segunda-feira, 25 de novembro de 2024

EU...TU

Eu sou doçura,
Mas o mel és tu
A imagem é minha,
Mas a cor é dada por ti
A flor sou eu,
Mas tu és a fragrância
Eu sou felicidade,
Mas a razão és tu...

Fátima Porto

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da nação e da formação múltipla da raça brasileira”, João Lins Caldas (nascido no Rio Grande do Norte em 1888, ano da abolição da escravatura no Brasil), já teria produzido no seu tempo de Rio de Janeiro, 1921, o poema patriótico e de exaltação ao Brasil intitulado 'Negra', que para Augusto Frederico Shimidt (1906-1965), o referenciado poema “vale por toda uma 'Raça' de Guilherme de Almeida." Vejamos os versos adiante transcrito:
O teu avô Costa d’África, filhinha,
Bárbaro, de uma negra irremediabilidade,
O teu avô, de tanga, acostumado ao Brasil.
Noites que despertou sob o chão do chicote!
O chão... tudo era um chão de látegos rangendo,
E ao longe o cafezal, a mata enorme se desbravando...
Hoje tem sangue turco em cada veia,
Um sangue português, a gemer gargalhada.
Um índio chegou, de solto, as tuas velas que se brilharam...
És muitos continentes, na verdade,
Quase negra, nos olhos,
Deixa ver-te os cabelos, enroscados,
Vamos, meu timbre louro,
Tu morrestes nas raças, diluída,
E nas raças do teu corpo eu que adoro a verdade.



segunda-feira, 18 de novembro de 2024

 NINGUÉM CONHECE NINGUÉM


Senhor: eu não acredito
Que ninguém escute o grito
De angústia que a fome tem.
Não quero saber quem foi,
Quem inventou o perdoe...
Se negando fazer bem.

A espécie humana rasteja,
Sem saber o que deseja
Nem mesmo para onde vai...
É marcha hostil da matéria,
Caminha tropeça e cai.

Não sei no mundo o que fui
Fui talvez Edgar Poe...
Um Agostinho... Um Plutão...
Nos festins da inteligência,
Mergulhei a consciência
E o vício estendeu-me a mão.

Na estrada dos infelizes
Na confusão dos matizes,
Nascem as flores também!
Sim, nos cérebros dos pobres
Há pensamentos tão nobres...
Ninguém conhece ninguém.

Fui nômade! Aventureiro,
Fui poeta seresteiro,
Um lovelace também!
Amei demais as mulheres
E procurei nos prazeres,
Marchar a face do bem.

Hoje, sinto a claridade,
Tenho, pois, necessidade
De meu passado esquecer.
Pouco importa os infelizes
À marcha das cicatrizes...
Se deixarem de doer.

Já viu lavar a desgraça?
Ou afogar na cachaça
A vergonha... a precisão?
É a fome conveniente
De tornar-se indiferente...
Podendo estender a mão.

Uma esmola por caridade:
É a voz da humilhação,
Morrendo de inanição
Não diga nunca perdoe,
Não queira saber: quem foi!
Esse alguém... é vosso irmão.


Renato Caldas

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

ALICE WANDERLEY poetisa de ilustre familia do Assu poético. Tipo baixa, olhos negros, se não me engano. Conheci dona Alice já usando bengala, tinha eu 9 anos de idade e morava a poucos metros de distância do seu rico casarão da Rua Algusto Severo. Lembro-me do pé de juazeiro, bem como um pé umbú verdadeiro que tinha no oitão da sua casa. Sempre me dava alguns umbús deliciosos e suculentos, quando entrava na sua residência de volta do Colégio das Freiras onde estudava. Por sinal, ela é madrinha de batismo de meu pai, além de parente. (Câmara Cascudo depóe que Wanderley e Lins Caldas pertence a mesma gens). Dona Alice ao perder na morte seu marido chamado Luiz Paulino cabral (que é nome de rua na cidade de Assu), passa a morar com seus dois irmãos solteirões convictos Solon e Afonso Wanderley (proprietários que foram da Padaria Santa Cruz (um ponto de encontro de intelectuais, políticos e figurões da cera de carnúba e algodão), vindo a falecer no dia 15 de março de 1964. Ainda guardo como lembrança de Alice uma cômoda que foi de sua propriedade, já com mais de cem anos. Alice Wanderley, no dia que completara 70 anos de idade, saudosa do marido amado que perdera na morte, escreveu:

Hoje subi a íngreme ladeira
Dos meus setenta anos de amargura,
Contrita, espero a hora derradeira
De descer desta escada a grande altura.
São setenta degraus! A vida inteira,
Outrora cheia de gentil ventura,
Foi uma alegre data alvissareira
Que transformou-se numa noite escura.
Talvez que se ele fosse vivo ainda,
Em nosso lar tranquilo e sossegado,
Reinasse a paz de uma alegria infinda.
Mais Deus levou-o nesta mesma noite,
Fiquei sentindo o travo da amargura
Da saudade cruel que fere e mata.

