terça-feira, 20 de abril de 2010

O PASSADO CULTURAL DO ASSU

O Cine-Teatro Pedro Amorim foi para Assu e municípios vizinhos o que hoje o Teatro Alberto Maranhão é para o Estado: o destino das grandes produções culturais. Desativado na década de 1980, o prédio histórico será totalmente recuperado e a cidade, berço de grandes nomes da poesia como o poeta João Lins Caldas, um dos pioneiros do movimento modernista brasileiro, terá um espaço público e de qualidade para receber e exportar talentos.

Divulgação

Projeto de restauração será patrocinado pela petrobras, através da lei câmara cascudo, e manterá traços da arquitetura originalO projeto de restauração é assinado pelo engenheiro Germano Martins e nele constam as seguintes obras: ampliação para 200 assentos destinados ao público; criação de camarins e banheiros; instalação de climatização, sonorização e iluminação. Segundo Gilvan Lopes, diretor-geral do Centro Escolar de Arte e Cultura (Cenec), responsável pela elaboração e execução da obra o prédio é belíssimo, mas atualmente conta apenas com um grande salão na parte externa e um verdadeiro galpão interno para os eventos. As características arquitetônicas do prédio serão mantidas.
O objetivo do Cine-Teatro permanece como nos idos de sua fundação. No espaço reconstruído acontecerão projeções de filmes, apresentações culturais, palestras, seminários, cursos e oficinas. Ações que já acontecem no município, mas que até então ficam em local inadequado como em escolas e na Câmara de Vereadores. Segundo o diretor do Cenec este seria de fato, o primeiro espaço cultural público da cidade (antes o Cine-Teatro era propriedade de seu fundador).
Mas os benefícios posteriores à recuperação do Cine-Teatro não virão apenas para os moradores de Assu. Como nas décadas anteriores, outras 12 cidades serão beneficiadas. Macau, Carnaubás, Pendências, Angicos, Mossoró, Lages e Santana do Matos são algumas dessas cidades.
As obras de reconstrução e ampliação estão orçadas em um milhão e meio de reais — valor patrocinado pela Petrobras, através da Lei Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura, que garante o abatimento de 80% do valor da obra nos impostos da empresa. A estatal também ficará responsável pelos 20% restantes, mas para isso a prefeitura de Assu terá que cumprir algumas exigências, como contrapartida: garantir a participação da marca da Petrobras em todos os eventos do Cine-Teatro, afixar placa de inauguração na entrada do prédio também com a marca da empresa (a placa ficará no local enquanto o Cine-Teatro estiver em atividade), exibir durante 25 anos um filme institucional, enfatizando a importância da ação de patrocínio da empresa.
Além disso, a prefeitura de Assu terá que investir 36 mil reais para divulgar, durante uma semana, a inauguração do prédio.
Todas essas exigências serão cumpridas sem problemas, como garante, Gilvan Lopes. Segundo ele, a luta para recuperar o prédio é antiga. Gilvan conta que o prédio foi adquirido pela prefeitura em 2001.
O Cine-Teatro pertencia à sobrinha e única herdeira de Francisco Fernandes, antigo proprietário e administrador do prédio. “Por muito pouco o Cine-Teatro não foi derrubado para dar lugar a um prédio comercial”, diz Gilvan.
Em 2002, a prefeitura de Assu, através do Cenec, elaborou um projeto de recuperação e ampliação do prédio, na época orçado em 714 mil reais. A direção do Centro Escolar submeteu o projeto ao edital da Lei Câmara Cascudo e, naquele mesmo ano, conseguiu sua aprovação. O tempo para captação de recursos através de patrocínio — estipulado pela Lei em dois anos — foi ultrapassado e o projeto de recuperação voltou à estaca zero. Gilvan Lopes conta ainda que foi feita uma tentativa de inserí-lo nos editais do Ministério da Cultura e do Banco do Brasil, mas a expectativa dos proponentes foi frustrada mais uma vez.
Deste período em diante foram feitas várias tentativas e apenas em 2009 o projeto foi novamente aprovado pela Lei Câmara Cascudo. Desta vez, a captação de recursos aconteceu no período previsto. A Petrobras concordou em patrocinar o projeto, mas a assinatura confirmando a ação está marcada para o final desta semana.
“Nós estamos atendendo ao pedido da Petrobras de adequar os formulários do projeto, já que eles têm um padrão a ser seguido. Mas isso não é nenhum empecilho para a recuperação do Cine-Teatro, já que está tudo confirmado”, diz Gilvan.
Assim que a Petrobras assinar o documento garantindo o patrocínio cultural, a prefeitura assuense abrirá edital de contratação das empresas que ficarão responsáveis pela obra de recuperação e ampliação do prédio. A previsão é de que a obra seja iniciada ainda este semestre, e terá duração de 12 meses, como aponta o projeto.
Prédio foi inagurado em 1935 para receber artistas da região
O Cine-Teatro Pedro Amorim foi erguido em 1930 por Francisco Fernandes Martins, um industrial visionário da cidade de Assu. Francisco atuava no ramo do algodão e, como seu negócio era próspero, foi responsável pela construção de vários prédios que hoje constituem o centro histórico assuense.
Mas a inauguração do Cine-Teatro aconteceu apenas em 1935 com a proposta de ser um ambiente voltado para abrigar expressões artísticas locais e nacionais. A falta de eventos fez com que o Cine-Teatro ficasse fechado por 10 anos. Durante o período, Francisco Fernandes pesquisou sobre possíveis programações e formas de funcionamento. O teatro abriu as portas ao público em 1945. A partir daquele ano o Cine-Teatro passou a exibir filmes com frequência e a trazer atrações nacionais para a cidade.
Assu tornou-se um centro polarizador das manifestações artísticas da região. E a arte sempre foi um ponto forte na cidade. Já na década de 20, figuravam em Assu, alguns nomes da poesia, que alcançaram abrangência nacional. O já citado João Lins Caldas; Sinhazinha Wanderley, poeta e compositora – autora do hino oficial de Assu – foram alguns ilustres a compor o patrimônio cultural da cidade.

