quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Antonio Francisco, o rei do cordel no Brasil


Um dos maiores poetas populares do mundo é brasileiro; e, para nossa felicidade, nascido em solo potiguar. Mossoroense, Antonio Francisco talvez seja a melhor revelação da poesia popular surgida no Rio Grande do Norte, desde Fabião das Queimadas, famoso escravo cantador de rabeca, que comprou sua própria alforria ganhando dinheiro através dos seus versos.

Filho de Francisco Petronilo de Melo, um ex-jogador de futebol das décadas de 1940 e 50, e Pêdra Teixeira de Melo, Antonio Francisco nasceu aos 21 de outubro de 1949; mas, somente após os 40 anos, tomou gosto pela poesia, pelo menos como autor, tornando-se um poeta popular. Múltiplo, fez-se também historiador (bacharel em História, pela UERN), xilógrafo e compositor.

Esportista, dedicou bastante tempo ao ciclismo, fazendo passeios de bike por toda região Nordeste; daí, talvez, a razão de sua estreia tardia nas letras. “Meu Sonho”, seu primeiro poema, traz versos impressionistas e surrealistas, onde o autor recorre à fantasia para demonstrar sua inquietação com a interação entre o homem e o meio.

NA CADEIRA DE PATATIVA

O reconhecimento da qualidade da sua produção levou-o a ser eleito, em 2006, para a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), onde ocupa a cadeira de número 15, cujo patrono é o poeta cearense Patativa do Assaré. Por falar nisso, alguns estudiosos do cordel o consideram uma espécie de Patativa de Assaré da nova geração.

Um dos seus livros mais conhecidos, Dez cordéis num cordel só (2001), representa, sem dúvidas, um marco na poesia popular brasileira; nele, o poeta mossoroense retrata inúmeras situações e imagens da vida cotidiana do homem nordestino, sempre costurando, ao longo dos seus enredos, um fundo de reflexão social e espiritualidade. A linguagem utilizada é a do homem comum, na fala simples do cotidiano nordestino.

Sua poesia de alto nível vem sendo estudada em universidades e escolas públicas e privadas do Rio Grande do Norte. Além da valorização local, instituições de ensino de outros estados, como São Paulo, Pernambuco e Ceará, adotaram os cordéis de Antonio Francisco.

Seu nome é unanimidade entre os estudiosos e pesquisadores do cordel. Crispiniano Neto, Luiz Antônio, Rubens Coelho, Clotilde Tavares, Caio César Muniz, Geraldo Maia, Marcos Ferreira, Kyldelmir Dantas, Cid Augusto, Francisco Martins, Manoel Cavalcante e Nildo da Pedra Branca, todos se referem aos seus versos com as melhores palavras.

HOMENAGENS

Antonio Francisco já recebeu inúmeras homenagens, como, por exemplo, aquela que lhe foi prestada pela Prefeitura Municipal de Areia Branca, através da Secretaria de Educação, tendo em vista o seu trabalho em prol da cultura nordestina e potiguar. Foi homenageado por diversas outras instituições, e distinguido com o título de cidadão honorário das cidades de Natal e de Icapuí (CE).

Antonio Francisco foi um dos que carregaram a Tocha Olímpica, quando dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, durante a passagem desta pelo Brasil, como reconhecimento pelo seu trabalho de divulgação e elevação do nome da cidade de Mossoró nacionalmente. Em todas as apresentações que o carismático poeta realiza pelo Brasil, faz questão de enfatizar que é mossoroense e destaca que nasceu e sempre morou na Lagoa do Mato, bairro popular da cidade.

Por falar na terra que tanto ama, a Câmara Municipal aprovou, ano passado, a inclusão do Dia do Poeta Antonio Francisco no calendário oficial de eventos de Mossoró. Antonio já foi homenageado no espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró; e, este ano, já está confirmada grande festa em homenagem aos 70 anos do artista múltiplo.

Recentemente, no programa “Encontro” com Fátima Bernardes, da Rede Globo, foi ovacionado pelo público e pelo escritor cearense Bráulio Bessa, que diz ter se inspirado no mossoroense. “É o maior poeta do mundo”, afirmou Bessa na TV.

