quinta-feira, 7 de outubro de 2010

CARLOS GOMES - UM PEQUENO GRANDE HOMEM

Imagem do blog.

Por Pedro Simões, professsor de direito (Aposentado) Escritor e Advogado.

“Quem acende uma luz é o primeiro a se beneficiar da claridade”. (G.K. Chesterton)

Ele me diz, com voz muito grave e pousada nas palavras (como o pássaro no fio do telégrafo), que está cansado e desanimado e que agora quer descansar. Escrever suas memórias, talvez, realizar, quem sabe, um velho projeto de gravar um disco com as músicas prediletas, coisas da juventude, recolhidas nos programas da Rádio Poti...

Mas a voz sugestivamente musical que se vale da pauta no imaginário fio, é sem propósito, cavilosa, um lamento, um instante de distração do viés alinhavado da idade. Porque, percebe-se o brilho nos olhos, a firmeza da voz, a severidade com que trata a si mesmo. Até quando pede arrego, esgrima com uma retórica que nada mais é que o repositório das muitas decepções e indignações recolhidas no seu longo caminho de aprendizagem existencial.

Ele está com os braços apoiados no birô do seu escritório e olha, distraidamente, como um cacoete ou uma fuga para divagação, o retrato do seu velho pai. Percebo que desvia o olhar, certamente, permito-me a ilação, para não encarar a expressão de censura, somente captada por sua imaginação, desse notável jurista e homem público que nunca transigiu em questões de princípio, nem fugiu da liça dos bons combates.

Como se dissesse: “Que é isso, meu filho?” Ou não dissesse absolutamente nada e o olhar de censura pesasse mais que as palavras. Sei do que estou dizendo, porque era a maneira como o meu próprio pai me punia – com um olhar de doce censura, tristonho, frustrado, magoado.

No retrato, o desembargador José Gomes confronta a máquina fotográfica com serenidade, com um destemor natural, sem afetações. Talvez quisesse registrar a própria personalidade de homem simples que se conduzia segundo a sua própria essência, não quisesse aparentar algo diferente, distante daquele moço de Taipu, criado para ser um “homem de bem” segundo a cartilha dos antigamentes , especialmente do velho João Gomes.

Seu filho, Carlos Roberto de Miranda Gomes, Carlos Gomes, (Carlinhos para meia dúzia de amigos mais chegados) segue-lhe as pisadas na areia movediça da contemporaneidade, em que os valores se subvertem e a filosofia moderna se alicerça no propósito de “ter” ao invés do “ser”. Mesmo assim, ou talvez por isso, acompanha os passos do pai, evitando justapor às dele, as marcas do seu caminhar, porque embora seguindo as pisadas, marcadas indelévelmente no solo imemorial da mesma cidade onde viveram, com o mesmo norte magnético esmo balizado por Themis, a deusa da justiça, o filho forjou o própria molde, usando a mesma têmpera do pai.

Carlos Gomes é um pequeno grande homem – vou brindá-lo com o mesmo epíteto com que designei o meu pai, porque ele não comporta outra qualificação. De altura modesta, é um transcendente no seu íntimo, fato que compensa a baixa estatura, ou talvez a estatura seja um artifício, um engodo, ou um ato de humildade para não fazê-lo vaidoso por ser quem é.

Não temos uma biografia conjunta de longas jornadas. De fato, demos um com o outro na velha faculdade da Ribeira, quando cursávamos direito. Quando ele ingressou, eu estava no segundo ano. Alguém o apontou e me disse tratar-se do filho do desembargador José Gomes, um dos nossos professores de Direito Civil. E que o novo colega era um rapaz muito estudioso e esforçado. O “esforçado” ficava por conta do encargo adicional de uma ocupação formal no mercado de trabalho e de uma vida planejada para compromissos mais duradouros e efetivos.

Sinceramente, deu-me a impressão de um tipo que chamávamos de “Caxias”, equivalente, hoje, guardadas as proporções de tempo, espaço e recursos tecnológicos, a CDF ou NERD. Talvez tenha sido uma avaliação apressada e algo antipática da minha parte, que, áquela época me ocupava com coisas tão diferentes entre si e tão fascinantes quanto a filosofia existencialista, a literatura, a prática de esportes e as atividades sociais. Como me levei muito a sério na infância e na adolescência, descobrindo quem era e o que pretendia ser, realizava então a minha temporada adolescente, na contramão do meu amigo, um engajado nos batalhões da responsabilidade precoce. Alguém enredado nas malhas do exercício da maturidade enquanto os iguais viviam sonhos infanto-juvenis

Cruzávamos um pelo outro e nos cumprimentávamos formalmente. Éramos diferentes, saídos de mundos diferentes emoldurados, entretanto, pelos mesmos valores morais e intelectuais. Derivávamos. Ele, de criação rígida, disciplinada, cartesiana e positivista. Eu, oscilando entre o autoritarismo compensatório de minha mãe e o liberalismo arroubado do meu pai. Sobretudo no tocante à liberdade de pensamento, no descompromisso com doutrinas e dogmas, não apenas permitido, mas sugerido pelo meu pai, que se admitia materialista e ateu.

Mas, confesso, fascinava-me a postura de uma rigidez sem sossego do meu futuro grande amigo Carlinhos. A sua austeridade, o modo como pontificava entre os seus colegas de turma, sempre senhor de uma opinião ponderada, honesta e clarividente. Ele era estimado e respeitado, embora não cultivasse qualquer estratégia para conquistar uma ou outra posição. Nele essas qualificações eram tão espontâneas como o ato de respirar.

Destacava-se, na sua aparência, uns olhos vivos que pareciam captar tudo numa perspectiva de grande angular; o aprumo formal das suas roupas e uns bigodes negros e bem aparados. Pisava firme e decidido. Notei que tinha o hábito de falar, perscrutando ao seu redor, embora concentrado no interlocutor, como quisesse estar certo das suas possibilidades de defesa contra o imponderável, ou buscasse no vácuo uma linha de raciocínio adequada à argumentação.

Soube que trabalhava no Tribunal Regional Eleitoral, era exímio datilógrafo e dono de uma memória prodigiosa, capaz, por exemplo, de referir qualquer lei, decreto, regulamento ou ato normativo, sem consulta a qualquer texto ou repositório. E também que era casado e pai de uma filha. Já assentado no mundo, embora começasse a planejar a sua carreira.

Depois, os anos de chumbo nos afastaram. Perdi-me na voragem do desencanto e do medo, tolhendo-me, por vontade própria, a ânsia de explorar horizontes e de voar livre por espaços inexplorados. Vi-me, em 1965, no Rio de Janeiro, na Fundação Getúlio Vargas , e, retornando, fui contratado pela Prefeitura Municipal de Natal, no governo de Agnelo Alves, como Técnico em Organização e Orçamento, mercê do curso que fizera na FGV.

Em 1967 graduei-me, abandonando a velha faculdade e a convivência à distância com o meu notável colega.

(Nesse meio tempo, entre o pós-golpe militar e a ida ao Rio de Janeiro, apaixonei-me por uma colega de turma de Carlinhos com quem quase me casei, e ela reforçava a versão corrente que dava conta da inteligência, da aplicação aos estudos jurídicos e da integridade do meu amigo.)

Faço uma pausa providencial e necessária, para confessar que o cansaço existencial que atribuo como cavilação necessária ao meu dinâmico e tenaz amigo, é de fato, meu, genuinamente meu. Talvez tenha havido uma transposição motivada por uma sub-reptícia inveja do denodo e da persistência de Carlos Gomes. Cansei-me, porque me dei conta que o ser humano claudica pelo hábito de perseguir as mesmas imperfeições, e de cometer os mesmos erros. Fataliza-se à danação por conta própria.

Eis que, às vezes falta-me alento para animar os meus filhos, como muitas vezes careci de argumentos convincentes para estimular os meus alunos. Nunca Rui de Haia foi tão citado e o desalento tão incorporado ao leguleio dos desesperançados. O crime e os igualmente importantes e temerários pecados veniais das transgressões são composições triviais, empobrecendo as leituras do jornais e as audiências dos rádios e televisões. As tragédias são banalizadas. Os humanos parecem alimentar-se, como os urubus e os vampiros, da carniça e do sangue. E parecem não se importar com a corrupção e o declínio da moral.

