sábado, 2 de dezembro de 2023

MERCADO DO ASSU

 Uma Casa de Mercado

Mercado Público (à direita) - Provavelmente anos vinte (a Praça foi construída em 1932) 
Pesquisando os alfarrábios da história do povo assuense, encontramos que: No ano de 1875, foi construído o primeiro mercado do Assu o qual abriu suas portas no ano de 1876. O construtor do primeiro Mercado do Assu foi o cidadão assuense Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley o qual vendo a necessidade da cidade se desenvolver comercialmente, edificou, as suas custas, por meio de contrato, com cláusula de usufruto por vinte anos, o que chamavam de “Uma Casa de Mercado”. Essa construção custou-lhe uma cadeira de deputado provincial. 

Mercado Público (ao fundo) - Provavelmente anos 30.
O tempo passou e pequenas reformas ocorreram no prédio que foi ficando pequeno para a demanda do comércio do Assu – cidade pólo da região do Vale.

Novas Instalações

Buscando suprir estas necessidades o então Prefeito Manoel Pessoa Montenegro resolveu demolir a antiga "Casa de Mercado" e construiu, no mesmo local, com o apoio do Interventor Federal (na época, o mesmo que Governador do Estado) um moderno prédio para servir de Mercado Público Municipal com condições físicas de atender a demanda comercial da cidade.
Mercado Público - Instalação mais modernas - foto provavelmente anos 70/80.
A inauguração deu-se no dia 19 de abril de 1943, cuja solenidade contou com a presença do Interventor Federal Dr. Rafael Fernandes Gurjão. 

O Patrono

Após o falecimento de Manoelzinho Montenegro, num gesto de reconhecimento, o seu nome foi escolhido como patrono, passando este logradouro a ser denominado de: Mercado Público Municipal Prefeito Manoel Pessoa Montenegro. 
Prefeito Manoel Pessoa Montenegro
Manoel Montenegro nasceu em Assu no dia 28 de fevereiro de 1892. Foi proprietário de terras, Farmacêutico e Político. Foi prefeito do Assu por 12 anos, no período de 1936 a 1948. Primeiramente nomeado pelo Presidente Getúlio Vargas e depois eleito pelo voto popular. Faleceu no dia 12 de agosto de 1967 em Natal. 

Reformas

Após a reconstrução do Mercado (1943) inúmeras benfeitorias foram desenvolvidas neste logradouro pelos administradores municipais. Destacamos as mais significativas reformas executadas nas gestões dos prefeitos: Arcelino Costa Leitão, Walter de Sá Leitão, Sebastião Alves Martins e Ronaldo Soares no seu primeiro mandato.

No entanto, a maior reforma ocorreu no ano de 2007 quando o Mercado Público Municipal Manoel Pessoa Montenegro foi totalmente reformado e dotado de infra-estrutura para comercialização de frios. Ou seja: carne bovina, suína, caprina, vísceras, frangos e peixes expostos em box’s devidamente higienizados e fiscalizados (à época da inauguração).

Inauguração

No dia 05 de maio de 2007 a Prefeitura Municipal do Assu, através do então Prefeito Ronaldo da Fonseca Soares, entregou à população assuense as novas instalações do Mercado Público. A solenidade de inauguração ocorreu às 9 horas com a presença de diversas autoridades, entre elas o Presidente da Câmara dos Vereadores Odelmo de Moura Rodrigues, vereadores: Carlos Alberto da Costa Bezerra, Heliomar Cortez Alves, Leosvaldo Paiva de Araújo, João Brito, João Lourenço, Manoel Targino e Francisco Lavoisier. Diversas outras instituições se fizeram presentes, entre estas: Prefeitura Municipal de Ipanguaçu na pessoa do prefeito José de Deus Barbosa FilhoSEBRAE IBAMA. Também se fizeram presentes Gerentes, Secretários, Diretores e Chefes de Sessões da Prefeitura do Assu, comerciantes do mercado, feirantes e um grande numero de populares.