ANTONIO FRANCISCO, SUA TERRA E SUA GENTE

Nascido e criado na Lagoa do Mato, o poeta tem fortes laços com a sua terra e sua gente. Seus pais tiveram 17 filhos, sendo 14 criados. “O milagre era diário. Onde faltava dinheiro, sobrava felicidade. Os pré-natais de minha mãe eram lavando roupa no rio”, asseverou o poeta em uma entrevista.

Com o passar dos anos dedicados à poesia, vieram livros valorosos, que orgulham não só o povo mossoroense, como toda a cultura do Nordeste: Por motivos de versos; Veredas de sombra; Sete contos de Maria são bons exemplos. Em 2012, com incentivo da Petrobras, alguns dos seus livros foram transformados em uma coleção, que conta ainda com dois CDs, em que o autor recita seus poemas.

A projeção de Antonio Francisco extrapola os limites dos seus versos; o poeta teve a sua obra ‘Os animais têm razão’ trabalhada dentro de um projeto pedagógico em várias escolas. Por sua vez foi homenageado em Rap, com a música “Brazambique”, dos artistas Shot B e Mossoró RAPentista, mossoroense radicado em Lisboa.

Em um desfile de 7 de setembro, em sua cidade, Antonio Francisco desfilou em carro aberto e foi muito aplaudido pelo imenso público. O momento mais aguardado ficou reservado para a passagem do artista em frente ao palanque oficial, quando ele recitou o cordel ‘Os animais têm razão’.

INCENTIVADORES

Homem simples, do povo, sempre reconhece suas raízes, suas origens, e os que o incentivaram no início da caminhada poética, como, por exemplo, Crispiniano Neto, Nildo da Pedra Branca, Luiz Campos e Aldacir de França.

De vez em quando, encontro com ele por aí, vejo-o de longe, ao lado do jornalista Rilder Medeiros; os dois já têm uma parceria de longa data. Por sinal, a Editora Comunique, gerenciada por Rilder, acabou de publicar o novo livro de Antonio Francisco, ‘Um caroço de manga’, e os dois andam viajando por todo o Estado no projeto “Casa das Palavras”, divulgando tal trabalho.

Às vezes, vejo-o com o poeta pauferrense Manoel Cavalcante, que afirma sempre que tem Antonio como principal fonte de inspiração de sua poesia, e se orgulha de haver recebido um telefonema dele.

Antonio Francisco tem sintetizado e divulgado a cultura nordestina por todo o Brasil, fazendo algo muito parecido com o que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, fazia, conseguindo enorme sucesso entre as massas; e, ao mesmo tempo, tendo seu talento reconhecido pela intelectualidade e pela crítica.

Pois é, caro poeta Antonio Francisco, como no xote de Gonzagão: “De Itaboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó, você é o maior!”

THIAGO GONZAGA 

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

https://papocultura.com.br/antonio-francisco-o-rei-do-cordel-no-brasil/


 25/09/2021

Diogenes da Cunha Lima 

[ Escritor, advogado e presidente da ANL ]

 

Nenhuma região do país é tão pródiga na inventividade como o Nordeste. A arte do repente identifica a nossa região. É o exercício da poética popular, do sertão ao litoral, com versos de fazer inveja a poetas eruditos.


O repente nordestino é duelo verbal de cantadores com o acompanhamento de viola, rabeca ou pandeiro (embolada). Em todas as suas formas, participa do rico Patrimônio Imaterial do Brasil. É o diálogo do improviso e da liberdade vocabular.

Muito se discute sobre a sua origem. Como sempre, Câmara Cascudo vai mais longe. Para ele é o desafio oriundo do canto amebeu, grego, do tempo de Homero. É canto alternado, obrigando resposta às perguntas do companheiro.

