segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 

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Nas Asas da Vida
2 d

Rio e em mim navego

Eu sou só
para olhar ao meu redor
para limpar a mágoa
para bater os tapetes
para florir o jardim

eu sou só
para abrir as cortinas
para erguer os olhos
para virar a mesa
para chorar por mim

eu sou só
para visitar sorrisos
para aquecer o corpo
para arrumar a cama
para abraçar silêncios

eu sou só
para navegar os ventos
para por roupas no varal
para colorir meus dias

eu sou só
e visito diariamente
meus instantes comuns
simbioticamente eu e eu

onde só a poesia
é sinal de companhia

Adriane Lima

terça-feira, 8 de setembro de 2020

EDITAL DE CONVOCAÇÃO - CONVENÇÃO MUNICIPAL DO SOLIDARIEDADE DE ASSÚ/RN



Como era comer fora em Natal a partir de 1900

Como era comer fora em Natal a partir de 1900


Na av. Tavares de Lira, prédio já foi o Cova da Onça e Carneirinho de Ouro | Foto: Rogério VitalFoi no início do 

Século XX que a cidade começou a ganhar suas primeiras casas para bebericar grogues e petiscar salames e peixadas

03 de julho de 2020

Por Tádzio França e Cinthia Lopes 
 

Comer e beber, além de necessidades físicas, também são indicadores culturais de sociabilidade, evolução e história. O cenário gastronômico natalense é uma boa prova disso: se hoje em dia oferece de tudo ao toque de um aplicativo, há pouco menos de um século era movido apenas a álcool e petiscos simples. Sair de casa para comer era, antes de tudo, um ritual social e masculino. Ao longo do século, o menu natalense foi ganhando identidade, tamanho e diversidade, refletindo as mudanças de sua época. Claro, como é típico deste local, tudo em ritmo bem vagaroso. A degustação histórica é lenta, mas pode ser saborosa.

Natal entrou no século XX com vontade de superar o acanhamento colonial que vigorava até então em sua vida social. Os anos 1900 trouxeram uma praça glamourosa para a época, o teatro e o cinema, portanto, a capital potiguar não poderia mais viver de serenatas, modinhas, piqueniques e passeios à praia com a família. Os cafés e bares foram os primeiros estabelecimentos a darem algo mais ao natalense. Lugares para ir após o trabalho, encontrar os amigos, conhecer pessoas novas, discutir os assuntos do momento, beber e comer coisas diferentes.

Os primeiros ‘happy hours’ da vida natalense se desenrolaram entre os bairros da Ribeira e Cidade Alta. Eram esquinas e cruzamentos que se tornaram símbolos de um tempo. Na Ribeira, tudo de melhor acontecia entre a Avenida Tavares de Lira e a Rua Dr. Barata; no centro, a badalação convergia para o ‘Grande Ponto’, como ficou conhecida a área entre a Rua João Pessoa, a Avenida Rio Branco e a Rua Princesa Isabel.

Imóvel da Av. Tavares de Lira tem um passado ligado à vida boêmia, do Cova da Onça ao Carneirinho de Ouro Foto: Rogério Vital

A Ribeira concentrava o maior número de bares, bilhares e cafés da cidade, lugares como o Café Socialista (1903), Café Chile (1916), Cova da Onça (1916) e o Bar Antártica (1921). Durante as primeiras quatro décadas do século XX, a Ribeira era oficialmente o bairro mais elegante de Natal. Esses estabelecimentos eram anunciados em jornais da época como “esteios da civilização”, na linguagem pomposa e exagerada do começo do século passado.  

A professora e historiadora Viltany Oliveira, autora do livro “Cantos de Bar: sociabilidades e boemia na cidade de Natal (1946-1960)”, afirma que esses novos points eram apostas da elite natalense para refinar e modernizar a sociedade local. “Eram espaços de sociabilidade para as elites natalenses, interessadas em avançar aos padrões de elegância e civilidade, qualidades essenciais para a cidade ir adiante na condição de capital moderna”, explica.

