sábado, 16 de maio de 2009

O CABAÇO DE DASDORES ABRIU-SE EM BANDAS

*Por Gilberto Freire de Melo

Quem não viveu, mas se aventurou pela várzea do Açu, certamente participou do crucial e ao mesmo tempo divertido processo de extração da cera de carnaúba. Ou, no mínimo, conviveu com a população afeita às tarefas dessa atividade.

Na indústria rudimentar de extração da cera de carnaúba, havia, dentre outros, o processo de batimento para decolar o pó existente nas palhas que, depois de secas, eram transpotadas, em trincheiras, pelos homens e batidas, a cacetes, pelas mulheres, num processo trabalho manual feito à noite para evitar que os ventos prejudicassem a fixação do pó, que mais tarde seria transformado em cera, no piso que era igualmente forrado por lona para que não se misturasse com areia. Cada rachador tinha a sua ou as suas batedeiras, pois os mais habilidosos rachavam palhas para mais de uma mulher.

Não havia trabalho mais árduo, porém, ao mesmo tempo, mais divertido. As pilhérias, as chacotas, os ditos, as brincadeiras amenizavam as asperezas e divertiam sempre, sem, porém, ofender pessoas ou ferir a dignidade das famílias, moças, senhoras e crianças que ali trabalhavam. Uns cantavam "cocos" e "emboladas" ao rítmo do batuque improvisado por alguém mais competente que soubesse arremedar a batucada do "baião". O que não deixava, entretanto, de reservar certas intimidades a casais, dada a aproximação que, evoluindo, entremeava-se de afeto, de contatos, de esfregação, de namoro e de xamego, num ambiente estritamente de trabalho, porém com doses de acentuados encantos e estimulantes sexuais.

Como ninguém é de ferro, vez por outra alguém passava os pés adiante das mãos e os tampos voavam.

Foi o que ocorreu com Dasdores, filha de Zé Beradeiro, um cinquentão respeitável, trabalhador, de procedência ignorada, porém com muitos indícios seridoenses. que alí viera ter ainda moço e ali contituíra numerosa família, após seu casamento com Maria do Rosário, uma varziana de dezoito quilates.

Dasdores, já moça feita, era a filha mais velha do primeiro casamento de Zé Beradeiro que inviuvara e vivia àquela época, com D. Esmerina, com quem os filhos se davam relativamente bem, sem ter que se queixar. Com atrativos e exuberâncias capazes de desarticular exércitos, Dasdores engraçou-se de Chico Bozó, fornido caboclo, rachador de palhas, bem parecido, que não desmerecia a família da namorada e que rachava palha para Dasdores bater.

Zé Beradeiro, num daqueles famosos batimentos de palha, surpreendeu casualmente uns lances de que não gostou. Sua filha, Dasdores, se espojava com o namorado, Chico Bozó, sobre uns montes de palha batida, fora da empanada, a quem se entregava de corpo e coração, sem qualquer reserva. O pai ficou calado, porém furioso, e no outro dia, chamando o conquistador aos carretéis, disse não aceitar o que havia presenciado, sendo necessário providenciarem o casamento. Chico, o sedutor, argumentou que precisava pensar, pois casamento era coisa séria. Zé Beradeiro, que também não estava brincando, disse que não queria conversa. E não estava disposto a bater boca. Queria uma decisão.

Os ânimos se alteraram e Zé Beradeiro acabou ouvindo o que não queria:

- A sua filha não era mais moça e eu não sou pedreiro pra tapar buraco de ninguém. Ela já é de maior e pode procurar seus direitos.

Zé Beradeiro, porém, não engoliu o bocado. E não era para um pai de família ficar calado diante de semelhante situação. Tinha que tomar alguma providência. Nem que fosse a última decisão de sua vida. Não podia aceitar a desonra da filha, de seu nome e de sua família. Não seria qualquer Chico Bozó que iria desfeiteá-lo. Tinha pouca coisa na sua vida e a honra da família era o mais importante. Teria que agir ligeiro, antes que o atrevido comentasse com alguém e se espalhasse o boato de sua desdita. Era questão de vida ou morte.