Por isso tive a urgência de publicar uma série de perfis de criaturas que reputo comumente extraordinárias, porque conseguem permanecer pessoas comuns, alçando-se sobre os seus pares por praticarem conduta regularmente exigida pela ética, mas desprezada pela maioria.

É necessário essa amostra de modelagem para asseptizar os monturos de lixo, tonificar as mentes em crescimento e formação com exemplos dos que valem a pena, daqueles que, mesmo em minoria, valem por uma multidão.

Carlos Roberto de Miranda Gomes é um desses, dos mais destacados. Íntegro, no sentido de ser um feixe de fibras morais de incrível resistência, capaz de repelir as agressões fisiológicas dos corruptos e corruptores. Correto, na justa medida em que é capaz de aplicar a dosagem certa para cada uma das patologias sociais enfermiças e o justo incentivo à sanidade cívica.

É leal. Os que o conhecem, sabem da sua natureza solidária, fraterna, e, sobremodo combativa, quando se ombreia a alguém na veemente defesa das injustas ofensas e agressões. Eis porque a sua mediação é sempre solicitada nos conflitos corporativos e porque as suas opiniões são respeitadas como editos de sapiente jurisconsulto.

Casado há quase cinqüenta anos com a sua vizinha de ascendência italiana, Therezinha Rosso, mantém com a sua consorte uma relação de amor e de amizade, de um companheirismo bem sucedido. Pai de Rosa Lígia (de quem tive a honra de ser professor na UFRN), Teresa Raquel, Carlinhos (que é colega e amigo do meu filho mais velho, Marcos Frederico) e Rocco – todos graduados em Direito - deles recebeu outros filhos, tornando-se pai duas vezes, feito de açúcar candy, com cobertura de caramelo: Raphael, Gabriela, Lucas e Carlos Víctor, Carlos Neto e Maria Clara, que são as suas alegrias.

Família numerosa e unida, coesa, como aquele feixe de varas que o patriarca mandou os filhos quebrarem, sem sucesso, para amostrar o valor da união. Assim também o fizeram o pai, José Gomes e a mãe, Dona Lígia. Seis irmãos solidários: Moacyr, Fernando (falecido), Leda e Elza (que foram colegas de minha mãe no TRE), Socorro e José Gomes Filho (Zézinho).

Que ampliaram o patrimônio familiar com dezoito sobrinhos: José Neto, Flávio, Eduardo, Maria da Graça, Lúcia Maria, Renato, Maria Lígia, Fernando Filho, Clemente José, Gracia Maria, Tereza Cristina, José Júnior, José Henrique, Patrícia, Isaac Bruno, Flávia Luciana, Greenfell Filho, Rodrigo e Daniel.

Quem poderia aspirar uma riqueza maior?

Mantém-se como uma espécie de patriarca da família, menos por tradição e mais pelo espírito de clã, solidário, disponível, bom ouvinte e conselheiro, é também aquele cujo socorro é solicitado antes do recurso médico-hospitalar. É o enfermeiro experiente, o curandeiro milagroso que às vezes com a simples presença é capaz de afastar as idiossincrasias da saúde e do infortúnio.

É um ser Intelectual que, aproveitando a carona, como eu, segue a orientação de Chesterton quando esse nos adverte que a idéia sem a expressão, é idéia ociosa e a expressão, sem a ação é uma expressão inócua. Somos, permitam-me aproveitar novamente essa circunstância, homens de ação, executivos, embora criadores, contemplativos, líricos – numa definição, operários intelectuais.

Foi assim quando fizemos parceria para a criação do IBTJ, realizando o primeiro curso de direito para os cidadãos leigos; quando promovemos a edição de livros didáticos com metodologia inovadora, para circulação nas nossas turmas de direito da UnP; e foi assim na campanha pelas eleições diretas na OAB, já referida nos perfis de Adilson Gurgel e Paulo Lopo Saraiva.

Filiei-me a ele, a Adilson, o seu maior parceiro, e a Jales Costa. Enriqueci-me com essa adesão. Fortaleci-me porque pude dar vazão às convicções que mantinha reservadas na minha própria individualidade e encontrei identidade e ressonância nos propósitos que perseguia.

Posso, com essa série de perfis, e com o revigorante exemplo de Carlinhos, vivificar o legado de esperanças no futuro da minha terra, esmaecido e débil pelo campear das nulidades e das indignidades impunes. Porque esses modelos são contemporâneos, graças a Deus não integram ainda o “Era uma vez...” para que um cético não se refira aos exemplos como coisa passadista, sem viabilidade para sobreviver no “front” do contemporâneo.

É tão assustadora a conjuntura político-sócio-fiosófica que alguém já me disse que de nada adiantaria o retorno de Cristo, pois ele seria desprezado como visionário e inútil porque não traria teres e haveres, mas apenas palavras...

O tempo embarcou numa espaçonave no então Cabo Canaveral e, vencendo a gravidade e as distâncias, nos pôs frente a frente no Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no final dos anos setenta, já amanhecendo os oitenta. Éramos, ambos, professores do curso de direito. Ele, vinculado ao Departamento de Direito Público e eu, ao de Direito Privado.

Até chegar ao magistério universitário, ele palmilhou muito chão de barro. O pai, juiz, fez a circunavegância no interior do estado - Angicos, Canguaretama e Macaíba - carregando na carroceria dos caminhões a mobília familiar, pois os magistrados de carreira, vocacionados para a função como o Dr. José Gomes da Costa, residiam nas suas comarcas para melhor atenderem aos jurisdicionados.

Por esta circunstância, atrasou-se nos estudos, embora os pais hajam feito fibras do coração, distribuindo-os entre casas de familiares para que pudessem estudar, já que a itinerância interiorana do pai tolhia tal iniciativa, já que cursavam o segundo grau e não existiam colégios desse nível nas cidades da judicatura paterna.

Fez o primário no Instituto Batista de Natal; o segundo grau no Ginásio Natal e o colegial no Atheneu. Graduou-se em Direito em 1968.

Teve um longo e proveitoso aprendizado no trabalho, realizado desde cedo, por decisão pessoal, consciente das dificuldades financeiras familiares, sem que tal empenho fosse solicitado pelo pai. Determinou-se a coadjuvá-lo na provisão de recursos, pela limitação financeira do ganho paterno – juiz daquela época ganhava pouco, e, se não aceitasse o subsídio dos governos municipais para manter-se independente, o salário acabava mal fosse recebido.

Tornou-se radialista, comerciário e comerciante e depois servidor do Tribunal Regional Eleitoral. De posse do título de graduação, foi Auditor do Tribunal de Contas e integrou o quadro de Procuradores do Ministério Público Especial junto ao mesmo órgão.

Foi o primeiro diretor da Escola de Contas Professor Severino Lopes de Oliveira e primeiro Controlador Geral do Estado do Rio Grande do Norte. Juiz do Tribunal Regional Eleitoral.

Por onde passou, deixou a marca do dinamismo, da correção e da eficiência. Por isso, foi tão requisitado para o provimento de outros cargos, não necessariamente remunerados, mas de suma importância para algum segmento do mister profissional a que se dedicava, a exemplo da Presidência do Núcleo de Estudos Jurídicos da UFRN (NEJUR) e do Instituto Brasileiro de Tecnologia Jurídica (IBTJ), além de integrante de diversas comissões e grupos de trabalho.

Foi Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Norte. Integra o Instituto Histórico e Geográfico do RN, União Brasileira de Escritores do RN e a Academia de Letras Jurídicas do RN. Foi agraciado com inúmeras honrarias, dentre as quais destacam-se o título de Professor Emérito e Doutor Honoris Causa concedido pela UnP e a Medalha do Mérito Universitário, concedida pela UFRN.

No entanto, confidenciou-me que, a despeito da gratidão e da honra por haver sido agraciado por homenagens tão significativas e importantes, teria sido a exposição de motivos elaborada pelo então Procurador Geral do Ministério Público Especial, professor Múcio Ribeiro Dantas, encaminhada ao governador Geraldo Melo, para concessão da sua aposentadoria, a distinção que mais o sensibilizou.

Foi Professor do Curso de Direito de quase todas as instituições de ensino superior do nosso estado (UFRN, UnP, FARN, FAL, FACEX, ESA, FESMP e ESMARN). É pós-graduado em Direito Civil e Comercial e em Direito Constitucional.