Os cafés logo se tornaram refúgios de funcionários públicos, profissionais liberais, políticos, empresários, estudantes, jornalistas, escritores, poetas. E como eram esses locais? Segundo o cronista João Amorim Guimarães, os cafés da Ribeira eram “ricamente instalados em salões decorados a capricho, com mobiliário de luxo, prateleiras artísticas, mesas de mármore verdadeiro, garçons  bem  trajados,  limpos,  sociáveis,  polidos,  distintos e educados”.

A Rotisserie Natal foi, nos anos 20, também um lugar elegante para a época. Foto: Rogério Vital

Arteculinarista
Muitos endereços passaram à história, como a Rotisserie Natal, prédio número 20 da Tavares de Lira. O lugar, que já abrigava os ilustres locais, também recebeu em 1928 o escritor modernista Mário de Andrade em sua passagem pelo estado. O momento está registrado no livro “O Turista Aprendiz”. Mário deve ter consumido queijos, presuntos, e bebidas nacionais e estrangeiras. Também deve ter apreciado o ambiente, que segundo as descrições tinha dimensões amplas e iluminação elétrica. A Rotisserie também procurava inovar, como quando trouxe um ‘arteculinarista’ português para caprichar no cardápio.

Rotisserie Natal anuncia o "arte culinarista" português Alfredo. E a "Despensa natalense" sortida para as festas

Outro lugar célebre, o Cova da Onça, era um misto de café, bar e bilhar, onde se podia degustar bebidas nacionais e importadas. O Café Chile, situado na Travessa Aureliano de Medeiros, além do cafezinho oferecia caldo de cana, refrigerantes, aperitivos e sucos. Já o American Bar se destacava pelo sorvete, feito de “pura nata”. Não há dúvida que era artesanal. O cinema Politeama, inaugurado em 1911, tinha serviço de bar e sorveteria. Das sete às 18h, os bares ofereciam café, queijos, sucos e lanches. À noite, os cafés tornavam-se espaços boêmios. No cardápio saíam grogues (bebida de rum, água e açúcar), cervejas, fritadas, lombo de porco, galinhas e filés.

Grande Ponto
A Cidade Alta também não deixava barato no quesito boemia e diversão. Nos anos de 1920 e 30 existia no bairro o Café Grande Ponto, na esquina da Rio Branco com a João Pessoa, uma  mercearia com serviço de bar e duas mesas de bilhar. A popularidade desse espaço acabou por batizar toda a área. Os cinemas, as confeitarias, as sorveterias, os cafés e os bares mais badalados estavam no Grande Ponto.

No final do Século XIX, o prédio da Ulisses Caldas foi o Café Potiguarania, Pharmacia Natal, Café Magestic e Royal Cinema

Um dos espaços de lazer mais antigos do bairro era o Café Magestic, localizado na esquina da Rua Ulisses Caldas com a Vigário Bartolomeu. Antes, no local funcionou o Café Potiguarânia, em atividade desde o final do século XIX. Apesar de ter um salão de bilhar, ficou mais conhecido como ponto da boemia literária da época. Era um dos lugares favoritos de Câmara Cascudo.

Os estabelecimentos da região vendiam cafés, cerveja, grogues, aguardentes, fritadas de camarão ou de caranguejo, petiscos de galinha ou de carne de porco, picles, embutidos, azeitonas, e o popular fiambre, (uma carne fria em conserva similar a um presunto). O jornalista Alexandre Gurgel, chef e pesquisador, ressalta que se ia mais aos cafés para beber e conversar do que para comer, daí os cardápios serem tão simples. E a época também era outra. “Nada refinado, a gastronomia aqui estava no início. O fornecimento também não era grande coisa, então só tinha isso, coisas rápidas, petiscos”, diz.