Mercado Público -  Abril de 2007 - Antes da Inauguração
Infraestrutura 

A ampla reforma realizada pela Prefeitura do Assu (com recursos próprios) trouxe de volta (à época) a perspectiva de bons negócios para o comércio local. O Mercado Público teve toda estrutura hidráulica e elétrica recuperada (com moderna iluminação), substituição do piso (externo e interno), reestruturação da fachada, instalação de sanitários adaptados para deficientes físicos, construção de 70 boxes para acomodação dos comerciantes individualizados, uma sala de desosso além de uma ampla Câmara frigorífica para conservação dos produtos.
Mercado Público - foto mais recente
À época, a obra contemplou o anseio da população no que concerne a qualidade dos gêneros comercializados. O Mercado veio complementar os serviços executados no moderno Matadouro Público Prefeito Sebastião Alves Martins - reconstruído, neste mesmo período, para atender aos padrões de higienização e qualidade total dos produtos.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Assu Antigo

Da esquerda para direita: Poeta assuense João Lins Caldas e o romancista paulistano José Gerald Vieira, um dos grandes do romance moderno brasileiro. Foto tirada no Rio de Janeiro, provavelmente no início da década de trinta. do romance daquele romancista intitulado Território Humano, 1936, encarnado no personagem Cássio Murtinho.

(Fernando Caldas)


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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

CNJ Serviço: o que muda com a Lei do Superendividamento?

Quando as dívidas fogem do controle, a ponto de a pessoa não conseguir mais pagar despesas básicas para sobreviver, fica difícil enxergar uma saída. A Lei federal n. 14.181/2021, conhecida como Lei do Superendividamento, entrou em vigor em julho e oferece uma solução para consumidores que não conseguem mais pagar as parcelas dos seus empréstimos e crediários em geral.

Agora, a pessoa superendividada pode solicitar a renegociação em bloco das dívidas no tribunal de Justiça do seu estado, onde será realizada uma conciliação com todos os credores para a elaboração de um plano de pagamentos que caiba no seu orçamento. E, para tornar ainda mais ágil, essa conciliação também pode ser realizada nos órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, como Procon, Defensoria Pública e Ministério Público.

Além desse avanço, conheça outras novidades trazidas pela Lei do Superendividamento para consumidores e consumidoras:

Quem é a pessoa superendividada

Uma pessoa está em situação de superendividamento, segundo a nova lei, quando ela, de boa-fé, não consegue mais garantir o pagamento de suas dívidas, incluindo as que ainda vão vencer, sem comprometer “seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação”. Isso significa que as dívidas são maiores do que os gastos necessários para a pessoa garantir direitos fundamentais, como moradia e alimentação, por exemplo.

O que pode ser renegociado

A renegociação engloba as chamadas dívidas de consumo, como são os boletos e carnês, em sua maioria. Contas de água e luz, empréstimos contratados em bancos e financeiras, crediários e parcelamentos em geral. Tanto as contas vencidas quanto aquelas a vencer fazem parte da lista de dívidas contempladas pela lei. Produtos e serviços de luxo, créditos habitacionais ou rurais, no entanto, ficam fora dessa lista. Dívidas fiscais (impostos e tributos) e pensão alimentícia também não podem ser renegociadas pelas novas regras.

Negociação em bloco

Uma das principais vantagens da nova lei para consumidores em débito é que terão uma chance para renegociar todos as suas dívidas ao mesmo tempo. Isso diferencia a nova lei dos mutirões para saldar dívidas, uma a uma, como os feirões “limpa nome”.

As negociações em bloco podem resultar em acordos com todas as instituições para quem as pessoas devem alguma quantia. Assim, elas conseguem pagar o conjunto das suas dívidas com a sua fonte única de renda, que é o caso da maioria. Em caso de sucesso no acordo, acaba o tormento psicológico de pagar uma dívida e faltar dinheiro para pagar outras.

Por onde começar

Para recomeçar sua vida financeira, a pessoa superendividada precisa procurar os órgãos de defesa do consumidor ou o Judiciário. Ela deve organizar as informações de todas as suas contas em aberto, inclusive o valor total que deve. Também é importante calcular o “mínimo existencial”, que é o valor das despesas mensais que assegurem a sobrevivência da pessoa e de sua família. Com esses valores em mãos, pode ser formular um plano de pagamento que ressarça todas as pessoas e empresas com quem esteja em débito, com parcelas que não comprometam aquela quantia mínima necessária a manter a sua sobrevivência.

Nos tribunais, todas as empresas e pessoas credoras são convidadas para uma audiência de conciliação. Essa é a ocasião para conhecer a situação de quem está devendo, os limites orçamentários e as condições de pagamento da pessoa que está inadimplente mas quer regularizar sua vida.