É convidado como consultor e palestrante para assuntos relacionados com a Gestão Pública e se mantém como colaborador de jornais e revistas, além de coordenar um dos endereços eletrônicos mais acessados do nosso Estado, o “Blog do Miranda Gomes”.

É autor dos seguintes livros: Da remuneração dos vereadores, Oração de despedida, A proteção das minorias nas sociedades anônimas, Cadernos de Direito Tributário* (2 vols.), Lei Orgânica dos municípios do Estado do Rio Grande do Norte*, Licitação – teoria, prática e legislação, Curso de Direito tributário*, Cartilha ABC do consumidor, Da imunidade tributária dos aposentados e pensionistas, Manual de direito financeiro e finanças, Licitação – noções elementares, Testemunhos, Cartilha de gestão fiscal e Traços e Perfis da OAB/Rn.

Primeira inconfidência – Pouca gente sabe, mas Carlinhos é dono de uma voz belíssima, que o tempo não descurou. Desde criança era requisitado para se apresentar em festas e nas rádios natalenses. A primeira vez que cantou em público foi no próprio Instituto Batista de Natal e depois no “Domingo Alegre” de Genar Wanderley.

Em 1950 ganhou o concurso da mais bela voz infantil, conquistando o título de “Campeão Vic-Maltema” e com esse galardão, foi contratado pela Rádio Poti, nela permanecendo até 1954. Integrou o elenco de cantores da Sociedade Artística Estudantil e, gravou duas faixas num disco coletivo com os artistas da Rádio Poti e um disco solo na PRE-9, Rádio Clube do Ceará, onde em certa ocasião foi acompanhado por ninguém menos que Evaldo Gouveia.

Gravou também com o Trio Irakitan. Teve um programa semanal na mesma Rádio Poti, denominado “Almanaquinho Seta”, onde também se apresentavam Agnaldo e Selma Rayol. Prosseguiu com entusiasmo a sua trajetória artística até que o Desembargador José Gomes decidisse realinhá-lo para projetos mais concretos e duradouros, exatamente quando a jovem revelação musical se preparava para vôos mais ambiciosos: havia sido convidado para integrar, como profissional, o “cast” da Rádio Tamandaré de Recife, com a promessa de gravar um disco na indústria Rozemblit, dona do famoso selo “Mocambo”

Mas esta é outra estória, e tão fascinante, que não quero roubá-la do meu amigo, que fica nos devendo um livro cujo título sugiro tomar de empréstimo do cancioneiro Luiz Vieira: “O Menino Passarinho”.

Segunda inconfidência – É de índole pacífica. Conciliador e homem contido pela educação, é daqueles que conta até mil para não perder a paciência, porque antes de tudo respeita a dignidade e a compostura alheia. Mas, depois que excede a milésima contagem, que me perdoem o despropósito da referência, mas não resisto ao meu ímpeto nordestino: é igual a um siri numa lata.

Querem ver um homem valente e destemperado, que se pise no calo de estimação: a sua honra, a sua dignidade pessoal.

Terceira Inconfidência – Há uma passagem de muita singeleza da vida do meu amigo que ele recorda com muito orgulho. Foi quando serviu ao Exército (1959) no 16º R.I, na Companhia de Comando e Serviços - CCS. O comandante do Regimento era Dióscoro Gonçalves Vale, conterrâneo do Seridó, que depois chegou ao generalato;   o comandante da Companhia era Milton Freire de Andrade que muitos anos depois comandou a Polícia Militar do nosso estado.

Disse-me Carlos Gomes que no serviço militar aprendeu muito civismo e a idéia de igualdade. R quer, com muita honra foi distinguido com a Medalha Marechal Hermes, de aplicação e estudo, exatamente no dia da inauguração de Brasília."

Sinto-me lisonjeado e honrado por ser seu amigo. A ligação pessoal me engrandece, é referência curricular e certamente afiançará os seus herdeiros que se valerão dos laços co-sanguíneos para atestar a pureza e a excelência da linhagem.

(*) Vic-Maltema era a marca de um achocolatado dos anos cinquenta que concorria com o Toddy e o Nescau.

PALÁCIO FELIPE CAMARÃO

Texto e imagem de Hilneth Correia


Durante todo o mês de outubro será realiza o “Outubro Rosa”, movimento que é pretende conscientizar a população feminina sobre a importância do diagnóstico precoce e incentivar além do auto- exame, a realização de exames para detectar a doença.

O movimento é realizado em diversos países do mundo, que ganham iluminação em tons de rosa nos principais cartões postais.

Aqui em Natal três locais recebem iluminação cor-de-rosa: o Forte dos Reis Magos, a Prefeitura do Natal e o Shopping Midway Mall.

No Brasil, o número varia de 49 a 50 mil novos casos por ano, com destaque para a região sudeste que apresenta a maioria dos casos.

A mamografia é o exame principal para detectar o câncer e atenta que as mulheres a partir dos 40 anos devem procurar o mastologista para que o profissional defina qual a freqüência que o exame deve ser repetido.

Palácio Felipe Camarão - Natal/RN

Natal é a capital do Rio Grande do Norte e possui 806.203 habitantes. É conhecida como a "Cidade do Sol" ou "Noiva do Sol" por ser uma das localidades com o maior número de dias de sol no Brasil, chegando a aproximadamente trezentos.

O Palácio Felipe Camarão foi inaugurado em 1922 e atualmente é a sede da prefeitura da cidade de Natal. Localizado no bairro da Cidade Alta, foi construído em arquitetura eclética, mesclando influências de estilos arquitetônicos diversos. Seu nome homenageia Filipe Camarão - um dos maiores heróis da história da expulsão holandesa no Nordeste.

(Do site http://www.nahorah.net/)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

AOS NORTE-RIOGRANDENSES

Aos meus amigos e familiares do Rio Grande do Norte, especialmente, especialmente do Açu e Natal (terra que escolhi para viver a minha maturidade), agradeço pelos 133 votos que obtive para deputado estadual nas útlimas eleições gerais. Apesar da humilhação, da discriminação que sofrie, sendo excluídos por alguns dirigentes e coordenadores do meu partido (PPS), bem como da Coligação Vitória do Povo, que não me deram o direito de ser veículado na mídia, como rádio e televisão, para que eu pudesse disputar com igualdade e levar a minha mensagem a todos os potiguares. Certamente, teria um melhor resultado . Msmo assim assim, fiquei com a minha inexpressiva votação, na sexta posição de suplente) . Valeu a pena, o resultado não me faz recuar, desistir, muito  engrandece a minha trajetória na política do meu estado, o meu currículo. Se nunca carreguei mágoa ou ressentemeto, não é gora que irei carregar neste meu velho, amigo e sofrido coração de tantas alegrias mas também de tantas decpções. A luta continua. Enquanto  viver ea saúde me permitir me permitir, penso eu, em disputar pela oitava vez, outro cargo eletivo que eu achar conveniente.
Desejo dizer, portantanto, que a minha candidatura como já dissera antes, só teve um  objetivo: disputar mais uma eleição, colaborar com com o processo democrático e,  sobretudo contribuir  com o nosso sofrido Rio Grande do Norte. 

Nesta oportunidade, desejo parabenizar George Soares pela sua vitória a assembléia legistiva, bem como ao povo  do Vale do Açu, por ter lhe ajudado a fazê-lo seu representante na casa legislativa da terra potiguar.

Com o abraço do,

Fernando Caldas Fanfa

VITÓRIA DE ROSALBA, COM 62.53 DOS VOTOS CONSOLIDA LIDERANÇA DO PREFEITO IVAN JUNIOR

Todos os candidatos apoiados por ele foram eleitos
 
A vitória da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), com 62,53% dos votos válidos do município do Assu, consolida a liderança política do prefeito Ivan Júnior (PP), eleito em 2008. Ele cumpriu a palavra empenhada a Rosalba, que o apoiou naquela eleição.
 
“A vitória da senadora Rosalba Ciarlini foi muito importante para o nosso município, porque ela será uma parceira valorosa para trazermos bons projetos que estimulem a geração de emprego e renda para todos”, comemorou o prefeito Ivan Júnior. “É importante lembrar que Rosalba foi a autora do Projeto de Lei que deu origem a ZPE do Sertão, iniciativa que irá mudar a face econômica do Vale do Açu e de parte do Rio Grande do Norte”, lembrou o prefeito.
 