O Polytheama funcionou na Ribeira, um dos endereços mais movimentados do bairro

O Grande Ponto tinha ainda a Confeitaria  Helvetica, o  Bar  e  Confeitaria  Cisne,  Bar  e  Café  Expresso, Restaurante Prato de Ouro, Bar Dia e Noite, o Café São Luiz, e o Bar e Confeitaria Granada, este, do espanhol Nemésio Morquecho, que apresentou aos natalenses da década de 50 iguarias ainda inéditas por aqui como lula na tinta, testículos de boi, paella, iscas de fígado acebolado, ostra crua, e outras ‘tapas’. O Granada funcionou de 1954 a 1975, na Av. Rio Branco, recebendo ilustres como Monteiro Lobato e o príncipe Philip. Em 1975 o bar virou o restaurante Nemésio’s, e existe até hoje, agora no Tirol.

 Confeitarias
 Naquele cenário comercial emergente, as chamadas confeitarias eram espaços que também ganhavam cada vez mais território. Elas se caracterizavam  por  comercializar  artigos  de  confeitaria  e  lanches.  Eram lugares  frequentados  por  famílias  e  estudantes  que  paravam  pra comprar bombons, “confeitos” e doces. Uma das mais badaladas e bem sortidas era a Confeitaria Delícia, na Praça Augusto Severo, Ribeira. Vendia bombons, chocolates, frutas, presuntos, queijos, vinhos, e produtos importados. Na década de 40 foi acrescentado um bar, onde se bebia cerveja, conhaque, macieira, além de aperitivos como empadas e pastéis.

Confeitarias e cafés anunciavam nos jornais seus atrativos e produtos para festas

Menu mar e terra
Até meados do século XX Natal não tinha uma identidade culinária. Esta começou a ser moldada aos poucos pelo aparecimento de bares e restaurantes populares que destacavam determinados tipos de prato: a peixada e a carne de sol. “A gastronomia de Natal se polarizou no início entre o litoral e o sertão. As peixadas, que ofereciam os peixes e os pratos à base de frutos do mar, inicialmente mais peixe e camarão (lagosta só muito tempo depois), e as carnes assadas, herança do pessoal do interior”, afirma Alexandre Gurgel.

A Ribeira era o mais comercial dos endereços e concentrava hoteis e restaurantes

As casas de peixada foram as primeiras a se destacar na incipiente paisagem culinária da capital. Para Alexandre é um fato óbvio, já que por Natal ser uma cidade litorânea havia a oferta abundante de frutos do mar. E foi no próprio Canto do Mangue que surgiu a Peixada da Comadre, em 1931, até hoje a maior referência no assunto. O peixe cozido com legumes e ovos e servido com pirão virou um símbolo local. Em 1950 a casa já era uma referência entre a elite e a classe política da cidade, o que elevou ainda mais sua moral. Em 1956 Newton Navarro escreve a crônica “Peixe”, inspirado no restaurante. A Peixada saiu das Rocas e se firmou na Praia dos Artistas, até hoje.

O sucesso da Comadre fez surgir outras peixadas na esteira, como a Peixada do Chorão, em 1960, ainda em funcionamento na praia de Areia Preta. A Peixada Potengi, na Tavares de Lira, Ribeira, foi point dos boêmios, pois também era bar e ficava aberta 24 horas. “O pessoal ia curar a ressaca com um caldo famoso que tinha por lá”, diz Alexandre. O chef também lembra da Peixada do Caindão, que frequentava com a família  na praia de Miami, próximo a Areia Preta.   

Na outra ponta, também crescia a popularidade dos restaurantes de carne assada. Os dois mais conhecidos ficavam nas Rocas: a Carne de Sol do Lira e a do Marinho. “Eram as mais procuradas pela sociedade natalense quando saíam de casa pra comer. Os políticos também gostavam de fazer suas reuniões por lá”, diz Alexandre. O restaurante foi criado em meados dos anos 50 por Júlio Lira da Silva, paraibano comerciante de carne de sol autêntica. A venda logo virou restaurante, e o prato, sua marca registrada: carne com farofa d’água, macaxeira, feijão verde, salada e arroz. De Rita Lee a Luiz Gonzaga, todo mundo aprovou.

