quarta-feira, 18 de novembro de 2020

 Não te quero senão porque te quero

e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.
Quero-te apenas porque a ti eu quero,
a ti odeio sem fim e, odiando-te, te suplico,
e a medida do meu amor viajante
é não ver-te e amar-te como um cego.
Consumirá talvez a luz de Janeiro,
o seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.
Nesta história apenas eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.

Pablo Neruda
A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, casamento e atividades ao ar livre
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 POUCAS E BOAS

Valério Mesquita
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Mossoró foi a Pasárgada do prefeito Dix-Huit Rosado. Seu encanto, fascínio e sedução. Nessa época, ele era o seu alcaide o domador da fúria das águas do rio Mossoró que, nas invernadas, inundavam parte da cidadela. Implementado o seu projeto de dicotomia do rio Mossoró, julgou superado o problema das enchentes definitivamente. Mas, como era do seu espírito indômito, na época do inverno, permanecia vigilante, caminhando altaneiro pelas margens, buscando notícias de chuvas caídas na região da tromba do elefante. Numa tarde, João de Malaquias, vigia dos depósitos das lojas Checernay que ficavam próximos ao rio Mossoró e pastorador primeiro dos anúncios de enchentes, foi assim interrogado pelo prefeito Dix-Huit: “Alguma notícia, João, de águas provindas do município de Pau dos Ferros?”. Na sua sapiente humildade, João de Malaquias foi profundo: “Não dá pra saber Dr. Dix-Huit, porque as águas estão chegando misturadas...”
02) Presença do governo em Mossoró. Os eventos políticos e administrativos entraram noite adentro. Após reuniões e inspeções, o coronel Gadelha, comandante geral da PM, resolveu procurar com o ajudante uma farmácia na cidade para curar uma forte dor de cabeça. Após uma certa procura, divisou ao longe um letreiro: “Farmácia Dia e Noite”. Sentiu um alívio prévio e ordenou ao motorista para se aproximar. Para a sua surpresa estava fechada. Pensou que fosse engano, pois afinal, era 01:30 da madrugada e resolveu bater a porta. De dentro da farmácia ninguém saiu mas um vizinho ao lado, acordado pelas pancadas, assomou à janela para dizer: “Ela só abre de dia ou de noite e agora já é madrugada”. Gadelha agradeceu e sumiu sem entender bulhufas do fuso horário nem dos costumes do país de Mossoró.
03) Luiz de Oliveira, do Assu, foi um bem-sucedido comerciante. Seu estabelecimento de secos e molhados vendia em grosso e a varejo. Parte do seu sucesso era devido à avareza. Não dava um “pão a um doido”, diziam na cidade. Na semana santa, observando a paisagem da calçada do comércio avistou o pai e o sogro que certamente viriam pegar algum auxilio, pois eram pobres. De repente, Luiz chamou a esposa: “Joaninha, lá vem teu pai e o meu. Encha aí as sacolas deles com alguma coisa, que eu vou sair por aí. Eu não posso assistir dar o que é meu”.
04) Nos anos 1960, a feira livre do Assu era mais desenvolvida e frequentada por feirantes de Angicos, Afonso Bezerra, Augusto Severo e vizinhanças. O misto de Petronilo, um Chevrolet gigante, rodava lotado, cobrindo o mato de poeira, mas à tarde estava de volta. Os feirantes soltavam pilhérias com quem cruzava. O velho Neo Pinto, morador do sítio Quixabeirinha, todas as tardes tirava uma soneca no alpendre à beira da estrada. Murilo Caiana, um passageiro presepeiro, gritava sempre: “Tá descansando, heim, corno véio?”. O riso era geral e a viagem prosseguia. Um dia, o caminhão furou um pneu a poucos mais de quinhentos metros da casa de Neo Pinto. O grito de “corno véio” ainda ecoava no ar. Neo Pinto levantou da rede, apanhou uma espingarda calibre 36 e aproximando-se do caminhão cumprimentou: “Boa tarde, pessoal!”. Responderam uníssonos: “Boa tarde!”. O velho interrogou: “Eu queria saber quem é o f.d.p. que grita toda vez: ‘Tá descansando corno veio?’. Todo sábado eu escuto isso!”. E engatilhando a arma: “Fala gente! Quem grita isso?”. Ninguém falou. “Vamos bando de cornos!”, gritou Neo, já irado. “Não tem homem, não?”. Todos olharam para Murilo Caiana, cobrando uma atitude. O engraçado, amarelo de medo, tentou remendar: “Meu patrão, quem falou foi eu... Porém, o senhor entendeu errado. Eu digo assim: Tá descansando, heim, corpo véio?”. E ainda, meio tremulo, concluiu: “O senhor desculpe. Daqui pra frente, não digo mais nada”. A merda descia no mocotó...