O “slogan” da administração de Ivan Júnior, “Trabalho e Trabalho” também foi lembrada pelo prefeito, fazendo uma ilação a futura administração da governadora Rosalba Ciarlini. “Rosalba trabalha e trabalha muito”, disse Ivan. “Basta ver suas administrações a frente da Prefeitura de Mossoró, aprovada por pelos mossoroense que agradeceram a ela dando 83,64 % dos votos válidos no município”, concluiu o prefeito.
 
Chapa
 
Todos os candidatos apoiados pelo prefeito Ivan Júnior foram bem votados no município do Assu e todos foram eleitos. Pela ordem, Rosalba Ciarlini (Governo), Garibaldi Filho e José Agripino (Senado), Fábio Faria (Câmara Federal) e George Soares (Assembleia Legislativa). (LS).


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AOS NORTE-RIOGRANDENSES

                                                                                              

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FELIPE MAIA: UM JOVEM COM VOCAÇÃO PARA A VIDA PÚBLICA

JORGE FERNANDES, POETA NATALENSE


(...)

Deus lembrou-se de mim, lembrou-se
ungindo-me de bondade e de amor!
Martirizou-me pra tornar-me santo
e deu-me asas pra fugir da dor...

PERNAMBUCANAS POBRE USAM CARTÕES POSTAIS PARA QUESTIONAR CANDIDATOS


"Assistente social trabalha no programa "Eu Decido o Meu Voto". Foto: Emma Lynch/BBC"

Mulheres negras e pobres não têm voz, afirma Edclea Santos

A assistente social Edclea Santos tem uma ideia genericamente negativa dos políticos. Ela diz que somente de quatro em quatro anos eles prestam um mínimo de atenção para a sua vizinhança, localizada nos arredores de Olinda (Pernambuco). "Aí, chove candidato".

as eleições gerais do próximo dia 3, as últimas semanas viraram um verdadeiro dilúvio político. "Tem aqueles que só aparecem, prometem coisas, oferecem dinheiro às pessoas, pegam o seu voto e aí você nunca mais os vê de novo", diz Edclea.

Mas, neste ano, ela faz parte de um projeto que busca valorizar os votos das mulheres, que representam mais da metade do eleitorado brasileiro.

Várias organizações se uniram para ensinar as mulheres de algumas das partes mais pobres de Recife e Olinda a como tirar fotos, escolher os melhores ângulos e cortar as suas imagens.

As melhores fotografias foram transformadas em cartões postais a serem enviados a candidatos, questionando os seus pontos de vista sobre os mais variados assuntos, incluindo aborto, saúde, racismo, crime e violência doméstica.

As mulheres também receberam câmeras descartáveis para retratar o seu dia a dia.

A próxima fase da sua campanha, intitulada "Eu Decido o Meu Voto", ocorre na internet, com a publicação das respostas dos candidatos em um blog.

Elas também têm monitorado as opiniões dos candidatos no Twitter e checando as suas promessas.

"A ideia era provocar os candidatos a falar sobre assuntos femininos e, ao mesmo tempo, criar uma cultura junto às mulheres de cobrar mais dos candidatos em relação às suas próprias vidas", diz Nataly Queiroz, do Grupo Curumim, uma organização de defesa dos direitos da mulher que está fortemente engajada na campanha.

"As fotos são uma maneira das mulheres mostrarem elas mesmas as suas vidas, sem serem fotografadas por outras pessoas ou falando por meio de outros".

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

FERNANDO CALDAS FANFA É CANDIDATÍSSIMO A DEPUTADO ESTADUAL

PORQUÊ ESQUECERAM DE FANFA?

Por Aluízio Lacerda

Que diabos fizeram da imagem do Fanfa? Assisti todo santo dia a programação gratuita da justiça eleitoral na TV, vi todo tipo de candidato, irreverentes , debochados, iludidos, enganadores, espertinhos e outros profissionais da atividade politica.

De Juscelino a Tocha, de Irineu Jaburu a Dagô do Forró, todos democraticamente mostraram a cara e algumas breves palavras pra sensibilizar o eleitor.

O que achamos estranho foi o esquecimento dado ao varzeano Fanfa, terminou o horário gratuito e a imagem de Fanfa, nem de forma paga, apareceu na telinha da TV contratada para veicular a programação gerada pelo stúdio da sua coligação.

Não verifiquei no site do TRE o seu registro de candidatura, mas tudo indica que o conterrâneo Fanfa não oficializou se pedido de candidatura...

Espero receber do amigo Fanfa alguma justificativa...

O vale não pode jogar na lixeira uma das suas capacidades humana, pra isso relembro o fato, para que o candidato, não fique relegado ao ostracismo das urnas por maldade ou esquecimento.

Nota aos meus conterrâneos do Rio Grande do Norte, especialmente de Natal e do Vale do Açu: Apenas foi feito a minha inserção nos veículos de comunicação, na mídia do nosso estado, na segunda feira pela manhã (duas inserções). Sabe por que? Porque fui verdadeiro, leal com o meu partido. E quem é leal em política, coerente, penso eu, leva desvantagem, sai perdendo. Mas o justo não perdoa meu caro amigo Aluízio Lacerda. Após as eleições, seja qual for o resultado, irei receber com muita honra e dignidade, como irei também aos tribunais civil do meu estado para que fato de discriminação não venha mais a ocorrer na política potiguar como ocorreram com muitos outros. Breve comentarei este fato mais detalhadamente. Pore´m,. sou candidatíssimo, legalmente registro no TRE do meu estado, com o número 23456.

Fernando Fanfa Caldas

RELÍQUIA - LEMBRANÇAS DA POLÍTICA AÇUENSE


O PRESIDENTE FIGUERÊDO NO AÇU

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Esquerda para direita: O presidente João Batista de Figuerêdo, Corália de Sabóia Costa.  
(Foto cedida por Carmém Délia).

João Figuerêdo foi o segundo presidento do Brasil a visitar o município do Açu (antes, teria sido o estadista Getúlio Vargas que fora recebido pelo prefeito do Açu Ezequiel Fonseca Filho em sua casa onde hoje está instalado a Casa de Cultura - Sobrado da Baroneza), quando da inauguração da Barragem Armando Ribeiro Gonçalve (Barragem do Açu), em 1983. Aquele presidente fora recebido no Campo de Pouso do Açu, pelo presidente da Câmara dos Vereadores da terra açuense Domício Soares Filgueira filho (Domicito) que se dirigiram num ônibus, junto com o prefeito do Açu Ronaldo Soares e demis autoridades cívis e militares, até o local daquela barragem.
O por quê da fotografia: Corália (foto acima), que era comerciante no ramo de calçados, politiquiera ao extremo, admiradora daquele presidente, sabendo que ele, Figuerêdo, era torcedor do Fluminense (clube de futebol carioca), se vestil com a camisa daquela agremiação futebolística e compareceu a solenidade de inauguração da barragem citada acima. Ela, Corália, estando próxima do palanque oficial (cordão de isolamento), Figuerêdo logo que terminou a solenidade, seguiu em direção a Corália para abraçá-la e tirar a foto histórica. Fica mais este registro para a memória da terra açuense.

Fernando Caldas Fanfa

DILMA DIZ QUE PRETENDE AMPLIAR LINHA DE CRÉDITO DO BNDES PARA CULTURA

Rio de Janeiro – A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, afirmou hoje (26) que pretende ampliar a linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para abrir mais espaços culturais pelo país, principalmente salas de cinema. “Isso significa que a população brasileira tem o direito de ter acesso ao cinema, ao teatro, a bibliotecas e a todos os espetáculos de ópera clássica até as manifestações diversas dessa riqueza cultural imensa que nós temos”, disse.


De acordo com a candidata, o governo deve garantir a produção de bens culturais descentralizada, que respeite a diversidade cultural, garantindo o acesso da população a salas de espetáculos em todas as regiões do país. “Você não pode ter incentivos à cultura centralizados. Terá de ter essa diversificação para poder captar essa diferença. Essa diferença que dá também condições de mais democracia cultural no Brasil”, disse.

