quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

DE ASSU A MACAU

Conta-se os observadores que na cidade de Assu, no Rio Grande do Norte acontece de tudo, o que é uma verdade. Pois bem, no começo dos anos noventa, chegou naquela terra assuense, um exigente e ultrapassado Juiz de Direito. Aquela autoridade começou logo a dizer que não casava moça que vestisse calça comprida e com rapaz cabeludo, entre outras exigências. Foi o bastante para o poeta João Fonseca escreveu essa décima:

Nasceu no tempo da valsa
Cueca samba canção;
Eu não sei por qual razão
Não casa moça com calça
Vestido tem que ter alça
E terá que cobrir tudo.
Do contrário fica mudo
Em tudo bota defeito
Não quer ver bico de peito
E nem rapaz cabeludo.

Certa vez chegou na cidade litorânea de Macau (RN), certo representante comercial (cacheiro viajante). Na hora de fazer o pedido numa certa drogaria da cidade, escreveu Macau com a letra "L", no final. O dono do estabelecimento reclamou: "Moço, Macau se escreve com "U"., no final da palavra. O vendedor não se fez de rogado: "Mas, essa é muito boa! Natal que é Natal se escreve com "L", no final. Agora vem Macau querer ser diferente".

Fernando Caldas

PURUECA, UM BOÊMIO AUTÊNTICO

José Tarcísio Tavares e sua irmã Evangelina Tavares de Sá Leitão.



José Tarcísio Tavares, ou simplesmente Purueca como era mais conhecido na sua cidade de Assu, era tipo magro, baixa estatura, bom de copo, boêmio inveterado. Teve a infelicidade de ter perdido na morte, seus pais Fernando Tavares e Maria Celeste Tavares num desastre aviatório do Rio do Sal, em 12 de julho de 1951, fato este que deixou a sua família atordoada. Estudou no Colégio Diocesano de Caicó e no 7 de Setembro, de Natal. Isso, na década de cinquenta. No Assu frequentou todos os bares e botequins daquela cidade de tantos boêmios como ele próprio.

Purueca foi proprietário em parceria com Tarcísio Tavares da famosa Sorveteria denominada Ponto Chic, estabelecida na esquina com o antigo Banco do Brasil, em frente a praça Getúlio Vargas. Era o ponto de encontro da juventude assuense nos anos sessenta. 

Dele, em razão do seu temperamento explosivo, ignorante (no bom sentido), qualquer coisa que lhe desagradasse dizia um nome de baixo calão. conta-se que certo amigo lhe fizera uma proposta numa mesa de bar, madrugada à dentro: "Purueca, eu pago a despesa se você passar cinco minutos sem dizer um nome imoral!" "Tá fechado, pode marcar no seu relógio!" - Quando fora já se aproximando dos cincos minutos, não suportando mais esperar", explodiu: "Os ponteiro da porra deste relógio não roda, não?" - E Purueca foi obrigado a pagar toda a despesa.

Em tempo: Purueca, era meu tio pelo lado materno.

Fernando Caldas



terça-feira, 30 de dezembro de 2014

POESIA PIRASSUENSE:

FACES SEM SORRISO

Menino qual o teu nome,
Que tens uma angústia louca?
Foi o cabresto da fome
Que amordaçou minha boca,
Pois no meu nome senhor
Só há desespero e dor,
Tristeza e desolação,
O meu nome nada importa
Fico a soleira da porta
Pedindo a esmola de um pão.

E aquele rapaz, quem é
Que está ao pé do serrote?
É o meu irmão José
Que foi dar água ao garrote;
Chega José paciente,
Senta-se ao mesmo batente,
Vago olhar amortecido,
Na palidez do seu rosto
Tinha a força do desgosto
De um jovem desiludido.

O André chega também,
Antônio, Ambrózia e Tereza
Cada rosto uma tristeza,
Só alegria não vem
A pobre mãe numa rede
Embala o pé na parede
O filho mais pequenino,
Dois ou três meses de idade
Mais é na realidade
Vítima do mesmo destino.

Esse pequeno inocente
Sem brilho nos olhos seus
Sofre por culpa de Deus?
Não. Culpa dos homens somente,
Os homens sim, são culpados
Que aos filhos dos desgraçados
Lançam os grilhões da miséria
De Deus, não, a culpa é deles
Como se não fossem eles
Filhos da mesma matéria.