Muitos poetas cantadores tornaram-se célebres. Pinto do Monteiro (sempre considerado o mestre da cantoria), um dia, recebeu Lourival Batista, crescente em versos quentes. Glosaram os dias da semana com o humor produzido por trocadilho. Pinto: “No lugar que Pinto canta/não vejo quem o confunda. / Que o rio da poesia/o meu pensamento inunda. /Terça, quarta, quinta e sexta, /sábado, domingo e segunda”. Lourival respondeu: ”Sábado, domingo e segunda, /quarta e quinta. / Na sexta não me faltando/a tela, pincel e tinta/pinto pintando o que eu pinto. /Eu pinto o que o Pinto pinta”.

Ninguém sabe dizer melhor das coisas da região do que o poeta mossoroense Antônio Francisco. É sempre expressiva a sua linguagem para fazer pensar. Brevíssimo exemplo: Falando sobre a fome, ele começa: “Engoli três vezes nada...”.

Fabião das Queimadas, escravo que tangia bem o verso e a rabeca, foi provocado para falar sobre a paga dos seus vinténs arrecadados. Que seria um poeta? Ele explicou: “Canta longe um passarinho/do outro lado do rio, /uns cantam porque têm fome, /outros cantam por ter frio. /Uns cantam de papo cheio, /outros de papo vazio”.

Não era cantador, mas poeta popular, popularíssimo. Aliás, Renato Caldas foi um lírico, improvisador, bem-humorado. Pediram-lhe que fizesse saudação ao escritor e pintor Newton Navarro. Versejou: “Adão foi feito de barro/mas você Newton Navarro foi feito de inspiração. / Dos passarinhos, das cores/da noite feita de amores/do luar do meu sertão”. Certa vez, o poeta tomou café em uma residência na cidade de Angicos e ao guardar suas coisas, distraidamente, incluiu uma colherinha. Já na sua cidade, em Assu, verificou o equívoco e voltou. Desculpou-se dizendo: “Eis aqui, dona Chiquinha, /devolvo sua colher. / De coisa que não é minha/eu só aceito mulher”.

Na função de conselheiro do Iphan, esforçar-me-ei para que o Repente Nordestino seja reconhecido como Patrimônio Imaterial Brasileiro.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Uma quase "confusão" pelo nome do convidado ao baile

De: https://jornaldagrandenatal.blogspot.com/


Primeiro prédio do grupo escolar "José Correia" construído pelo parente do patrono

O patrono da escola municipal açuense homenageia parente do segundo José Correia

José Vanilson Julião

Fiz o primário no Grupo Escolar Querubina Silveira e o terceiro ano ginasial no colégio “Pedro II” – vinculado a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) – em Cerro-Corá.

Quando meu irmão e um colega de infância resolveram mudar de ares para um centro maior, ainda sem o planejamento do mini vestibular da Escola Técnica Federal/RN, inventaram de terminar o primeiro grau na Escola Estadual Presidente Juscelino (Açu) e fui junto.

Foi no Vale que ouvi falar pela primeira vez e vi o prédio do grupo escolar municipal e depois escola estadual que homenageia um natural do Açu, o patrono “Tenente-coronel José Correia de Araújo Furtado” (10/11/1788 – 9/5/1870).

Que veio a ser o número 62 como governante da Capitania do Rio Grande do Norte (18/3/1822 – 24/1/1824) após o governo provisório durante os movimentos da declaração da Independência e as atividades golpistas no Pernambuco.

O estabelecimento de ensino é fundado em 7/9/1911 e funcionou 37 anos no prédio da Rua São Paulo (atual Minervino Wanderley). Com o crescimento da demanda na matrícula é remodelado e novamente inaugurado em 2/2/1949.

Para minha surpresa um personagem com nome idêntico aparece na lista dos 110 convidados para a cerimônia do casamento (civil e religioso), seguido do baile receptivo no casarão do pai da nova, o senador Pedro Velho.

Trata-se de José Correia de Araújo Furtado (Açu, 30/1/1865 – Recife, 15/2/1926), filho de Luiz Correia de Araújo Furtado e Clara Maria Soares de Araújo, este sim, presente ao baile no casarão do senador Pedro Velho.