Famosa foto dos militares americanos na varanda do Grand Hotel. Após a guerra, o restaurante se manteve em alta entre a elite local, sendo ponto de encontro político. Foto Michel Ochs/ Getty Images

O jornalista Woden Madruga afirma que seu paladar foi moldado pelas peixadas e carne assadas que surgiram dos anos 50 em diante. “Não havia ‘points’ naquele tempo, a vida social era pequena, então era fácil a gente assimilar o que surgia na hora”, diz. As casas populares que se destacaram ajudaram a formar a identidade da culinária natalense e até mesmo potiguar, acredita Woden. Para completar o cardápio popular, o restaurante Casa de Mãe, também nas Rocas, pôs a galinha cabidela na rota da badalação culinária da cidade. A casa ainda existe, mas sem o peso que teve no passado.

Até a década de 70, os restaurantes mais refinados de Natal estavam nos hotéis. Woden lembra do restaurante do Grande Hotel, que mesmo depois da 2ª Guerra, se manteve em alta entre a elite local, sendo ponto de encontro político. Os almoços eram concorridos, assim como o jantar, mesmo fechando cedo. Havia trilha sonora ao vivo no piano. No menu, o filé mignon e a feijoada eram bastante pedidos.

Alexandre Gurgel ressalta que as cozinhas dos restaurantes de hotel eram as mais requisitadas para eventos políticos, como os jantares, que eram oferecidos para prefeitos, governadores, etc. “Quando eles faziam reuniões maiores recorriam aos restaurantes dos hotéis da cidade, que eram poucos e se concentravam basicamente na Ribeira”, diz.

O Grande Hotel já era uma antiguidade quando o Hotel Reis Magos abriu as portas em 1965, na Praia do Meio. Woden ressalta que era seu lugar favorito para almoçar no domingo. O restaurante era aberto para passantes, e a badalação era grande. A cozinha era comandada pelo chef – ou mestre-cuca, como se dizia – Alfredo Machado da Silva, cujos filhos Nelson e Azel abriram o café Machado, nas Quintas. De lá trouxeram iguarias setentistas como fricassê de frango com aspargo, taça de camarão crocante ao molho, filé flambado, entre outros.

“A cozinha e os profissionais do Hotel dos Reis Magos foram sem dúvida alguma, a maior referência para a gastronomia refinada, a alta gastronomia da época em Natal”, diz Alexandre. O chef ressalta ainda a importância da Toca do Chicão, no Aeroclube, onde muitas famílias iam para almoçar. Nos anos 70 também surgiu o Xique-Xique, que segundo Woden Madruga, “mudou parâmetros” no roteiro culinário da pequena cidade. Trouxe refinamento, pratos franceses, e outras iguarias. Segundo ele, o restaurante se alinha com expansão do turismo em Natal. O Xique-Xique funcionou até o início dos anos 2000. Daí em diante, houve a explosão da cena gastronômica natalense como a conhecemos atualmente.  


 

domingo, 6 de setembro de 2020

 Assu Antigo (Curta essa página no Facebook)

Fotografia tirada no coreto que existia na Praça Getúlio Vargas que fora demolido quando se deu início da reforma total da citada praça, por Costa Leitão quando prefeito. Se não me engano, podemos conferir na fotografia, o alto-falante da Divulgadora Assuense. A fotografia deve ter sido tirada em fins de 1940. Na foto, da esquerda para direita: Gelza Tavares (Caldas), mãe de Fernando Caldas gerente desta página, a segunda e a terceira pessoa não identifiquei, a quarta achei parecido com Evangelina Tavares de Sá Leitão e a quinta também não identifiquei. Se você reconhece os que não identifiquei fala aí!

Fernando Caldas
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 TRÊS POEMAS


I

Os quatro ovos que tinha no ninho do pássaro
Diziam de quatro vidas, um amanhã que devia ser.
Mas não foi isso na vida do pássaro
Tudo na vida do pássaro:
- Só cantar e viver.

II

Deus deu-me tudo. Deus deu-me tudo do que a mim amargurado Deus me devia dar.
Deus deu-me tudo. Si amargurado, porque a mim as razzões de me amargurar.