(Fernando Caldas)




quinta-feira, 7 de novembro de 2024


CALDAS, O POETA DE 'ISABEL'

João Lins Caldas nascido no Rio Grande do Norte, de família assuense, é tido por alguns conhecedores e críticos de arte moderna no Brasil como “o pai da poesia moderna brasileira”, pois, já no Rio de Janeiro, para onde regressou em 1912, conviveu nas portas das livrarias José Olímpio e Garnier, além do Café Gaúcho, com grandes nomes das letras nacionais como, por exemplo, Olavo Bilac, Monteiro Lobato, Lima Campos, Hermes Fontes, José Geraldo Vieira que fez Caldas personagem do seu romance ‘Território Humano”, 1936, encarnado no personagem “Cassio Murtinho”, já escrevia anonimamente versos brancos, emancipados de métricas, como o comovente poema ‘A Casa’, é uma prova que o poeta Caldas já escrevia versos modernos, muitos antes do Movimento de Arte Moderna, de 1922.
Portanto, relendo o livro póstumo de Caldas “Poética”, organizado por Celso Da Silveira, editado pela Fundação José Augusto, 1974, livro este que recebi de presente da escritora assuese, membro da Academia Norte Rio-grandense de Letras, Maria Eugênia Montenegro, observo numa das páginas daquela antologia um pequeno escrito do próprio punho daquela escritora, afirmando que o decantado poema ‘Isabel’, de autoria de Caldas, fora ‘irradiado pela BBC’, a exemplo de outro poema intitulado ‘Minha Dor Na Grande Guerra’.
Por fim, pesquisando no Arquivo Público de Pernambuco, sobre Caldas deparo-me numa edição do ano de 1974, do Diário de Pernambuco, uma nota do poeta Mário Mota que dirigia o Suplemento Literário daquele importante periódico, onde afirma que no citado livro de Caldas existe quatro ou cinco poemas que são dos mais belos da língua portuguesa, incluindo o poema Isabel, do poeta Norte-rio-grandense. Vejamos a imagem abaixo.
Fernando Caldas



QUEM?

Quem me ama
Me preserva
Único sou
Sem reserva
Quem me ama
Me namora
Não sou ontem
Sou o agora
Quem me ama
Bem me quer
Não me compara
Com um qualquer
Quem me ama
Me pergunta:
Me amas?
E quem nunca?
Quem me ama
Em mim deseja
Está contida
Mesmo que não esteja
Me ama de longe
De perto bem mais
Amor assim
Me mande sinais
Edivan Bezerra, poeta do Assu

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

O MUNDO É GRANDE

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
(Drummond de Andrade)

domingo, 3 de novembro de 2024

DILINA PRA CASAMENTO

Era o ano de 1949. Walter de Sá Leitão namorava Evangelina Tavares, por apelido Dilina, filha do casal Maria Celeste Tavares e Fernando Tavares, mais conhecido no Assu e região como Vemvém (meus avós maternos). Pois bem. Era dia do aniversário de Vemvém, comemorado na fazenda Tanques, com a presença de familiares e amigos. Entre tantos, Dix-Sept Rosado (que foi governador do Rio Grande do Norte, em 1951 (ambos eram além de amigos, duplamente compadres), Mário Negócio, Epifânio Barbosa, Expedito Silveira, José Gonçalves de Medeiros e Mário Negócio, entre outros. Os comes e bebes já tinha começado. Chega Walter (que já namorava Evangelina) e, ao abraçar o futuro sogro, saiu-se com essa: Vemvém, vou lhe pedi um presente!” “Peça, Walter, o que você quiser!”, disse o anfitrião.” Walter não deixou para depois, dizendo assim: “Quero Dilina, pra casamento!” E a risada foi geral.

Em tempo: O casamento de Evangelina e Walter fora realizado e teve como padrinhos Dix-Sept Rosado/ Adalgisa de Souza Rosado e Antônio Coelho Malta/Nancy Malta. Ele, Malta, agrônomo de Profissão que chegou no Assu procedente do Recife, para dirigir a Base física do então Distrito de Sacramento, atual Ipanguaçu. Antes, Walter teria se casado com Laurita Da Silveira (De Sá leitão por casamento), que veio a se encantar, poucos anos depois).

Fernando Caldas

 

sábado, 2 de novembro de 2024

ULISSES CALDAS DE AMORIM, se não me engano, era funcionário do DNOCS, escritório de Assu. Era meu parente e cheguei ainda a conhecê-lo. Pois bem. Ulisses não perdia um cortejo fúnebre, até mesmo de quem ele não conhecia, porém, quando chegava ao portão de entrada do cemitério, voltava pra casa. Certo amigo de Tio Ulisses (como ele era mais conhecido na cidade de Assu), indagou: Tio Ulisses, porque você quando acompanha um enterro e, ao chegar na entrada do cemitério, você não entra?” Ulisses sem nem pestanejar, respondeu: "Amigo, quem não é visto, não é lembrado."

