muitos anos a partir de duas modestas fileiras de casas, (três de tijolo e telha e quatro de
taipa) na estrada que ainda hoje liga Macau a Açu.

Essa estrada era inicialmente, a via de escoamento do sal de Macau (transportado em carro
de bois), e posteriormente dos demais produtos do Vale do Açu e Pataxó: algodão, cera de
carnaúba, gado, queijos, peixes e demais alimentos de subsistência.

José Lúcio de Medeiros logo percebeu que Sacramento reunia todas as condições para se
tornar um centro de desenvolvimento de comércio. Em 1922, conseguiu a instalação da
Fazenda de Sementes do Ministério da Agricultura, hoje conhecida como Base Física do
DNOCS, e atualmente, sede do Centro de Formação Tecnológico - CEFET.

Em 1923, empenhou-se na construção de casas, estimulando cada proprietário a construir
uma residência de alvenaria, iniciando, assim, a fundação de nossa cidade.

A posição geográfica do povoado colocava-o no centro de várias rotas que se cruzavam
entre as Lagoas de Ponta Grande e do Piató, eqüidistantes do rio Pataxó e Açu. Suas
vazantes propiciavam terra boa para trabalhar, o barro nas pequenas lagoas e os “barreiros”
(matéria-prima do tijolo e da telha), bem como a criação de animais domésticos e de serviço
garantia a carne, o leite, a coalhada e o queijo.

Em 1925, houve um movimento para a instalação de uma feira livre aos domingos, tendo
recebido apoio do presidente da Intendência Municipal e Prefeito, o Sr. Manoel de Melo
Montenegro.

A pequena feira que reunia produtores, comerciantes e compradores da região, aos
domingos, debaixo de uma “latada” coberta de palhas de carnaúba no meio de sua única
rua, era um indicador dessa possibilidade e começou a alimentar o sonho de ver o vilarejo
crescer e de um dia vir a construir um Mercado Público.

Em 1926, José Lúcio de Medeiros, conseguiu com o então prefeito, no Governo de José
Augusto, um contrato para a construção do Mercado Público, no mesmo local do atual, com
a concessão de explorá-lo por vinte anos, doando-o depois à Prefeitura.

Esta foi a primeira revolução pacífica e popular em benefício de Ipanguaçu, realizada com
recursos próprios de José Lúcio de Medeiros que transformou a Feira de Sacramento, numa
das mais concorridas e famosas do Estado. Atraia uma verdadeira multidão de
comerciantes, vendedores e compradores de todos os gêneros de mercadorias vindos dos
municípios e das cidades vizinhas desde Macau à Mossoró, de Açu a Angicos e Santana do
Matos.

Homens, mulheres, crianças, cantadores, repentistas, ciganos, mágicos e bêbados!
Impossível acreditar que nas épocas de safra matavam-se e vendiam-se por feira de 20 a 30
bois! Era um sucesso, uma festa popular: cavalos e carroças ocupando todos os espaços,
amarrados nas cercas ou debaixo das árvores. Panelas, potes, tachos, alguidares, etc., eram
feitos manualmente pelas louceiras locais, verdadeiras artesãs.

Mais tarde, os primeiros “Fordes de Bigodes” e os caminhões “GMC” despertavam imensa
curiosidade. Era também, a oportunidade de ter notícias de parentes e amigos, saber das
novidades e ouvir o “causos”.

O comércio começou a ser impulsionado com a instalação de uma casa comercial de tecidos
por José Lúcio de Medeiros e posteriormente, com a fundação de uma usina de
beneficiamento de algodão em caroço, adotando também, a compra de cera de carnaúba.
Em 1927, José Lúcio de Medeiros conseguiu trazer uma Agência dos Correios e um Posto de
Telefonia, oferecendo de graça a casa para sua instalação e doando os postes.

Dedicado também, ao meio ruralista, fundou, em 1930 um sítio de fruteiras, o primeiro da
região do Baixo - Açu. Com uma visão adiantada dos meios técnicos a serviço da produção
agrícola, empregou a energia elétrica na irrigação da terra, captando água do nosso lençol
freático, tornando-se assim, o pioneiro da eletrificação e irrigação rural do Vale.

A criação de um oásis verdejante de árvores frutíferas em meio à terra seca, mediante o uso
de bombas elétricas, colocou em evidência o nome de José Lúcio de Medeiros e o nome do
povoado de Sacramento no mapa do Rio Grande do Norte, porque foi este, sem dúvida, o
fato mais relevante a revolucionar e impulsionar a produção agrícola naquela época,
setenta anos atrás. Sequer sonhávamos com a grande barragem Armando Ribeiro
Gonçalves. A água e o peixe das lagoas e açudes eram privilégios de poucos.

Em 23 de dezembro de 1948, o povoado de Sacramento desmembra-se de Santana do
Matos e passa a ser sede do município denominado Ipanguaçu, por ato governamental do
Dr. José Augusto Varela, pela Lei Estadual nº146. Dia que terminava a grande luta do Major
Manoel de Melo Montenegro emancipando a terra que lhe serviu de berço. No dia 1º de
Janeiro de 1949 foi instalado o Município de Ipanguaçu.

Não podermos deixar de reconhecer a JOSÉ LÚCIO DE MEDEIROS na história de nosso
município, por seu idealismo, sua visão de progresso.

(O texto acima fora enviado por João Celso Filho. JC informa que o texto transcrito acima, teria copiado de algum lugar)..