O desapareciemento de Chico até que não foi notado imediatamente, vez que ele era acostumado a sumir por alguns dias, visitando alguns parentes, reapareccendo, em seguida, pouco tempo depois. Mas não tanto assim como da última vez. Já dava o que falar. Parentes seus perguntavam sem obter qualquer notícia.

Foi-se avolumando a ausência de Chico, já consubstanciada pelos boatos do namoro que tivera, conforme insinuações motivadas por gabolices do próprio, de intimidades mantidas com a filha de Zé Beradeiro. Dissera ainda a alguns vizinhos que ela não era mais moça. E que fora chamado às favas pelo pai que queria casamento. E que ele não era otário para pagar pecado que não havia cometido.

Os comentários se faziam e nada de Chico aparecer. Já fazia mais de um ano que havia sumido. Zé Beradeiro, há muito, havia-se mudado dali com a família.

A polícia, tomando conhecimento do sumiço do homem através de queixa prestada por familiares, abriu inquérito e passou a ouvir pessoas da localidade. O próprio Zé Beradeiro fora localizado e ouvido, com sua filha, pelo delegado. Permaneceu preso ainda, por alguns dias e solto depois, enquanto se investigava o caso que, por falta de qualquer prova, acabou arquivado o processo e esquecido o assunto. Só que os familiares não aceitavam e mantinham a suspeita do assassinato de Chico. Mas como provar se nem o cadáver aparecia?
Não se podia justificar. O sumiço de Chico deixava inconformados os seus parentes. E Seu José também havia saído do cenário da culpa.

A família de Chico apelou para tudo. Chegou até a insinuar que, em certo local, onde se havia construído uma vila de casas residenciais, ali antes, Chico havia sido enterrado. Derrubaram-se algumas casas, sem qualquer sucesso, até que desistiram dada a inconviniência de se derrubar todo o arruado.

Dasdores, noutras paragens, já com os burros n'agua, passou a viver amancebada com um vaqueiro com quem teve alguns filhos sem maldizer a vida e sem queixar da sorte.

O sedutor é que nunca justificou o seu desapracecimento.

* Gilberto Freire de Melo é sociólogo, escritor potiguar de Pendências

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

POESIA

O VALÔ DO ANÉ

Seu dotô, pode me crê:
Se tenho aprendido a lê,
Eu era dotô também.
Pruque hoje na cidade,
Nós só temo validade
Pela péda qui o ané tem?

Meu pai, era home pobre,
Porém morreu como nóbre,
Honesto e trabaiadô!
Morreu no mez de Dezembro
Ainda hoje eu me alembro...
Cuma a cidade chorô.

Era amigo da pobresa,
Inimigo da avaresa,
Cuma todo home de bem!
Num media sacrifíço
Para fazê benefíço...
Num despresava ninguem.

Veja a força do destino:
Morreu... Eu fiquei menino
Sem dinheiro pra estudá!
Fui cantadô e poéta;
Do mundo peguei a réta,
Num queria trabaiá.

Mas, graças a Providença,
Tenho o ané da inteligença,
Maió riqueza qui hai...
Num precisô de inventaro.
Sô rico, milionaro,
Do que herdei de meu pai.

Dotô, num é caçoada.
O ané num vale nada,
Sô mióra a posição!
Parece uma coisa incrive,
Quarqué um, compra no ourive,
Por cem cruzeiro, um anelão.

Olegaro Mariano
Poéta pernambucano,
Home de muito valô!...
Entrô para a cademia,
Amostrando a poesia,
Não, o ané de dotô!

... Adeus dotô, vô me embora.
Está chegando a hóra...
Eu preciso viajá.
Mas, pense na deferença
- Num se compra inteligença
E ané se póde comprá.

