Mossoró - A Copa do Mundo de 2014 no Brasil, considerada um dos maiores eventos esportivos do mundo, desponta também como uma grande janela de oportunidades de negócios para a fruticultura. Esse foi um dos consensos das discussões do Fórum Internacional da Fruticultura, realizado como parte da programação da Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada (Expofruit) esta semana em Mossoró (RN).
Promovido pelo Sebrae no Rio Grande do Norte, o fórum apontou os setores hoteleiro e gastronômico como principais nichos de mercado a serem explorados durante o evento.
O assunto entrou em debate com a palestra "Copa 2014: oportunidades para a fruticultura brasileira", proferida pelo gerente da Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae Nacional, Paulo Alvim. O gerente dedicou especial atenção às oportunidades relacionadas ao fornecimento de frutas para abastecimento da rede hoteleira, assim como a utilização da fruta para a produção de sucos naturais e sorvetes como agregação de valor.
Elisa Elsie/Arquivo TNHotel em Natal: A expectativa dos fruticultores é atender a demanda dos hotéis, em um período que promete ser de alta para o turismo
Segundo Alvim, esses nichos têm como alvo, além do público interno estimado em três milhões de pessoas, os cerca de 600 mil turistas que visitarão o Brasil no período do mundial. "Existem muitas oportunidades a serem exploradas. Temos uma diversidade muito grande de frutas, e podemos nos utilizar deste potencial para promover nossos produtos. Temos que nos preparar para abastecer hotéis credenciados da Fifa, e apostar também na produção de sucos naturais, nichos fortes do mercado", pontuou.
Mas, é preciso atender às exigências do mercado, especialmente nos quesitos da qualidade, certificação e sanidade das frutas produzidas. "Precisamos estar preparados para tirar todo o proveito este momento, mas não podemos esquecer de oferecer um produto de qualidade. Qualquer problema ocorrido por causa de uma fruta estragada, por exemplo, pode causar sérios problemas à fruticultura brasileira no mundo", alerta Paulo Alvim.
"A palestra mostrou como aproveitar a vinda da Copa do Mundo e nos ajudou a identificar como utilizar o evento para mostrar o nosso potencial e a fruta brasileira para o mundo", afirmou Segundo de Paula, presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte, organizador do evento.
"As autoridades deixam os empregadores em segundo plano"
Andrielle Mendes
Repórter
A Agrícola Famosa, maior exportadora de frutas frescas do Brasil e uma das maiores produtoras de melão do mundo, com parte da área de produção em Mossoró, no Rio Grande do Norte, quer exportar 100% de sua produção pelo Estado. Sonho dos gestores potiguares, a exportação via porto de Natal já seria realidade não fosse um problema: a falta de espaço. "Os navios maiores não conseguem atracar. Por isso tenho que procurar outros portos", diz Luiz Roberto Barcelos, sócio e diretor da empresa. Mas não é só isso. A empresa, que conta com oito fazendas no Nordeste e uma na África, também gostaria de ampliar a produção potiguar. Hoje, 60% da produção é originária do Ceará e 40% do Rio Grande do Norte. "O que faz uma empresa produzir mais num estado e menos em outro? Benefícios tributários, infraestrutura e logística. O Ceará está na frente dos outros estados nestes quesitos. Esse é o motivo que nos leva a produzir mais no Ceará do que no Rio Grande do Norte", diz ele. Apesar das dificuldades encontradas, tudo indica que a produção no RN suba em breve. A Agrícola Famosa está prestes a comprar as terras que arrendou da Nolem, antiga produtora de melão, em Mossoró. As negociações estão avançadas. Barcelos espera uma definição nos próximos 60 dias. Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, ele também critica o que chama de falta de atenção por parte do governo potiguar. Confira:
O melão é um dos principais produtos da pauta de exportação do Rio Grande do Norte. O cenário para a exportação é favorável?
Com relação a preço, temos dois grandes mercados, que é o europeu e o interno. Hoje, 70% de nossa fruta vai para o mercado europeu. A crise preocupa, mas o câmbio tem compensado. A valorização das moedas estrangeiras favorece as exportações. O mercado interno também vem crescendo muito nos últimos anos. Trinta por cento do que produzimos fica no Brasil. A demanda vem dobrando a cada ano. Estou otimista quanto à comercialização.
É fácil inverter a proporção, caso seja necessário? O mercado interno é capaz de absorver toda a produção caso a Europa reduza as compras?
