domingo, 10 de abril de 2011


Esta noite
senti o mar incendiar-se
nas tuas mãos

Esta noite no teu peito
...inventei estrelas
que não conhecia...

Cristina Costa
(Portimão, Portugal)
VOCÊ AINDA SABE CHORAR?

Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)

Quase diariamente eu vejo pessoas chorarem. Manifestando, através das lágrimas, os sentimentos dilacerados que carregam dentro de si. Na maioria das vezes são pessoas hipersensíveis, de um lastro de princípios extremamente rigoroso, convictas de suas posições e detentoras de muitos sonhos. Também são cheias de boa vontade, de um desejo imenso de contribuir, de influenciar, de fazer parte do dia a dia dos outros, do próximo, de sua cidade, de sua região, de seu país. Destas, muitas têm os nervos sempre à flor da pele, a sensibilidade exacerbada, o ponto de equilíbrio normalmente estourado, semelhante a um correntista de banco que tem feito, de forma exagerada, o uso do cheque especial. Estão sempre no vermelho, expostas demais às intempéries da vida, às agressões naturais que grassam do meio ambiente social. E choram, e sentem – e declaram sua dor abertamente através das lágrimas.

Outras não sabem chorar. Estão esterilizadas por dentro, trancadas em si. De uma forma ou de outra, foram induzidas a não se manifestar nunca, a não declarar, diante dos outros, o que se passa em seu íntimo. A vida atual, pela sua extrema competitividade, tem muito a ver com essa postura. Para essas pessoas o chorar é uma demonstração de fraqueza, de vacilo, de pequenez de atitudes diante do enorme desafio que a vida requer de todos nós. Chorar, então, passa a ser um gesto menor, de gente desqualificada, despreparada para os embates do cada vez mais exigente mundo globalizado de hoje. Indiferentes ao que se passa à sua volta, essas pessoas seguem em frente, muitas vezes sem levar em conta o rastro de dor que estão deixando atrás de si. Não sabem chorar. E isso lhes acarreta uma postura de vida carregada de insensibilidade, dureza de coração e a relativização de conceitos e valores.

Para que chorar, imaginam, se o choro nada resolve? Na sua insensibilidade não vislumbram que, junto com o choro – ou na ausência dele – desabrocha todo um estilo de vida, um direcionamento em relação ao meio em que vivem, à sociedade como um todo, e ao próximo em particular. E que, ao vir, o choro traz em sua manifestação uma tomada de consciência, um “cair em si” que muitas vezes altera radicalmente o curso de uma vida. Um terrorista, por exemplo, não sabe chorar. Um corrupto que rouba o leite de crianças, o remédio dos idosos, que desvia recursos públicos para seus projetos pessoais e que, com isso, alastra dentro de si, mais ainda, o fogo da insensibilidade, uma pessoa assim, com certeza, não sabe chorar. E, com seu “modus operandi” agride, maltrata, adultera, fere – e muitas vezes, por conseqüência, mata. Insensível, egoísta, árido, seco – sem nem sentir.

Grandes personagens da história choraram. Fraqueza ou demonstração de grandeza? Pedro negou Jesus. Depois chorou – amargamente. E o choro reacendeu nele “a palavra que o Mestre lhe ensinara”. A partir daí nunca mais foi o mesmo. Jesus também chorou em inúmeras ocasiões, principalmente por sentir, momentos antes da sua prisão, a que ponto chega a avareza de homens voltados tão somente para seus próprios interesses. Mas, para os que não choram, ou desaprenderam a chorar, há sempre a oportunidade do reaprendizado. Acompanhado sempre, lamentavelmente, de um grande sofrimento, de uma grande dor. É o preço, por exemplo, que corruptos arrependidos têm que pagar para se reencontrar com o lado benéfico do choro. Limpando-se por dentro e redescobrindo a prática do sentimento de respeito para com os outros. Alegre-se se você ainda sabe chorar. Por sinal, você ainda sabe?