(Artigo transcrito do Jornal Tribuna do Norte, 19.4.2010)


segunda-feira, 19 de abril de 2010

MAIS UM POEMA DE WALFLAN DE QUEIROZ


Eu venho de uma montanha, Tânea.
De uma montanha de fogo e de sombras,
De fogo como o sol e de sombras como a noite.

Venho de um vale, Tânea.
Um vale com mil flores brilhantes.
E todas estas flores eram tuas.

Venho de uma floresta, Tânea.
Uma floresta com apenas um pássaro.
Um pássaro azul como as águas do rio.

Venho de um lago também azul, Tânea.
Um lago tranquilo e sem rumores,
Com cisnes brancos, cisnes selvagens,
Selvagens como o meu amor.

Eu venho do mar, Tânea.
Um mar sem praias e sem gaivotas,
Com uma ilha de carne,
E com o sangue de uma estrela.

Venho do deserto quente, Tânea.
Um deserto com ventos de areia,
E com monumentos que são sepulcros,
Onde enterro a minha solidão.

Walflan de Queiroz, poeta potiguar de São Miguel
(Do livro intitulado Livro de Tânea, 1963).

Postado por Fernando Caldas Fanfa

domingo, 18 de abril de 2010

VELHOS CARNAVAIS DO AÇU, 1974


Fernando Caldas Fanfa

JESUÍNO BRILHANTE

Eis uma das fotografias do filme Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro filmado principalmente no município do Açu e região no começo da década de setenta. Esquerda para direita: (?), (?), (?), o artista nacional Neri Victor (protagonista), José Caldas Soares Filgueira (Dedé Caldas) e Zélia Amorim, ambos assuense que deram uma pequena participação naquele filme. A fotografia fora tirada na calçada da Casa Paroquial de São João Batista, de Açu (RN). Fica o registro.

Fernando Caldas Fanfa

CHICO BRANCO

Chico Branco é um dos gays mais antigos do Açu. E quem não se lembra dele na praça Getúlio Vargas  Se não me falha a memória ele vai pertinho dos seus bons setenta anos de idade. Por sinal o movimento gay na terra açuense é uma realidade. Afinal de contas o Açu é uma terra pluralista, onde de tudo acontece, como dizia Padre Zé Luiz. Vejam vocês que em Açu tem um restaurante com banheiro alternativo somente para gays denominado Dida.com, de de propriedade do amigo Dida Bola. Pois bem, certa vez, de manhã cedinho Chico se dirigiu ao Mercado Público Sofia Frutuoso. Ao se aproximar de um daqueles cafés daquela mercado se deparou com o açuense de Angicos Enaldo Araujo bebendo ente amigos. E Chico foi logo dizendo: Seu Enaldo esse povo do Açu é muito invejoso! Antigamente só tinha umas duas ou tres 'bicas' nesta cidade. Agora, tem uma ruma".

