"A publicidade é uma forma de linguagem poética", dizia o publicitário João Moacyr de Medeiros (1921-2008). Ele era norte-rio-grandense do Assu. No Rio de Janeiro, viveu durante mais de sessenta anos. Tipo alto, magro, mistura de potiguar com carioca, bom palestrador. Era prazeroso ouví-lo narrar a sua fantástica tajetória, vivida principalmente na propaganda brasileira. Fundou em 1950, e comandou durante quarenta anos, a JMM Publicidade (sigla do seu nome). Antes teria trabalhado na revista PN. "Eu sempre fui um repórter", dizia Moacyr que começou a fazer propaganda e tornou-se conhecido rapidamente, ganhando credibilidade. O Café Paulista foi seu primeiro cliente.
Já famoso pelas suas criações genias, o banqueiro mineiro Magalhães Pinto contratou sua agência para fazer a publicidade do Banco Nacional de Minas Gerais (que foi seu cliente durante trinta anos). Aquela casa bancária chegou a ser considerada como um dos cinco maiores bancos privados do Brasil. E quem não se lembra da propaganda (do guarda chuva) que abria no final dos anos sessenta e na década de setenta, o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. O renomado publicitário Cid Pacheco, ja falecido (que participou ativamente da campanha de Hugo Chaves a presidência da Venezuela), que foi parceiro de Moacyr durante décadas na JMM, comenta que o guarda chuva "foi um dos maiores símbolos promocionais da publicidade de todos os tempos".
Moacyr em 1954, foi o protagonista da primeira eleição marketizada no Brasil, convidado pelo deputado Magalhães Pinto para fazer a campanha de Celso Azevedo, pela UDN (um jovem engenheiro que o povo não conhecia), para prefeito de Belo Horizonte, contra Amintas de Barrros, pelo PSD, que tinha o apoio de Juscelino Kubitschek e do PTB de Getúlio Vargas. Moacyr, ao chegar naquela terra mineira e, "mineiramente", no seu próprio dizer, escultou os taxistas, os barbeiros, entre outras pessoas daquela sociedade, descobriu e explorou que Celso Azevedo seria o primeiro belo-horizontino a governar aquela cidade, produziu uns versos que mandou musicar e introduziu um jingle para rodar no rádio (entre outras estratégias que usou), que diz assim: "O povo reclama com razão / minha casa não tem água / minha rua não tem pavimentação / mas não basta reclamar, meu senhor / é preciso votar num candidato de valor".
A moda pegou e, em apenas três semanas, Celso Azevedo que somente tinha o apoio de Magalhães Pinto e do PDC (um partido de pouca expressão eleitoral), ganhou a eleição para Amintas de Barros tido como um candidato populista e imbatível em Belo Horizonte.
Para a conceituada jornalista Anna Ramalho, do Jornal do Brasil (Coluna Opinião), num artigo datado de 19 de fevereiro de 2006, depõe que Medeiros "é um gênio da propaganda. O Jornal Nacional foi assim batizado por sua sugestão: na época do seu lançamento, era patrocinado pelo Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, principal cliente da agência". E vai mais adiante aquela brilhante jornalista, ao dizer que Moacyr teve outras invenções como " o tema ponte aérea, criado para Real Aerovias, ainda na década de sessenta". E aquela ex funcionária da JMM, não dispensa elogios a pessoa do seu ex patrão, afirmando que "Medeiros é um exemplo de pessoa descente, do brasileiro que soube ganhar muito com o seu trabalho, mas sempre de uma forma digna, sem cambalachos e maracutaias".
Já, o publicitário Jonga Oliveira no seu blog "Casos" da Propaganda", comenta que Moacyr "foi muito importante na história da propaganda. Não somente a carioca, como também a brasileira". E vai mais adiante aquele agente de publicidade, ao dizer que "a sua JMM constituiu-se, já na década de cinquenta, uma das agências pioneiras na reformulação da comunicação no Brasil".
Afinal, não se fala (ele presidiu, salvo engano, a Federação Nacional das Agências de Propaganda) da história da propaganda moderna no Brasil, sem antes colocar João Moacyr de Medeiros, em posição de destaque.
Pena, que ele veio a falecer no Rio de Janeiro, aos 87 anos de idade, no último deia 5, e cremado no dia 7, deixando um filho chamado Antônio Carlos de Medeiros, e uma neta (residentes na capital fluminense), além de sua irmã Zaíra de Medeiros Marinho (residente em Natal), sobrinhos, parentes e amigos, pelo país afora.
Afinal, muito me honra ao dizer que ele, Moacyr, é meu primo próximo pelo lado da tradicional família potiguar os Lins Caldas. Descança em paz Moacyr. A morte, no entender de Nietzsche, "deixa de ser terrível, quando a vida está consumada. Você consumou a sua".