RECORDANDO - VEREADOR DE NATAL

Fanfa é meu apelido desde menino. É como eu sou chamado e mais conhecido pelos meus conterrâneos do Açu, importante município da terra potiguar. Pois bem, nas eleições de 2008 fui candidato a vereador de Natal. Antes, porém, teria sido candidato a vereador por aquela importante capital nas eleições de 1991 pelo velho PDS - Partido Democrático Social, cuja agremiassão partidária me elegi vereador na memorável eleições de 1982 por um mandato de seis anos, chegando a presidir com muita honra, aquela casa legislativa açuense. Pois bem, os poetas populares, principalmente os do Açu não perdem as oportunidades para fazer um versinho elogiando ou satirizando alguns candidatos. Nas eleições de 2008 o poeta açuense radicado em Natal chamado Canindé, escreveu a seguinte décima que muito me agrada:

Fanfa é um bom candidato
Ele é honesto e pacato
Não tem nada de ladrão
Dos outros é diferente
Quando pode ajuda a gente
Não deixa ninguém na mão
Ele só tem um defeito
É ser feio daquele jeito
Mas só vive de bom humor
Muita fé nele eu boto
Se depender do meu voto
Vai ser nosso vereador.

Fernando Caldas










Pero Mendes de Gouveia não é um nome tão conhecido entre os natalenses. Mas o bravo lutador que resistiu à invasão holandesa no Rio Grande do Norte no século XVII foi homenageado em três ruas de intenso fluxo da capital potiguar, que têm o nome de Capitão-mor Gouveia. A mais conhecida está localizada entre a comunidade do Km 6, na Zona Oeste, e o bairro Lagoa Nova, na Zona Sul. As outras duas ficam na Praia do Meio, Zona Leste, e no conjunto Potilândia (via de acesso para a Universidade Federal do RN), na Zona Sul.



Assim como o capitão-mor citado nos livros de história do RN, outros personagens importantes dão nome a ruas tradicionais e movimentadas da capital potiguar. Bernardo Vieira de Melo, João Medeiros Filho, Prudente de Morais e Deodoro da Fonseca são outros exemplos de gente importante que é citada a cada minuto no cotidiano da cidade, mas ainda pouco conhecida quando a pergunta é "quem foi?".

A reportagem do Diário de Natal percorreu algumas dessas vias e abordou natalenses que costumam passar por elas. De 10 pessoas abordadas, apenas uma soube responder a quem o nome da rua fazia alusão: o analista de credenciamento Raphael Cortez, 27 anos, que, na Campos Sales (bairro Tirol, Zona Leste), disse à equipe que tratava-se de um ex-presidente brasileiro - o paulista foi o quarto a ocupar a cadeira, entre os anos de 1898 e 1902.

Na Avenida Bernardo Vieira, nas imediações das Quintas (Zona Oeste), a reportagem encontrou um grupo de três aposentados que moram em uma rua transversal à principal, mas costumam sentar à sombra feita por uma passarela quase todas as tardes. Nenhum deles soube dizer quem era o homem que recebera a homenagem. "Tenho curiosidade em conhecer a história, mas não sei de quem se trata", disse Francisco do Nascimento, 65 anos.

Maria de Lourdes Clementino, 68 anos, acredita que a maioria das pessoas desconhece a origem dos nomes das vias, mesmo a lei ou decreto sendo antigos. "Moro numa rua chamada Gentil Ferreira e confesso que também nãosei quem é", afirmou, rindo. Na João Medeiros Filho, Zona Norte, a reportagem abordou o auxiliar de serviços gerais Roberto dos Santos, 39 anos, que esperava a condução para ir ao trabalho. "Não sei quem foi ele".

Questionado se recordava de outros nomes de personagens históricos importantes em ruas da cidade, ele citou as avenidas Prudente de Morais e Bernardo Vieira, mas admitiu só saber dos nomes. "Sei que marcaram o país, mas não sei dizer exatamente quem foram". Roberto passou a saber que João Medeiros Filho foi um importante advogado, que, embora paraibano, chegou a ser Chefe de Polícia do RN e participou também da Intentona Comunista, movimento realizado nos anos 30.

Quem foram eles

Deodoro da Fonseca (acima)

Manuel Deodoro da Fonseca nasceu em Alagoas, em 5 de agosto de 1827, e morreu no Rio de Janeiro, em 23 de agosto de 1892. Foi um militar e político brasileiro, proclamador da República e primeiro presidente do Brasil. Sua gestão foi marcada pelo esforço da implantação de um regime republicano e por grande instabilidade política e econômica, que acabou fechando o Congresso Nacional e levando à sua renúncia.