Autor: Francisco Agripino de Alcaniz - Chico Traíra.
Fonte: Espinhos e Flores da Minha Terra/1986.
Ilustração: Pintura de Bartolomé Esteban MURILLO - conhecida como "o jovem pedinte" (c. 1650).

UM POUCO SOBRE O GINÁSIO PEDRO AMORIM - ASSU

Antiga Carteira de estudante pertencente ao editor deste blog.


O Ginásio Pedro Amorim, de Assu/RN, pertencia a CNEG - Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, atual CNEC. Na cidade de Assu, aquela escola fora instalado ainda no início dos anos sessenta. Padre Hélio foi seu primeiro diretor. Aquele educandário funcionou no Instituto Padre Ibiapina, no Colégio Jk e, por último, onde hoje está assentado o Campus Avançado do Assu, da UERN. Foi seu primeiro diretor Padre Hélio. Foram professores do GPA do meu tempo, Padre Canindé, Auri Sales, Waldeir Oliveira e Nair Fernandes, dentre outros. Outros que dirigiram aquele colégio, recordo de João Marcolino de Vasconcelos, Adonias Bezerra de Araújo e Noé Rogério da Costa.  
 
A carteira de estudante (imagem acima) é uma relíquia (peça de museu), data de 1971. Era seu diretor naquele tempo (1971), Noé Rogério da Costa e o presidente do Grêmio era o Sr. Francisco de Medeiros Dias (Chico Dias). Há informações que em 1961 foi professor de Latim naquele educandário, Padre Alfredo Simonette. Fica, portanto, mais um registro da memória do velho Assu.

Fernando Caldas

JOÃO MOACYR DE MEDEIROS, O POETA


João Moacyr de Medeiros era natural de Assu, interior norte-rio-grandense, e carioca por adoção e escolha. Poeta, intelectual. Passou quase toda a sua vida no Rio de Janeiro, convivendo com grandes nomes das letras brasileira. Na capital fluminense, conviveu com grandes figuras dos meios empresarias e das letras brasileiras, como o potiguar Antônio Bento, um dos maiores conhecedores e críticos de arte moderna no Brasil. A sua vida fora recheada de privilégios que Deus lhe deu por merecimento.

Moacyr estudou o primário no Colégio Nossa Senhora das Vitórias, da sua terra natal. Filho de José Lúcio de Medeiros e Maria Francisca Caldas de Medeiros. Seu pai fora chefe dos Correios do lugar então denominado Sacramento, que depois veio a ser município de Ipanguaçu/RN,

Na década de trinta, Moacyr passou a morar na cidade de Natal,, estudando no velho Atehenei, da rua Junqueira Ayres, da capital natalense. Foi contemporâneo do brilhante advogado Raimundo Nonato Fernandes.

Em fins de 1930 Moacyr regressou ao Recife com o objetivo de estudar o curso pré jurídico que somente veio a concluir já estando no Rio de Janeiro, no Colégio Universitário (Universidade do Brasil), em 1946.

O seu coração era dividido (ele conheceu o mundo quase todo) entre o Rio de Janeiro, Natal, Assu e Ipanguaçu, onde tinha uma empresa agrícola de porte, na propriedade agrícola que ele herdara de seus pais denominada Veneza", 1965 com o longo poema produzido em data de 1937, quando ele tinha apenas 16 anos de idade e que deu o título de "Aspiração" como podemos conferir adiante:

Que ância de ser montanha!
que desejo febril dentro em meu peito vibra,
e o faz estremecer, palpitar, fibra a fibra
e louca agitação da alma, impetuosa estranha!
Existe junto ao mar, nunca, ó minha alma, ouvindo
a fragorosa música das águas!
... rugidos vãos de dor, lamentações de máguas,
do oceano, em convulsões, seus pesares carpindo!...
que delícia a de ter a alma petrificada
num bloco de granito, ou cordilheira imensa,
que não ama, e não sente, e não sofre, e não pensa.
Ter um' alma de pedra e um coração de pedra!
e inerte, unir-me à rocha, onde, como um lençol
de veludo esverdeado,
as carícias do Sol
abrasador do estio, o tenro musgo medra!...
Ser montanha!
e passar pela vida indiferente à vida,
indiferente ao mundo, a tudo indiferente,
numa infinita calma...
sem uma agitação do coração, ou da alma,
insensível à dor que a humanidade agita,
- numa inércia sem fim... numa calma infinita...
Não senti a tristeza atroz de um Sol no poente!...
- o funeral de um rei, no derradeiro aceno
ao dia que fugiu...
- É que a pedra não vê, é que a pedra não sente
a mágoa que maltrata o coração da gente!...
- a dor cruciante da Saudade, esse veneno
delicioso que emana a hora crepuscular,
ou vem nos raios lânguidos do luar
quando surge da bruma,
e faz vibrar dentro de nós, uma por uma,
como em deserta fonte o soluço das águas,
as sinfonias lúgubres das mágoas!...
Ser montanha! e possuir, por templo - a Natureza,
e por manto - o infinito azul do firmamento,
de um diadema de estrelas aljofrado,
na sideral beleza
das noites em que o luar, nostálgicos e prateado,
vem surgindo, a flutuar nos espaços... e o vento
geme tristes canções nas folhas dos coqueiros
erguidos para o céu, como reis, sobranceiros!
- Não ser Homem! ser pedra! a extraordinária algema
da existência quebrar, estrangulando a Vida,
- o caminho da Dor, da própria Dor nascida!
.
A propósito daquele poema, o renomado professor norte-rio-grandense Henrique Castriciano, num artigo publicado em A República, de Natal, de 2 de agosto de 1941, diz nas suas palavras iniciais, o seguinte: "Menino, você será um dos maiores poetas do Rio Grande do Norte (...).

Fernando Caldas

SAIBA COMO ABRIR UMA GARRAFA DE VINHO SEM SACARROLHAS

SERVIDORES FEDERAIS USARÃO NOVO TETO PARA PRESSIONAR GOVERNO

Vera Batista

Correio Braziliense     -     28/12/2014

Com apoio do alto escalão, categorias iniciarão 2015 reforçando a pauta de isonomia salarial entre os Poderes

O alto escalão de servidores dos poderes Legislativo e Judiciário, que já provou ser capaz de atrapalhar planos de cortes de gastos na máquina pública, lançou uma bomba no colo da nova equipe econômica. As categorias desobedeceram a orientação de aplicar reajustes com base no orçamento disponível, ou seja, em não mais do que 15,8%, conforme decidido após a greve de 2012. No apagar das luzes de 2014, porém, os salários foram aumentados levando em conta a inflação dos últimos quatro anos. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e integrantes do Ministério Público da União (MPU), além de deputados e senadores, passarão a ganhar R$ 33.763 mensais.

O mau exemplo de cima se espalhou pela Esplanada e, em 2015, servirá de barganha por lideranças sindicais nas estratégias das campanhas salariais. Não será a primeira vez que os passos das “excelências” serão seguidos. A chamada “isonomia de ganhos e direitos” talvez seja a principal bandeira defendida no Executivo, com o reconhecimento da data-base e a revisão geral dos salários para servidores federais, estaduais e municipais.

Às vésperas do recesso de fim de ano, representantes de várias categorias levaram a indignação pela desigualdade no peso dos reajustes ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski. No encontro, alegaram a importância de recompor o poder de compra dos servidores diante da carestia — argumento compartilhado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os sindicalistas querem o apoio de Lewandowski no julgamento do Recurso Extraordinário (RE), nº 565089 — emperrado desde 2007 —, que contempla o direito ao reajuste anual.

Estiveram representados na conversa entidades como a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), os sindicatos nacional dos Servidores das Agências Reguladoras (Sinagências), dos Servidores Federais da Educação Básica e Tecnológica (Sinasefe) e dos Peritos Médicos Previdenciários (Perícia Sindical). Advogados e técnicos contaram com o auxílio de economistas da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Brasília.

A súplica dos servidores teria surtido efeito. Segundo a Condsef divulgou em nota, Lewandowski comprometeu-se a colocar o assunto na pauta tão logo a Suprema Corte retome os trabalhos, em fevereiro. O presidente recomendou, ainda de acordo com a confederação, que o ministro José Antonio Dias Toffoli também fosse procurado, uma vez que foi ele quem pediu vista do processo, adiando o julgamento. Por enquanto, três ministros se declararam favoráveis e quatro foram contrários à data-base para todo o funcionalismo. Seguem em aberto os votos dos ministros Toffoli, Lewandowski e Celso de Mello. “A falta de revisões remuneratórias permanentes a empregados públicos cria  divergências com o setor privado e tratamento injusto”, sustenta a Condsef.

