sexta-feira, 24 de abril de 2020

A imagem pode conter: texto que diz "Assis Medeiros Francisco Eu beijo... beijo me canso Dos meus vorazes gulosos beijos Quanto mais beijo, mais tenho desejo Parece até, meus beijos ser encanto. Mas tenho medo de beijar-te tanto deste está contaminado Mesmo distante temo meu pecado meu pecado se transforma pranto. Será pecado, meu amor! Beijar-te assim? Estais ausente, mas perto, juntinho a mim. Nestes beijos que ar leva me respondes. Tenho medo. Deixa eu sentir saudade saudade que não seja eternidade Nesta que me correspondes."
Francisco de Assis Medeiros, poeta assuense
Qual o anel do poeta,
si o poeta fosse doutoro?
- uma saudade brilhando
na cravação de uma dor

Si Deus não fizesse a dor
a sua filha dileta,
Deus não seria um artista
Deus não seria poeta.

Catulo Da Paixão Cearense, Poeta maranhense
Eu disse: "Eu morro..." - "Espero, ela me disse
quando a sorte cruel nos separou...
Parti... Voltei, anos depois. Alice
mostrou-me seu marido. Que tolice!
Nem eu morri, nem ela me esperou...

Eurico Facó, poeta cearense

POMPÍLIA: UM DEPOIMENTO


Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

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Faleceu terça-feira passada, dia 21, Marlindo Pompeu. Ex-vereador, político em disponibilidade, agitador social, era o meu intérprete, ungido e jungido das causas populares. Conheci-o em Macaíba, lá pelos idos de 1950, quando estudava no bravo Colégio Agrícola de Jundiaí. Pompília já se revelava inquieto, mobilizador e encantador de serpentes. Era amigo do sábio e matemático Damião Pita, também estudante e professor das escolas de primeiro e segundo graus da rede municipal. Na campanha popular para governador em 1960, o velho Pompa ocupou a linha de frente do exército de Dejinha (Djalma Marinho) e transformou-se no próprio tumulto tanto para os adversários como para as suas próprias hostes.

Encontrava-o aqui e acolá sempre com pressa, passando com ruído, soltando frases soltas e estribilos guerreiros sobre lutas e batalhas iminentes. Jamais foi achado em silêncio. Ninguém era melhor que ele para bastante procurador de causas possíveis e impossíveis. Daí, nomeava-o, com toda pompa e circunstância, o meu, o nosso advogado. Sem mandato popular, sabia melhor que os outros, os caminhos das pedras, das residências oficiais, porque era sombra e luz, voz e ouvido do clamor das ruas.

A sua marca registrada sempre foi a fidelidade irrepreensível ao líder e ao ideal. Sobre esse ângulo poderia registrar dezenas de atitudes do seu quilate. Continuou sendo o homem de um partido só, sem esmorecer, sem tergiversar, sem recuar. Em Natal, viveu sua fase de líder popular nas comunidades, defendendo-a na Câmara Municipal e fora dela. Para ele não importava ter o mandato para socorrer o povo e requerer a solução dos problemas. Ele sempre o fez porque se tornou conhecido e festejado por todos como um homem simples, pobre, honesto e prestativo.

Conviveu com governadores, senadores, deputados, mas nunca amealhou vantagens pessoais, pois somente lhe interessa servir. Carregava uma pasta cheia de papeis. Nela nada tinha de si e sobre si. Apenas, papeladas de pedidos dos outros, reivindicações comunitárias, receitas, recibos inadimplentes de IPTU, água e luz. Foi o carteiro do povo; o jornaleiro do líder que defende; o pastorador de auroras das ruas e avenidas de Natal só para anunciar as alvíssaras, as boas novas do partido e do próximo.

Sempre foi o estafeta legítimo de pleitos, porta-voz dos esquecidos e condutor dos novos rumos e prumos de Natal. Daí sempre confiei nele para pugnar, reivindicar, exigir, porque possuía o senso comum das coisas simples e honestas.

Mas, o velho Pompeu estava cansado. E chegou a hora dele. O momento de todos assumirem o mandato que ele exerceu por nós: o exercício da solidariedade humana por Natal e pelos seus habitantes. Ao prestar-lhe este tributo, eu o faço com emoção pelo muito que ele fez e pelo tão pouco que recebeu. Soou a hora de reparar esse esquecimento.


