Públio José – jornalista
(Públiojose@gmail.com)
A cena se passa numa das novelas da tv. Na sala de uma casa o telefone toca. A empregada doméstica vai atender, enquanto a dona da casa dialoga com o filho na faixa dos dez anos. A empregada tira o fone do gancho. Do outro lado da linha uma mulher se identifica e pergunta se a dona da casa está. Ao ouvir o nome da pessoa que está ao telefone, a patroa gesticula para a empregada, orientando-a a dizer que ela não está. O menino assiste à cena meio intrigado. Se a sua mãe está, porque dizer à empregada que não está? Cenas iguais a essa se repetem diariamente em todos os lugares do mundo. Tendo por base a mentira, as pessoas tentam, de todas as maneiras, se desvencilhar das dificuldades e vicissitudes que encontram pela frente. A saída, normalmente, é se livrar do problema entranhando-o de mentira. Nunca o encarando com coragem, firmeza, determinação. Porque será?
A mulher da novela é só um exemplo da maneira desonesta, irresponsável e inconseqüente que adotamos, na maioria das vezes, para resolver problemas do dia-a-dia. O pior é que nos esquecemos das pessoas que estão ao nosso redor, nos analisando, nos observando e nos adotando como modelo a seguir. Futuramente, o que a mãe que mente diante do filho, ainda pequeno, quererá dele quando tiver que vê-lo enfrentando suas próprias dificuldades? Que ele as enfrente esgrimindo a espada da verdade? Que ele pratique comportamentos que nunca presenciou em casa adotados pelos pais? Como, se diante de si teve sempre adultos como exemplos, como referenciais, mentindo, distorcendo, trilhando o caminho da mentira? Como, se assiste, diariamente, adulto já profissionalizado, o chefe na repartição utilizar-se prioritariamente da mentira para resolver o que surge no seu escaninho?
Pela televisão também assistimos as lideranças políticas darem um verdadeiro show no emprego da mentira, da falsidade, da dissimulação, quando tentam justificar seus maus feitos na vida pública. Porque o ser humano mente tanto? O mundo dos negócios, o das atividades esportivas e comerciais, por exemplo, também não ficam atrás. Nesse terreno é dado por inteligente, competente, sagaz, o que sabe utilizar, com o máximo da maestria, os instrumentos da mentira, da matreirice, do engano. Quando se ouve dizer “Fulano é competente” é porque, na maioria das vezes, o elogio está ligado ao uso descarado, pelo elogiado, da falta da verdade. O interessante, acima de tudo, é que aprendemos desde cedo, nos bancos escolares, no catecismo católico, nas escolas dominicais das igrejas evangélicas, que devemos nos valer da verdade sempre – defendendo-a e empregando-a ao longo da vida.
A respeito da questão, a Bíblia nos ensina que, para o cristão, o sim é sempre sim e o não é sempre não. Nos esclarece, ainda, que os mentirosos jamais herdarão o reino dos céus. Jesus salienta, também sobre o assunto, que o Diabo é o pai da mentira. Logo, quem se utiliza rotineiramente do seu uso está fazendo o jogo daquele que, segundo Jesus, só veio para matar, roubar e destruir. O interessante é que, ao sairmos da inocência da infância para o jogo bruto do aprendizado profissional, somos sempre instruídos a fazer da mentira um instrumento valioso para o alcance do sucesso. Esse comportamento vai deixando seqüelas irreparáveis ao longo de nossas vidas e criando, ao nosso redor, seguidores fiéis, aprendizes capacitados a se exercitarem na prática da mentira. Ah, a mentira. Como se livrar do seu veneno? Como deixar de vê-la nos outros e de usá-la no dia-a-dia?