Hermes da Fonseca

Sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, Hermes Rodrigues da Fonseca também ocupou o cargo de presidente do Brasil, entre 1910 e 1914. Nasceu no Rio Grande do Sul em 12 de maio de 1855 e morreu em 9 de setembro de 1923. À frente do país, enfrentou a Revolta da Chibata, e, durante seu governo, foi editado um decreto instituindo o uso da faixa presidencial, sendo ele mesmo o primeiro a usá-la e passá-la a seu sucessor.

Prudente de Morais

Prudente José de Morais e Barros nasceu em 4 de outubro de 1841 em São Paulo e morreu em 13 de dezembro de 1902. Foi advogado,primeiro governador do estado onde nasceu, senador, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1891 e terceiro presidente do Brasil, tendo sido o primeiro político civil a assumir este cargo e o primeiro a fazê-lo por força de eleição direta.

Bernardo Vieira

Bernardo Vieira de Melo, nascido em Pernambuco, em 1658, foi um sertanista brasileiro. Foi militar desde 1675 e recebeu patente de capitão-mor de Iguaçu em 17 de novembro de 1691. Participou da guerra do Quilombo dos Palmares e foi nomeado capitão-mor do Rio Grande do Norte, em 25 de setembro de 1709. Foi morto na cadeia, em 1718.

Campos Sales

Paulista nascido em Campinas em 1844, Campos Sales era bacharel em direito pela Faculdade de Direito de São Paulo e ingressou, logo após se formar, no Partido Liberal. A seguir, participou da criação do Partido Republicano Paulista (PRP), em 1873. Em 1º de março de 1898, foi eleito Presidente da República. Campos Sales sucedeu, em 15 de novembro de 1898, o presidente Prudente de Morais, em uma época quea economia brasileira, baseada na exportação de café e borracha, não ia bem.

Fonte: Wikipédia

quinta-feira, 7 de abril de 2011

POESIA

E essa carta esperada
que dizia somente,
simplesmente:
- "Consola-te. Afinal não há mais nada"
- Não há mais nada? E o coração da gente?

João Lins Caldas, poeta do Açu-RN

POESIA

Minha !!!!

Eu vi tua boca provocando a libido- quis beijar, eu quis você!

Querer em doses exageradas de desejo.
...O meu querer escorre- corre e lava quando atendido.

A minha vontade é a tua- você é minha estrada de espinhos e flores.
Eu te amo sem razão nem lei.

Não vamos esquecer esse momento que voa- um efémero instante.

Que seja tu- a minha vida!
Minha migalha de amor- de prazer.

Gosto quando me adivinhas- quando aos poucos vasculhas os meus cantos.
Gosto quando te reencontro- depois de um aceno da alma.

Quanto devaneio- delírios, e muito mais eu quero!

Eu quero descrever a felicidade- acordar os sentidos.
Eu quero me entender com a tua boca- com teu corpo, e que a mente não complique.

Ofereço o tempo para gastar na sua frente, é tudo o que tenho, dentro do que é seu.

Eu- sou teu!

.Vinicius.C

(Poema para Jaqueline.P.B)

Petrópolis- 05/04/2011

quarta-feira, 6 de abril de 2011

CHICO TRAIRA, POETA POPULAR

"Chico Traira" era poeta popular, cordelista, repentista, cantador de viola dos melhores do Nordeste. Eu tive o prazer de ter convivido com ele na cidade de Açu-RN, na década de oitenta. Pois bem, certa vez, viajando na carroceria de um caminhão com destino a cidade de Macau, interior potiguar, em companhia do seu colega "Patativa", escutou aquele amigo reclamar da viagem em razão da trepidante estrada esburacada, dizer a frase adiante: "Chico: eu acho que a nossa viagem não está muito sublime!" Traira pegou na deixa, dizendo no melhor de sua criatividade poética:

Se o amigo não está
Achando a viagem boa
Você é pássaro, eu sou peixe
Eu mergulho e você voa
Você volta para o ninho
E eu volto à minha lagoa.

[Traira: Peixe de água doce muito comum nos rios, açudes e lagoas do Nordeste]
[Patativa: Pássaro de canto melódico e suave]

De outra feita, na cidade de Areia Branca (RN) cantando com outro afamado poeta violeiro chamado Manoel Calixto, cantoria realizada na casa de um amigo, Traira fora desafiado por Calixto com a seguinte estrofe:

Aviso ao dono da casa
Que não vá fazer asneira
Tenha cuidado em Traira
Que ele tem uma coceira
Se não quiser que ela pegue
De manhã queime a cadeira.