Renato Caldas

A PONTE FELIPE GUERRA E FRANCISCO GAAG

A ponte sobre o Rio Piranhas/Assu, denominada Felipe Guerra (ele foi bacharel em direito, desembargador, deputado constituinte, secretário de educação e ainda é nome de um município potiguar, na Chapada do Apodi). Aquela ponte começou a ser construída em 1948 e a sua conclusão se deu em 1952. Naquela época era o prefeito do município do Assu, Edgard Borges Montenegro. A sua extenção é de 555 metros. Ainda hoje é a maior ponte de concreto armado do Nordeste. Foi construída pelo técnico em carpintaria Francisco Gaag, de nacionalidade austríaca, naturalizado brasileiro. Gaag, a quem reverencio com saudades, foi o mesmo técnico que reconstruiu a parede do Açude Pataxó, em Ipanguaçu, quando esteve para ser arrombada, salvo engano, em 1966. Por sinal, naquela época, Seu Gaag, hospedava-se na casa de meu pai (em Assu) Edmilson Caldas que também trabalhou na construção daquela ponte. Ele, Seu Gaag, comentava que teria também participado da construção do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro). Finalmente, aquela ponte hoje faz a divisa entre entre os municípios de Assu, Itajá e Ipanguaçu. E Gaag, faleceu em Natal (onde morava), na década de setenta.

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quarta-feira, 13 de maio de 2009

CONTO

ACIDENTE UTÓPICO

*Por Ivan Pinheiro

Traga cerveja aí como quem trás oró pra burro!... Estão olhando o quê? Eu tenho dinheiro! - Gritou Aléxis para as mulheres presentes na sala central do "Mina de Couro".

"Mina de Couro" era o mais caro e requintado cabaré de Coruripe, no Estado de Alagoas. Aléxis era um comerciante. Vendia mangalhos e telhas industrializadas no pólo cerâmico do Assú. Naquele dia ele tinha ido entregar trinta mil telhas encomendadas pela cooperativa de Pindorama. A carga foi transportada em um caminhão Mercedes trucado.

Tão logo recebeu o pagamento. Aléxis quitou o frete do veículo e liberou-o. Retornaria à cidade do Assú, no Rio Grande do Norte, onde morava, de ônibus. Logicamente depois de umas boas farras.

Todo entusiasmado, Aléxis jogou sobre a mesa um maço de notas de cinquenta reais atadas com ligas. Quando a putada viu o dinheiro, a animação tomou conta do recinto. Ele rapidamente recolocou o pacote de cédulas em sua boça capanga.

- Meu filho, está estressado? Calma, fique tranquilo... Nós resolveremos seu estresse. - falou uma garota passando o braço sobre o ombro de Aléxis.

- Sua cerveja, bem geladinha. - A garçonete puxou uma cadeira e o convidou a sentar-se. - Deseja mais alguma coisa?

Aléxis estava radiante com o recinto e o atendimento. Observou quando a garçonete se afastava da mesa. Ela usava uma mini-saia de aproximadamente vinte centímetros. Cada passada que dava, mostrava a pequenina calça vermelha de rendas.

Em menos de três minutos, a mesa estava composta por três belas jovens. Uma loira, uma morena e a outra ruiva. O "Mina de Couro" tinha mulher para todos os gostos e gastos.

- Podemos pedir umas doses de Campari, meu tesão? - Perguntou alisando o peito de Aléxis, a loira.

- Se pode? Eu vim aqui pra farrear. Quero beber e comer até dar uma coisa ruim.

A farra se estendeu até à noite. A cidade começava a repousar. Aléxis já estava em estado de putrefação alcoólica. Chamou a garçonete e apontando para a piscina ordenou.

- A partir de agora quero vocês desfilando nuas na beira da piscina. E a primeira será você.

Todas se entreolharam discordando da proposta. A garçonete tomou a palavra.

- Vamos fazer o seguinte: o senhor paga esta primeira despesa e a partir de agora, nós iremos negociar as suas exigências. Aqui quem manda é o freguês.