III

O pobre me deu uma esmola de Deus te favoreça
"Deus te favoreça!" Favoreça-me Deus com essa esmola do pobre.

João Lins Caldas

 O SELO DA PAZ

No trânsito da vida, quando te apareçam entraves e fracassos, não te esqueças de que a paciência é o passaporte suscetível de assegurar-te livre passagem através de todas as dificuldades e travessias.

Se estás doente, não será com o desespero que aproveitarás o remédio que se te administra.
Se experimentaste algum desgosto, a irritação não te afastará do íntimo a nódoa de sombra.
Se sofreste prejuízos de ordem material, não será parando em acusações e gritaria que conseguirás a restauração dos próprios recursos.
Se atravessas incompreensões em família, de modo algum te livrarás de semelhantes atropelos, multiplicando reclamações e exigências.
Se essa ou aquela pessoa querida se te mostra perturbada, a ponto de ferir-te, não será martelando-lhe o crânio que lhe traçarás o processo da cura.
Cultivando paciência, no cotidiano, transportarás contigo a força capaz de vencer todos os obstáculos que, porventura, te agridam a existência.
E isso acontece porque as Leis de Deus marcaram a paciência, na condição de selo da paz.
- Chico Xavier - Livro Jóia

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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

NOSTALGIAS

Valério Mesquita

mesquita.valerio@gmail.com

Vivo o desconforto e a nostalgia de mim mesmo ao me deparar com o sonho dos meus vinte anos que a idade madura não confirmou. Sinto-me disperso, irrealizado, quando retorno às minhas origens telúricas. A meta de trazer o passado ao presente, reconstruí-lo pela palavra e pensamento a fim de reconquistar a minha auto-estima, parece-me uma tarefa hercúlea porque constato que o personagem não sou eu mas, sobretudo, o tempo. Deduzo que, precisaria recriar os fatos e renascer as pessoas. Verifico que sou o resultado de todas as convivências e acontecimentos afins do passado. Por isso o vácuo e a irritação me arrastam ao entendimento inconcluso de que tudo foi ilusão e fantasia, ou infecção sentimental.
Mas, o patrimônio existencial da terceira idade, onde a memória olfativa, a auditiva e, principalmente, a visual, procuram restituir-me o universo perdido das fases inaugurais da vida. Aquela lua cheia, por exemplo, vista do cais do rio Jundiaí em Macaíba, como se estivesse pendurada por fios invisíveis, atrás dos coqueiros e eucaliptos, infundia-me na adolescência negro mistério do tempo da colonização dos escravos, índios e colonos, de escuridão e medo, como se as fases da lua chegassem naquele tempo por édito imperial. Como me perco na contemplação do Solar do Ferreiro Torto e os seus sortilégios de poder, carne, cobiça e paixão. E a descortinação surpreendente do Solar dos Guarapes. Quantas perguntas insaciadas não existem sobre o que ocorreu ali? Os seus fantasmas que subiam e desciam a colina sob a batuta do senhor de engenho numa cosmovisão ora polêmica, ora lírica, dentro do abismo da memória? “Tu não mudas o mundo. Mas o mundo te muda”. Talvez essa frase de Otto Lara Rezende explique e me convença que o futuro nada tenha a ver comigo, porque o passado está mais presente em mim do que o próprio presente. Em cada rua onde passo em minha terra revisito os mortos na lembrança tentando reconstituir os fatos com os quais dividi o tempo. Adquiri o hábito de rezar por quase todos eles, todas as noites. Faço-os prolongar no meu convívio pela relembrança. Para mim o chão dos antepassados é sagrado, mesmo que estejam sepultados nele resquícios enferrujados e rangentes de um antigo fausto. Mesmo debilitada pela decadência física, da feição das caras e das coisas, o que mais me dói nele é decadência das mentalidades e dos antigos costumes, como se fosse hoje um porão cheio de escuro, melancolia e solidão. Nostalgias, nada mais.