Dilma Rousseff defendeu que devem ser respeitados os locais onde a cultura se expressa com maior intensidade, como é o caso do Rio de Janeiro, que tem a capacidade de fomentar a cultura e torná-la um grande acontecimento para o país. “Muitas vezes o Rio de Janeiro vai ser o local que os outros estados vão utilizar para poder firmar a sua cultura. Porque o que acontece aqui nós todos brasileiros encaramos como sendo do Brasil”, afirmou.

A candidata disse ainda que para que o país estruture um projeto de Nação, são precisos, além de construir um país e uma sociedade desenvolvidas, dois elementos essenciais que, segundo ele, necessitam de incentivo. “Um é a educação de qualidade, o outro é o respeito mais absoluto a sua expressão cultural, que é o que você tem de identidade que mostra a alma desse povo, que é a nossa cultura. Por isso a questão da cultura pra mim é uma das questões mais estratégicas”.

Dilma Rousseff fez uma visita ao Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, conhecido como Feira de São Cristóvão, na zona norte da cidade. Ela ficou 25 minutos no local, e não teve como circular devido à aglomeração que se formou.

Com informações da Agência Brasil.

domingo, 26 de setembro de 2010

ANA MARIA CASCUDO:SEMENTE, FRUTO E FLOR


“Adestrei-me com o vento e minha festa é a tempestade”
Cecília Meireles
“Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.”
Clarice Lispector


                Há pelo menos duas personalidades que me surpreendem pela força de suas individualidades: Luís Fernando Veríssimo(1) e Ana Maria Cascudo. Ambos tiveram pais exponenciais, dedicaram-se ao ofício da escrituração literária e sobreviveram, ilesos, resistindo à sombra ocultável da paternidade, à implacável aguarrás com potencial para desvanecer qualquer figura de qualquer matiz, ou, pior que isso, de indiciar sugestiva oportunidade de auto-promoção às custas do sobrenome ilustre que lhes sovinasse os valores pessoais.
                Em posição mais confortável, mas igualmente incômoda, situou-se Zélia Gattai, mulher do maior romancista brasileiro contemporâneo, Jorge Amado. Escritora que sempre teve uma identidade própria, mas esta se confundia com a do seu afamado companheiro. Mesmo quando produziu “Anarquistas graças a Deus”, ainda se tinha a impressão de que o dedo do notável escritor haveria passeado pelo teclado de sua máquina e produzido, senão a totalidade, alguns textos adjutórios. E também Clara Ramos, filha do notável Graciliano das Alagoas, que, bem a propósito, num gesto de ousada autoconfiança, tornou-se a mais autorizada especialista da obra paterna(2).
                É certo que, cedo ou tarde a verdade subjacente ao mito aflora, confirmando a versão, ou a desautorizando, por mérito próprio dos herdeiros, ou pelo desfazimento da sombra protetora, com a paralisia criadora ou o óbito dos instituidores da herança.
                Ocupo-me agora de Ana Maria, filha dileta do Mestre Luís da Câmara Cascudo e tão presente na vida desse extraordinário homem de letras norte-rio-grandense, quanto, só para citar como exemplo, minha amiga e colega de turma Vitória, filha do também valoroso intelectual potiguar Américo de Oliveira Costa e da culta e inteligente Helena Kazantzakis, esposa do excepcional pensador e escritor grego/cretense Nikos Kazantzakis(3).
                A diferença entre as duas herdeiras intelectuais e Ana Maria é que esta última se impôs com identidade inconfundível, conservando a memória do seu famoso ancestral, e até fundindo-se a ele, todavia sem se diluir ou amalgamar-se, como curadora do seu acervo e difusora de sua memória, num gesto também marcante de extrema ousadia e auto-confiança, mas tendo o cuidado de demarcar o seu território, imprimindo a sua “griffe” e afirmando-se como legítima portadora do DNA paterno, sem contudo ser caudatária por graça ou beneplácito desse legado. Mesmo porque é impossível a clonagem desse espécime irreproduzível.
                Ana Maria Cascudo é Ana Maria Cascudo, acidental e afortunadamente filha da maior expressão intelectual do Rio Grande do Norte, e das maiores do país, posição que não renega e que é motivo maior do seu orgulho, mas que não interfere nem pode ser dada como responsável pelas posições que conquistou – sobretudo em relação àquelas alcançadas após a morte do pai.
                É uma mulher extraordinária, inteligente, decidida, culta e original naquilo que faz – fazendo bem tudo o que faz.
                Graduou-se em Direito e foi uma das raras mulheres de sua turma. Foi promotora de justiça, a mais jovem do Brasil e a primeira do Rio Grande do Norte a participar de um júri. Jornalista dentre pouquíssimas do seu sexo. Foi uma mulher liberada, independente, bem à frente dos padrões de sua época de muito jovem, quando as mulheres eram preparadas para serem submissas e “guarda-costas” dos maridos (explico-me: aquela estória do `por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher´) como, exemplificativamente, e por vontade própria, muita renúncia, muito amor e a exata compreensão do destino do consorte, fez a sua mãe, dona Dahlia.
                No caso de dona Dahlia, menos do que a sua formação tradicional e a cultura da época, pesou mais a madura percepção de que o seu marido fora destinado a outro consórcio, paralelo ao seu e, e, por mais paradoxal que fosse, a esta circunstância deveria se submeter: as leituras, as pesquisas e o apaixonante ofício de escrever.
                Ana casou-se duas vezes, teve três filhos e três netos, e conseguiu manter-se funcional como dona de casa, doando-se como esposa, mãe e avó, mas conservando a sua identidade e independência. Nunca foi apêndice, nem metade ou anjo da guarda, sempre foi companheira, devotada, fiel, amante, mas companheira, parceira existencial. Assim foi com o major Newton Roberti Leite, primeiro marido, de quem se tornou viúva, e com a notável criatura humana com quem mantém uma relação estável, duradoura, amorosa e fraterna, Camilo Barreto.
                Tenho a premonição de que o mesmo destino da mãe será o de Camila, jovem advogada e escritora talentosa e criativa, que se envaidece da condição de neta e filha de quem é, mas se conserva individualista por crença e determinação pessoal. É conselheira intelectual da mãe (sobretudo nos títulos e nas avaliações das suas obras) assim como assessorava a avó Dahlia nos raros e encantadores depoimentos pessoais. Geralmente sobre o marido ou a sua convivência com o gênio da cultura potiguar.
                Recolhi, por obra e graça de Camila, sua filha, ainda no começo da sua adolescência, quando eu editava a Revista Exclusivo, um tocante depoimento de dona Dahlia sobre o seu namoro com um romântico Cascudo. Depois, Diógenes da Cunha Lima leu-me outro depoimento dessa encantadora criatura onde ela confessa e explica, com convicção e maturidade, sobretudo com muito amor e devoção ao marido, a sua decisão de secundá-lo e nunca disputá-lo com a sua obra, como já expus.
                (Aos nove anos de idade Camila publicou um livro infantil, “O Reino das Joaninhas” e agora, premida pelo ofício profissional da advocacia e um curso de pós-graduação na Argentina, escreve artigos e monografias jurídicas. Mas, aguardem e verão o renascimento dessa mais nova matriz Cascudiana)
                Por esses dois exemplos, creio mesmo que a estirpe do mestre Luís da Câmara Cascudo não conserva moldes que possam ser legados hereditariamente, ao invés, cria matrizes a cada geração, embora o gene responda fundamentalmente pelas características das matrizes. Assim sucedeu com o coronel Francisco Cascudo, político e jornalista, que criou a matriz de Luis, que, por sua vez se fez semente da matriz de Ana e esta, de sua filha Camila.
                Todos são personagens Cascudianos: o coronel, dona Dahlia, Ana e Camila. Longe de ser uma fatalidade é uma benção, porque todos se energizaram com a aura do sábio da Junqueira Aires. E é tão poderosa essa energia, irradiante e luminosa, que alcança até os ancestrais, como em relação ao pai Francisco, maior admirador e incentivador do filho, um homem maior que a sua estatura e que se agigantou mais ainda pela gênese, formação e decidido apoio ao magnífico rebento. Expandiu-se no filho.