- Fechado!... Traga a conta, feche as portas dessa espelunca e vamos fazer um bacanal... Cada mulher que desfilar pelada ganha "cin-quen-tinha". - Falou Aléxis, retirando um maço de notas da capanga.

A realização de Aléxis foi plena quando a garçonete tirou a última peça, a calcinha vermelha de rendas, e a passou delicadamente sobre seu rosto. A loira que ele estava a namorar reclamou.

- Deixa de tolices mulher. Acabe com esse ciúme besta, você será a última a desfilar... Quero ver agora na passarela a vermeinha! - Disse Aléxis apontando o dedo indicador em direção à ruíva.

Quando ele acordou, estranhou o recinto. O dia já tinha amanhecido. Olhou para o lado e viu a loira dormindo ao seu lado. Levantou rápido e foi até sua roupa pendurada num cabide no canto do quarto. Abriu a capanga. Restavam-lhe apenas quatro notas de cinquenta reais. Rapidamente, tomou banho, vestiu-se e foi saindo quando viu a voz da "companheira".

- Já vai meu bem? Não se esqueça de deixar meus cem.

- Vá roubar outro abestalhada, rapariga imunda! - esbravejou Aléxis, saindo do quarto apressado. Na rua tomou um táxi com destino a rodoviária.

O vento norte soprava com suavidade as últimas brisas da tarde. A força da luz solar já havia sido quebrada pelo crepúsculo da noite. Madalena sentada na calçada de sua casa, rodeada por cinco crianças, respirava aquele ar agradável. Seu pensamento era em Aléxis, seu marido, havia três dias que tinha saído pelo "meio do mundo" negociando.

- Mamãe, lá vem papai! - Gritou uma das crianças. Madelena olhou rapidamente para a rua sombria. O aspecto maltrapilho de Aléxis dificultou o reconhecimento à primeira vista. Ela levantou, correu ao encontro do esposo que chorava aos soluços.

- O que aconteceu homem de Deus? Você está todo arranhado, sujo, esmolambado, o que houve?

- Madalena, a história é longa. Dê graças a Deus eu estar vivo. O carro que levava a telha virou... Sic... Escapei por pouco. Perdi tudo mulher!

Os meninos abraçaram o pai chorando, enquanto Madalena agradecia de mãos postas o retorno do esposo ao lar. Ela providenciou o banho, colocou mercúrio nos seus leves ferimentos e serviu o jantar.

"Como fui tão imbecil... Como pude arranhar-me com cacos de telha para simular um acidente? Como gastei tanto dinheiro em vão? Como vou viver em paz com minha consciência e minha família? E o dinheiro para voltar a negociar?... Se perguntava Aléxis , recolhido e encolhido em sua rede.

* Ivan Pinheiro é historiador e secretário de Governo da Prefeitura Municipal do Assu.
(texto extraído do livro de sua autoria intitulado "Dez Contos Cem Causos, 2008).

segunda-feira, 11 de maio de 2009

SONETO DO POETA CALDAS

PRAGA

Persigam-te meus beijos e carinhos.
A bênção do amor e o coração da vida,
Sejam de flores teus lindos caminhos...
Estação da luz e estação florida.

Que te comova o fazer dos ninhos
E, em cada rosa de ilusão sentida,
Longe da mágoa e livre dos espinhos,
Palpite a tua imagem reflorida...

Que cante em as noites luminosas,
Dentro em teu seio, o teu sonho, vindo
D'alma das flores do íntimo das rosas...

E que teu nome só de luz imerso,
Um dia seja no meu verso, lindo,
A rica chave do meu triste verso.

Publicado em Almanaque de Pernambuco, para 1909

POESIA

Aquela casa branca, edificada
Sobre um alto, no meio do sertão,
Parece uma igrejinha iluminada
para a festa do amor e da ilusão.
Aquela casa, em noite constelada
Ou mesmo em dias quentes de verão
Tem para mim sorrisos de alvorada
E carícias de um terno coração.
Vejo-a sempre cercada de verdura
De borboletas e singelas rosas
Como o reino dourado da ventura.
Vivem nela, a sorrir, sempre vibrando
Duas almasa felizes e ditosas
Como um casal de pássaros cantando.