A imagem pode conter: ‎atividades ao ar livre, ‎texto que diz "‎CASARÃO DOS GUARAPES בגי FERREIRO TORTO‎"‎‎

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Como era Natal nos anos 40?

 natal-nos-anos-40 

 

Neste primeiro texto enviado ao Substantivo, sobre nossa Natal nos anos 40, homenageio duas paixões: meu pai e sua cidade, esta última herdada dele, como se vê e se sente na crônica abaixo. E para dizer mais sobre meu pai, José Alexandre Odilon Garcia, seguem palavras de Wilson Bezerra de Moura: “Um homem agradável, amigo leal, claro em seus pontos de vista, respeitado quando falava sobre determinado assunto levado ao conhecimento público através da imprensa natalense, onde periodicamente escrevia, porque era senhor absoluto do que dizia ao apontar determinado fato. Culto, bom advogado na cidade onde nasceu e por toda uma vida fez parte dela no desempenho da atividade profissional, uma razão suficiente para merecer o afeto e carinho de todos.”

Por José Alexandre Odilon Garcia

Natal nos anos 40 era cidade modorrenta e provinciana, 40 mil habitantes espremidos entre Ribeira e Cidade Alta, até a avenida Deodoro, se muito. O resto era a pobreza franciscana das Rocas, os sítios do Tirol, a mata de Petrópolis, o Alecrim ensaiando os primeiros passos.

Sem muitas perspectivas. Mesmo os filhos da terra, faziam feroz autocrítica.

– Cidade do já teve, classificavam, ironizando a apatia reinante, onde a maioria se masturbava sadicamente quando iniciativa das mais audazes entrava em colapso.

– Uma fazenda iluminada, nada mais, definia João Machado.

Mas, assim como as pessoas, as cidades têm o seu instante de afirmação, o seu dia de superação, o empurrão providencial, o chamado passo a frente decisivo e consagrador.

Para Natal, este momento foi a II Grande Guerra, ou, para sermos mais minudentes, justamente na fase em que, triunfantes e arrogantes – ocupadas e vencidas a Polônia, a França, os Países Baixos e Nórdicos, humilhada a Inglaterra no desastre de Dunquerque – os germânicos voltaram cobiçosos olhos para as reservas petrolíferas do Continente Negro.

– Estamos vivendo os primeiros anos do I Milênio do III Reich – perorava Hitler em seus histéricos discursos.

E, de fato, a Germânia parecia a senhora do mundo, com suas moderníssimas armas, as blitzs, o rolo compressor das pan-diviziones, as minas espalhando terror pelos mares do mundo.

Os aliados, então, concluíram que se os nazistas realmente se apoderassem do petróleo africano, tudo estaria perdido.

E resolveram enfrentar o invicto Von Rommel de peito aberto, frente a frente, na base do agora ou nunca.

E onde entra Natal neste imbróglio, perguntarão vocês.

Natal, que dormitava sonolenta
Natal, dos tempos idos de 40
Recordo os belos bailes do Aéro
Num banco da Pracinha, ainda lhe espero
No Rex, sessão das moças, Quarta-feira
Natal, Cidade Alta e Ribeira
O bom você não sabe e eu lhe conto
O footing, à tardinha, no Grande Ponto!

É que Natal, como cidadela mais próxima da costa africana, era ponto estratégico por excelência, de importância vital, reconhecida e proclamada posteriormente como Trampolim da Vitória.

E pela Base de Parnamirim passaram a transitar, às centenas, diuturnamente, fortalezas voadoras transportando tropas, armas e víveres para fronts até então desconhecidos internacionalmente, mas que seriam celebrizados mais tarde como Tobruck e El Alamein, como os primeiros grandes passos da grande arrancada que seria, daí por diante, a caminhada até a parada final em Berlim. Enfim, a suspirada “virada” que transformaria os até então vencidos em vitoriosos.

Para garantir esta operação-África, foi preciso o suporte e o apoio logístico de milhares de brasileiros e estrangeiros, principalmente americanos que estabeleceram uma praça de guerra chamada Natal.

Uma base naval foi construída em tempo recorde, ampliadas e triplicadas as instalações da base aérea, construídos quartéis à toque de caixa, para alojar não apenas os infantes, mas grupos de artilharia antiaérea, de carros de combate, transferidos do sul do país.