terça-feira, 17 de novembro de 2020

 Adriano Medeiros Fatos e fotos de Natal Antiga

LUÍS DA CÂMARA CASCUDO, POR ELE MESMO
Câmara Cascudo
Nasci na rua das Virgens e o padre João Maria batizou-me no Bom Jesus das Dores, Campina da Ribeira, capela sem torre mas o sino tocava as Trindades ao anoitecer. Criei-me olhando o Potengi, o Monte, os mangues da Aldeia Velha onde vivera, menino como eu, Felipe Camarão. Havia corujas de papel no céu da tarde e passarinhos nas árvores adultas (...). Natal de 96 lampeões de querosene. Santos Reis da Limpa em janeiro. Santa Cruz da Bica em maio. Senhora d’Apresentação em novembro. Farinha de castanha e carrossel. Xarias e Canguleiros. (...). Tinha 13 anos quando veio a luz elétrica. Festas no Tirol. Violão de Heronides França. Livros. Cursos. Viagens. Sertão de Pedra e Europa.
Nunca pensei em deixar a minha terra.
Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço. Percepção medular da contemporaneidade.
Nossa casa hospedou a Família Imperial e Fabião das Queimadas, cantador que fora escravo. (...) Filho único de chefe político, ninguém acreditava no meu desinteresse eleitoral. Impossível para mim dividir conterrâneos em cores, gestos de dedos, quando a terra é uma unidade com sua gente. (...) Dois homens quiseram fixar-me fora de Natal: Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e Agamenon Magalhães, no Recife. Jamais os esquecerei porque nada pedira. Alguém deveria ficar estudando o material economicamente inútil. Poder informar dos fatos distantes na hora sugestiva da necessidade.
Fiquei com essa missão.
Andei e li o possível no espaço e no tempo. Lembro conversas com os velhos que sabiam iluminar a saudade. Não há recanto sem evocar-me um episódio, um acontecimento, o perfume duma velhice. Tudo tem uma história digna de ressurreição e de uma simpatia. Velhas árvores e velhos nomes, imortais na memória.
Em 1946 fiz parte de uma comissão enviada pelo Ministério das Relações Exteriores ao Uruguai. Éramos três: Aluísio de Castro, Angione Costa e eu, único sobrevivente. Voltando, contou-me Aluísio de Castro que Afrânio Peixoto (escritor baiano), sabendo da expedição cultural, dissera num leve riso: "E ele deixou o Rio Grande do Norte? Câmara Cascudo é um provinciano incurável!".
Encontrara meu título justo, real e legítimo.
Provinciano incurável! Nada mais.



Natal tem primeiro vereador cadeirante eleito: 'Teremos um representante legítimo'

Tércio Tinôco (PP) diz que vai lutar por uma cidade com mais acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiência. Ele é presidente da Sociedade Amigos do Deficiente Físico (Sadef).

Por G1 RN

 


Tércio Tinoco tem 33 anos e foi eleito vereador em Natal — Foto: Divulgação

Tércio Tinoco tem 33 anos e foi eleito vereador em Natal — Foto: Divulgação

O administrador de empresas Tércio Tinôco (PP) foi eleito vereador de Natal no pleito eleitoral deste domingo (15) e vai se tornar o primeiro cadeirante no cargo na capital potiguar.

Ele conquistou 3.101 votos e vai ocupar uma das 29 vagas na Câmara Municipal a partir de 2021, sendo um dos 14 novos nomes para a próxima legislatura.

Aos 33 anos, Tércio Tinôco, que é presidente da Sociedade Amigos do Deficiente Físico (Sadef) desde 2016, diz que decidiu entrar na vida pública para atuar em favor das pessoas com deficiência, buscando uma cidade com mais inclusão.

"Somos cerca de 28% da população, mas só agora vamos ter um representante legítimo na Câmara, que vivencia todas as dificuldades do dia a dia em uma cidade que ainda precisa ser mais inclusiva", disse.