                Diz Simone de Beauvoir(4) que não se nasce mulher: torna-se. Num primeiro momento se é tomado por duas linhas de reflexão coincidentes, mas não iguais. Aquela que nos conduz à singela constatação de que se nasce criança e que a natureza mulher revela a maturidade da espécie, e aquela, de mais difícil arquitetura, segundo a qual se nasce sexuado: masculino e feminino, macho e fêmea – condições biológicas. E que, ser mulher é condição humana.
                Segundo magistério de Hannah Arendt(5), condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que o ser humano impõe a si mesmo para sobreviver. As condições variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o ser humano é parte. Nesse sentido todos os seres são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros tornam-se condicionados pelo próprio movimento de condicionar. Sendo assim, somos condicionados por duas maneiras: Pelos nossos próprios atos, pelo que pensamos, por nossos sentimentos, em suma os aspectos internos do condicionamento, ou pelo contexto histórico que vivemos, a cultura, os amigos, a família; são os elementos externos do condicionamento.
                Posto desta forma, apesar da tese indicar certa complexidade filosófica, a equação nos parece mais raciocinada, mais plena de sentido, mais lógica. Ser mulher é ato de conquista, atestado de maturidade, certificação, transcendência. Assim como ser homem.
                Veja-se que a expressão “homem” já foi designação do próprio gênero, o ser humano, tal a sua proeminência numa cultura dominada por esta espécie. Gradativamente, como resultado de uma lenta mas obstinada luta pela igualação das condições, a mulher conquistou a posição de parceira nas elaborações sociais.
                Mas são condições diferenciadas, do ponto de vista biológico e, em decorrência desta natureza, que também diz respeito ao aspecto funcional. Sempre foi assim. A diferença entre antigamente e o momento contemporâneo é que hoje essa distinção não é aceita como reducionista, em desfavor da condição de plenitude da mulher, mas no reconhecimento de que o seu potencial competitivo ultrapassa o que antes era tido como limitações.
                Afinal, o homem também é limitado no seu contexto humano, tanto que expõe e amplia como vantagem, a sua condição física, antes dada como proeminente em relação à mulher. São biotípico e espiritualmente diferentes. Esta é lunar, aquele é solar. Esta é esquerda, aquele é destro. Passiva, ela, ativo, o homem. Ambos, seres animados pela mesma inteligência  e aptidão.
                Mas em favor da mulher milita a presunção de que ela é o mais importante ser em transição na natureza, porque é semente, é matriz e germinadora, tendo-se em mente que metade da população do universo é composta por pessoas de sexo feminino. E a outra metade de filhos dessa espécie.
                Essas digressões, aparentemente dissociadas do contexto, na verdade ajusta-se como uma luva á nossa perfilada. Ana competiu, lutou e venceu. Tornou-se mulher, condição humana e alcançou o ponto de equilíbrio com a outra espécie, dita dominante. Tanto é verdade, que os preconceitos e as desconfianças que a cercavam em razão da digital do pai, desvaneceram-se diante da evidência do seu espírito livre de amarras e aguerrido e do seu talento pessoal.
                Aos treze anos iniciou-se no jornalismo, quando muitas adolescentes ainda confidenciavam com suas bonecas ou suspiravam os primeiros sonhos sexuados. Manteve uma coluna sobre a Bossa Nova chamada “Cantinho Hi-Fi”. Prosseguindo no jornalismo, durante anos a fio manteve no jornal “A República” uma coluna em que escrevia sobre assuntos sócio-culturais reservando os domingos para a publicação de biografias femininas que lhe forneceu material para o primeiro livro – “Mulheres Especiais”.
                Lembro que a jornalista Ana Maria foi convidada por mim, com a intermediadora cumplicidade de Camila, para integrar a equipe de colaboradores da já citada revista Exclusivo,  e a matéria de sua estréia tratava de um assunto no mínimo intrigante, senão um tanto “gauche” para uma revista que se afirmava pelo bom gosto dos temas escolhidos: Unhas encravadas. Num primeiro momento, ficamos entre surpresos e constrangidos, mas depois que lemos o artigo pudemos comprovar a qualidade da jornalista, a capacidade de prestidigitadora, de manipuladora-aliciadora de textos banalizados, tal qual o fazia o Mestre Câmara Cascudo.
                Depois de “Mulheres Especiais”, publicou “O colecionador de Crepúsculos”, foto-biografia do pai ilustre; “Neblina da Vidraça”, sobre a vida e obra da poeta Palmyra Wanderley (6) e aguarda a edição de “O Herói Oculto”, já no prelo, biografia do avô, coronel Francisco Cascudo(7).
                Ocupa a cadeira número treze na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, sucedendo ao mestre Cascudo e essa foi considerada por ela a maior distinção que recebeu ao longo de sua vida; é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da União Brasileira de Escritores; uma das fundadoras da Academia Feminina de Letras do RN e da Academia de Letras Jurídicas do RN; sócia correspondente da Academia Paulista de Letras - onde o pai era membro – e da Academia de Letras, História, Cultura e Arte, também de São Paulo.
                Vale considerar que valoriza com entusiasmo todas as homenagens prestadas ao seu pai-ídolo, mas registra com muito carinho a original manifestação popular de uma escola de samba de São Paulo que escolheu o Mestre do Folclore Brasileiro como tema do seu enredo carnavalesco. Nisso ela se assemelha ao pai, na devoção e valorização da cultura popular. 
                Atualmente, a jornalista Ana Maria Cascudo é tema de trabalho de conclusão de curso das turmas de jornalismo da Universidade Potiguar
                Promove, patrocina, apóia, auxilia e estimula todas as iniciativas e eventos sobre a vida e a obra de Câmara Cascudo. Recentemente tomou sob seus cuidados o Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo, fazendo doação dos direitos autorais da obra Cascudiana para esta entidade, objetivando a sua manutenção.
                É esposa, mãe de três filhos – Daliana, Newton e Camila, e avó de Diogo, Alana e Cecília, com muito açúcar e muito afeto. Católica apostólica romana, tem um pezinho nos terreiros dos cultos afro-brasileiros, pelo fascínio e magia dessa manifestação religiosa, mas sobretudo por suas raízes, campo de pesquisa e de estudo do seu pai. Ano passado realizou conferência sobre a obra de Cascudo na Universidade Católica de Umbanda, em São Paulo.
                Se me perguntassem quais os traços mais persistentes de Ana Maria,eu responderia, sem hesitar: a obstinação e a determinação, a inteligência aguda e a devoção filial.
                É mulher de personalidade forte, capaz de endurecer-se mas sem perder a ternura jamais, como o revolucionário argentino emprestado a Cuba. Ou, como na observação de Clarice Lispector, no preâmbulo deste texto, surpreender aos que pensam que a conhecem, sendo “...leve como uma brisa ou forte como uma ventania...” dependendo de quando e como você a vê passar.
(1) Verissimo escreveu mais de cinqüenta livros, incursionando com desembaraço pela crônica, romance, poesia e literatura infantil
(2) “Mestre Graciliano: Confirmação humana de uma obra”, 1979, premiado pelo Instituto Nacional do Livro. Ainda escreveu cinco livros: A Estrela Pisca-pisca Nórdica 1990 Zé da Verdade Melhoramentos 1990 A Formigarra Memórias Futuras 1992 Cadeia José Olympio 1992 Memórias da Cachorra Baleia Mem 1992. Faleceu aos sessenta anos de idade.
(3) "Não tenho nenhuma esperança. Não tenho medo de nada. Sou livre." Este é o epitáfio do poeta, novelista, dramaturgo e filósofo Nikos Kazantzakis, gravado em seu túmulo em Heraclion, na Ilha de Creta. Entre as suas principais obras, traduzidas para o português, destacam-se “O Cristo Recrucificado”, “A Última Tentação de Cristo”, “Zorba, o grego”, “Testamento para El Greco”, “Os irmãos inimigos”, “Toda Raba” e “O Pobre de Deus”.
(4) Escreveu cerca de vinte livros, distribuídos em ensaios filosóficos, romances, novelas, escrituras autobiográficas e peças de teatro. Uma das mais expressivas teóricas do movimento feminista, viveu com Sartre, o grande filósofo existencialista francês, com quem dividiu, sempre em desvantagem, a efêmera glória literária e filosófica.
(5) Teórica política, tida também como filósofa, judia alemã que emigrou para os Estados Unidos fugindo do nazismo. Autora de diversos ensaios, entre outros, “As origens do totalitarismo” e “Sobre a Revolução”. O comentário refer-se a outro dos seus livros, “A condição Humana”, publicado no final da década dos anos cinqüenta.
(6) Poeta natalense. Em 1914 fundou, juntamente com sua prima Carolina e outras jovens, a Revista Via-Láctea que seria a primeira feita por mulheres e dirigida ao público feminino, no Rio Grande do Norte. Esta revista circulou até o final de 1915 e cumpriu o importante papel de incentivar e divulgar a produção feminina do Estado. Colaborou em diversos jornais e revistas de seu tempo, como A Imprensa, A República e A União, do Rio de Janeiro; Revista Feminina e Revista Moderna, de São Paulo; Paladina do Lar, da Bahia; e Estrela, do Ceará, entre outras. Em Natal colaborou em A República, A Cigarra, Diário do Natal e Tribuna do Norte. Escreveu dois livros de poesias: Esmeralda e Roseira Brava.
(7) Pai do ilustríssimo Luis da Câmara Cascudo, foi o seu maior incentivador. Coronel da Guarda Nacional, foi comerciante, político, fundador e mantenedor do jornal “A Imprensa”, um dos dois periódicos existentes à época em Natal. Era, no dizer de Ticiano Duarte, “...uma espécie de “dono da cidade”. As sessões do cinema Royal só começavam com a presença do casal Francisco Cascudo - Donana. O mesmo ocorria, no cinema Polyteama, na Ribeira...”