Foi a época das noites de blecaute, do receio de ataques inimigos, dos ricos a construir abrigos sofisticados em suas residências e a Prefeitura a cavar abrigos populares em praças e terrenos baldios.

Eu disse, acima, praça de guerra? Pois era.

Um dia, tudo se modificou
O burgo se internacionalizou
Nas ruas, o alegre do my friend
Moçada, pela mímica, se entende
Natal entrou fardada na História
Para ser o Trampolim da Grande Vitória
Valeu o sacrifício do seu povo
Na guerra, meu Natal nasceu de novo!

E além do soldado e do marinheiro verde-amarelo, tornaram-se figuras corriqueiras a povoar avenidas, ruas e becos da cidade, gorros de marinheiro e fardas cáqui dos my friends.

Digo mais: quando a batalha africana atingia o seu clímax, Natal passou a ser a cidade-descanso, a cidade dos dias de licença dos combatentes.

E o que almejava um jovem de 21, 22 anos, com os bolsos cheios de dólares, doidos para esquecer a loucura dos campos de batalha e as longas vigias a bordo de belonaves? Divertir-se, gozar o hoje em toda plenitude, pois o amanhã era uma incógnita.

Na Cidade, então, floresceu um estranho comércio de bares, restaurantes, casas noturnas, joalheiros, grandes magazines, mercadores de mil e uma especiarias, 99% dirigidos por aventureiros de todas as nacionalidades e pátrias. Os quais, como tão céleres e misteriosamente aqui se instaram, também, num abrir e piscar d`olhos, cerraram portas e fizeram malas.

Quando terminada a Batalha da África, com a vitória aliada, as operações militares retornaram ao continente europeu, começando pela bota italiana da Sicília.

Mas, voltando à Natal nos anos 40, era natural, pois, que num clima de febricidade como aquele, houvesse freguesia para todos os gostos, mesmo os paladares mais requintados, a exigir bombons de luxo, doces em conserva, bebidas finas, artigos enlatados e conservas em geral.

Como disse o compositor em música, “na Guerra, meu Natal nasceu de novo”. Foi. Porque, desde então, o progresso instalou-se definitivamente como artigo de fé no burgo, arquivada, bem arquivada, aquela maldição e pecha infamante de terra do já teve.

Como quem queria recuperar o tempo perdido, Natal nunca mais parou de crescer, de expandir-se e ampliar-se em novos horizontes, de abrir novas artérias e, das artérias, multiplicar-se em novos bairros, povoando-os de belas residências.

O comércio, então, tornou-se tentacular, cada dia maior, ganhando a Cidade Alta, atingindo com força total o Alecrim.

Um pequenino detalhe que virou rotina e que até então ninguém dava a mínima importância: quem chegava ao burgo gostava de seu jeitão, do clima, da brisa que sempre sopra, vinda do Atlântico mesmo nas tardes mais quentes. Da beleza paradisíaca de suas praias. Da maneira de ser do seu povo simples, a transformar, em cinco minutos, em amigo do peito, cidadão a quem nunca vira mais gordo, e a levá-lo para sua casa e a franquear-lhe as delícias de sua mesa típica.

A carne seca com feijão verde, macaxeira, farofa de bola, manteiga de garrafa, peixada, a caranguejada, o sarapatel, camarões, lagosta, a boa caninha com caju de conta.

Acrescente-se este ar de permanente feriado que a cidade tem, a pedir pernas para o ar, lazer, languidez, alegria, boemia, violão, seresta, amor…

Fonte:  http://substantivoplural.com.br

 

Eu não tenho carro novo
Nem mansão à beira-mar
Mas o meu cuscuz com ovo
Se iguala ao seu caviar
Sou um simples cidadão
Se possível, dou a mão
Me dedico, me esforço
Não sou rico, nem baludo
NÃO TENHO O MELHOR DE TUDO
MAS FAÇO O MELHOR QUE POSSO

Fabio Gomes

sábado, 29 de agosto de 2020

A prece maior é ser feliz por nada.
É agradecer por tão pouco.
É amar até quem não nos ama...