Não. Não é tão fácil. Exportávamos 95% de nossas frutas até cinco anos atrás. Estamos aumentando as vendas no mercado interno gradativamente. Mas caso eu queira exportar apenas 30% e comercializar o restante no Brasil o mercado interno não absorverá. É possível fazer isso, mas precisa ser de forma gradual. A proporção que fica no País tem aumentado. Queremos aumentar ainda mais.
A Agrícola exporta hoje para que países?
Três países representam 90% de nossa exportação: a Inglaterra, a Alemanha e a Holanda.
Vocês estão prospectando novos mercados? A Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada (Expofruit 2012, realizada na semana passada em Mossoró), por exemplo, focou o mercado norte-americano.
Temos estudado novos mercados sim. O mercado norte-americano tem um potencial enorme, embora existam barreiras tarifárias que reduzam nossa competitividade. Estamos trabalhando isso politicamente. Mas o melhor mercado hoje é o Oriente Médio e o Leste Europeu. O problema é a logística. O melão tem uma vida útil curta. Em torno de 35 dias. Para chegar até a Europa, um navio leva 10 dias. Para chegar no Oriente Médio, leva quase 25 dias. O tempo para comercializá-lo lá fica curto. Estamos investindo em tecnologia para atender este mercado.
No ano passado, vocês exportaram US$ 77,6 milhões. O valor este ano deve ser parecido?
Acredito num incremento de pelo menos 10%. Acredito que chegaremos aos US$ 85 milhões este ano.
O senhor me disse que está otimista quanto a comercialização. Há algum problema em outra área que não seja a comercial?
Há dez anos, a Agrícola Famosa vem crescendo 30% ao ano, em termos de produção e área plantada. Para este ano, estamos prevendo um crescimento de 20%. ou seja, um pouco menor. Estamos preocupados com a seca. Usamos água de poços. Não sabemos como será a nova safra porque não choveu e os poços não foram reabastecidos. Choveu pouquíssimo na nossa região. Além disso, a água que a gente usa tem alto grau de salinidade. Todo ano a chuva lava o solo e este ano não houve a limpeza do solo pela chuva. As pragas também ficam mais fortes, quando não chove. Vai ser mais difícil produzir.
Quanto a Agrícola produziu no ano passado?
No ano passado, a gente plantou 5.900 hectares e produziu 6.100 conteiners para exportação e 1.800 para o mercado interno. Como cada conteiner comporta 20 toneladas, produzimos umas 170 mil toneladas no ano passado.
Mas esse número pode ficar menor na próxima safra por causa da estiagem...
Isso. Por isso estamos prevendo um crescimento de 20% e não de 30%, como nos anos anteriores.
Com relação a exportação, a Agrícola exportou US$ 21,23 milhões no primeiro trimestre deste ano. Valor 93% maior que o exportado no mesmo período do ano passado. Porque o resultado foi tão bom?
O primeiro quadrimestre deste ano foi muito bom para a exportação por dois motivos: aumento na taxa de câmbio e estiagem. Como não choveu, conseguimos produzir mais e com mais qualidade. A combinação entre valorização das moedas estrangeiras e baixo índice pluviométrico fez a empresa bater um recorde nas exportações. Exportamos US$ 25 milhões entre janeiro e abril. Este foi o melhor resultado desde que a empresa foi criada, há 17 anos. A Agrícola nunca exportou tanto neste período. Nosso último recorde foi metade disso (US$ 12,5 milhões).
A estiagem ajuda ou atrapalha a produção?
A estiagem ajudou a safra anterior, mas poderá atrapalhar a seguinte. O ideal para nós é que chova 700 mm entre março e maio. Índice histórico da região. Na nossa fazenda este ano choveu 140 mm. Isso não é suficiente.
Qual é a participação do Rio Grande do Norte nos negócios da companhia?
Hoje, 60% da produção é originária do Ceará e 40% do Rio Grande do Norte. A proporção exportada pelos estados varia de ano para ano. Ela depende da empresa com a qual fecho o contrato de frete marítimo. Se a empresa que oferece as melhores condições atende o porto de Pecém, exporto por lá. Se a empresa atende o porto de Natal exporto por aí. Na próxima safra, por exemplo, fechei um maior volume com a empresa que atende o Porto de Natal. Dos seis mil conteiners que exportei na safra passada, 1,1 mil saíram por Natal. Estou fechando um contrato com a Companhia Docas do Rio Grande do Norte para exportar 2,5 mil pelo estado. O percentual de melão exportado pela Agrícola pelo Porto de Natal passará então de 15% para 35% ou 40% na próxima safra.
Outros fatores também pesariam na escolha?