Os esforços dos servidores concentram-se na retomada do diálogo com o governo, a partir do momento em que a nova equipe econômica tomar posse. Após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), representantes procuraram a equipe de transição. “A expectativa é que Nelson Barbosa (novo ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão) tome a iniciativa e convoque audiência para dialogar pendências e ouvir as reivindicações mais urgentes. Os servidores também esperam que a presidente Dilma honre o debate sobre a agenda propositiva aprovada durante a campanha”, informou a Condsef.

Balanço

Os sindicalistas prometem intensificar as pressões por reajuste e se animam com interpretação de que a grande paralisação de 2012 rendeu resultados positivos. Um balanço de greves, elaborado pelo Dieese, reforça que os movimentos nascem, quase sempre, justamente pela ausência de revisões remuneratórias periódicas.

Desde 1978, indica o levantamento, já ocorreram 873 greves. “O resultado confirma a tendência de aumento a partir de 2008. As informações da série histórica também revelam que o total de greves cadastrado em 2012 é o maior desde 1997 e que o total anual de horas não trabalhadas é o maior desde 1991”, detalhou o Dieese.

O balanço aponta ainda que, no período analisado, somaram-se 409 greves na esfera pública (47% do total) e 461 na privada (53%). O total de horas paradas no funcionalismo (65,4 mil), no entanto, superou o registrado no setor privado (21,2 mil). “É preciso mencionar o fato de que as negociações na esfera pública são bastante complexas, envolvendo vários órgãos e instâncias, além do Judiciário”, ponderou o estudo.

O Dieese listou as principais reivindicações. Quando se trata de funcionalismo público federal, em 86% dos casos as greves envolvem pedidos de reajuste salarial. Em seguida no ranking, aparecem as exigências de cumprimento de acordos ou criação e de planos de cargos e salários (46%), seguidas de pedidos de melhorias das condições de trabalho e concurso público (13%) e fixação, manutenção ou alteração da data-base da categoria (11%).

Postado por 
http://servidorpblicofederal.blogspot.com.br/

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

ROGACIANO LEITE X CEGO ADERALDO

Rogaciano Leite


Cego Aderaldo 

O poeta-violeiro, jornalista Rogaciano Leite (Itapetim, Pernambuco, 1920 – Rio de Janeiro, 1969) era filho dos agricultores Manoel Francisco Bezerra e de Maria Rita Serqueira Leite, iniciou a carreira de poeta-violeiro aos 15 anos de idade quando desafiou na cidade de Patos, Paraíba, o cantador Amaro Bernadino.

Rogaciano Leite não foi apenas um poeta popular, não. Escrevia versos eruditos, sonetista da maior grandeza. Conta-se que até mesmo o soneto, ele improvisava. Foi amigo do poeta recifense Manuel Bandeira, morou no Rio Grande do Norte, Ceará e Rio de Janeiro.

O músico Silvo Caldas em História da Música Popular Brasileira, 1984 conta que certa feita, Rogaciano cantava com o conhecido e afamado poeta-violeiro chamado Cego Aderaldo, Aderaldo Ferreira de Araújo (Crato, 1878 — Fortaleza, 1967) numa feira livre da cidade do Recife. Rogaciano ao ver aquele cantor seresteiro com quem ele tinha o prazer de gozar da sua amizade, abriu o verbo a título de querer debochar com Aderaldo, dizendo assim: - "Estou cantando com este velho, este velho que não serve pra mais nada, que já devia está numa rede todo enferrujado...”. - Aderaldo não se fez de rogado, improvisou a seguinte sextilha, conforme adiante:

Andei procurando um besta 

Um besta que fosse capaz
E de tanto procurar um besta
Encontrei esse rapaz
Que não serve pra ser besta 
Porque é besta demais.

CONTO:

A OUTRA

Maria das Virgens era mais doida do que pedra de funda. Vivia proclamando aos quatro ventos que jamais se casaria. preferia ser "A Outra" e espalhar lágrimas ao redor.