Chico retrucou:

Você é que tem coceira
Dessas que rebenta a calça
Está tomando por dia
Dezoito banhos de salsa
Quando a coceia se dana
Num dia acaba uma calça.

Certa vez, Câmara Cascudo recebendo homenagens na UFRN, Chico Traira, "o mestre do repente e da viola" presente, homenageou aquela figura [que se tornou por merecimento, o escritor potiguar mais conhecido no mundo] com os versos seguintes:

Eis o doutor Cascudinho.
Que valoroso tesouro!
Lá no sertão também tem,
Cascudo, aranha e besouro.
Os de lá não valem nada.
Mas este aqui vale ouro.

Fernando Caldas

Cicatriz - Mariano Tavares


" No Cordel "

Foi nesse fio encantado
o começo desse amor
Era um poema cantado
...só na voz do cantador
Nos cordões pendurados
balançados pelo vento
Ficavam ali desassuntados
à espera do momento
Que botão desabrochado
pudesse virar em flor
E que fossem recontados
por outras vozes...
do amor!!!Ver mais


(Reinalto Correia)
Imagem do Facebook de um amigo.

POEMA

Na boca de uma mãe anda uma prece
Que as horas da noite andam murmurando...
- Meu filho, ninguém te esquece...
Esquece, mãe, também se vai cantando.


...Mas para salvar teu coração criança,
Teu doce coração de ingenuidade...
Mãe, que saudade!...


Acalenta e vai dizendo essa esperança.


[Fca no mundo ainda maudade
Para matar essa esperança}.


Mas, é verda, isso tudo é verdade


(João Lins Caldas, poeta potiguar de Açu)
random image

Um crime contra a natureza

O vale do Açu, já foi detentor da maior área de carnaubeira nativa do mundo, atualmente por ação irresponsável do homem, priorizando a ganância e o irrequecimento, vem paulatinamente devastando a planta que é considerada a árvore da vida, da carnaúba tudo é aproveitavel, tem serventia na choupana do pobre e no sobrado do rico, sua matéria prima utilizado na indústria de transformação, acelera o desenvolvimento, o progresso industrial das grandes potências do mercado consumidor.

As nossas áreas devastadas, vem causando um tremendo impacto ambiental, provocando grandes erosões e diminuido o teor de oxigênio tão saudável a vida humana.

O vale tem hoje apenas 30% da sua área de carnaubeira viva, fixada ao solo, resistindo a fúria criminosa da ação do homem, tentando substituir do ecossistema natural a sua presença para produzir outras culturas comerciais em seu lugar...

Basta de agessão a natureza, arrancar uma carnaúba do solo, será igualmente atacar uma vida indefesa... Vamos preservar nossas reservas, antes que seja tarde demais!

Postado por AluízioLacerda



CHARGE DO DIA



Carnaubais vista com outra dimensão

A administração Fazendo o Futuro, liderada por Luizinho Cavalcante, enseja aos seus municipes uma ampla imagem do municipio, inserida nas páginas de uma revista editada, mostrando todas as metas e objetivos da administração atual no exercicio dos dois últimos anos (2.009/2.010).

Uma solenidade de apresentação e distribuição gratuita do material editado, será efetivado hoje no plenário da Câmara Municipal, a partir das 19.30 horas... Compareça, participe e receba seu exemplar.

Postado por AluízioLacerda







segunda-feira, 4 de abril de 2011

Poeta Plínio Sanderson baleado durante assalto


Plínio Sanderson retratato numa caricatura de Túlio Rato

O escritor, poeta, artista plástico e produtor cultural Plínio Sanderson foi baleado às 10h30 de hoje na praia de Santa Rita. Ele estava acompanhado da namorada e foi atingido depois de pedir aos assaltantes que não levassem o seu notebook.

Atingido no tórax ele foi cirurgiado na Unidade de Pronto Atendimento do bairro de Pajussara, na Zona Norte de Natal e segundo informações dos médicos, não corre risco de morte.

Os bandidos foram presos numa casa próxima a dele, em Santa Rita.