De outra feita, boquinha da noite, no dizer popular do nordestino, Chico Branco teria marcado um encontro na praça Getúlio vargas, com um certo rapaz de sua simpatia. Antes, porém, se dirigiu ao Bar do Juazeiro, de propriedade de Zé do Bar, como ele é mais conhecido na cidade de Açu. Aí Chico mandou Zé botar um copo cheio de cachaça, esborrotando mesmo. Ao tomar a 'branquinha' de uma só vez, fora advertido pelo proprietário daquele botequim: "Chico, rapaz, não beba desse geito não! A sua pressão pode baixar de vez!" Chico Branco não se fez de rogado: "Seu Zé, é porque não é o senhor que vai levar o que eu vou levar agora!" E saiu daquele recinto já de orelhas quentes para o encontro amoroso.

Fernando Caldas Fanfa

VELHOS TEMPOS DA POLÍTICA NORTE-RIOGRANDENSE

Almoço de confraternização em Mossoró com o governador Dix-sept Rosado em 1951. Daquela festa política fizeram presentes muitas figuras do Assu, como Epifânio Barboza, Fernando Tavares - Vem-Vem (meu avô materno),o casal Maria e Expedito Silveira, entre outros assuenses. Epifânio e Vem-Vem eram amigos íntimos daquele governante potiguar de Mossoró.

Fernando Caldas

quinta-feira, 15 de abril de 2010

UM POEMA DE WALFLAN DE QUEIROZ

HART CRANE

Contruamos uma ponte definitiva
Que sirva de ligação eterna entre o Ocidente e o Oriente
Uma ponte universal, maior do que a de Broklyn
Irmanando pretos e brancos, ricos e proletários.
No grande dia universal
De paz e de amor entre os povos.
Então o mar devolverá teu corpo ao mundo universal.

LÍDER É LIDER

O velho comandante Edgard Borges Montenegro - já tem uma postagem sobre ele que eu escreví neste blog - liderou a politica do Vale do Açu durante quase quarenta anos. Naquela região aquele carismático e incontestável líder político empunhava a bandeira da UDN naquela região nos tempos do "velho senado do coração do povo" (final da década de quarenta, cinquenta, sessenta, setenta e começo de oitenta) Dinarte Mariz. Nasceu vocacionado para a arte de fazer política, porém na era politiqueiro ou como se diz, não gostava de fazer politicagem. Orador brilhante, ele disse certa vez na praça pública de ipanguaçu em 1971 (lembro-me como se fosse hoje), campanha de seu irmçao Nelsom para deputado estadual, que "ninguém pode ser forte na terra dos outros, sem antes na sua terra matriz, na sua terra berço, sem tem o exemplo da confiança e da amizade do seu povo." "Vamos conterrâneos, unidos e coesos resolver nossos problemas". Frase também de sua autoria. Afinal, ele foi um dos idealizadores da Comissão de Desenvolvimento do Vale do Açu - CODEVA, instituição que funcionou, cor partidária e que tinha sobretudo, um único objetivo: O Vale do Açu. Era aquela região que estava em jogo.
Na fotografia (carnaval de 1965) esquerda para direita Francisca Ximenes, Maria Auxiliadora (exposa de Edgard) Dilina de Sá Leitão e Zélia Tavares.
Edgar Montenegro, o filho mais ilustre do assu hoje, salvo engano, vai fazer no dia 23 de junho 90 anos de idade. Merece uma grande homenagem.

Fernando Caldas Fanfa

JÚLIO SOARES O ENTERRO DE SI MESMO

Por Celso da Silveira, escritor assuense já falecido - texto escrito em 1987.

Júlio Soares foi poeta num tempo em que os poetas ou estavam tuberculosos ou eram boêmios inveterados, que se viciavam em bebidas para manter a convivência com o outro vício - a poesia.
Mas suas vertentes foram bem nascidas, numa casa onde o piano era uma presença constante e comandava o epírito familiar, sendo ele próprio um musicista reconhecido.

Há, em sua poesia, deixada em cadernos ou em jornais e, em maior número na memória dos seus familiares, dispersamente, inúmeros sonetos em que se auto-retrata invariavelmente maldizendo a sorte, depois de ter sido filho de rico industrial, ou refletindo a situação de alcoólatra a que chegou, depois de ser estudante no Rio de Janeiro num tempo em que ir à capital da República era uma condição de privilégio dos abastados. Há um soneto bem marcante dessa fase aguda em que todo o drama do viciado se vê reproduzido:

"Cinco horas, já se expande a passarada
Com o semblante de bêbado desperto
Acho a porta, ningém pela calçada...
A rua é triste assim como um deserto.

Quero beber. Não sei qual seja a estrada
Que me conduz ao botequim mais perto,
Sozinho traço o rumo da jornada
E parto, enfim, com o espírito liberto.