(*) Escritor.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Tô doidim pra voltar pro meu ranchinho
Onde eu tenho mais paz, tenho saúde
Tomar banho nas águas do açude
E um café com batata, bem quetinho
Acordar com o cantar de um passarinho
Não com ronco de trem e caminhão
Nesse meio num me acostumo não
Deixem eu ir, pra minha felicidade
Se eu passar mais um dia na cidade
Vou morrer de saudade do sertão


Mote do poeta Zé de França
Estrofe do poeta Fabio Gomes
Eu queria não querer tanto assim
Eu queria um passado bem presente
Ser igual mesmo sendo diferente
Ter o bom mesmo a coisa estando ruim
Eu queria um começo sem ter fim
E um fim muito longe do final
Uma ideia que fosse ideal
Ter um sim ao invés de um triste não
Quero sim, abraçar o meu irmão
Num abraço sincero e fraternal

Neoenergia amplia serviços digitais e suspenderá corte de energia de clientes residenciais por 90 dias

24/03/2020
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Em alinhamento com as determinações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o enfrentamento da pandemia do coronavírus (Covid-19), a Neoenergia ampliou a disponibilidade de canais digitais e suspendeu o corte de energia para os mais de 14 milhões de clientes residenciais em todas as áreas de concessão de suas distribuidoras. A medida atende à determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e abrange os estados da Bahia (Coelba), Pernambuco (Celpe), Rio Grande do Norte (Cosern), interior de São Paulo e cinco municípios do Mato Grosso do Sul ( ​Elektro). A atividade de corte será suspensa por 90 dias, conforme Resolução Normativa do órgão regulador, deliberada pela Diretoria da Aneel, nesta terça-feira (24). 
Apesar da suspensão excepcional do corte, a Aneel solicitou que os clientes que tiverem condições de pagar as contas honrem seus compromissos e, assim, evitem a incidência de encargos. A recomendação da agência reguladora reforça a importância do setor elétrico para a economia e para a arrecadação de recursos para os Estados, que utilizam a verba para implementar políticas públicas e, neste momento, para combater ao coronavírus. A fatura de energia muitas vezes funciona como meio de arrecadação para hospitais e instituições beneficentes, que dependem desse recurso para continuar promovendo atendimentos. 
Por prestar um serviço essencial à população, as distribuidoras manterão equipes de prontidão trabalhando initerruptamente para assegurar o regular fornecimento de energia aos clientes. Nesse sentido, todo o esforço da Neoenergia e de suas distribuidoras será com a finalidade de permitir o funcionamento, sobretudo, de hospitais, unidades de saúde, instituições públicas e privadas, além de contribuir com o conforto e o bem-estar de milhares de famílias.
Em função da emergência de saúde pública, a Aneel definiu que as distribuidoras devem evitar a realização de serviços presenciais. Sendo assim, o envio de faturas de energia poderá ser efetuado por meios eletrônicos, como e-mails ou disponibilização de códigos de barras por aplicativos. A empresa orienta seus clientes que cadastrem ou atualizem seus endereços eletrônicos e solicitem a modalidade de fatura por e-mail, em substituição à entrega presencial das contas impressas.
Como medida preventiva e alinhada com as orientações do Ministério da Saúde e da Aneel para combater o avanço do coronavírus, a Neoenergia já havia determinado o fechamento das lojas de atendimento e instituiu medidas de isolamento social. Para suprir a demanda dos clientes, a empresa viabilizou diversas opções de canais digitais para solicitar serviços comerciais e emergenciais, disponíveis 24 horas por dia, com a mesma qualidade e rapidez. As distribuidoras também foram autorizadas pela Aneel a realizar leituras de consumo por média aritmética para evitar a exposição de leituristas e clientes ao vírus. Outra opção defendida pelo regulador é a realização da leitura e envio para a empresa pelo próprio consumidor, prática já adotada por alguns. Todas essas medidas têm a finalidade de contribuir com o isolamento social e inibir a proliferação do coronavírus. 
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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Gelza Tavares (Caldas, por casamento com Edmilson Lins Caldas) é a mãe do organizador deste blog. Se encontra hoje, num leito hospitalar, aos 94 anos de idade, lutando contra a morte. Na vida, ela passou por momentos felizes e muitas vezes dramáticos: Aos 20 anos de idade perdera na morte seus pais num desastre aviatório ocorrido no rio do Sal, em Aracaju-SE, em 1951; um filho atropelado em 1968; um irmão assassinado, em 1999; nove irmãos, alguns deles, ajudados por ela, com carinho e zelo como se fosse a mãe de todos eles que se foram de morte natural, sem falar dos amigos e amigas que foram tantos, além do seu querido marido que partiu há pouco mais de dois anos para vida celeste. Afinal, ela está na mão de Deus, o Rei das preces e do mundo. Não quero, portanto, o seu sofrimento! Se ela já cumpriu a sua missão na terra, que se vá para que não sofra tanto!