O papel do credor

O juiz responsável pela conciliação pode, nos casos credores que não comparecerem à audiência, suspender a dívida, juros e multas dos valores inadimplentes, bem como impossibilitar que eles cobrem a pessoa devedora durante a vigência do acordo em bloco. Quando o credor ou credora não fechar o acordo na audiência, o juiz pode elaborar um plano de pagamento judicial compulsório e essa dívida vai para o “fim da fila”, recebendo apenas após quem fez acordo.

Para participar da audiência, o credor não pode simplesmente enviar um procurador. A lei especifica que deverá ser um representante com “poderes especiais e plenos para transigir” (negociar).

O acordo que for firmado na audiência será homologado pelo juiz ou juíza e a sentença judicial terá a mesma função de um título de execução de dívida. Nele, ficarão definidas as condições do pagamento – montante global a ser pago, eventuais descontos (juros, por exemplo), quantidade e valor das parcelas, além da duração do plano de restituição.

Para além do plano de pagamento

A sentença também registrará quando a pessoa consumidora será retirada de cadastros de inadimplentes. Também constarão da sentença a suspensão ou extinção de ações judiciais de cobrança, assim como a obrigação dessa pessoa não piorar sua situação de superendividamento contraindo novas dívidas. Diálogo e transparência serão decisivos para se chegar a um acordo que atenda os direitos das partes.

Quem já se separou ou perdeu o emprego, sabe o efeito que um desses imprevistos causam na vida financeira. Antes da lei, a pessoa superendividada não encontrava na Justiça uma saída para sua crise econômica pessoal. As empresas e pessoas jurídicas tinham o recurso da recuperação judicial, mas foi o advento da Lei 14.181/21 que deu os superendividados do Brasil direitos que consumidores e consumidoras de outros países já têm.

Crédito responsável

Um desses direitos básicos, expresso no Artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), é o chamado crédito responsável. Esse direito implica que, antes de contratar um empréstimo ou fazer um crediário, a pessoa seja informada sobre os custos do produto ou serviço que está sendo oferecido. Taxa mensal de juros, valor de multas por atraso, montante das prestações são informações que devem constar “de forma clara e resumida do próprio contrato, da fatura ou de instrumento apartado, de fácil acesso ao consumidor”, de acordo com o Artigo 54-B do Código de Defesa do Consumidor.

As empresas que operam crédito passam a ser corresponsáveis pela concessão do crédito. Por isso, estão proibidas, com a nova lei, de prometer crédito a “negativado” ou sem consulta a serviços de proteção ao crédito.

Também está vedada a prática, até hoje em dia muito comum, de assediar ou pressionar o consumidor a contratar crédito, “principalmente se se tratar de consumidor idoso, analfabeto, doente ou em estado de vulnerabilidade agravada ou se a contratação envolver prêmio”, como 10% de desconto na primeira compra, por exemplo. Descumprir as novas regras poderá acarretar para o fornecedor sanções judiciais como a redução dos juros e encargos, dilação do prazo para pagamento previsto no contrato, sem prejuízo de indenização por perdas e danos patrimoniais e morais ao consumidor lesado.

Manuel Carlos Montenegro
Agência CNJ de Notícias


PINTO DO MONTEIRO X LOURIVAL BATISTA

Conta-se que Severino Lourenço Pinto mais conhecido como “Pinto do Monteiro” poeta popular improvisador, cantador de viola. Numa cantoria com Lourival Batista igualmente poeta e afamado improvisador nordestino, numa peleja, cantaram assim:
Pinto do Monteiro:
Lourival você é mesmo
Um bamba na cantoria
Pois, tanto tem improviso
Como tem muita teoria
Porém para os companheiros
Lhe falta ‘deplomacia’.
Lourival Batista
Você tem muita poesia
Como em outro eu nunca vi
Porém o seu português
É fraco pelo que ouvi:
Dizendo o ‘deplomacia’
Tire o ‘e’ e bote ‘i’.
Pinto do Monteiro
Troquei o ‘e’ pelo ‘i’
Fiz nas letras a mistura
Mas o colega desculpe,
Não é falta de cultura,
Pois tudo isto acontece
A quem não tem dentadura.
ourival Batista
Lourival não lhe censura
Por pronunciar assim
Mas se é por falta de dentes
Bote outros de marfim
Pra não errar outra vez
Que vier cantar ‘comim’.
Pinto do Monteiro
Agora eu achei ruim
A frase do meu amigo
Onde foi que você viu
Comim em vez de comigo?
Eu disse ‘deplomacia’
Mas uma dessas não digo.
(Postado por Fernando Caldas)
Pode ser uma imagem de brinquedo e instrumento musical

O fundo da corrupção é a perfídia. O corrupto é um animal rebelde ao bem.