Paro no fim de uma deserta praça
Ouço de longe o buzinar de um carro...
Cresce-me o anseio de beber cachaça.

Entro num bar, gracejo, bebo, escarro,
Julgando ver a minha vida incerta
Na fumaça sutil do meu cigarro".

Em 1926 - Júlio Soares nasceu em 1898 e faleceu em 1954 - o poeta morava na rua do Catete, no Rio de Janeiro, como estudante, fazendo o curso comercial para um dia dirigir os negócios do pai, coronel José Soares Filgueira sobrinho, alto comerciante em Assu, comprador de algodão, cera de carnaúba, peles e couros, proprietário de terra e gados, com largo prestígio em política de então. Nessa época já fazia literatura, como atesta o escritor Aderbal de França, seu companheiro de "república", com quem dividia o cômodo na capital federal.

Sempre lendo e escrevendo, e cada vez estudando menos as disciplinas do curso, Júlio Soares voltou ao Assu e dali foi viver numa cidade cearense, aparentemente comportado em seus hábitos boêmios. Sem muita força de vontade, deixou-se de dominar, e outra vez em temporada assuense, Júlio Soares sóconhece poucas pessoas e é muito pouco conhecido. Retoma suas habilidades poéticas e escreve o seu CANTO DO CISNE - um soneto cujo terceto final é o seguinte:

"Chorando ou rindo, vou passando a esmo
E no vício morrendo lentamente
Fazendo assim o enterro de mim mesmo."

Júlio Soares, ressuscitado o seu passado de bebidas, violões, e abandonado, volta ao ceará e morre em Fortaleza.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

DESMANTÊLO

Foi no princípe de Março:
Inverno nem se falava!
Só omentava o mormaço,
Prumóde qui o Só baixava,
Pra matá tudo queimado.
O céo só se´parecia,
- Deus me perdôe a hirisia -
Um prato azú imborcado.
Me restava inda uma crença:
Pois, pouco tempo fazia;
Q'eu fiz as experiênça,
Véspera de Santa Luzia...
Demanhã quando eu andava
Nas verêda, nos caminho,
Pra todo canto incontrava;
Os nionho de passarinho.

Adespois, já se falava,
De inverno no Pioí,
E, muita gente jurava,
Qui a noite relampiava,
No rumo dos Carirí.

Um dia deadrugada,
A barra vinha quebrando;
Ouví o "pai da cuiáda",
Pulas quebrada roncando.
Era justamente o dia,
Qui nós todo, tinha fé.
A nossa crença dizia:
Na véspa de S. José,
O inverno, tará pegando.
... Numn tive qui duvidá.
Incuivarei meu roçado,
Tava tudo apreparado...
Sô me fartava prantá.

Daí, tempo trancô-se.
Chuveu dez dia amarrado!
O meu barreiro arrombô-se,
Morreu metade do gado,
As criação acabô-se
Tudo na váge atolado.

Sua as agua do rio,
Foi subindo, foi subindo...
Despencô-se nos baixio,
As váge toda cubrindo.

Ficamo em casa cercado,
Sem tê pra onde apelá.
Se atrépamo no teiádo
E comecemo a gritá.
Eu, a muié e uma fia,
Passemo a noite atrepado.
E já pro rompê do dia,
As agua tinha baixado.

Aí, nós fumo decendo.
Quando pizemo no chão,
Minha muié, foi dizendo:
- A menina tá tremendo,
Isso num será sezão?

- Prumóde incurtar a históra,
No anoitecer desse dia,
A minmha fia subía,
Para o Reino da Gulóra.

E dessa hora indiente,
Jurei nas´péda do artá,
Mardizê a toda inchente,
Qui Nosso Sinhô Mandá.

Renato Caldas, poeta matuto de Fulô do Mato.

terça-feira, 13 de abril de 2010

POESIA

OS HOMENS

Nós os homens, Senhor, atropelados erramos na encruzilhada de todos  os caminhos.
E assim que defrontamos.
Os espinhos
As árvores de amargos ramos.
Assim, senhor, que nos defrontamos
Nós os homens que erramos na encruzilhada de todos os caminhos.

JLCaldas

sábado, 10 de abril de 2010

POR QUE FRUTILÂNDIA?

