segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Capa da 2ª edição do Fulô do Mato publicado em 1953, pela Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, enviado pelo matrogrossense Salomão Rovedo, uma prova que o bardo assuense Renato Caldas ainda é uma figura das letras matutas conhecida em todo o Brasil. Guardo comigo a primeira edição sem, emprestado pelo médico e cel. da Policia Militar Franklin Firmino.
(Fernando Caldas)


 


Capa do livro Fulô do Mato, segunda edição, Tribuna da Imprensa, do Recife (1953). Enviado por Salomão Rovedo.
O título do livro é o mesmo título do poema em linguagem matuta que abre as páginas daquele volume: Senão vejamos:
Sá Dona, vossa mecê,
é a fulô mais cheirosa,
a fulô mais prefumosa
Qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume,
de tudo qui fô prefume,
de tudo qui fô fulô
qui nem um, nenhuma só
tem o cheiro do suó
qui o seu corpinho suô.
- Tem cheiro de madrugada,
fartum de reia muiáda
qui o uruváio inxombriô.
É um cheiro bom, déferente,
qui a gente sentindo, sente,
das outa coisa o fedô.
Renato Caldas, poeta do Assu que o Brasil consagrou. Discípulo do menestrel Catulo Da Paixão Cearense, autor da célebre canção 'Luar do Sertão!.
Pode ser uma imagem de texto
Assu Antigo
Comunidade

terça-feira, 29 de agosto de 2023

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

 

INXURRADA MARDITA
Capítulo 1
J. A. Simonetti

Sentado no terreiro com os pés dentro de uma poça d'água, Antônio recorda a seca, enquanto seu coração lamenta a chuva.

*

“Seu moço, inda me alembro,
me alembro cuma ninguém
o tempo véio num léva
aquilo qui se quiz bem,
nem hai dinheiro qui págue
um amô qui a gente tem.

Faz muito tempo, seu môço,
nós morava no sertão
e a sêca véia danasca
veio qui nem um ladrão,
furtando os verde das fôia,
rôbando ás águas do chão.”

*

Depois das rezas e benditos e finda a esperança a solução era partir para sobreviver na cidade grande.

Antônio e Francisco parados junto a porta da casa maltratada pelo tempo observam as nuvens claras no horizonte.

Na paisagem seca um grupo de retirantes caminha fugindo do sol, que do céu castiga a terra dura e árida pela falta de chuva.

Como que hipnotizados pelo calor escaldante os irmãos Francisco e Antônio tentam resistir as claras nuvens que no céu vão sumindo para dar lugar a pálida imensidão azul.

Os irmãos caminham pelo terreiro com passos incertos.

Francisco, sentado embaixo do pé de juá, observa o dia querendo ir embora.

- Mais um dia que se vai. - Comenta com seu irmão Antônio.

Antônio olha para a imensidão seca.

- E nós aqui, né Francisco? Vamo imbora, meu irmão. Vamo s'imbora.

Amanhã - Capítulo 2

INXURRADA MARDITA
Baseada na obra de Renato Caldas
@todos
@ja_simonetti 
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Maria Helena DE Sá Leitão, José Alberto Simonetti e outras 4 pessoas

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Justiça do Trabalho vai realizar audiências na edição do Justiça na Praça em Assú


O vice-presidente, desembargador Eduardo Rocha, e a Vara do Trabalho de Assú vão representar o Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região (TRT-RN) no projeto Justiça na Praça, que será realizado na cidade no dia 17/08. O projeto é realizado pelo Tribunal de Justiça do RN com diversas instituições parceiras e leva serviços judiciais, de saúde e informativos para a população.