É respeitar os limites, os medos, as diferenças.
É perdoar as ofensas, os erros, os espinhos .
É ter os olhos voltados para o sol.
É ter o coração tranquilo.
É levar uma semente de esperança onde a flor da vida já secou faz tempo... A Prece Maior a Gente Não Faz Ajoelhado, a Gente Faz Sorrindo.
_____________________
Cris Carvalho

 Não quero interromper

O Teu silêncio, oh Pai
Mas, é só orando
Que eu encontro paz
O vento da aflição
Quer apagar a chama
Da minha adoração

O mundo é um oceano
Minha carne é um furacão
Minha vida é um barquinho
Buscando direção
Descansa em minha alma
E acalma a tempestade
Que agita o meu coração

Acalma o meu coração
Acalma o meu coração
O vento está soprando
Mas é Te adorando
Que venço o mar da aflição

Acalma o meu coração
Acalma o meu coração
Só venço esse mundo
Se for em Tua presença
Acalma o meu coração

O barulho do mar
Vem pra me confundir
Oh, Pai não deixe as ondas
Minha fé diminuir
Perdoa se pensei
Que em meio ao Teu silêncio
Não estivesses aqui

Viver na superfície
Sem poder respirar
É o mesmo que morrer
Por não Te adorar
És meu oxigênio
Senhor sem Tua presença
Minha fé vai naufragar

Acalma o meu coração
Acalma o meu coração
O vento está soprando
Mas é Te adorando
Que venço o mar da aflição
Acalma o meu coração
Senhor, acalma o meu coração
Só venço esse mundo
Se for em Tua presença
Acalma o meu coração.


(Anderson Freire 🙌🏻)

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

 Assu Antigo

Casa (foto abaixo) então situada à Rua das Flores, que já foi denominada Rua Pedro Soares de Araújo Amorim e Siqueira Campos, atual Prefeito Manoel Montenegro, em frente ao Beco do Padre, atual Travessa Fernando Tavares, salvo engano, era de propriedade de Terezinha Lins Caldas Macedo que fora casada com o português João Macedo que depois fora adquirida por venda ou doação ao casal Maria Beatriz e Pedro Amorim (médico e político, deputado estadual e presidiu a assembléia legislativa), talvez por ele, Amorim, reformada (conforme a segunda fotografia abaixo, onde residiu durante décadas dr. Edgard Montenegro e Maria Auxiliadora Macedo Montenegro, filhos e netos. Na foto, sentados, conforme Pedro Otávio Oliveira que me forneceu a foto (eu já tinha visto há muitos anos atrás na casa de demócrito Amorim), da esquerda para direita as ilustres figuras como "Francisco Amorim (Chisquito), Candoca Amorim e Silva, ?, Lília Oliveira, ?, Monsenhor Júlio Alves Bezerra, ?, Rachel Rachelita Soares de Macedo,?, ?, Maria de Lourdes Amorim, ?, ?. De pé, primeira filha: ?, João Soares de Macedo, ?, ?, Pedro Soares de Araújo Amorim, Abdon de Macedo, João Celso Filho, Ezequiel Epaminondas da Fonseca Filho, ?, Manoel Soares Filgueira (ou Domício), ?, Francisco Baptista Ximenes. Segunda fila: ?, ?, ?, não estou lembrando o nome, Minervino Wanderley, Antônio Saboya de Sá Leitão,?, Gelon de Oliveira, ?, Demóstenes Amorim, ?, ?, ?, Plácido de Amorim e Silva, o pai de Horácio Amorim (acho que João Batista), ?, Manoel Cabral, ?, João de Sá Leitão (Giovane)." Esta foto eu já conhecia há muitos anos atrás, atualmente em poder de Pedro Otávio. Mas, existe outra foto original em poder de Gregório Macedo. A Fotografia fora tirada entre os anos 1920-25. Eis, portanto, outro importante registro do velho Assu. (Fernando Caldas).



 

 



PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...