Vargas Vila

TEU SEMBLANTE APAIXONANTE

Chamou minha atenção
Arranhou meu olhar
Prendeu meu coração
Aparência suave
Semelhança inapreensivel
Simbolizando o primor
Da flor que cultivo
Suplicando o amor

J. A. Simonetti @ja_simonetti

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

 PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS


DOIS TALENTOSOS POETAS (II)

Publicado em 17 de novembro de 2023



Marcílio Pá Seca Siqueira e Jesus de Ritinha de Miúdo, colunista do JBF


* * *


O poeta Marcílio Pá Seca, pernambucano de Tabira, escreveu a seguinte sextilha:


Chorando me debrucei

Na tela da imensidade

Não foi de dor que chorei

Com tamanha intensidade

Foram lágrimas salgadas

Com soluços de saudade


Jesus de Ritinha de Miúdo, acariense do Seridó Potiguar, em cima da bucha respondeu-lhe:


Tais soluços na verdade

Quebrantaram o peito meu

Senti no rosto um riacho

Que do meu olhar desceu

Aguando os meus desejos

De me afogar nos seus beijos

E morrer num abraço seu.


* * *


Mote:


Sou poeta, sou mais um nordestino

Que defende demais nossa cultura.


Sou vaqueiro, gibão, sou vaquejada

Sou viola, Poeta e cantoria

Sou bancada, caneta e poesia

Sou beiju, tapioca e farinhada

Eu sou junta de boi,sou terra arada

Sou engenho de cana e rapadura

Sertanejo pintado na moldura

Meu chapéu e de couro de caprino

Sou poeta, sou mais um nordestino

Que defende demais nossa cultura.


Marcílio Pá Seca Siqueira


Sou caatinga na seca acinzentada

Sou o vento soprando a poeira

Sou tramela, mourão, eu sou porteira

Sou babugem no chão, pós invernada.

Sou mugido, balido e sou risada

Do Sertão quando vê que tem fartura

Sou vaqueiro aboiando com candura

No ofício real de tangerino

Sou poeta, sou mais um nordestino

Que defende demais nossa cultura.


Jesus de Ritinha de Miúdo


* * *


Um soneto de Marcilio Pá Seca Siqueira:


EU… PALHAÇO


Quando quero chorar choro sozinho

Pra fugir do olhar que me censura

Minha lágrima sensível no caminho

Com a tinta da face se mistura


Meu sorriso se perde em desalinho

Nos momentos medonhos de amargura

Meus segredos são pontas de espinho

Que exploram meu ego, fere e fura


Sou artista do palco do universo

Sou Poeta, componho, faço verso

Estou preso ao meu eu por forte laço


Sou ator desse bloco da ilusão

Sou as grades cruéis da solidão

Eu sou eu, sou você, eu sou palhaço.


Um soneto de Jesus de Ritinha de Miúdo:


SONETO DE OLHOS E DE LÁBIOS


O marrom dos teus olhos me encantaram

Prenderam-me a ti, me deixando louco

Mas esses teus olhos, não achando pouco

Olhando nos meus, logo se abalaram.


Então os meus lábios não se aguentaram

Sorriram para ti, sem nenhum apouco

E os teus lábios, lindos, assim tampouco,

De sorrir pros meus, também, não se negaram.


Senti teus lábios só chamando os meus

Percebi teu olhar me dando avisos

Recebidos por mim, um escravo fiel


Adentrando contigo no mais lindo céu,

Instante que meus lábios deitaram nos teus

E o meu sorrir beijou os teus sorrisos.


* * *


Marcílio Pá Seca Siqueira fez uma décima glosando mote da poetisa Paloma Brito, de Livramento da Paraíba:


Sou a alma matuta da campina

O aboio sonoro do vaqueiro

Sou a flor da caatinga, sou o cheiro

Da cacimba de água cristalina

Sou o som da seresta matutina

Da orquestra de vozes do sertão

Sou as vozes da seca e o trovão

Sou a própria quentura da poeira

Sou matuto no pé d’uma porteira

Sou poeira que veste esse meu chão.


Jesus de Ritinha de Miúdo lhe respondeu:


Sou gemido do eixo da carroça

Transportando comida para o gado

Sou a força do boi puxando o arado

Sou zoada da chuva quando engrossa.