Júlio Soares
(Poeta do Assu)

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TIPOS INESQUECÍVEIS

POESIA

Qual o remédio jocundo
Que ao mal nos serve de escudo?
"Fechai os olhos a tudo
Sorrir de tudo no mundo."
Foi esta a receita clara
Que me deu certa vez interrogado
Um homem que tinha achado coisa rara
A ventura neste mundo.

João Lins Caldas

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O GRACIOSO CHICO DIAS

Francisco de Medeiros Dias, alcunhado de "Chico Dias", é uma figura querida e das mais espirituosas da cidade de Assu. Ele é cearense de nascimento e assuense por opção e escolha. Naquela terra do interior norte-riograndense ele chegou ainda menino de calças curtas. Lá, foi comerciário trabalhando na camisaria de seu primo também espirituoso chamado Oscarzinho Fernandes. Chico em Assu foi presidente do Grêmio Estudantil do Ginásio Pedro Amorim (da CNEG), fundou o Clube de Diretores Logistas (CDL), foi candidato a vereador por várias vezes, cabo eleitoral, comerciante e, atualmente é corretor de imóveis. Figura andarilha quando jovem. O Brasil ele conhece de ponta a ponta. "Era um romântico caminheiro". Pois bem, na década de noventa ou começo dos anos dois mil, salvo engano, foi instalado na cidade de Assu um novo hospital e um cemitério público ). Numa das campanhas políticas de Ronaldo Soares e Zeca Abreu candidatos a prefeito e vice-prefeito respectivamente, Chico trabalhou na certeza de arranjar uma colocação na prefeitura daquele importante município. Ronaldo e Zeca foram eleitos e, já passados mais de seis meses, nada de chico ser nomeado naquela edilidade. Foi quando um certo amigo perguntou-lhe: "Chico Dias e aí, já arranjaram um emprego pra você na prefeitura? Como vai a nova administração de Ronaldo?" " Ótima, estou aguardando se vão me colocar no novo ou no velho!" Respondeu Chico. Aquele amigo intrigou-se com aquele resposta e lhe fez nova pergunta: "No Hospital?" Chico que sempre tem a resposta na ponta da língua, não se fez de rogado, soltou essa de tal modo: "Não amigo! No cemitério!

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VALE DE LÁGRIMAS

O escritor veríssimo de Melo no seu livro intitulado sob o título "Várzea do Açu", primeira edição, diz que a região do Assu "se por um lado possui todos os dons que a Natureza é pródiga em conferir-lhe, não deixa, vez por outra, de sofrer os revezes caprichosos do clima e do meio, levando ao desespero o grosso da sua população.
pode ser, acertadamente, classificada como a "região dos contrastes".
Quando não é inverno copioso, com as cheias torturantes, é a seca dizimadora dos rebanhos, provocadora da fome, arrebatando as famílias ao seio bom e sossegado dos lares, arruinadora do comércio e da vida em geral". Afinal, qual é a solução para resolver o problema das enchentes? Será que somente com a Barragem de Oiticica, no leito do Piranhas/Assu (o terceiro maior rio do Nordeste), pode evitar as enchentes no Vale do Assu? A Barragem Ribeiro Gonçalves foi projetada também com o objetivo de evitar as enchentes naquela região! Mas, como "não sou médico para abrir barriga de ninguém", vou ficando por aqui.