(A fotografia abaixo, ou fora tirada na Escola Doméstica de Nata, onde ela estudou, quando aquela escola funcionava no bairro Ribeira, quase vizinho ao Teatro então Carlos Gomes, hoje Teatro Alberto Maranhão, ou fora tirada na Praça Pedro Velho, ou mesmo na Praça André de Albuquerque, centro da capital potiguar). Data da fotografia: 19 de maio de 1949.

Fernando Caldas
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Arte de Lúcia Caldas

terça-feira, 21 de abril de 2020

Esta tarde meus olhos estão cansados de te esperar
E de te desejar na tranquila paisagem do porto,
Onde os barcos balançam mansamente sob o crepúsculo.
Esta tarde eu te ouço no murmúrio das águas, no voo
Da gaivota, quando desfalece em mim a visão da retirada ilha.
Esta tarde meu coração adormece docemente em tuas mãos
E penso no silêncio das estrelas e dos teus olhos.


Walflan de Queiroz, poeta potiguar

quinta-feira, 16 de abril de 2020

UM POUCO DA LÍRICA ANGELINA MACEDO

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Angelina Macedo, poetisa do Assu, ainda é pouco lembrada na terra em que nascera. De tradicional família originária da cidade do Porto, Portugal. De temperamento sentimental, casou-se em 1896 e, pouco tempo depois, fora abandonada pelo marido.

O antologista Ezequiel Fonseca Filho depõe que o lirismo de Angelina também está marcado pela melancolia, pela religiosidade e por acentuados elementos românticos e simbolistas. Angelina, não encontrando a realização dos seus sonhos de adolescente como afirma Ezequiel, escreveu na sua desilusão o soneto que, penso eu, parece com a forma de poetizar de Florbela Spanca (uma das maiores vozes da poesia lusitana do século XX). Senão vejamos:

Sonhei que era feliz e que era amada,
Que ao lado de meus pais tranquilamente,
Passava minha vida sorridente,
Sem nunca pela dor ser perturbada.

Nessa doce ilusão, sendo embalada,
Áureos castelos levantei na mente
E por linda visão aurifulgente,
Era ao céu de fantasia arrebatada.

Porém ao despertar do grato sonho,
Ao ver o meu presente tão tristonho,
Tão negro como fora o meu passado.
Quisera viver sempre adormecida,

Do mundo e de todos esquecida,

Ou ao menos, meu Deus, não ter sonhado!
Solitária, Angelina fora acometida por uma doença incurável, sentindo a morte chegar, escreveu o soneto intitulado 'Resignação', que vejamos adiante:

Bendita seja a mão, que o golpe envia

Sobre a minha cabeça tão cansada;
Que me adverte ao fim desta jornada, e um dia
Na floresta da vida, erma e sombria.

Àqueles que disseram: Volto ao Nada,
A que triste, viveu somente um dia,
Eu direi: Enganai-vos! A alegria
Espera-me no Além, na Pátria amada.

Não criminem a morte, que me leva
Ao ver estrela que no azul cintila...
A luz, que vem do céu, não chamem treva!

Pouco a pouco, a matéria se aniquila,
Mas a alma imortal aos céus se eleva...
Que venha, pois, a morte - estou tranquila.

(Fonte: Poetas e Boêmios do Assu, 1984, de Ezequiel Fonseca Filho)

Postado por Fernando Caldas

És uma flor sertaneja
De aparência delicada
Teu sorriso tem beleza
Pelo jardim é invejada
Um capricho da natureza
Puro, feito o orvalho
Que perfuma o sereno
Colorindo-me, em retalho.


Do poeta Assuensse George Henrique Rodrigues

quarta-feira, 15 de abril de 2020

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Arte de: Lúcia Caldas

Nossa língua tem versatilidade
Pode ser a melhor ou pior parte
Fazer alguém te amar ou odiar-te
Pode fazer o bem ou a maldade
Contar uma mentira ou verdade
Ser um tanto sincera ou negar
A palavra pode acariciar
Ou ferir qual punhal dentro do peito
O efeito da fala tem efeito
No que pode agredir ou agradar.


Mote: Heliodoro Morais (adaptado)
Glosa: Fabio Gomes

terça-feira, 14 de abril de 2020


Teve um sorriso, teve um soluço...
Eu, para ela,
Tive um sorriso, tive um soluço...
Cousa mais triste, cousa mais bela?