A ação vai acontecer na Praça São João Batista, na Av. Presidente Getúlio Vargas, 89, Centro, em Assú, a partir das 8h, e vai contar com a emissão de RG, de 2ª via de certidão de nascimento, com serviços eleitorais e ligados à Marinha do Brasil, além de jogos e recreação, aplicação de flúor, atendimento odontológico, psicológico e de clínica geral. 
O vice-presidente do TRT-RN, desembargador Eduardo Rocha, também estará presente no Justiça na Praça e terá reuniões com advogados e com o chefe do Executivo Municipal, Gustavo Soares.
“É com imensa satisfação que estaremos na cidade de Assú, cumprindo uma das promessas da atual administração, que é encabeçada pelo desembargador Eridson Medeiros, nosso presidente, de que a Justiça do Trabalho iria, literalmente, à Praça Pública na busca pelas conciliações”, disse o vice-presidente.
Para o desembargador Eduardo Rocha, é importante que a Vara do Trabalho de Assú participe do projeto “tentando solucionar de forma mais rápida os conflitos e encerrando o processo, independente da fase que ele esteja, lembrando ainda que a solução é construída por quem está diretamente envolvido que são as partes”, avaliou.
No dia do evento, a partir das 9h, na Câmara Municipal, a equipe da Vara do Trabalho de Assú e do Cejusc Natal vão iniciar uma pauta com processos de conciliação nas fases de conhecimento e execução.
“Estamos bem engajados e, com o apoio do Cejusc Natal, realizaremos um mutirão de cerca de 50 audiências de conciliação, tentando resolver pela composição amigável diversos processos em curso na Vara do Trabalho de Assú”, informou a juíza titular, Maria Rita Manzarra. 
Além das audiências, a unidade judiciária vai disponibilizar serviços de reclamação a termo quando “as partes poderão ajuizar reclamações trabalhistas, ainda que não assistidas por advogado”, explicou a magistrada.
O projeto será encerrado com a realização de um casamento coletivo, na Praça São João Batista, a partir das 17h. Além do TRT-RN, participam do Justiça na Praça em Assú as instituições Câmara Municipal de Assú, Senai, Senac, Corregedoria, Ser Mulher, TRE, Assembleia Legislativa, Cejusc Vara de Assu, 2 ofício de Notas, Marinha, PM, Itep, Codaci, entre outras.

Fonte
Comunicação TRT-RN

sábado, 12 de agosto de 2023

Por Diogenes da Cunha Lima 
 

[ Escritor, advogado e presidente da ANL ]

Nenhuma região do país é tão pródiga na inventividade como o Nordeste. A arte do repente identifica a nossa região. É o exercício da poética popular, do sertão ao litoral, com versos de fazer inveja a poetas eruditos.

O repente nordestino é duelo verbal de cantadores com o acompanhamento de viola, rabeca ou pandeiro (embolada). Em todas as suas formas, participa do rico Patrimônio Imaterial do Brasil. É o diálogo do improviso e da liberdade vocabular.

Muito se discute sobre a sua origem. Como sempre, Câmara Cascudo vai mais longe. Para ele é o desafio oriundo do canto amebeu, grego, do tempo de Homero. É canto alternado, obrigando resposta às perguntas do companheiro.

Muitos poetas cantadores tornaram-se célebres. Pinto do Monteiro (sempre considerado o mestre da cantoria), um dia, recebeu Lourival Batista, crescente em versos quentes. Glosaram os dias da semana com o humor produzido por trocadilho. Pinto: “No lugar que Pinto canta/não vejo quem o confunda. / Que o rio da poesia/o meu pensamento inunda. /Terça, quarta, quinta e sexta, /sábado, domingo e segunda”. Lourival respondeu: ”Sábado, domingo e segunda, /quarta e quinta. / Na sexta não me faltando/a tela, pincel e tinta/pinto pintando o que eu pinto. /Eu pinto o que o Pinto pinta”.

Ninguém sabe dizer melhor das coisas da região do que o poeta mossoroense Antônio Francisco. É sempre expressiva a sua linguagem para fazer pensar. Brevíssimo exemplo: Falando sobre a fome, ele começa: “Engoli três vezes nada...”.

Fabião das Queimadas, escravo que tangia bem o verso e a rabeca, foi provocado para falar sobre a paga dos seus vinténs arrecadados. Que seria um poeta? Ele explicou: “Canta longe um passarinho/do outro lado do rio, /uns cantam porque têm fome, /outros cantam por ter frio. /Uns cantam de papo cheio, /outros de papo vazio”.