Muito conhecido em Natal, Plínio Sanderson é mais uma vítima da insegurança do nosso estado, que não consegue manter em paz a população, assustada com muitos assaltos e muita violência.

A terra que pretende ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 não consegue ter uma polícia eficiente, presente e que use da inteligência para manter nas grades os nas covas esses bandidos que zombam dela e andam armados até os dentes, enquanto para o cidadão comum ter um arco e flecha é crime.

O resultado desse descaso histórico é esse: um poeta calado numa cama de UTI. E os bandidos... Ah! Os bandidos! Hospedes até daqui a pouco de um sistema carcerário frágil que os alimenta.

C’es la vie?

Não! Algo precisa ser feito. E já! (LS).

Leonardo Sodré
random image

domingo, 3 de abril de 2011

EM QUEM FOI MESMO QUE EU VOTEI?

"O cidadão tem o direito de escolher, para a formação dos quadros estatais, candidatos de vida pregressa retilínea". Palavras atribuídas ao Ministro Ayres de Britto, do Supremo Tribunal Federal, ao votar na questão da aplicação retroativa da chamada Lei da Ficha Limpa. Por essa razão, apoia a aplicação retroativa da Lei.
Confesso que não entendi, porque não sei o que é que hoje impede o cidadão de exercer esse seu direito de escolher e votar em candidatos de vida retilínea. Ou será que precisamos de uma lei para nos proibir de votar nos corruptos? nos assassinos? nos estelionatários?
Isso é mesmo que dizer: "proibam a candidatura dos bandidos senão eu voto em um deles">
Ora, o fato de não haver uma lei proibindo patifes e salafrários de serem candidatos NÃO OBRIGA ninguém a votar neles. Basta escolher entre os candidatos aqueles que tenham vida pregressa retilínea. E votar nestes.
Mas também uma coisa é certa: o fato de que um candidato não tenha sido condenado pela Justiça também NÃO GARANTE que ele ou ela tenha uma vida pura como a de um santo, ou uma santa. Pode ser um bandidão que soube fazer as malandragens e conseguiu não ser pilhado.
Portanto, não é uma lei que impede o cidadão de votar em um corrupto. E não é a ausência da Lei que obriga ninguém a votar em um traquinas.
Seria muito interessante descobrir -- diante de tantas pessoas exaltadas querendo a aplicação da lei até em eleições que já passaram -- em quem foi que essas pessoas votaram no último pleito.
Ajudaria muito ao país se cada um levasse as mãos à cabeça e perguntasse a si próprio: "Em quem foi mesmo que EU VOTEI na eleição passada?"
 
Fonte: Catavento, artigo de Geraldo Melo

Um Navarro lembrado, outro esquecido

Yuno Silva - repórter

Incompreendido ou avançado demais para sua época, Newton Navarro continua vagando pela desmemoriada Natal na forma de painéis e poemas. Considerado o “poeta da cidade”, alcunha pela qual ficou conhecido entre os intelectuais que circularam pela capital potiguar nos idos dos anos 1950 e 60, o artista plástico, poeta e escritor será lembrado no evento “Navarro na Veia”, promovido pelo Departamento de Letras da UFRN nesta quinta-feira, às 9h, no Auditório B do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA.

yuno silvaMural de Newton Navarro escondido numa eletrônica na Ribeira, onde no passado funcionou a confeitaria Nova Delícia. O dono da loja, José Moreira, sabe da importância da pintura e tenta preservá-laMural de Newton Navarro escondido numa eletrônica na Ribeira, onde no passado funcionou a confeitaria Nova Delícia. O dono da loja, José Moreira, sabe da importância da pintura e tenta preservá-la
Na ocasião, haverá mesa redonda com presenças do artista plástico Dorian Gray Caldas, contemporâneo de Navarro (1928-1991), do editor e sebista Abimael Silva, e do professor do Departamento de Artes da UFRN Vicente Vitoriano, que publicou tese de doutorado sobre o homenageado; mais lançamento de três títulos reeditados pela Sebo Vermelho Edições – “Beira-Rio” (1970), “Do outro lado do rio, entre os morros” (1974) e “ABC do cantador Clarimundo”. A programação também inclui recital de fragmentos poéticos de Navarro interpretados pelo professor e ator Val Dias, a presentação musical com Carlos Bem, que canta Natal em seu recente disco “Anjo do Sol”.