(Fernando Caldas)

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

LUIZ CARLOS LINS WANDERLEY – 1831/1990, foi um dos primeiros poetas do Assu, primeiro médico e romancista do Rio Grande do Norte. Foi também Governador da província do Rio Grande e deputado provincial em várias legislaturas. Luiz Carlos ganhou várias comendas concedida por D. Pedro II. Ele, Wanderley, empresta o seu nome a uma das ruas da importante cidade de Assu, sua terra natal. Nos deleitamos com o poema A mulher e a rosa, recheado de ternura, deste bardo assuense que engrandece às letras potiguares:

Seu donaire, sua cor...
No perfume que desprende
Só rescende
Doces eflúvios de amor.
A mulher também formosa,
Como a rosa,
Tem graça, inocência, odor...
E em seus sorrisos de fala
Encantada
Nos inspira ardente amor...
Mas ah! depois que nos prende
Nos acende numa paixão fervorosa,
Fere a nossa’alma o aguilhão
Da traição
A mulher é como a Rosa...


(Postado por Fernando Caldas)



quarta-feira, 30 de outubro de 2024

SINHAZINHA WANDERLEY – Maria Carolina Wanderley Caldas (1876-1954), poetisa sonetista de Assu. Esses dois tercetos transcrito abaixo, do soneto intitulado Alvorada, é de uma beleza rara. Senão vejamos:

E quando enfim do coração se evola
A pureza da crença, que consola
O desalento, a mágoa, o pranto, a dor;
Vê-se que d’alma se irradia agora
A luz, tão bela como a luz d’aurora.
- O sol sem nuvens do primeiro amor.
(Postado por Fernando Caldas)



 


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 


AMO EM SILÊNCIO

Quisera eu encorajar um dia
Ante a ti revelar segredos
E te falar da minha covardia
Quiçá também expulsar os medos
Feliz talvez, sei que aliviaria
Falar do amor que sempre sentia
Ao te ver como meu enredo
Mas a timidez o meu ser invade
Minhas forças estão no além
Doi-me a alma só por piedade
Em pensar que tens um outro alguém
E a vontade aumenta a vontade
De revelar meu amor que na verdade
É só teu e de mais ninguém
No silêncio sigo imaginando
Por dentro o querer corroendo
O coração sempre perguntando
Até quando vás viver sofrendo?
Respondendo deixo soluçando
A solidão que segue aumentando
De amor vai enfim morrendo
Edivan Bezerra

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

 AUSÊNCIA


"Que ausência de tudo tua ausência me traz!
São feios os dias assim embassados
Através da cortinas dos olhos molhados.
Que visão tão triste é a visão da nada!
Não há brilho de sol, não há noite de estrelas,
Só angustia, angustia vazia de tudo,
E a esperança tão linge, num caminhar lento
Que envia a saudade nas asas do vento!

Que ausência tão triste é ausencia de ti!
Que silêncio tão quieto paralisando a vida.
Onde aquele incentivo pela luta unida!
Que tristeza é o vácuo tão morteo sem alma,
As pessoas vazias e as cousas vazias.
Vejo tudo tão longe e tão longe eu estou
Sem o sol dos teus olhos, sem ouvir tua voz!
Sem ter vida, amorr! Porque vida é só nós!... "





quarta-feira, 23 de outubro de 2024

 

A vida humana, seja ou não tranquila
profunda ou não, - só poderá senti-la
quem senti-la apaixonadamente.

Virgínia Victorina, poetisa portugesa





segunda-feira, 21 de outubro de 2024

 Fernando Caldas

 
Compartilhado com: Seus amigos
No dia Nacional do Poeta, vale a pena postar uma grande poesia de um grande poeta Norte-Riograndense, chamamado João Lins Caldas. Vejamos:
A nuvem grande desceu sobre a minha cabeça.
A nuvem grande e o vento grande. O céu
Despedio todos os raios sobre a minha cabeça.
Eu fiz o meu tumulto grande para o céu.
Eram nuvens rolando, atrôos, trovôes, relampagos fervendo...
E tudo a noite iluminando o céu.
... Quando cansado, sobre a terra, o sangue me levando,
Levantado, meu corpo era um gigante arfando...
E às mãos o alfange longo, demorado,
Decapitei-me na minha dor sangrando
Como um grande vulcão esfacelado...
E eu era em tudo sufocado
Gritando o mundo, a minha dor gritando...

SOBRE AFONSO SOARES DE MACEDO

Afonso de Macedo como era mais conhecido, nasceu na aristocrática cidade de Assu/RN, no dia 11 de outubro de 1887 e encantou-se em Salvador/...