Seu último caso de amor foi com o marido de Das Dores, aquela que colecionava vidrinhos de lágrimas.

Após longos meses de união extra conjugal, João disse à amante:

- Maria das Virgens, tenho algo a lhe dizer.

- O que? Que fala de mistério!

- É isto. Quero lhe comunicar que o nosso caso de amor chegou ao fim...

- O que?! Vai me abandonar?

- Cansei, querida, mas "enquanto durou foi bom". Não desejo contrariar mais Das Dores. Ela já derramou lágrimas demais por mim. Não quero mais magoá-la.

- E eu?

- Se vire. Não lhe faltarão amantes com essa fogueira de seu corpo. Aprendi demais com você e cheguei a conclusão de que a meiguice e a doçura valem mais numa mulher, do que a volúpia vertiginosa do sexo...

- Está certo, mas eu já me vinguei por Das Dores. Diga a ela, que quando lhe acariciar, que passe as mãos em sua testa, e veja quantos chifres lhe botei... Tá?
*-*
Autora: Maria Eugênia Maceira Montenegro 
(*07/12/1915 - +29/04/2006 - aos 90 anos de idade). Natural de Lavras/MG. 
Cidadã assuense e Ipanguaçuense. Imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras. 

PADARIA SANTA CRUZ







Imagens do blog Página R.

A Padaria Santa Cruz era de propriedade de Etelvino Caldas, na década de vinte e trinta, depois dos irmãos Solon e Afonso Wanderley. Nos anos quarenta, cinquenta sessenta e até o começo de setenta, produzia o melhor pão e bolacha da cidade de Assu. Hoje aquela panificadora é de propriedade de João Gregório Junior? A bolacha e biscoito denominado Flor do Açu (em formato de UMA flor), é uma delícia, ainda hoje produzida por outra padaria de propriedade de Toinho Albano. Naquelas décadas era o ponto de encontro amistoso para uma  uma boa prosa, dos barões da cera de carnaúba,  influentes políticos da região, intelectuais, poetas da cidade. Eram seus assíduos frequentadores  frequentadores as figuras como Zequinha Pinheiro, João Turco, Minervino Wanderley, Major Montenegro, Fernando Tavares (Vem-Vem), Luizinho Caldas, além dos irmãos Edgard e Nelson Montenegro, Walter Leitão, Edmílson Caldas, Renato Caldas, Francisco Amorim, dentre outros. Antes  dos irmãos Solon e Afonso, aquela padaria pertencia ao Senhor Enéas Dantas, pai do poeta Renato Caldas.

Aquela panificadora fora palco de muitas estórias pitorescas, muitas delas construídas em formas de versos, de rimas. (Esta estória não tem o intuito de denegrir a imagem de politico, apenas tem o sentido humorístico). Pois bem. Certa vez (era época de eleições para governador), Renato Caldas que não perdia a oportunidade para glosar, ao chegar naquele estabelecimento comercial deparou-se com uma fotografia de Frei Damião ladeado por dois candidatos ao cargo de governador e vice governado, Não deixou para depois, escrevendo:

A culpa não compromete
Ao cidadão inocente,
Mas, quando diariamente,
Essa história se repete
Deus é bom e não promete,
Também não tem distinção,
Ele que tem mil razões
Sobradas de se vingar,
Consente Solon botar
Um justo entre dois ladrões.

Fernando Caldas

MAL ENTENDIDO NA FARMÁCIA

A Farmácia Potengi é uma das mais antigas da cidade de Assu/RN. Aquele estabelecimento é mais conhecido como Farmácia de João Branco, seu então proprietário. Pois bem, certa vez chega naque estabelecimento certo senhor todo abusado, com uma crise de hemorroida. "Pirulito" era o apelido do competente balconista que, pela experiência que tinha, indicava o remédio certo para qualquer enfermidade. O fregues solicitou a João Branco: "Seu João, me indique um remédio pra hemorroida. João Branco respondeu ao cliente: "Só com Prirulito!"  - O cliente esbravejou na horinha: - "Soque você, seu filho da mãe!"