PEDRO SIMÕES – Professor de Direito (aposentado). Escritor e Advogado

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

MONSENHOR LUCAS COMPLETA 40 ANOS DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL

Dentro das comemorações alusivas aos 40 anos de ordenação Sacerdotal de Monsenhor Lucas Batista Neto, festejados com várias atividades e eventos, na próxima sexta-feira (24) a Câmara Municipal de Natal realizará, às 18h, uma Sessão Solene na qual entregará o título de Cidadão Natalense ao Padre José Fernandes de Oliveira (Padre Zezinho) e fará Menção Honrosa pelos 40 anos de missão evangelizadora de Monsenhor Lucas.No sábado (25), haverá um Retiro para a Família, tendo como principal pregador Padre Zezinho, além das cantoras Lea e Sônia e as irmãs de Belém, das 8h às 18h, no Hotel Pirâmide, com inscrições, já esgotadas, de 700 amigos e fiéis. No domingo (26),  Padre Zezinho fará um show, a partir das 17h, na comunidade de Uruaçu, encerrando a Festa dos Mártires, promovida pela Arquidiocese de Natal e Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Amarante.Monsenhor Lucas encerrará suas comemorações com Missa Solene em Ação de Graças na segunda-feira (27), às 19h, na Catedral Metropolitana de Natal com participação de Padre Zezinho. Nesta data o Monsenhor completa os 40 anos de ordenação. Na missa, haverá a presença de 40 casais, cujos matrimônios foram celebrados por Monsenhor Lucas Batista Neto.

CONTRIBUIÇÕES

O religioso solicita a todo aquele que desejar lhe presentear que o faça, tão somente, através da doação de latas de leite ao GACC (Grupo de Apoio a Criança com Câncer), fraldas descartáveis ao Hospital Infantil Varela Santiago e papéis higiênico e toalha  a APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais). Pessoas das referidas instituições receberão as doações durante a Missa, no dia 27 de setembro.
 
Comissão Central do Evento
Informações: (84) 9401- 3862 (Tânia Trigueiro)

 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ASSU TAMBÉM JÁ BRILHOU NAS PASSARELAS DO BRASIL

Antônia (Tony) Albano Lopes - Miss Rio Grande do Norte - 1985

Jimena Eudeweils Nunes Fernandes Teixira - Miss Rio Grande do Norte - 1987

domingo, 19 de setembro de 2010

'TODO E QUALQUER FANATISMO SÓ LEVA A MORTE"

Aldair Dantas

O bispo Magnus Henrique vai celebrar missa em Assu, sua terra natal

Agora ordenado bispo, Dom Magnus Henrique Lopes, 45 anos, prepara-se para assumir a sua nova função episcopal, tomando posse como primeiro bispo da Arquidiocese de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, no próximo dia 12 de outubro. Antes disso, ele preside celebrações às 19 horas deste domingo, dia 19, em Assu, sua terra natal e 19:30 desta terça, 21, em Itajá, também no Vale do Açu. Antes, ele falou ao repórter Valdir Julião, da TRIBUNA DO NORTE, reforçando a defesa da Igreja em relação a questões como divórcio, pedofilia, drogas, homossexualismo e o ensino religioso nas escolas. 

O senhor esperava esta nomeação para ser o primeiro bispo da nova paróquia de Salgueiro (PE)?

A nomeação saiu no dia 16 de junho, porém foi uma surpresa, porque poucos dias antes fomos chamados, a Nunciatura nos comunica, pergunta se a gente aceita e pede um tempo para rezar, para pensar, mas isso é questão de dez dias, se faz uma carta dizendo que aceita e naquela data se faz a publicação oficial.

As pessoas leigas, geralmente, acham que nomeação para bispo é só de padre, monsenhor. É comum a nomeação de freis para bispos na Igreja Católica?

Tem muitos, por exemplo, o bispo que vai me ordenar é um frade Capuchinho; o de Caicó, é um Capuchinho também; o de Petrolina é um frade, não é um Capuchinho, mas é um Carmelita.

O que é a Ordem dos Capuchinhos? Como foi a sua origem?

São Francisco segue o Evangelho, seguir Jesus Cristo de uma forma radical, ele nasceu em 1.282 e vem a falecer em 1.326. Então, daí muito jovem, primeiro ele vai para aquelas Cruzadas na esperança de receber títulos de nobre e cavalheiro, depois ele decide seguir um outro caminho. Ele começa a perceber que os leprosos precisavam de alguém para cuidar disso ai. Ele era filho de um grande comerciante e começa a ter um outro estilo de vida, olhar e cuidar dos leprosos, enquanto os leprosos moravam fora da cidade, porque eram excluídos, ele vai em busca dos leprosos, enquanto os leprosos tinham um chocalho para avisar que estavam passando por ali, e os outros se afastarem deles, São Francisco faz o contrário, vai em busca daqueles. São Francisco começa a questionar a sociedade de Assis, a família de São Francisco realmente, o pai dele, fica enlouquecido, porque preparava o jovem para ser um cavalheiro da nobreza, de repente o filho vai cuidar de leprosos. Ele renunciou a toda riqueza da família dos Bernardoni, o pai era um rico comerciante, comprava tecidos da França. Então, ele renuncia tudo e começa a se dedicar aos pobres, e esse estilo de vida dele foi a maior pregação. E foi uma pregação eloqüente, porque ai começam a surgir outros jovens de sua época que passam a ter esse estilo de vida, e ele começa a morar fora dos muros de Assis, de forma simples, e daí dessa intuição de São Francisco nasce a instituição. Então, com passar dos anos esse grupo cresce e se faz necessária a estruturação desses que estão aparecendo. A Ordem Franciscana foi criada e nasceu no berço para cuidar dos pobres, e ainda hoje os nossos conventos estação sempre com as portas abertas para colher os pobres.

Por que o nome dos Capuchinhos?

Pelo capuz pequeno, um grupo de frades que passam para uma observância mais radical da pobreza em 1538, e diminuem o capuz do hábito até pelas necessidades do tecido é diminuído, o capuccino, como  é em italiano. A sandália sempre fez parte da roupa, que é chamada purel, que era a roupa das pessoas pobres. O cordão justamente os pobres pegavam o tecido longo e amarrava a roupa na cintura, como forma de prender o hábito ao corpo e facilitar um pouco a caminhada. As sandálias significam despojamento, no frio de Assis, que chega zero grau, muitos deles, às vezes, não usavam sandálias.

Como o senhor vê a questão do celibato dentro da Igreja Católica, já que existe uma corrente, como os ex-padres, que defendem o fim do casamento dos padres?