Não era cantador, mas poeta popular, popularíssimo. Aliás, Renato Caldas foi um lírico, improvisador, bem-humorado. Pediram-lhe que fizesse saudação ao escritor e pintor Newton Navarro. Versejou: “Adão foi feito de barro/mas você Newton Navarro foi feito de inspiração. / Dos passarinhos, das cores/da noite feita de amores/do luar do meu sertão”. Certa vez, o poeta tomou café em uma residência na cidade de Angicos e ao guardar suas coisas, distraidamente, incluiu uma colherinha. Já na sua cidade, em Assu, verificou o equívoco e voltou. Desculpou-se dizendo: “Eis aqui, dona Chiquinha, /devolvo sua colher. / De coisa que não é minha/eu só aceito mulher”.

Na função de conselheiro do Iphan, esforçar-me-ei para que o Repente Nordestino seja reconhecido como Patrimônio Imaterial Brasileiro. 


quinta-feira, 10 de agosto de 2023

 


A poesia fugiu do mundo.

O amor fugiu do mundo —
Restam somente as casas,
Os bondes, os automóveis, as pessoas,
Os fios telegráficos estendidos,
No céu os anúncios luminosos.
A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente os homens,
Pequeninos, apressados, egoístas e inú.teis.
Resta a vida que é preciso viver.
Resta a volúpia que é preciso ma.tar.
Resta a necessidade de poesia, que é preciso contentar. |
—Augusto Frederico Schmidt, "Vazio".

sábado, 5 de agosto de 2023

Porque quero o teu amor?
Porque tanto ti quero
Quero o teu amor
Porque ti quero tanto,
Tanto, tanto, tanto ti quero...


segunda-feira, 31 de julho de 2023

Carolina Marcello

Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

1. Canções de atormentar, Angélica Freitas

Angélica Freitas (1973) é uma poeta e tradutora nascida no Rio Grande do Sul que tem sido apontada como um nome de destaque na poesia contemporânea nacional. A autora ganhou mais notoriedade com o livro um útero é do tamanho de um punho (2012), uma reflexão poética acerca do gênero feminino.

Canções de atormentar (2020), sua obra mais recente, combina um olhar nostálgico sobre a infância e o passado com uma visão crítica aguçada acerca dos problemas sociopolíticos atuais.

Seus poemas, atravessados por um tom de humor e rebeldia, se focam em temas tão vastos como o amor, a desilusão e as complexidades da vida cotidiana.

https://www.culturagenial.com/






terça-feira, 25 de julho de 2023

Por Fernando Pessoa

Meus versos são meu sonho dado.
Meus versos são meu sonho dado.
Quero viver, não sei viver,
Por isso, anónimo e encantado,
Canto para me pertencer.
O que salvamos, o perdemos.
O que pensamos, já o fomos.
Ah, e só guardamos o que demos
E tudo é sermos quem não somos.
Se alguém sabe sentir meu canto
Meu canto eu saberei sentir.
Viverei com minha alma tanto
Tanto quanto antes vivi.

Poesias Inéditas (1919-1930)









segunda-feira, 24 de julho de 2023

LEMBRANDO MOYSÉS SESYOM


Imagens do livro Eu Conheci Sesyon de Fracisco Amorim.

Moysés Lopes Sesyom (1883-1932), nasceu no dia 28 de julho de 1883, no sítio Baixa Verde, Caicó (RN). Sesyom (Moysés ao contrário), viveu grande parte da sua vida na cidade de Assu, onde chegou por volta de 1905, aos 17 anos de idade. Não foi difícil para ele, Moiysésconquistar amizades influentes do Assu. Naquela terra assuense, já adulto, aos 30 anos de idade começou a produzir versos satíricos, chistosos, fesceninos, que lhe fez poeta consagrado. Ficou conhecido como "O Bocage Riograndense". Câmara Cascudo em seu livro intitulado "O Livro das Velhas Figuras, volume 4, depõe que Sesyom, "sem saber, era poeta verdadeiro, espontâneo, inesgotável, imaginoso, original".

Certa dia, bebendo num botequim qualquer da cidade de Assu, alguém lhe dera o seguinte mote: "Bebo, fumo, jogo e danço / Sou perdido por mulher". Aí aquele bardo boêmia, escreveu na hora, a  décima que se tornou célebre, conforme adiante transcrita:


Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer,
Mas, enquanto eu não morrer
- Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canço,
Me censure quem quiser...
Enquanto eu vida tiver
Cumprindo essa sina venho,
Além dos vícios que tenho,
Sou perdido por mulher!...