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LAGOA DO PIATÓ

Mas que beleza de fotografia que o renomado poeta fotógrafo assuense Jean Lopes produziu ao alvorecer naquele lago. Por sinal, postei aquela (uma obra de arte) foto no meu Orkut e, como não podia ser diferente, foram vários os comentários elogiosos. Aquela lagoa faz parte da minha juventude boêmia, prazenteira e feliz. Pois bem, comentando um pouco sobre aquela importante lagoa, segundo uma história muito antiga que a educadora e poeta Sinhazinha Wanderley conta (está publicado no livro de Walter Wanderley intitulado "Família Wanderley, 1965) que a "Lagoa do Piató contém muito ferro, razão pela qual a chuva, ainda mesmo pequena, ocasiona ali muito trovão. São 16 os riachos que correm para a lagoa, sendo os principais Pocinhos e Maniçabuais. No Piató, além da serra antiga, existe a chamada serra da Vaca Morta. Diziam os antigos que esta denominação fora dada por ter sido nesta serra onde morrera a primeira vaca no Assu. Havia mais dois serrotes denominados Serrote Pelado, que ficava dentro da lagoa, e Frecha de Urubu, lugar preferido pelos urubus".
A Lagoa do Piató recebe águas principalmente do Rio Piranhas/Assu e já esteve seca aproximadamente 50 anos, vindo a encher novamente depois que o canal fora desobstruido nos idos de 1972, através do empenho de Edgard Montenegro quando auxiliar do governo Cortêz Pereira.
São cinco as comunidades que estão no entorno daquela lagoa. Ela está "integrada a Floresta Nacional do Assu (bioma caatinga), apresenta considerável relevância para a manutenção da fauna, que depende deste manancial". E a sua principal ativida é a psicultura, com muita capacidade de exploração turística e a prática de esporte náutico.
Em tempo: Quero agradecer ao assuense historiador Ivan Pinheiro pelo elogio ao trabalho que venho fazendo neste blog (de forma simples e despretenciosa) contando a história do Assu e sua gente. Agradecer também a lembrança que ele me fez de comentar sobre os Baobás do Piató. Valeu Ivan, a crítica e a sugestão. Você é reconhecidamente o historiador do Assu, e eu sou verdadeiramente (escrevendo com gramática ou sem gramática) o biógrafo da terra assuense. Por este trabalho, pelos meus registros sobre a minha terra natal, só tenho recebido comentários elogiosos de potiguares residentes em terras distantes deste país e até do exterior. É o "Assu em evidência", no dizer do meu conterrâneo Junior Soares.
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segunda-feira, 4 de maio de 2009

SÓ TRISTEZA NA REGIÃO DO ASSU

O Rio Piranhas ou Assu, no Rio Grande do Norte, está "de barreira a barreira" como bem mostra a fotografia acima (extraída do "Blog de Juscelino"). Na foto podemos ver a ponte sobre aquele rio. Pena que a região do Vale do Assu se encontra em estado de calamidade. No começo do inverno, muita festa para os agricultores daquela promissora região de nome até internacional. Depois, só tristeza. No leito daquele rio está assentado uma grande barragem (segundo maior reservatório dágua do Nordeste), que foi construída com o objetivo de irrigar aquele vale, explorar a psicultura, além de evitar enchentes na zona rural daquela região, bem como nas cidades ribeirinhas do Piranhas. Afinal, desde 1983, data da sua inauguração pelo presidente Figuerêdo e pelo ministro Mário Andreazza, a Barragem Armando Ribeiro, não disse ainda para que veio! Para o turismo? Também não!

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

ENCHENTE NO VALE DO ASSU


O poema de autoria do poeta matuto Renato Caldas intitulado "Desmantêlo", é uma realidade nos dias de hoje na região do Vale do Assu. Vamos conferir os versos do poeta adiante transcritos:

Foi no princípe de Março:
Inverno nem se falava!
Só omentava o mormaço,
Prumóde qui o Só baixava,
Pra matá tudo queimado.
O céo só se parecia,
- Deus me perdôe a hirisia -
Um prato azú imborcado.
Me restava inda uma crença:
Pois, pouco tempo fazia...
Demenhã quando eu andava
Nas verêda, nos caminho,
Pra todo canto incontrava;
Os ninho de passarinho.

Adepois, já se falava,
De inverno no Pioí,
E, muita gente jurava,
Qui a noite relampiava,
No rumo dos Carirí.