O celibato dever perdurar sim, porque quando a pessoa vem para se consagrar, já vem consciente de que celibato existe e vai abraçar o celibato por causa do Reino dos Céus, está lá na Bíblia, que muitos serão eunucos por causa do Reino dos Céus.  Jesus Cristo era celibatário, tantos e tantos outros que seguiram Jesus foram celibatários. Isso não significa que outras pessoas que são leigas, também não possam pregar, na Igreja há espaço para todos, então, você como leigo casado há um grande espaço dentro da Igreja.

E essa questão de que ex-padres defendem a volta à batina para celebrar?

A Igreja diz que não, porque eles fizeram uma opção para o casamento, então o fato de estarem casados, eles podem seguir, fazer o seu trabalho, não necessariamente vai ter que celebrar missas.

E qual é a sua posição com relação ao aborto?

Minha posição é a da Igreja, é sempre a vida, para a Igreja é sempre a vida, ela sempre vai defender a vida.

O senhor vai tomar conta de 400 mil fiéis. O que o senhor falar numa celebração vai repercutir muito. Então, como o senhor analisa hoje a questão das drogas, principalmente entre os jovens?

Esse é um desafio para a sociedade como todo. Como Igreja, nós devemos nos comprometer sempre, como religioso, deveremos nos comprometer também com a dimensão social. A cruz é esta, essa minha ligação com Deus, mas essa ligação minha com o outro. Daí a dimensão vertical e a dimensão horizontal, daí o sentido de nossa fé, que é justamente a busca do caminho da ressurreição. E a Igreja se preocupa, inclusive teve uma Campanha da Fraternidade sobre as drogas, existe um trabalho imenso na Igreja para com os jovens drogados, existe também um trabalho preventivo, não só para aqueles que mergulharam nas drogas, mas também um trabalho preventivo, fazendo a esperança estar aí, para testemunhar essa preocupação da Igreja com as drogas, e com certeza nós como Igreja deveremos sempre arregaçar as mangas em busca desse jovem, que está sendo seduzido, e a gente sabe que existe todo um contexto sócio e econômico por trás disso aí, não é simplesmente o jovem que decidiu, também às vezes de uma família desencontrada.

Então, o senhor acha que houve  uma queda muito aguçada  de valores entre as famílias?

Justamente, a quebra de valores pós-modernidade, ela traz muitas coisas, e dentre elas, se desconsidera muitos valores cristãos e muitos outros valores para a sociedade. E esse desprezar de determinados valores éticos, e tantos e tantos outros, é que começamos a contemplar o mundo de certa forma desmoronando, quando da família que vai desmoronando, vai repercutindo nos filhos. Quantas vezes escutei e sei de jovens que passaram dificuldades, foram abordados por traficantes, para que vendessem drogas, inclusive fora do  país, há poucos dias teve um caso aqui em Natal, eles sairiam daquela situação e disseram que não. Quando retornaram, disseram, eu só me lembrava da minha mãe e do meu pai, o que eu aprendi na minha casa. Quer dizer, se você tem uma estrutura familiar, com certeza já dificulta essa manipulação ideológica, essa abordagem.

Então, a família ainda é a principal base da sociedade, apesar dessa quebra de valores?

Sim, porque é a primeira escola da fé, é a primeira escola da educação, quantas coisas você tem hoje porque trouxe do seu pai e da sua mãe.

Como o senhor avalia o episódio dessa queima agora do Alcorão, da questão do fanatismo religioso?

Todo e qualquer fanatismo, ele só leva à morte. Acho que deve existir aí, tanto barrar o fanatismo, como também deve existir o respeito. Não se respeita mais as religiões, e do jeito que se fez esse confronto com o Alcorão, se faz com qualquer outra religião. Agora, nós cristãos, quantas vezes, temos outra mentalidade, os nossos símbolos são agredidos, e a gente tem uma outra política, e ai entram os valores de respeitar, quantas vezes você foi educado por seu pai e por sua mãe para respeitar a pessoa mais velha.

O Brasil é o maior país católico do mundo. Mas o que o senhor diz do fato do catolicismo vir perdendo fiéis para outras religiões?

Se a gente pegar os dados, que eu não tenho aqui para lhe mostrar, você vai perceber o seguinte: pelo contrário, tem aumentado o número de católicos, agora claro que a população aumenta, tem aumentado o número de evangélicos, por exemplo, mas também tem aumentado o número de católicos.

Qual a sua avaliação dessa nova lei de tornar mais célere e fácil a instituição do divórcio?

A Igreja sempre foi contra o divórcio e vai ser, essa facilidade, ela só vem a trazer muitas vezes, não posso radicalizar, a irresponsabilidade das relações, do mesmo jeito que é fácil casar, é fácil também me separar, eu não penso nas conseqüências de um filho que vai nascer, fruto dessa desunião, eu não penso na minha irresponsabilidade. Com muita facilidade eu descarto um pedaço de papel, com muita facilidade eu descarto as pessoas, com muita facilidade eu descarto as relações.

Aí vem a questão da ruptura da família, que pode trazer problemas mais sérios?

Exatamente, é o que nós estamos vendo hoje aí.

Como o senhor analisa a questão da união de pessoas do mesmo sexo?

A Igreja mostra o seguinte: o homem foi criado para a mulher, está lá na Bíblia, e a mulher criada para o homem. Então não existe a união de pessoas do mesmo sexo, o sacramento do matrimônio entre o homem e a mulher é uma questão natural e divina. A união homossexual não é da lei natural.

E qual o seu posicionamento quanto à existência da pedofilia dentro da Igreja Católica?

A posição minha, é a posição da Igreja. O problema da pedofilia existe, existe, como existe em todas as instituições. A Igreja agora ficou alvo. Nós sabemos que, por dados estatísticos, o maior índice de pedofilia se dá dentro da própria família, a abordagem feita por pais, padrastos, por irmãos mais velhos. Então, o maior índice de pedofilia está na família, no entanto a Igreja está em voga, nós sabemos que existe por trás de tudo disso aí, uma certa perseguição à Igreja, não estou dizendo que não exista, os fatos existem, mas não tanto como está sendo feito. Agora o fato de existir a pedofilia, a posição da Igreja é contra, ele deve ser punido pela justiça, pela lei comum, ela age com misericórdia como o pai qualquer pai agiria com o filho, mas ele deve ser punido.

Desnudar esse problema dentro da Igreja, admitindo que existe isso, não foi importante para o seu crescimento?

Claro, a Igreja como instituição divina e conduzida por mãos humanas, ela sempre vai ter seus limites. Jesus tinha 12, dos 12 um negou, o outro traiu, outro pediu um lugar, quando chegar lá em cima, arranje um lugar à direita, outro à esquerda. Quantos tropeçaram, mas nem por isso aquele outros deixaram de pregar o Evangelho.

Aí todos foram perdoados?

Perdoados, mas é o tipo da coisa: Jesus convida a mudar de vida. Nós temos de ter o cuidado, de dizer assim, perdoado não significa legitimar o problema. Quando Jesus perdoa e desfaz, não tornes a pecar, essa é a linha da Igreja, o perdão que a Igreja fala não significa legitimar o problema, significa convidar à conversão.

Qual a sua posição sobre o ensino religioso dentro das escolas, não como matéria da grade regular e pedagógica?

Você não acha que o ensino religioso vai trazer valores, vai trazer uma chamada de respeito a tantas coisas, isso não vem só vem a colaborar com a instituição sociedade. A proposta do ensino religioso, não é uma proposta de credo, é uma proposta de ensino religioso. Não significa dar um norte de credo, tem de ensinar os valores religiosos.

Como vai ser o trabalho que o senhor pretende imprimir na nova Paróquia de Salgueiro, que o senhor vai assumir dia 12 de outubro, de ajuda aos pobres, por exemplo?

A Igreja sempre teve essa tradição e sempre terá. E em qualquer parte hoje, na sociedade em que vivemos, nós encontraremos espaço para trabalhar com os pobres, é somente querer. Isso não deve ser a preocupação, aonde vou encontrar um lugar para trabalhar com os pobres. Se olhar, a meta é grande e está cheia, tanto o trabalho assistencialista, como o trabalho que vai despertar, fazer com que as pessoas resgatem à dignidade humana, quer dizer que não é só trabalho assistencialista se faz necessário,  mas se faz necessário acima de tudo tirar essas pessoas, para que elas encontrem  o caminho da dignidade humana.

Fonte: Tribuna do Norte

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...