A denominação do bairro mais populoso do Assu de Frutilândia. Foi uma homenagem que Ronaldo Soares quando prefeito do Assu em 1985, prestou ao grande poeta potiguar do Assu chamado João Lins Caldas. Sabe por que? Porque era a denominação do sítio do bardo assuense conhecido pelos mais antigos do Assu, como Seu Caldas. Frutilãndia nome criado por ele, Caldas, quer dizer terra de fruta.
Aproveitando a oportunidade vamos conferir para o nosso deleite, o poema que ele produziu numa feliz inspiração em homenagem a sua tão decantada Frutilândia, conforme transcrito adiante:

Como essa manhã me acorda com os passarinhos.
Que matinal de árvores e de pássaros!...
Pinga o orvalho das folhas como pérolas trêmulas, molhadas,
Cardeiros à distância perto a cerca fulfa do cercado...
No terreiro da casa as galinhas ciscando...
Um pio de nambu é remoto à distância...
Ouço e vejo lá fora... há como que em mim um anseio louco de embriagado...
Vontade de correr, rondar, ser como um pequeno cabrito a saltar pelo relvado...

O milho verde, a subir, a cana grossa, o espigar das bonecas...
O louro-roxo do cabelo aqui e ali pelos ventos agitado...
Parado... o ar aqui agora um ar parado...
Nem um grilo a trilar, nem um mover de folhas...

Saio... acendo o cigarro... as mãos trêmulas de gozo...
Isso que aqui plantei, que as minhas mãos cavaram...
Cajueiros aos cem, azeitonas, mangueiras...
Ah! Se eu na vida tivesse como aqui sempre plantado...

E vejo, no crescer, pequena, a laranjeira
Tão verde no buraco fundo que lhe foi cavado...
A minha laranjeira, a minha laranjeira...
Os frutos que dará, encantando o cercado...

Meu rancho ali, os potes na biqueira...
Pobreza assim riqueza só... um dia
Repousarei em mim essa pobre cabeça de cansado...
Lembrarei os meus versos, direi versos para mim e para o céu estrelado...

A noiva que não tive... e recordo  sem mágoa
Aquela que passou, culpa de mim somente...
Vão em cortejo ao olhar do meu pensamento sombras vagas...
*Arina... um filho pela mão... lá atravessa seu filho...

E os filhos que não tive, as almas, culpa de mim, que não vingaram...
Basta... volto-me ao sístio do meu silêncio proclamado...
É a música de tudo em tudo que de mim na sua essência...
O sol... o sol dessa manhã é agora todo o meu cuidado...

Olho o sol... a ânsia talvez de pelo sol perder-me.
E já não ser... ou ser tudo aquele mundo todo nas raízes...
As árvores que quero ver, as pequeninas plantas que quero ver dos seus pequeninos berços elevadas...
E olho-as... as minhas crianças verdes, as minhas pequenas româzeiras enramadas...

O cigarroi se apaga, a fumaça não sobe...
Vamos... entrar o rancho, agitar gravetos, fazer o fogo...
E brinquedo, o meu cão, que aqui por esse andar me tem sempre acompanhado.
Olho os olhos ao cão... não, Brinquedo que nem sempre me tem mesmo acompanhado.

*Arina foi uma das namoradas do poeta no seu tempo de Rio de Janeiro (1912-1933).

SESQUICENTENÁRIO DO ASSU, 1995

Esquerda para direita: deputado Ronaldo Soares, deputado Arnóbio Abreu, governador Garibaldi Alves e´, bem atrás o ex-vereador Fernando Fanfa Caldas. |Assu, 16 de outubro de 1995. Local: Campus Avançado do Assu.

ESTÓRIA DA HISTÓRIA

(Artigo de Agnelo Alves transcrito do jornal Tribuna do Norte, de Natal, 4.42010).