"O trabalho que eu sempre fiz em benefício das pessoas com deficiência vai poder ser ampliado com minha presença na Câmara".

O novo vereador conta que recebeu grande apoio das pessoas com deficiência durante a campanha.

"Tive muito apoio de pessoas com deficiência que se identificaram com a minha bandeira, de mais inclusão e equidade", falou.

Tércio diz que luta por uma cidade mais inclusiva — Foto: Divulgação

Tércio diz que luta por uma cidade mais inclusiva — Foto: Divulgação

Natalense, Tércio Tinôco fundou, através da Sadef, o projeto Natal Praia Inclusiva, que dá a possibilidade de pessoas idosas e com deficiência irem à Praia de Ponta Negra nos fins de semana e tomarem banho de mar com cadeiras equipadas.

O novo vereador lembra que ficou tetraplégico aos 18 anos, ao pular em uma piscina e bater com a cabeça no fundo. Desde então, garante lutar por acessibilidade e inclusão.

"Minha eleição também é um reconhecimento de tudo que já fiz pela categoria, mesmo sem um mandato. Agora vamos poder fazer muito mais", disse.

sábado, 14 de novembro de 2020

Bom dia meus conterrâneod(as):

Como bom assuense e por entender que o vereador deve ser um voluntarioo servidor público, resolvi tomar a decisão de renunciar o salário de 8 mil reais que recebe um vereador do Assu, conforme instrumento público adiante, já registrado no Conselho Nacional de Justiça.

Fernando Caldas







quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Serviço na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves pode reduzir abastecimento de água em 16 cidades até terça-feira, diz Caern

 

Foto ilustrativa: Felipe Alecrim/IGARN

A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) informa que um serviço que será realizado na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, maior reservatório do estado, pode reduzir o abastecimento em 16 cidades do estado entre sexta (13) e terça-feira (17). De acordo com o órgão, o motivo é o fechamento das comportas da barragem neste período, o que foi comunicado pela Agência Nacional de Águas (ANA).

A obra estava prevista inicialmente para outubro, mas foi adiada para este mês de novembro. Os municípios que podem ser afetados são  Mossoró; Serra do Mel; Assú; Pendências; Macau; Guamaré; Alto do Rodrigues; Carnaubais; Angicos; Fernando Pedroza; Pedro Avelino; Lajes; Caiçara do Rio dos Ventos; Pedra Preta; Jardim de Angicos; e Riachuelo

Para evitar a perda no fornecimento, a Central Geradora Hidrelétrica (CGH) liberou a água da Armando Ribeiro Gonçalves nesses dias anteriores à parada e também está liberando através do açude Mendubim. O objetivo é garantir água nas áreas de captação da Caern, enquanto o serviço estiver sendo realizado.

Apesar disso, a Caern informou que durante o serviço, que vai durar cinco dias, pode haver imprevistos que reduzam a oferta de água. Por isso, o órgão pede que a população faça uso racional da água.

Quando as comportas forem reabertas, haverá liberação de água nos dias subsequentes ao serviço, também para regularizar a quantidade de água nas captações.

G1-RN



Ah imensidão de pinheiros, som de ondas quebrando,jogo lento de luzes, sino solitário,crepúsculo caindo em seus olhos, boneca,concha terrestre, em você a terra canta!
Em ti os rios cantam e a minha alma neles fogecomo queres e para onde queres.Marque meu caminho em seu arco de esperançae eu liberarei meu rebanho de flechas em delírio.
Ao meu redor vejo tua cintura de névoae teu silêncio assombra minhas horas perseguidas,e és tu com teus braços de pedra transparenteonde ancoram meus beijos e meus úmidos ninhos de saudade.
Ah, sua voz misteriosa que o amor tinge e se curvano crepúsculo e moribundo!Assim, nas horas mais profundas, sobre os campos, tenho vistoespigas de milho dobrar-se na boca do vento.