Falecido há exatos vinte anos, precisamente no dia 18 de março de 1991, Navarro deixou um legado artístico pouco conhecido pelos natalenses: “As pessoas conhecem a ponte Newton Navarro, a galeria de arte (na Funcarte), mas não o artista. Há um certo descaso das instituições com nossa memória”, disse a professora Cellina Rodrigues Muniz, do Departamento de Letras da UFRN, que coordena o evento “Navarro na Veia”. “É impossível prever os desdobramentos a partir desse evento (‘Navarro na Veia’), mas esperamos que, a partir do relançamentos de seus livros, ele possa ser mais lido”, disse Muniz.

Casado com a professora de artes Salésia Navarro, também falecida, Newton deixou um único herdeiro, Edson Moura, sobrinho do casal que está viajando, segundo informou o editor Abimael Silva: “Edson me autorizou a reeditar os livros, que estavam todos esgotados. Ninguém contou a cidade como Navarro, e era um sonho antigo meu relançar estes livros”, disse Abimael – cada título ganhou apenas 200 exemplares.

Artista cosmopolita e boêmio, Newton Navarro ainda pode surpreender incautos que desconhecem o valor de sua obra, e seus traços inigualáveis podem ser encontrados onde menos se espera. Na face mais esquecida da cidade, a TRIBUNA DO NORTE encontrou um desses tesouros: por trás do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, na Ribeira, na antiga confeitaria Nova Delícia, onde hoje funciona a Eletrônica Nacional, em meio a uma pilha de televisores quebrados, mais um painel com o traço inconfundível do artista. “Sei da importância desse trabalho, já pintei toda a loja mas deixei o painel intacto”, disse José Moreira, 59 anos, proprietário da eletrônica. “Veja só que bonito: bacalhau, vinho do porto, o violeiro... estou querendo cortar estas estantes para mostrar melhor a pintura”, disse Moreira, espécie de guardião da obra. Ele alugou o prédio há cerca de sete anos, e contou que Navarro tomou muitos porres quando a confeitaria funcionava no local, há mais de 20 anos. Na parede em frente, outro tesouro: um painel em baixo relevo do artista Jordão, contemporâneo de Navarro e autor do painel que enfeita a fachada do Centro de Convenções. A confeitaria pertencia ao português Olívio Domingues, fechada após seu falecimento.

Dorian Gray, o amigo e o restaurador

“Fui companheiro de Newton Navarro nos anos 1950, realizamos, junto com Ivon Rodrigues, a primeira exposição modernista de Natal em uma galeria que funcionava na sede da Cruz Vermelha no Grande Ponto”, lembra o artista plástico Dorian Gray Caldas, 81. “Vinha de uma escola clássica, influenciado pelo meu tio Moura Rabelo, mas já começava a fazer experiências deformando a realidade. Foi o início do flerte com o modernismo. Não queria ficar só nisso, então comecei a investir no abstracionismo. Levei para a exposição quadros com paisagens lunares e Navarro obras impressionistas”, lembra.

Segundo Dorian , esse foi o primeiro salão de arte moderna de Natal. Mas ele e Navarro repetiram a dose em 1952, quando realizaram a exposição “Divina Providência”, também no Grande Ponto: “A partir desta exposição, que gerou grande repercussão na época, as pessoas começaram a prestar atenção na arte moderna produzida na capital potiguar”, contou. Caldas ainda lembrou da presença marcante dos cartunistas Erasmo Xavier e Adriel Lopes, dois nomes que alavancaram o modernismo em Natal. Dorian Gray comemora a recente recuperação de quatro painéis instalados no Campus Central do IFRN: “A restauração foi feita em cerca de 80 metros quadrados de painel. Navarro foi o artista mais penalizado daquela época, pois boa parte de seus trabalhos eram feitos sobre papel (material considerado frágil, perto das telas própria de pintura) e painéis em paredes, então muita coisa se perdeu”, lamenta. Dorian Gray tem vasto acervo de Navarro, entre fotografias, aquarelas, desenhos e bico de pena.

Em 1994 foi realizada a mais significativa exposição sobre o artista, a mostra Navarro Navarrear, na Funcarte. No ano passado, o Sesc promoveu uma exposição com telas e gravuras do pintor.

Fonte: Caderno Viver - Tribuna do Norte

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...