Um dia demadrugada,
A barra vinha quebrando;
Ouví o "Pae da cuiáda",
Pulas quebrada roncando.
Era justamente o dia,
Qui nós todo, tinha fé.
A nossa crença dizia:
Na véspa de S. José,
O inverno, terá pegádo.
... Num tive qui duvidá.
Incuivarei meu roçado,
Tava tudo apreparado...
Só me fartava prantá.

Daí, o tempo trancô-se.
Chuveu dez dia amarrado!
Morreu metade do gado,
As criação acabô-se,
Tudo na váge atolado.
Subia as água do rio,
Foi subindo, foi subindo...
Despencô-se nos baixio,
As váge toda cubrindo.
Ficamo em casa cercado,
Sem tê pra onde apelá.
Se atrépamo no teiádo
E comecemo a gritá.
Eu, a muié e uma fia,
Passemo a noite atrepado.
E já pro rompê do dia,
As água tinha baixado.

Aí, nós fumo decendo.
Quando pizemo no chão,
Minha muié, foi dizendo:
- A menina tá tremendo,
Isso num será sezão?

- Prumóde incurtá a hitóra,
No anoitecer desse dia,
A minha fia subia,
Para o Reino da Gulóra.
E dessa hora indiente,
Jurei nas péda do artá,
Maldizê a toda inchente,
Qui Nosso Sinhô mandá.
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LUIZ CARLOS LINS WANDERLEY

Nota

Luís Carlos Lins Wanderley (1831-1890), primeiro potiguar a se diplomar em medicina, pela faculdade da Bahia. Como político, Luís Carlos foi deputado provincial "e presidindo a administração da sua Província". Luis Carlos foi poeta, educador, jornalista, teatrólogo. Foi também o primeiro romancista norte-riograndense e o primeiro poeta do Assu, bem como presidiu o Senado da Câmara (de Assu) em 1869, quando a câmara (no regime monárquico) tinha o poder de administrar aquele município. 

Fernando Caldas

DIA DO TRABALHO

Neste primeiro de maio, dia do trabalho, gostaria de lembrar dois consagrados poetas brasileiros como Ascenso Ferreira (de Palmares-PE) e Renato Caldas (de Assu-RN), nos versos que dizem assim, respectivamente:

Hora de comer - comer!
Hora de dormir - dormir"
Hora de vadiar - vadiar!
Hora de trabalhar?
- Perna pro ar que ninguém é de ferro.
*
Eu, trabalhar desse jeito
com as forças que Deus me deu
Pra sustentar um sujeito
Vagabundo como eu!

sábado, 25 de abril de 2009

POESIA MATUTA

 
Eu tenho tanta sódade,
Da casinha lá da serra;
Qui ficô dento das grôtas,
Do sertão da minha terra,
Tão pequena, tão má feita,
Sem graça, sem perfeição...
Mas, qui sódade danada,
Eu sinto da casa amada
Qui ficô no meu sertão.

Renato Caldas (poeta matuto consagrado em todo Brasil).
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quinta-feira, 23 de abril de 2009

NATAL ANTIGO


A Rua Ulisses Caldas no Centro de Natal, tem essa denominação desde 13 de fevereiro de 1888. É uma justa homenagem ao ilustre e bravo assuense Ulisses Olegário Lins Caldas morto em combate na Guerra do Paraguai, a 7 de novembro de 1866. Ulisses fora o primeiro soldado a penetrar nas trincheiras inimigas em Curuzu, onde colocou o pavilhão nacional logo que tomou dois canhões. Ele Já foi ou ainda é nome de praça em Porto Alegre (RS), é nome de rua também em Assu e o nome do prédio da Câmara dos Vereadores daquela terra assuense, por proposição do vereador Fernando Caldas (1986) leva o seu nome.

