Filho de Francisco
Petronilo de Melo, um ex-jogador de futebol das décadas de 1940 e 50, e Pêdra
Teixeira de Melo, Antonio Francisco nasceu aos 21 de outubro de 1949; mas,
somente após os 40 anos, tomou gosto pela poesia, pelo menos como autor,
tornando-se um poeta popular. Múltiplo, fez-se também historiador (bacharel em
História, pela UERN), xilógrafo e compositor.
Esportista, dedicou
bastante tempo ao ciclismo, fazendo passeios de bike por toda região Nordeste;
daí, talvez, a razão de sua estreia tardia nas letras. “Meu Sonho”, seu
primeiro poema, traz versos impressionistas e surrealistas, onde o autor
recorre à fantasia para demonstrar sua inquietação com a interação entre o
homem e o meio.
NA CADEIRA DE
PATATIVA
O reconhecimento da
qualidade da sua produção levou-o a ser eleito, em 2006, para a Academia
Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), onde ocupa a cadeira de número 15,
cujo patrono é o poeta cearense Patativa do Assaré. Por falar nisso, alguns
estudiosos do cordel o consideram uma espécie de Patativa de Assaré da nova
geração.
Um dos seus livros
mais conhecidos, Dez cordéis num cordel só (2001), representa, sem dúvidas, um
marco na poesia popular brasileira; nele, o poeta mossoroense retrata inúmeras
situações e imagens da vida cotidiana do homem nordestino, sempre costurando,
ao longo dos seus enredos, um fundo de reflexão social e espiritualidade. A
linguagem utilizada é a do homem comum, na fala simples do cotidiano
nordestino.
Sua poesia de alto
nível vem sendo estudada em universidades e escolas públicas e privadas do Rio
Grande do Norte. Além da valorização local, instituições de ensino de outros
estados, como São Paulo, Pernambuco e Ceará, adotaram os cordéis de Antonio
Francisco.
Seu nome é
unanimidade entre os estudiosos e pesquisadores do cordel. Crispiniano Neto,
Luiz Antônio, Rubens Coelho, Clotilde Tavares, Caio César Muniz, Geraldo Maia,
Marcos Ferreira, Kyldelmir Dantas, Cid Augusto, Francisco Martins, Manoel
Cavalcante e Nildo da Pedra Branca, todos se referem aos seus versos com as
melhores palavras.
HOMENAGENS
Antonio Francisco
já recebeu inúmeras homenagens, como, por exemplo, aquela que lhe foi prestada
pela Prefeitura Municipal de Areia Branca, através da Secretaria de Educação,
tendo em vista o seu trabalho em prol da cultura nordestina e potiguar. Foi
homenageado por diversas outras instituições, e distinguido com o título de
cidadão honorário das cidades de Natal e de Icapuí (CE).
Antonio Francisco
foi um dos que carregaram a Tocha Olímpica, quando dos Jogos Olímpicos no Rio
de Janeiro, em 2016, durante a passagem desta pelo Brasil, como reconhecimento
pelo seu trabalho de divulgação e elevação do nome da cidade de Mossoró nacionalmente.
Em todas as apresentações que o carismático poeta realiza pelo Brasil, faz
questão de enfatizar que é mossoroense e destaca que nasceu e sempre morou na
Lagoa do Mato, bairro popular da cidade.
Por falar na terra
que tanto ama, a Câmara Municipal aprovou, ano passado, a inclusão do Dia do
Poeta Antonio Francisco no calendário oficial de eventos de Mossoró. Antonio já
foi homenageado no espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró; e, este ano, já
está confirmada grande festa em homenagem aos 70 anos do artista múltiplo.
Recentemente, no
programa “Encontro” com Fátima Bernardes, da Rede Globo, foi ovacionado pelo
público e pelo escritor cearense Bráulio Bessa, que diz ter se inspirado no
mossoroense. “É o maior poeta do mundo”, afirmou Bessa na TV.
ANTONIO FRANCISCO, SUA TERRA E SUA GENTE
Nascido e criado na
Lagoa do Mato, o poeta tem fortes laços com a sua terra e sua gente. Seus pais
tiveram 17 filhos, sendo 14 criados. “O milagre era diário. Onde faltava
dinheiro, sobrava felicidade. Os pré-natais de minha mãe eram lavando roupa no
rio”, asseverou o poeta em uma entrevista.
Com o passar dos
anos dedicados à poesia, vieram livros valorosos, que orgulham não só o povo
mossoroense, como toda a cultura do Nordeste: Por motivos de versos; Veredas de
sombra; Sete contos de Maria são bons exemplos. Em 2012, com incentivo da
Petrobras, alguns dos seus livros foram transformados em uma coleção, que conta
ainda com dois CDs, em que o autor recita seus poemas.
A projeção de
Antonio Francisco extrapola os limites dos seus versos; o poeta teve a sua obra
‘Os animais têm razão’ trabalhada dentro de um projeto pedagógico em várias
escolas. Por sua vez foi homenageado em Rap, com a música “Brazambique”, dos
artistas Shot B e Mossoró RAPentista, mossoroense radicado em Lisboa.
Em um desfile de 7
de setembro, em sua cidade, Antonio Francisco desfilou em carro aberto e foi
muito aplaudido pelo imenso público. O momento mais aguardado ficou reservado
para a passagem do artista em frente ao palanque oficial, quando ele recitou o
cordel ‘Os animais têm razão’.
INCENTIVADORES
Homem simples, do
povo, sempre reconhece suas raízes, suas origens, e os que o incentivaram no
início da caminhada poética, como, por exemplo, Crispiniano Neto, Nildo da
Pedra Branca, Luiz Campos e Aldacir de França.
De vez em quando,
encontro com ele por aí, vejo-o de longe, ao lado do jornalista Rilder
Medeiros; os dois já têm uma parceria de longa data. Por sinal, a Editora
Comunique, gerenciada por Rilder, acabou de publicar o novo livro de Antonio
Francisco, ‘Um caroço de manga’, e os dois andam viajando por todo o Estado no
projeto “Casa das Palavras”, divulgando tal trabalho.
Às vezes, vejo-o
com o poeta pauferrense Manoel Cavalcante, que afirma sempre que tem Antonio
como principal fonte de inspiração de sua poesia, e se orgulha de haver
recebido um telefonema dele.
Antonio Francisco
tem sintetizado e divulgado a cultura nordestina por todo o Brasil, fazendo
algo muito parecido com o que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, fazia, conseguindo
enorme sucesso entre as massas; e, ao mesmo tempo, tendo seu talento
reconhecido pela intelectualidade e pela crítica.
Pois é, caro poeta
Antonio Francisco, como no xote de Gonzagão: “De Itaboca a Rancharia, de
Salgueiro a Bodocó, você é o maior!”
Pesquisador
da literatura potiguar e um amante dos livros.
https://papocultura.com.br/antonio-francisco-o-rei-do-cordel-no-brasil/