Nota do Blog: A mulher de José Lúcio de Medeiros era Maria Francisca Caldas de Medeiros que solteira chamava-se Maria Francisca Lins Caldas, filha do Major Luiz Lucas Lins Caldas era o segundo de cinco sucessivos Lins Caldas, avô do meu avô paterno Luiz Lucas Lins Caldas Neto (segundo João Moacir de Medeiros., o fundador do povoado de Sacramento, atual Ipanguaçu, em terras de sua propriedade, depois José Lúcio de Medeiros - Zé Medeiros - começou a fazer benfeitoria naquele lugar, construindo com recursos próprios, o mercado, conseguiu instalar os Correios, doou terreno para construção do cemitério e etc. Duplamente pioneiro: da electrificação e irrigação no Vale do Açu. 

Existe um livro organizado e editado por João Moacir de Medeiros intitulado 'JOSÉ MEDEIROS: - quase uma biografia de Ipanguaçu". Tenho o livro aqui comigo.


(Fernando Caldas)




sábado, 9 de setembro de 2023

Por Fenando Pessoa

Meus versos são meu sonho dado.
Quero viver, não sei viver,
Por isso, anónimo e encantado,
Canto para me pertencer.
O que salvamos, o perdemos.
O que pensamos, já o fomos.
Ah, e só guardamos o que demos
E tudo é sermos quem não somos.
Se alguém sabe sentir meu canto
Meu canto eu saberei sentir.
Viverei com minha alma tanto
Tanto quanto antes vivi.

Poesias Inéditas (1919-1930)

Compartilhado com Seus Por Fernando PessoaPoMeus versos são meu sonho dadoQuero viver, não sei viver,Por isso, anónimo e encantado,Canto para me pertencer.O que salvamos, o perdemos.Poesias Inéditas (1919-1930)

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

 .NOTA

À tardinha de ontem, setembro 6, de frente ao mar de Areia Preta/Natal, visitando um primo querido chamado Domingos Sávio de Medeiros Marinho que reside há mais de quarenta anos no Rio de Janeiro, para onde regressou e passou a morar e conviver com seu tio João Moacir de Medeiros, um potiguar nascido no Assu, que se fez publicitário e se tornou famoso na publicidade brasileira. (Esse Moacir era publicitário da JMM Publicidade, idealizador da famosa propaganda do Guarda Chuva (Banco Nacional de Mins Gerais, de Magalhães Pinto, que abria, acho que até os anos setenta, o Jornal Nacional da TV Globo,. Por por sinal, a sigla JN - Jornal Nacional, fora de sua ideia. Moacir foi pioneiro do Marketing Político no Brasil fazendo em 1954, a campanha de Celso Azevedo para prefeito de Belo Horizonte, com sucesso. Muito tem a se contar e dizer sobre a sua trajectória vitoriosa. Era ele, Moacir, meu primo próximo pela lado da família Lins Caldas com raíses no Assu e Ipanguaçu, então Sacramento, onde seu pai foi o benfeitor da cidade). Pois bem, naquela oportunidade recebi de Domingos que chegou à Natal, sua terra natal, anteontem para rever familiares e amigos, um caderno manuscritos do poeta assuense João Lins Caldas, também primo de Moacir. Anos antes já teria eu recebido outros cadernos com centenas de poemas e pensamentos filosóficos inéditos que organizo para publicação. Deste caderno que recebi hoje de Domingos, que estava em poder de Moacir, transcrevo um dos sonetos, aliás um dos belos sonetos dos milhares de que Caldas, este vate potiguar do Assu, que engrandece as letras Norte-riograndenses e brasileiras, escreveu entre o Rio Grande do Norte e sudeste do Brasil. Senão Vejamos para o nosso deleite:

Meu Coração não bate como outrora,
Meu coração mudou - fez-se verdade...
Há uma pátria de dor e um sol que chora...
- O céu, a imensidão, a solidade.
Os corações são trágicos, saudade...
E vista em tudo a mesma negra aurora,
Tudo é um profundo caos - morto descora...
Olho em torno de mim a imensidade.
Para nascer, gemendo, fui gemido...
Meu verbo nunca foi na terra ouvido,
Minha voz nunca foi na Voz se vendo...
E, solitáriorio, como a morte em tudo,
Fui cada vez mais frágil, mais mudo
E mais mudo, mais trágico, nascendo...

Postado por Fernando Caldas

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Da esquerda para direita: Domingos Sávio de Medeiros Marinho e Fernando Caldas


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Capa da 2ª edição do Fulô do Mato publicado em 1953, pela Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, enviado pelo matrogrossense Salomão Rovedo, uma prova que o bardo assuense Renato Caldas ainda é uma figura das letras matutas conhecida em todo o Brasil. Guardo comigo a primeira edição sem, emprestado pelo médico e cel. da Policia Militar Franklin Firmino.
(Fernando Caldas)


 


Capa do livro Fulô do Mato, segunda edição, Tribuna da Imprensa, do Recife (1953). Enviado por Salomão Rovedo.
O título do livro é o mesmo título do poema em linguagem matuta que abre as páginas daquele volume: Senão vejamos:
Sá Dona, vossa mecê,
é a fulô mais cheirosa,
a fulô mais prefumosa
Qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume,
de tudo qui fô prefume,
de tudo qui fô fulô
qui nem um, nenhuma só
tem o cheiro do suó
qui o seu corpinho suô.
- Tem cheiro de madrugada,
fartum de reia muiáda
qui o uruváio inxombriô.
É um cheiro bom, déferente,
qui a gente sentindo, sente,
das outa coisa o fedô.
Renato Caldas, poeta do Assu que o Brasil consagrou. Discípulo do menestrel Catulo Da Paixão Cearense, autor da célebre canção 'Luar do Sertão!.
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Assu Antigo
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PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...