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COMARCA DO ASSU

O Assu foi a segunda Comarca (e a segunda cidade potiguar). A Comarca, foi criada por deliberação do Conselho da Província. Lei Nº 13 de 11 de março de 1835, instalada pelo dr, Basílio Quaresma Torreão, portanto seu primeiro Juiz. A Comarca abrangia as regiões do Seridó, do Oeste e Central, como também as consideradas litorâneas, como Macau e Areia Branca. Vamos conferir abaixo a Lei que criou a Comarca do Assú, conforme escrito (linguagem antiga) naquele documento:

Lei Nº 13 - de 11 de março de 1835.

Aprovando a criação da Comarca do Assú com os três Districtos de Jurados, que forão marcados no acto de sua criação pelo Presidente em Conselho.

Basilio Quaresma Torreão, Presidente da Província do Rio Grande do Norte: Faço saber a todos os seus habitantes, que a Assembléia Legislativa Provincial Decretou, e eu sanccionei a Lei seguinte.
Art. Unico. Fica aprovada a criação da Comarca do Assú com os tres Destrictos de Jurados, que forão marcados no acto de sua criação pelo Presidente em Conselho.
Mando por tanto a todas as authoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumprão e fação cumprir tão inteiramente como nella se contem. O Secretário da Provincia a faça imprimir, publicar, correr. Cidade do Natal aos onze dias do mez de Março de mil oitocentos trinta e cinco, decimo quarto da Independência e do Imperio.

Basilio Quaresma Torreão.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

CALDAS, SIMPLESMENTE


O bardo potiguar do Assu João Lins Caldas era tipo magro e bonito rapaz. Solitário, amargurado. Na sua mocidade tivera muitos amores apaixonados e, apesar de dizer o contrário viveu com o coração ardente de paixão até os últimos dias de sua vida. É tanto que ele no dia em que veio a falecer (18 de maio de 1967), teria acabado de ler um livro de autoria da poetiza sonetista portuguesa Virgínia Victorino intitulado "Apaixonadamente." Vamos conferir para o nosso deleite, os poemas abaixo transcritos que ele escreveu há exatamente cem anos atrás, intitulado "Sonho de Estrela" e "Foge de Mim", respectivamente:

A via-láctea cintilava nua...
Larga nuvem branca, semelhante a um véu
Sobre o rosto de noiva - a cabeça tua -
Mal deixava transparecer o azul do céu.
Entre súbitos desmaios aparecia a lua,
Formosa, beijando as areias do escarcéu...
Mas, ah! Novo encanto novo se acentua...
Ao se recordar, talvez, do rosto lindo teu,
Disse, em sonho, uma mimosa estrela:
"Vem, único meteoro que do mundo resta
Brilhar sobre este azul... "E acenava a ela,
Então, apontando a esfera calma e bela,
Os anjos levaram-na para o céu, em festa,
Só porque um instante se lembrava d'ela.

*

Foge de mim; não quero ver-te. A vida
Que pesada fizeste, hoje despreza.
Do teu amor à dura natureza
Mas não se volva a página volvida...
Vou para longe enfin... Agora ouvida,
Minh´alma falará da tua reza...
Para longe de mim... Vai para longe.
Que eu aqui fique, solitário monge,
Olhando a triste solidão da vida...
Desterra-te de mim que eu me desterro...
Não me toques assim nesta ferida...

Aproveitando esta oportunidade, transcrevo um comentário de Ronaldo Emílio Cabral sobre a organização deste blog (como tantos outros comentários a respeito deste trabalho de registrar para a posteridade, o que disseram em prosa e verso, os poetas do Assu) que sensibilizou-me profundamente, dizendo assim: "Olá Fernando Caldas, sou de Fortaleza, mas meus pais são de Assu e tenho muitos parentes aí na terra dos poetas. Adoro não só essa cidade mas todo o povo também. Parabenizo pelo seu blog, leio todos os dias, continue com esse trabalho maravilhoso em prol da cultura do Assu."


ASSU ANTIGO

Praça Getúlio Vargas, na década de sessenta. A fotografia como podemos conferir fora tirada de frente para o Mercado Público.
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PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...