Sesiom se fez poeta na cidade de Açu/RN onde conviveu com grandes figuras abastarda da cidade. Seus versos populares/fesceninos estão espalhados país a fora. Ele está citado em diversas antologias dos poetas potiguares, na literatura popular brasileira como "O Bocage Norte-rio-grandense". 

Câmara Cascudo sobre Moysés Sesiom, escreveu "poeta querido, de vida atribulada, de existência dura, de morte cruel. Vezes, horas e horas ouvi recitar versos de Sesiom, recordando a boemia, vivendo o anedotário, rico de episódios chistosos".

Sesiom imortalizou-se no filme intitulado "O Homem Que Desafiou o Diabo", 2007, baseado no romance sob o título "As pelejas de Ojuara", do escritor potiguar Ney Leandro de Castro. O referenciado romance conta a história de Zé Araujo (Marcos Palmeira), um cacheiro viajante que foi obrigado a casar com um proprietário de uma mercearia e trabalhar com o sogro (por quem foi muito humilhado). Zé ao chegar num certo bar da cidade conheceu  no balcão daquele botequim um senhor cujo nome é Sesiom. Aí, Zé fica sabendo que Sesiom é Moisés ao contrário. Logo teve a ideia de inverter o seu nome passando a se chamar Ojuara.

E declama aquele ator encarnado em Araujo, os seguintes versos:

Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer,
Mas, enquanto eu não morrer,
Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canso,
Me censure quem quizer!
Enquanto eu vida tiver,
Cumprindo essa sina venho,
E, além dos vícios que tenho,
Sou perdido por mulher!

A glosa abaixo, é uma das mais notórias que Sesyom produziu. Vamos conferir:

Isto ontem aconteceu
Debaixo da gameleira.
Foi um tiro de ronqueira,
O peido que a doida deu.
A terra toda tremeu,
Abalou todo o Assu,
Ela mexendo o angú,
Puxou a perna de lado.
Deu um peido tão danado
Quase não cabe no cu.

De outra feita, Sesyom embriagado pelas ruas da cidade de Assu, fora convidado por um sargento da então Guarda Nacional, hoje Polícia Militar, para dormir na cadeia. Naquela hora vinha chegando o delegado. Logo mandou relaxar a prisão, pois se tratava de uma pessoa muito conhecida e estimada por todos da terra assuense. Sesiom ali mesmo glosou:

Sargento as suas divisas
Deus terá de protegê-las
Dos braços irão para os ombros
E aí serão estrelas.
E Deus há de me dar vida
Para que eu possa vê-las
O Cabo que aí está
Nunca será um tenente.
O galão que ele terá
É um galão diferente:
È um pau com duas latas,
- Uma atrás, outra na frente.

Em tempo: Os versos acima, se não me engano, é também atribuído ao poeta João de Papai, membro da família Soares de Macedo, do Assu!

A glosa transcrita abaixo, Sesyom produziu logo que recebeu o mote de um amigo quando tomava umas e outras no bar do Hotel Pátria, da cidade de Assu, que diz assim:

A sua raça é safada
Desde a quinta geração
Seu avô foi um cabrão
Sua avó, puta de estrada
Sua filha, amasiada
Prostituta uma netinha
Uma irmã que você tinha
Esta pariu de um criado
Seu pai foi corno chapado
Sua mãe foi fêmea minha.

Sesyom morreu no dia 9 de março de 1932, e está sepultado no Cemitério São João Batista, na cidade de Assu.

(Fernando Caldas)

sexta-feira, 21 de julho de 2023

"Chora menino, chora

Eu fui menino e chorei"

Pode ser arte de 1 pessoa

Todas as r

Os fracassos, as quedas na vida já sofri.

É da vida. Nada a reclamar.

Que me importa cair se depois me levanto,

Portanto,

Cair, me levantar,

Me  levantar e cair 

São coisas naturais da vida.

São coisas da vida cair, fracassar, 

Depois se levantar...


(Fernando Caldas)

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...