Sou a lama depois que a água empossa

Sou a sombra da tarde, num oitão,

Sou a áurea divina do gibão

Eu sou pau de miolo da aroeira

Sou matuto no pé d’uma porteira

Sou poeira que veste esse meu chão.


* * * 


Duas glosas de Marcílio Pá Seca Siqueira:


Perco o sono, já Alta madrugada

Boto o rosto no quadro da janela

Para ver se encontro as feições dela

Mas no rasgo da noite não tem nada

Só se eu encontrasse uma fada

Pra fazer uma mágica com vareta

E mostrar com seu truque a silueta

Ou a face do amor que já foi meu

Tô chorando por ela igual Romeu

Que chorava querendo Julieta


* *


Um poeta não serve de semente

Nem é grão de semente que renova

Nem a lágrima surgiu pra regar cova

Quando cai na poeira do chão quente

Mas se morre um Poeta do repente

Desce inerte a matéria para o chão

E nas tábuas molhadas do caixão

Vão as lágrimas regando o trovador

Quando morre um poeta cantador

Nasce um pé de saudade no sertão


Duas glosas de Jesus de Ritinha de Miúdo:


Minha sombra não vem da obstrução

De uma luz que esteja à minha frente

Não rasteja na terra me seguindo

Sem missão, sem valor, inconsciente

Minha sombra é meu anjo da guarda

Bem armado e que nunca se acovarda

Mas que luta por mim diariamente.


Esse ser, esse espectro valente

É reflexo do bem e em mim produz

Alegria e paz, mais segurança

Me ajudando a andar sempre na luz

Eu não sei sua forma, aparência,

Mas, eu sei qu’essa sombra em sua essência

Me aconselha, me guia e me conduz.

A flor do maracujá


Encontrando-me com um sertanejo

Perto de um pé de maracujá

Eu lhe perguntei:


Diga-me caro sertanejo

Porque razão nasce roxa

A flor do maracujá?


Ah, pois então eu lhi conto

A estória que ouvi contá

A razão pro que nasci roxa

A flor do maracujá


Maracujá já foi branco

Eu posso inté lhe ajurá

Mais branco qui caridadi

Mais brando do que o luá


Quando a flor brotava nele

Lá pros cunfim do sertão

Maracujá parecia

Um ninho de argodão


Mais um dia, há muito tempo

Num meis que inté num mi alembro

Si foi maio, si foi junho

Si foi janero ou dezembro


Nosso sinhô Jesus Cristo

Foi condenado a morrer

Numa cruis crucificado

Longe daqui como o quê


Pregaro Cristo a martelo

E ao vê tamanha crueza

A natureza inteirinha

Pois-se a chorá di tristeza


Chorava us campu

As foia, as ribera

Sabiá também chorava

Nos gaio a laranjera


E havia junto da cruis

Um pé de maracujá

Carregadinho de flor

Aos pé de nosso sinhô


I o sangue de Jesus Cristo

Sangui pisado de dô

Nus pé du maracujá

Tingia todas as flor


Eis aqui seu moço

A estoria que eu vi contá

A razão proque nasce roxa

A flor do maracujá


[Catulo da Paixão Cearense


domingo, 26 de novembro de 2023

alma da mulher está no beijo.

(Vargas Vila, poeta colombiano)




 

Frei Damião no Assu. Na fotografia: Frei Damião, João Pio e Edmilson Da Silva. Década de setenta. Foto tirada em frente a igreja matriz de São João Batista.


História do Assu em revista de quadrinhos - Encarte da Tribuna do Norte.


 

sábado, 25 de novembro de 2023

TÚMULO DE NÚBIA LAFAYETTE "RAINHA DA SOFRÊNCIA"