Caldaas
A CRIANÇA É A ESPERANÇA NO FUTURO
A inocência do olhar de uma criança
Se desfaz com a ganância de um adulto,
Pra criança existe o bastante, nunca pouco ou muito
O que seria do mundo sem crianças?
A pureza do abraço de uma criança
Se desfaz com a individualidade de um adulto,
Transformando a vida num completo absurdo,
Vivemos num mundo que perdemos a confiança.
A sinceridade de uma criança
Se desfaz com o mau-caratismo de um adulto,
Devastando o amor no mundo.
Que os adultos sejam como as crianças
E nunca percam as esperanças
De que possamos ser adultos com a pureza de uma criança.

(Pablo Henrique)

1929 – A UNIÃO DE DHÁLIA FREIRE E LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

Rostand Medeiros – IHGRN

 

Aquele primeiro semestre de 1929 estava sendo bastante interessante para o Rio Grande do Norte e Natal. Logo no dia 1º de janeiro, na pequena cidade de Lajes, Alzira Soriano era empossada como a primeira prefeita da América do Sul. Já em Natal, então com pouco mais de 40.000 habitantes, rugiam no céu várias aeronaves estrangeiras que utilizavam o nosso privilegiado ponto estratégico para facilitar o transporte de correspondências entre a Europa e a América do Sul. A capital potiguar era um local importante, em um concorrido e pulsante mercado que elevava em várias partes do mundo o nome da velha Cidade dos Reis.

Aquele também seria um ano especial para um advogado de 30 anos de idade, que se formara no ano anterior em Recife, era o diretor do prestigiado Atheneu Norte-Rio-Grandense e se chamava Luís da Câmara Cascudo. Pois às 16 horas de um domingo, 21 de abril de 1929, ele se casaria com a jovem Dhália Freire em um elegante e tradicional casarão da Avenida Junqueira Aires.

Aquela era a casa do desembargador José Teotônio Freire, pai da noiva, que vinte anos antes havia sido eleito presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte e até 1921 permaneceu nesse cargo.

Já o pai do noivo, Francisco Justino de Oliveira Cascudo, era um homem muito respeitado na cidade e conhecido por todos como Coronel Cascudo. Havia saído do sertão, da cidade de Campo Grande, para ser oficial da Polícia Militar e, na véspera do natal de 1894, na cidade de São Miguel, participou do renhido combate que matou o cangaceiro Moita Braba e destruiu o seu bando. Com isso Francisco Cascudo conquistou muito prestígio no Rio Grande do Norte. Fosse pela valentia ou pelo prestígio, de forma inteligente o jovem oficial angariou muitas amizades na sociedade natalense e a atenção da classe política. Logo deixou a farda e, apoiado por uma rede de amigos e por uma invejável capacidade comercial, montou vários negócios que lhe garantiram naquele momento tranquilidade financeira para sua família.

Casarão da antiga avenida Junqueira Aires- Fonte – https://mapio.net/
No casarão da Junqueira Aires a cerimônia civil foi presidida pelo juiz de direito Silvério Soares, titular da 1ª vara de justiça de Natal, sendo o então governador Juvenal Lamartine de Faria e sua esposa os padrinhos do noivo. Já o desembargador Dionísio Filgueira e sua esposa eram os padrinhos de Dhália Freire. Cerca de uma hora depois, com os noivos, familiares e padrinhos formando um “corso de veículos”, foram todos para a capela do hoje extinto Colégio Imaculada Conceição, na Avenida Deodoro.

Ali a cerimônia religiosa foi presidida pelo Monsenhor Alfredo Pegado de Castro Cortez, junto com monsenhores Alves Landim e João da Mata. Foi padrinho do jovem Cascudo, a quem todos chamavam Cascudinho, o casal Milton Varela. Já os padrinhos da noiva foi o casal José Lagreca. Ao final do ato religioso todos retornaram para a casa da Junqueira Aires, onde Teotônio Freire recebeu os convidados com uma farta mesa de doces e licores.


Tudo se encerrou por volta das nove da noite. Eram outros tempos. Não houve como acontece nos casamentos da elite em nossos dias, um suntuoso jantar, com uma banda de música tocando até altas horas da noite e uma superprodução. O principal era o contato entre os amigos e os votos de felicidades para o casal.

Para mim a melhor e mais marcante característica de Câmara Cascudo era ele poder ver muito além do que a maioria dos membros de sua classe social, que viviam em uma cidade bastante provinciana, observavam sobre determinados aspectos das pessoas e das características do lugar onde viviam. Creio que, além disso, podemos colocar na conta do seu sucesso uma convivência de 57 anos com uma mulher que sempre o apoiou no desenvolvimento de sua carreia como pesquisador e escritor.