JK LEVOU O PSD-RN A APOIAR A CANDIDATURA DE ALUÍZIO ALVES PARA GOVERNADOR

O Presidente Jk tinha uma admiração, à distância, pelo então deputado, Aluizio Alves, Vice-líder da bancada da ONU na Câmara Federal, redator-chefe da TRIBUNA DA IMPRENSA, amigo pessoal de Carlos Lacerda, com poderes, inclusive, de vetar artigos, mudar manchetes, enfim, como o próprio Lacerda costumava chamar aluízio de "DBS" - Departamento do Bom Senso.
JK sabia como ninguém que Aluízio continha os arroubos mais radicais de Carlos Lacerda, vetando os artigos mais violentos, alguns dos quais reescrevia ou mandava para o recém-eleito deputado, José Sarney, reescrever. Lacerda tomava conhecimento quando a TRIBUNA DA IMPRENSA circulava. Uma prática que vinha desde os tempos do governo Vargas.
Quando Aluízio e Lacerda foram a Londres conversar com Jânio Quadros como emissários da UDN, Aluízio notou que a cada igreja nova que visitava, Carlos Lacerda ajoelhava-se e rezava com um fervor que não passava despercebido pelos circunstantes. Um dia, Aluízio perguntou a Carlos Lacerda porque tanto fervor.
"Sabe Aluízio, rezo pela alma de Getúlio Vargas" - respondeu Carlos Lacerda, acrescentando que não lhe movia nenhum remorso pela oposição que comandara contra o Governo de Vargas. Mas, sentia, interiormente, que o ex-presidente brasileiro, que se suicidara quando tomou conhecimento que os generais estavam chegando para depô-lo, precisava de orações e, portanto, ele fizera um propósito de todas as vezes que conhecesse uma Igreja o primeiro ato que lhe cabia cometer era ajoelhar-se e rezar pela alma dele, Getúlio.
Estávamos na calçada do Hotel Serrador, aguardando Aristófenes Fernandes, quando Aluízio foi chamado para atender uma ligação. Era Zé Aparecido, marcando um encontro na sede da UDN, ali perto. Eu ficararia no Serrador, aguardando Aristófenes e Aluízio foi ao encontro de Aparecido. JK queria que o PSD do Rio Grande do Norte apoiasse a candidatura de Aluízio ao governo do Estado.
Já tinhamos conhecimento que Geraldo Carneiro, assesssor mais próximo de JK, esteve conversando com Aparecido, de quem era primo, com aquele objetivo. Na conversa, estabelecida na sede da UDN, Aparecido queria comunicar a Aluízio que o ministro da justiça, Armando Falcão, foram chamado por JK que o incubiu das providências e conversações com o "major" Teodorico e o PSD do Rio Grande do Norte. Aluízio ligou para a portaria do Hotel Serrador pedindo que eu e Aristófanes fossemos ao encontro dele e de Aparecido na sede da UDN.
Aluízio queria assumir pessoalmente, sozinho, uma posição, em face de sua condição de vice-lider da oposição na Câmara Federal. Nada a ver uma coisa com a outra. Aluyízio já, inclusive, renunciara à vice-liderança para fazer a campanha. E para ganhar mais fácil precisava do apoio do PSD, já com a dissidência enorme disposta a apoiar a sua candidatura. Aristófenes e eu demos apoio imediato.
Dali mesmo Aparecido marcou um encontro com Geraldo Carneiro. Fomos Aluízio, Aparecido, Aristófanes e eu. Desse encontro, resultou uma ligação telefônica para o ministro Armando Falcão que deveria chamar Teodorico, comunicando a decisão do Presidente JK. Teodorico ainda resistiu. Mas, o desejo de JK era respaldado pela dissidência pessedista formada por Aluízio Bezerra, Olavo Montenegro, Seráfico Dantas e, de uma maneira discreta, pelo monsenhor Walfredo Gurgel, Lauro e Juanita Arruda, além de tantos e tantos outros pessedistas do Rio Grande do Norte. A reunião do PSD foi na casa de Rui Paiva, também dissidente para apoiar Aluízio, desde quando Aluízio se declarou candidato.
Aluízio deu uma demonstração clara e pública de prestígio ao PSD, escolhendo para seu candidato a vice-governador o monsenhor Walfredo Gurgel e, numa noite de inverno, saiu de Angicos para a fazenda de Teodorico, em Santa Cruz, acompanhado de Aluízio Bezerra e Olavo Montenegro, para selar o apoio do PSD.

SESQUICENTENÁRIO DO ASSU, 1995

A VIRGINDADE PROFANADA

De Gilberto Freire de Melo, escritor potiguar de Pendencias (RN). Você encontra na Livraria Poty, de Natal. Vale a pena comprar aquele volume.

LOURENÇO,O SERTANEJO

(Terceiro capítulo do livro (título acima) da escritora assuense *Maria Eugênia cujo protagonista é o fazendeiro Epifânio Barbosa encarnado no personagem "Lourenço"). Vejamos adiante:

Certo dia, na estrada do Vale, Lourenço encontrou-se com o Coronel Moisés.
- Bom dia, Lourenço. Observo que o vento norte continua soprando para você. Tudo verde no sítio... progredindo...
- Certo, Coronel. Nem todo mal é mal. O mundo dá mais volta que roda de roleta. Hoje, sou dono da Pedra Branca. Ontem, era o senhor. Eu sei que o Coronel foi à casa de meu pai naquele dia, com seus filhos armados até os dentes. Mas, Coronel, não guardo rancor. Já se vão os anos, já sou pai de família. Querendo aparecer com d. Josefa nós ficaremos contentes. Lunarda é mulher de verdade, Coronel. É a mão que pega o leme da nossa casa. Eu sou o casco do navio velho que balança no mar. Aguento o rojão... O Coronel precisa conhecer Lunarda. Como é bonita! E Juraci, um bichinho que nasceu por lá. Dá gosto de ver, Coronel. É a menina mais bonita do Vale.
O Coronel Moisés ficou engasgado. Bateu no ombro de Lourenço e disse:
- A vida também é madastra. Às vezes, vem como as ondas do mar e leva tudo na maré. O meu gado...
Ah, Coronel! Não me fale em gado! É o meu fraco. Quando vejo um bezerro escaramuçar, tenho vontade danada de pegar no rabo dos bichinhos e de alisar, como aliso os cabelos de minha menina... O meu negócio é comprar e vender bois. O negócio melhor do mundo, Coronel. Conhece aquela história dos franceses quando quiseram tomar o nosso Brasil? Já ouviu falar num tal de Vileganhão?
- Sim - sorriu o Coronel - Eu conheço a história da Invasão Francesa, de Villegagnon, o bravo aventureiro.
- Pois se reuniram na assembléia e discutiram como haveriam de governar o nosso Brasil. Apresentaram os problemas e perguntaram ao Comandante: "Qual o primeiro negócio para o norte do Brasil?" Respondeu: "Gado bem administrado". "Qual  o segundo negócio para o mesmo lugar?" e o Comandante ainda respondeu: "Gado sem administração". "Pois bem, Coronel, é o que faço. Compro, vendo, solto os rebanhos no mato e deixo engordar. E ainda tem mais, Coronel. É um negócio alegre. Todo mundo corre para ver uma boiada, parece festa. Os meninos gritam, os vaqueiros abóiam...
- É isso  mesmo, Lourenço. Dou-lhe os parabéns. Agora vou me apartar. Vou à casa do Compadre Chico Inácio que está adoentado. Até à vista, Lourenço.
- Até outro dia, Coronel.
Coitado do Coronel Moisés! Está ficando velho e cansado. Os filhos no mundo... essa vida! - E Lourenço, ficando a espora no sau alazão, esquipou rumo ao lar.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ESTÓRIAS INESQUECÍVEIS DA POLÍTICA ASSUENSE

1 - Francisco Luciano Marques conhecido popularnente como "Chico Galego" é veterano da política assuense. Foi vereador nos velhos tempos da ARENA - Aliança Renovadora Nacional. Nas eleições municipais de 1991 candidatou-se a vereador. Naquela eleição Lourinaldo Soares era o candidato a prefeito do Assu. Num certo comício realizado na Logoa do Piató (comunidade daquele município) o locutor eufórico anunciou: "Atenção minha gente, vai falar ao povo desta localidade, o seu líder "Chico Galêgo". E Chico ao pegar no microfone sem fio, assustou-se, dizendo: "Chega Lourinaldo, cadê a correia desse danado homem? Desse jeito ele não fala, não!" Para risos dos circunstantes.

2 - Diz o escritor Valério Mesquita que o Assu é campeão em matéria de folclore político. Pois bem, Ortêncio Ferreira de Lima foi vereador do Assu onde também exercia a profissão de enfermeiro. Certa vez, Zé Maria quando prefeito autorizou o seu chefe de gabinete convidar aquele nobre edil (de saudosa memória) para pedi-lo para ele aceitar ser o relator de um certo projeto de interesse do executivo. No que aceitou, conseguiu a aprovação porém, no plenário, votou contra. Um dos seus colegas sem entender o seu voto desfavorável perguntou a ele a razão daquela sua posição: Hortêncio em sua defesa, saiu-se com essa: "Como relator votei a favor para atender ao prefeito, porém como vereador votei contra".

3 - Chico Antão além de mestre de obra, foi também vereador do Assu. Chico em todas as reuniões da Câmara Municipal que comparecia (as sessões daquela casa legislativa sempre foram realizadas á noite como ainda hoje) dormia durante a sessão para gosações dos seus colegas. Por isso, resolveu fazer a seguinte proposta ao presidente da câmara: "Presidente eu já estou com setenta anos e as sessões a noite não dá pra mim, não! Quando dá oito horas me dá um sono danado! A minha filha não dá pra vim no meu lugar, não? As sessões de dia eu venho!" Padre Zé Luiz tinha razão quando dizia repetidas vezes: "Em assu acontece de tudo".