Pablo Neruda





 

 Corpo de mulher, colinas brancas, coxas brancas,

você se parece com o mundo em sua atitude de entrega.
Meu corpo de camponês selvagem te mina
e faz o filho pular do fundo da terra.
Eu era como um túnel. Os pássaros fugiram de mim
e a noite entrou em mim com sua poderosa invasão.
Para sobreviver, forjei você como uma arma,
como uma flecha em meu arco, como uma pedra em minha funda.
Mas chega a hora da vingança, e eu te amo.
Corpo de pele, musgo, leite guloso e firme.
Ah os óculos do peito! Ah, os olhos da ausência!
Ah, as rosas púbicas! Ah sua voz lenta e triste!
Corpo de minha mulher, persistirei em sua graça.
Minha sede, meu desejo sem fim, meu caminho indeciso!
Canais escuros onde a sede eterna continua, a
fadiga continua e a dor infinita.
Pablo Neruda

Arte:Omar Ortiz






terça-feira, 10 de novembro de 2020

POUCAS E BOAS

Valério Mesquita
Mesquita.valerio@gmail.com
01) O abastado João Salustino, pecuarista famoso no município de Augusto Severo, tinha por hábito recepcionar o vigário Militino. A coisa ficou tão trivial que o sacerdote já tomava café e almoçava na fazenda em horas certas e incertas todos os dias. O tempo passou e, um dia, o fazendeiro faleceu. Padre Militino, no entanto, não mudou os hábitos e os costumes. Uma manhã, Salustino Neto, garoto de 12 anos de idade, perguntou: “Padre, daqui até ao céu, é muito longe?”. “É, Netinho”, sintetizou o religioso. “Você tá vendo aquela rocha alta?”, apontou para uma pedra enorme. “Tou”, disse o menino. “Pois bem, se fosse possível jogar essa pedra rumo ao céu, ela passaria milhões de anos para chegar lá...”. O jovem, de repente, cortou a “via Láctea” da pedra, e corrigiu: “Mas se rebolasse o padre de lá pra cá, o senhor ainda chegava antes do almoço, num era?”. Militino emudeceu.
02) Muito antes da “era cibernética”, quando até emissora de rádio “era luxo”, vários municípios montavam suas “divulgadoras”, a “Voz do Município”, etc. Com Parnamirim não foi diferente. O locutor oficial Douglas Silva – nome artístico – deitava falação. No quadro “Mensagens musicais”, o moço mandou o verbo: “Atenção Maria Lúcia, assim como as flores se abrem para receber o orvalho matinal, “também se abra” para receber “Cabeça Inchada”. O vinil rodava “Estou doente morena, doente tô morena, cabeça inchada morena, tô, tô e tô”. O disco parou de rodar e, Douglas parou na delegacia par explicar o real com o subentendido.
03) O cabaré da 15 de Novembro na Ribeira, foi palco de muitas badernas, principalmente entre soldados do Exército e marinheiros. Numa dessas brigas, um marujo, bom de rasteiras, deu um trabalho imenso à patrulha. Dominado, foi levado à presença do coronel chefe da antiga “ordem social”. O marujo se dizia graduado e queria ser levado para a base naval. Chegando na sala do comando, o moço explanou ao coronel que lia um jornal: “Ô bicho, manda teus “bichanos” tirar as mãos de mim. Eu quero ir pra minha base. Sou carioca e tô a passeio. Vê lá. Borraram minha farda. Vamos lá, ô meu!”. E haja xingamentos. O coronel levantou da cadeira e, do alto das botas disse: “Eu sou herói de guerra. Voltei da Itália com duas medalhas. Sou coronel do Exército, advogado, chefe deste departamento e acho que ainda não sou merda nenhuma”. E arregalando os grandes olhos: “O que você pensa que é seu, imbecil?”. O marujo baixou a vista e o facho: “Desculpe coronel. O bosta daqui sou eu mesmo”.
04) Nos anos 1950, a pederastia ainda não corria à solta. Mas, o sargento Ferreirinha se viu às voltas com um problema até certo ponto constrangedor. Dois pederastas e mais um mecânico foram pegos praticando atos libidinosos no escurinho de uma praça. Dormiram no xadrez e, pela manhã, o sargento Ferreirinha foi ter uma conversa com os três. “Você aí”, interroga o delegado, “faz o que na vida?”. O rapaz respondeu: “Eu sou mecânico”. “E vocês dois?”, indaga o sargento. “Bem, seu delegado”, disse um, falando pelos dois: “Nois num trabalha. Nois só é boneca”. O delegado fitando a dupla corrigiu: “Vagabundos analfabetos! ‘Nois é’, não! Nós somos”. A segunda “bichinha” remendou: “Desculpe, sargento. Nois numsabia que o senhor também era...”.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O homem mais alegre do mundo

Vai agora soltar a sua risada...

Eh! camarda!...

Eu sou o homem mais alegre do mundo.

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...