FONTES – JORNAL A REPÚBLICA, EDIÇÕES DE 21NE 24 DE ABRIL DE 1929, NA COLUNA DE “DANILO”, PÁGINA 3 DAS DUAS EDIÇÕES.

De:  https://tokdehistoria.com.b

Posso ser impedido de visitar meu filho em tempos de pandemia do Covid-19?

 

Vivemos tempos de incertezas e inseguranças, uma crise na saúde, estado de calamidade, pandemia. Tudo o que vivenciamos nos últimos dias têm gerado diversos impactos no âmbito judiciário, inclusive na seara do Direito das Famílias. 


Em tempos em que a regra é o isolamento social como fica o contato e o exercício do direito de convivência dos pais com seus filhos em meio à quarentena?

Muitas dúvidas têm surgido acerca desse tema, mas o certo é que a tomada de decisões nesse momento deve prezar pelo bem estar e melhor interesse do menor envolvido, como ditam o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição Federal

Dessa forma, em situações em que um dos genitores chegou de viagem ao exterior, tem suspeita da doença, teve contato com pessoas infectadas, ou até mesmo representa o grupo de risco, é aconselhado que o contato físico seja evitado, devendo ocorrer com auxílio da tecnologia, via ligações de vídeo, áudios e demais recursos.

Assim, é óbvio que algumas condições estabelecidas anteriormente no regime de guarda, seja unilateral ou compartilhado, poderão sofrer alterações, não sendo exigível o seu cumprimento integral. 

Contudo, tais mudanças não podem ser realizadas de forma unilateral, por um dos genitores, haja vista que tais circunstâncias foram estabelecidas em um acordo extrajudicial ou por decisão judicial. 

Logo, o melhor caminho no momento, observando-se o regime de exceção que vivenciamos, bem como o bem estar físico, mental e emocional do menor, é que os pais deixem as desarmonias de lado e, juntos, pensem em uma solução para adequação do direito de visita, sendo o modo mais indicado por vias tecnológicas, resguardando tanto a saúde do filho quanto de seus genitores. 

Todavia, caso os pais não consigam manter um contato saudável, e utilizarem do bom senso, para chegarem à melhor conclusão a fim de atenderem a proteção integral da criança ou do adolescente, é possível que um dos genitores faça um requerimento judicial para que o juiz module os efeitos da guarda e do direito de visita durante o período de quarentena, a ser analisado em regime de urgência, podendo obrigar, por exemplo, o exercício do direito de visita virtual. Para tanto, é necessário a representação por um (a) advogado (a). 

Vale lembrar, contudo, que o cenário de pandemia não deve ser utilizado como desculpa, como subterfúgio, para o afastamento proposital da criança ou adolescente de um dos genitores. A restrição do direito de visita deve ser fundamentada e justificada, visando sempre o melhor interesse do menor envolvido. 

Ou seja, os pais não devem se utilizar do momento de crise para afastar injustificadamente os filhos do outro genitor, tais atitudes prejudicam o menor, que não pode ser utilizado como instrumento de vingança em razão de desafetos existentes entre esses pais. 

Esse comportamento reiterado e arbitrário pode configurar alienação parental, sujeitando o genitor que impede o contato a medidas de restrição do convívio, pagamento de multas, alteração ou inversão da guarda e pode levar à suspensão do poder familiar do genitor alienante. 

Da mesma forma, não pode um dos genitores utilizar-se da atual conjuntura para esquivar-se da sua obrigação em relação ao convívio com o filho.

Por isso, caso o genitor em questão se encaixe em alguma situação passível de expor o menor ao risco, como por exemplo a mãe ou o pai são profissionais da saúde em contato direto com infectados pelo vírus, deve se resguardar, exercendo o convívio com a criança/adolescente por meios tecnológicos, e esclarecendo a situação junto ao outro genitor, evitando uma possível acusação futura de abandono afetivo.
 
Por isso é importante manter a calma neste momento e, se for impossível um contato saudável entre os genitores, procure um (a) advogado (a) para tentativa de acordo extrajudicial e, sendo impraticável, para que acione as vias judiciais. 

O mais importante é visar à proteção integral do menor, de forma a não lhe restringir por completo o convívio com o outro genitor, a fim de não prejudicá-los, proporcionando um crescimento sadio e rodeado do amor e cuidado parental. 

Gabriela Latorre Galves - Advogada
gabrielalatorregalves@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...