4 - "Chico Dias trabalhou para o deputado Arnóbio Abreu nas eleições de 1998. Logo após o pleito, Chico foi a casa de Zeca Abreu, irmão de Arnóbio para um entendimento político. Ao chegar, foi atendido pelo motorista de Zeca que lhe disse: "Chico, Zeca se encontra no banheiro com uma forte dor de barriga!" E Chico sem nem pestanejar, mandou chumbo grosso: "Eu não vim aqui comer o cedenho dele, não!"

5 - Abraão Ambrósio de Andrade era outra figura folclórica do Assu, analfabeto, desinibido. Trabalhava como servidor público da prefeitura daquele município fazendo obras de calçamento com João Pio. Pois bem, nas eleições de 1968 - Maria Olímpia Neves de Oliveira (Maroquinhas) era a prefeita do Assu -, candidatou-se a vereador. Dia de concentração pública Maroquinhas presente no palanque, o locutor anunciou que ele iria falar. E Abrão ao pegar no microfone abriu o verbo: "Meus amigos é pela primeira vez que eu boto a boca no "aparelho" (WC) de dona Maroquinhas!" E a galera vibrou.

Fernando Fanfa Caldas

POESIA DE JOÃO CELSO FILHO

TEUS OLHOS, MARIA

Teus olhos, Maria,
formosos, lindos
como o dia;
feitos de luz,
de risos, são
de amor,
Neles contém meu coração
Oh! flor.

Teus olhos são belos,
cheios de castos anhelos;
neles se encerram
o céu e a terra.
Teu riso santo,
ai, meu triste canto.

Sim, são teus olhos
faróis acesos,
sempre presos em mim,
oh! querubim.

Ai, que funda mágoa
se os olhos teus, rasos d´água
um dia eu visse.
Escuta, Maria,
o mundo em vez de belo, vão seria,
profundo, sem ermo
porque eles são
meu coração.
E eu sou feliz,
ai, o teu olhar me diz.

(O poema acima está musicado pelo assuense Samuel Fonseca).

quarta-feira, 7 de abril de 2010

OS DESTINOS DA FRUTICULTURA

Por Carlos Eduardo Alves, advogado e ex-prefeito de Natal

Preocupa muito a situação dos produtores de frutas do Rio Grande do Norte, uma atividade que gera milhares de empregos e que fixa o homem ao campo, diminuindo o êxodo rural e o consequente inchaço das cidades, com a inevitável marginalização de centenas e centenas de cidadãos pela perda de sua dignidade.
É bem verdade que algumas dessas dificuldades não estão ao alcance do governo resolver. É o caso da queda do dólar frente ao real. Como 80% da nossa produção é vendida para o exterior, os produtores estão perdendo competitividade no mercado externo.
O Brasil hoje tem uma economia forte, o que é muito bom para o país como um todo, que tão bem resistiu à recente crise econômica mundial. No entanto, este fortalecimento da nossa moeda afeta alguns setores voltados para a exportação. É o que se chama de injunções do mercado.
Porém, um dos maiores problemas que vem afetando os produtores de frutas são as cheias que ocorreram nos últimos dois anos e que trouxeram uma enxurrada de prejuízos, especialmente para os produtores de banana do Vale do Assu. A solução técnica concentra-se na construção da Barragem de Oiticica, que por sinal está contemplada nas emendas coletivas da bancada federal. Outra grave questão diz respeito às condições de escoamento das safras. O diagnóstico dos Mercados Atacadistas e hotigranjeiros aponta que se perde  no país 30% da produção de frutas, legumes e verduras no caminho do campo às cidades pelas péssimas conndições das estradas brasileiras, como também pelo tempo perdido na viagem. Nosso Estado não está fora desta estatística.
Uma das soluções plausíveis é voltar nossa produção para o mercado interno. Há vários estudos mostrando a melhoria de renda da produção brasileira e do Nordeste em especial. É um novo público consumidor que está se agregando ao mercado e que não pode ser desprezado.
Mas voltando ao mercado externo, segundo alguns estudiosos do assunto, é importante que a atividade seja planejada de forma unificada, ou seja, uma boa alternativa é a formação de cooperativas. Isso daria mais força à negociação e também na hora da compra de insumos.
Aí é que o poder público pode atuar. Além de cuidar melhor das estradas, incentivar e dar apopio para a consolidação dessas cooperativas, garantindo assistência técnica para aqueles produtores que precisem melhorar sua produtividade e sua logística de distribuição dos produtos.

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EU...TU Eu sou doçura, Mas o mel és tu A imagem é minha, Mas a cor é dada por ti A flor sou eu, Mas tu és a fragrância Eu sou felicidade, Ma...