Cursou humanidades no Atheneu e bacharelou-se em Direito na capital pernambucana (1889). Indicado pelo chefe do Partido Liberal, José Bernardo de Medeiros (1837 – 1907) foi eleito Deputado Provincial (1888) aos 23 anos, ainda acadêmico, em substituição ao deputado Antônio Carlos de Medeiros, falecido a 15 de dezembro daquele ano.

Foi Promotor Público em Pau dos Ferros (1890), Açu (1891-1892) e Cabo/PE (1893-1894). Retornando ao RN estabelece-se como advogado (1895 – 1899) e mais uma vez fora do estado é designado juiz municipal (Glória de Goitá/PE) e retorna em 1902 a terra natal.

Juiz distrital em Natal (1902 – 1906), magistrado em Apodi (1907) e juiz e chefe político em Açu (1907 – 1914), sob a liderança dos Albuquerque Maranhão.

Casa com Maria da Natividade Caldas de Amorim sem descendência. Desembargador (1925) pelo decreto pelo governador José Augusto Bezerra de Medeiros (1884 – 1971) no mesmo ano, face a complicações de saúde, requer aposentadoria.

Sócio do Instituto Histórico e Geográfico publica pesquisa “Administração da Justiça no Assu: O Assu Julgado” (revista XXIII – XXIV, 1926 – 1927).

Foi em quem construiu o Grupo Escolar Tenente-coronel José Correia, remodela o Mercado Público e implanta o sistema de iluminação a querosene. Faleceu em Recife, após intervenção cirúrgica a que se submeteu no Hospital Centenário do Recife.

Prédio do "José Correia", "remodelado" e inaugurado em 1949, na Rua Minervino Wanderley, no Açu


FONTES/IMAGENS

A República

Açu Na Ponta da Língua

Fundação José Augusto


segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Auri Fernandes Sales foi minha professora de geografia no meu tempo de estudante do curso secundário. Que pena, encantou-se! Como profissional dona Auri foi exemplar e como figura humana, uma joia! Que sua boa alma brilhe no céu!

Fernando Caldas




CREIO

Creio na beleza do teu porte,
Na doce floração do teu receio.
Creio, feliz, no teu melhor anseio
E creio-me feliz por ver-te forte.
Creio em teus olhos divisar meu norte
Nos teus olhares julgo ler mais forte.
Creio na fé de ter nos teus afetos
Nos teus sorrisos doces, prediletos,
Na luz que vem seus divisar escolhos...
Na serena visão dos teus castelos...
Na pureza infantil dos teus desvelos
Creio na prece muda dos teus olhos.

(João Lins Caldas. Assu, 1909)

sábado, 11 de novembro de 2023

VOLÚPIA é titulo de um livro que estou organizando para breve publicação, do lírico potiguar modernista do Assu, João Lins Caldas. Volúpia é titulo também de um dos milhares de poemas que aquele amoroso e amargurado vate produziu ao longo de sua existência, que abre às páginas daquela antologia que. sem aspirações maiores irei publicá-la! Vejamos para o nosso deleite, o citado poema:

Eu fui perturbar teu sono.
Despertar a carne da tua mocidade.
Desgrenhar teu cabelo.
Dar febre ao teu sangue.
Perdoa, pela minha mocidade
Pela tua mocidade.
O lençol revolvido
O travesseiro molhado...
Se houve a tua a tremer, a minha cama
na noite não soube também o que era ter sono.

(Postado por Fernando Caldas)

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

 Princesa 90 FM

A equipe da Princesafm e da @sevensports_produtora foi recebida no último dia 01/11 em sua residência, pelo empresário e conterrâneo Assuense, @ismardiogenes e gentil esposa, Janicediogenes.arquiteta
Na oportunidade tivemos a alegria de encontrar os também conterrâneos @sandramdeiros
@fernando.caldas.562
JB Macedo e esposa
Didiu e Cecília
@jottabshow
O objetivo da visita foi gravar um #memoriavivadaprincesafm
Foram tantas resenhas que rendeu dois programas e irão ao pela princesinha e suas plataformas nos dias
12/11 e 19/11.
Vídeo e fotos: @sevensports_produtora

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...