Sim. O Porto de Natal não consegue atender os navios grandes que vem para o porto de Pecém. Há uma limitação de espaço na retroárea e um problema de calado. Por isso, só atende os pequenos, que tem um custo operacional maior. Um navio grande tem o mesmo custo físico que um navio pequeno, mas consegue levar mais conteiners. Os preços que oferecem são mais vantajosos.
A Agrícola pode aumentar o volume exportado pelo Porto de Natal, caso o espaço para movimentação de cargas e a profundidade do rio sejam ampliados?
Sim. Eu gostaria muito de exportar um volume maior pelo Porto de Natal, mas os navios não conseguem atracar lá. Por isso tenho que procurar outros portos. Mas se tivesse condição, eu exportaria 100% das minhas frutas por Natal.
Por que exportaria 100% por Natal?
Porque o porto de Natal é especializado neste tipo de carga. Os órgãos intervenientes, como Ministério da Agricultura e Receita Federal, compreendem as necessidades dos fruticultores e as exigência do embarque deste tipo de carga, que é bastante perecível. Neste ponto, o porto de Natal é imbatível. O porto de Natal está preocupado com a fruticultura. O Porto de Pecém se destaca pela infraestrutura, mas como movimenta vários tipos de cargas, o espaço acaba ficando um pouco tumultuado.
A Agrícola Famosa está presente em três estados no Nordeste. O que faz a empresa produzir mais num estado e menos no outro?
Estou no Ceará, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. As condições climáticas e geográficas são as mesmas. O que faz a empresa produzir mais num estado e menos em outro são os incentivos concedidos (como a devolução do ICMS), a infraestrutura e a logística. O Ceará está na frente dos outros estados nos três quesitos. Esse é o motivo que nos leva a produzir mais lá. Se o RN se dedicar a isso terá condição de atrair produtores. Se eu fosse um governante, estenderia um tapete vermelho e perguntaria 'Luiz Barcelos, o que você precisa para gerar mais emprego?'. Mas as autoridades não enxergam dessa forma. Acabam deixando os empregadores relegados ao segundo plano. A Agricultura deveria receber mais atenção por parte dos governantes. E cá para nós, o governo do Ceará tem dado esta atenção.
E no Rio Grande do Norte? Falta atenção por parte do governo para o empresário deste segmento?
Falta sim. O Rio Grande do Norte demora para devolver os impostos para os exportadores e não constrói estradas. Eu comprei uma área no município de Pedro Avelino e tive que rezar para não chover, se não não conseguiria escoar a produção. Estive no governo e para melhorarem um pouquinho a estrada. Eles foram lá, olharam, e nunca me retornaram.
Você teria interesse de ampliar a produção aqui, caso as condições fossem favoráveis?
Sim. O que a gente precisa é de infraestrutura para tirar o melão. Precisamos de estradas, porto, incentivos tributários. Eu não posso ficar investindo em estrada. Não tenho condições de ficar investindo em infraestrutura. Não é minha função.
Há alguns meses, Flávio Rocha, vice-presidente do Grupo Guararapes e presidente da Riachuelo, classificou o Rio Grande do Norte com um estado hostil ao empresariado. Ele se referia mais à indústria. Em relação a Agropecuária, o Estado também tem sido 'hostil'?
O que eu diria é que eles não estão dando a colaboração que o setor merece. Outros estados dão essa colaboração e acabam levando não só a mim, mas outros produtores.
Quais os planos da Agrícola?
Começamos a produzir no Senegal e vamos produzir frutas no Norte de Minas Gerais. Também estamos diversificando a produção. Precisaremos de novas áreas dentro do Nordeste.
Por falar em novas áreas dentro da região, a Agrícola arrendou as fazendas da antiga Nolem, empresa que produzia e exportava frutas em Mossoró. A empresa pretende comprar a área?
Arrendamos as duas fazendas da Nolem por um ano. Renovamos por mais quatro. Estamos indo para o terceiro ano. A negociação para comprar as fazendas está em estágio avançado.
Quanto seria necessário para comprar as fazendas e em quanto tempo vocês teriam mais novidades quanto ao processo de aquisição?
Daqui para 60 dias teremos uma definição quanto a aquisição das fazendas da Nolem. Quanto ao valor, estamos falando algo em torno de R$ 14 milhões. Virando dono, posso aplicar mais dinheiro e produzir mais. Para aumentar a produtividade dessas áreas, é preciso construir estradas, perfurar poço, instalar energia, equipar os galpões de embalagem. Tudo isso exige investimento e não podemos investir numa área que não é nossa.