 MONSENHOR AMÉRICO SIMONETTI

Por Gilberto Freire de Melo*
Conhecemo-nos quando o Açu ainda tinha para exibir:
- A inteligência Excepcional de Osvaldo Amorim;
- Os manifestos radicais de João Lins Caldas;
- As crises boêmias de Renato Caldas;
- Os eventos saudados com versos e glosas dos poetas locais;
- A genialidade modesta de Demóstenes Amorim;
- A intelectualidade de Expedito Silveira;
- A saudade de Moysés Sesyom;
- A sede dos Escoteiros;
- O Plano de Valorização do Vale do Açu;
- Os argumentos jurídicos de Lou no Júri Popular;
- A gráfica medieval de Cabralzinho;
- A ética incontestável de Sandoval Martins;
- A ternura angelical de Cecéu Amorim;
- O charme perpetuado de Enói Amorim;
- A inteligência hibernada de A Vara;
- A integridade moral de Miga Fonseca;
- As bandas internacionais de Costa Leitão;
- O show de dança em boleros de Carlos Aladim;
- As aulas de Português de D. Glorinha;
- A surpresa antidemocrática do Golpe Militar;
- Os projetos de irrigação de D. Eliseu;
- Os bares de Lourival Duda, João Nogueira e Sebastião Alves;
- A candura da garçonete Cândida Nogueira;
- As cajazeiras de Rui Soares;
- Os tira-gostos de cabidela de Chiquito Macedo;
- A chegada da Fundação SESP;
Convivendo com todo esse manancial, éramos conduzido por Pe. Américo numa época de transição em que João XXIII embaralhava as cartas e D. Helder Câmara as distribuía para D. Eliseu, Pe. Américo, Pe. Zé Luiz e Pe. João Penha, aqui na Várzea do Açu montarem o esquema preparatório para uma espécie ainda nanica de modernização. Assim, os fiéis religiosos da Várzea do Açu passaram a ser tratados com uma dose de humanização superior às da evangelização catequética que ainda não se projetara para além da Idade Média.
Em Mossoró, D. Eliseu carreava para o Vale do Açu, tudo quanto houvesse de projetos e de práticas de irrigação; Pe. Américo, no Açu, implantava a educação de base nas comunidades rurais, os serviços de comunicação através dos radinhos de pilha e de serviços telefônicos, quando, à época, só existia a precariedade dos Correios e Telégrafos; Pe. Zé Luiz, em Pendências,, humanizava mais que evangelizava, e já celebrava as missas em português e de frente para a plateia; Pe. João Penha, em Macau, preparava os operários da messe para o enfrentamento da mecanização das salinas e do Porto Ilha, criando o ensino de Segundo Grau.
Foi assim que nós, os beradeiros do Vale do Açu, fomos preparados para ver o homem pousar na lua, para as novidades da chamada Nova Igreja, para a era dos cinemas e da televisão, para a entrada triunfal do iê-iê-iê, e não sucumbimos com as angústias das torturas do Golpe Militar, para o advento do ano dois mil sem traumas maiores na transição universal.
(Gilbert Freire de Melo, escritor, sociólogo, natural de Pendências. Morou no Assu na década de sessenta como funcionário da ECT, atual Correio e Telégrafos).
(Postado por Fernando Caldas)
Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da nação e da formação múltipla da raça brasileira”, João Lins Caldas (nascido no Rio Grande do Norte em 1888, ano da abolição da escravatura no Brasil), já teria produzido no seu tempo de Rio de Janeiro, 1921, o poema patriótico e de exaltação ao Brasil intitulado 'Negra', que para Augusto Frederico Shimidt (1906-1965), depõe que "o 'negra' de Caldas vale por toda uma 'Raça' de Guilherme de Almeida." Transcrevo adiante, o citado poema.
O teu avô Costa d’África, filhinha,
Bárbaro, de uma negra irremediabilidade,
O teu avô, de tanga, acostumado ao Brasil.
Noites que despertou sob o chão do chicote!
O chão... tudo era um chão de látegos rangendo,
E ao longe o cafezal, a mata enorme se desbravando...
Hoje tem sangue turco em cada veia,
Um sangue português, a gemer gargalhada.
Um índio chegou, de solto, as tuas velas que se brilharam...
És muitos continentes, na verdade,
Quase negra, nos olhos,
Deixa ver-te os cabelos, enroscados,
Vamos, meu timbre louro,
Tu morrestes nas raças, diluída,
E nas raças do teu corpo eu que adoro a verdade.



quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Ai! Quando um dia eu te cingir, cativa
De meus afetos, desmaiada e nua,
Tu rolarás como uma chama viva
Quando eu morder-te a fina carne crua...

Tu’alma branca, que em ilusões flutua,
Que à amargura e ao desprazer se priva
- Gás dessa chama que o meu peito atua
Irá rolando loucamente, esquiva...


E sobre a nave desse leito branco,
Bem enlaçados, num aperto franco,
Os nossos corpos rolarão, querida.

Então verei do teu olhar fogoso:
A viva chama que alimenta o gozo,
A viva chama que alimenta a vida.

(João Lins Caldas, Natal, 1909)

EU...TU Eu sou doçura, Mas o mel és tu A imagem é minha, Mas a cor é dada por ti A flor sou eu, Mas tu és a fragrância Eu sou felicidade, Ma...