O INTELIGENTE E O SABIDO

Há duas categorias de pessoas, que sobretudo no Rio Grande do Norte, merecem um debruçamento maior, uma atenção mais atenta, um enfoque mais aproximado: o inteligente e o sabido.
O inteligente é como grão. Se não morrer, será infecundado. A fecundidade do sabido é feita de cotidianidade dos seus sonhos.
O inteligente é aritmético. Consegue sobreviver. O sabido  é geométrico. Quase sempre vive sobre.
O inteligente é polivalente na ordem do conhecimento. O Sabido, na ordem do aproveitamento.
O inteligente é grosseiro às vezes, mais humano, profundamente humano. O sabido se irrita mas é sempre fino. Fino e aderente. Sobretudo ao poder. E quando eu falo em Poder, não me refiro pura e simplesmente ao sistema. Me refiro ao poder podendo. Feito de números. Sobretudo de números.
O inteligente pode ser desligado. O sabido nunca.
O inteligente gosta de se encontrar com velhos amigos. O sabido prefere localizar novos. Se vão lhe render dividendos.
P inteligente é simples. O sabido é complexo. Chegar a ele, às vezes não é fácil.
O mundo é dos sabidos. A vida, dos inteligentes é complexo. Chegar a ele, às vezes não é fácil.
O mundo é dos sabidos. À vida, dos inteligentes. Na sua intensidade.
A ambição do inteligente é limitada. Porque limitada, nem consegue ser ambição.
O sabido é sobretudo ambicioso, explicação maior do seu sucesso.
O inteligente poderá ser sábio. O sabido, nunca.
A fé do inteligente é escatológica. Do sabido, circunstancial.
O inteligente não consegue ser audaz. A ousadia porém, é o oxigênio do sabido.

___________Em Apesar de Tudo, 1987, José Luiz Silva.

Mário Quintana - Ah! O Amor... - Texto Maravilhoso!

Precisamos sempre mudar, renovarmo-nos, rejuvenescer; caso contrário, endurecemos.....
Devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom poema, ver uma pintura de qualidade e, se possível, dizer algumas palavras sensatas.

Goethe


CREIO

Creio na beleza do teu porte,
Na doce floração do teu receio.
Creio, feliz, no teu melhor anseio
E creio-me feliz por ver-te forte.
Creio em teus olhos divisar meu norte
Nos teus olhares julgo ler mais forte.
Creio na fé de ter nos teus afetos
Nos teus sorrisos doces, prediletos,
Na luz que vem seus divisar escolhos...
Na serena visão dos teus castelos...
Na pureza infantil dos teus desvelos
Creio na prece muda dos teus olhos.
 

João Lins Caldas
Natal, 1909




AirAsia havia se gabado em abril de que seus aviões 'nunca desapareceriam

Do UOL, em São Paulo

Artista Sudarshan Pattnaik finaliza escultura de areia na praia de Golden Sea, na Índia, em homenagem aos voos QZ8501, da AirAsia, e MH370, da Malaysia Airlines, que desapareceram na Ásia
  • Artista Sudarshan Pattnaik finaliza escultura de areia na praia de Golden Sea, na Índia, em homenagem aos voos QZ8501, da AirAsia, e MH370, da Malaysia Airlines, que desapareceram na Ásia
Um texto publicado na revista de bordo da companhia aérea AirAsia em abril deste ano afirmava que suas aeronaves "nunca desapareceriam" -- numa referência irônica ao sumiço do voo MH370 da sua concorrente asiática Malaysia Airlines.
"O treinamento dos pilotos da AirAsia é contínuo e minucioso", dizia o artigo. "Esteja seguro de que nosso capitão está bem preparado para garantir  que seu avião nunca desapareça. Tenha um bom voo!".
Na ocasião, a companhia teve de pedir desculpas publicamente devido à controvérsia gerada pelo texto, meses antes do desaparecimento de seu QZ8501 no último sábado.
Datuk Kamarudin Meranun, diretor executivo da AirAsia e editor da revista "Travel 3Sixty" expressou seu "profundo pesar" pela polêmica, mas alegou que a revista havia sido levada à impressão antes do desaparecimento do MH370, em 8 de março. 
Aeronaves e navios de quatro países participam das buscas pelo Airbus da companhia, que ia de Surubaia, na Indonésia, para Cingapura quando desapareceu dos radares próximo a Bornéu, 40 minutos após a decolagem. Entre tripulantes e passageiros, 162 pessoas estavam a bordo. 
O diretor da agência indonésia de busca e resgate, Bambang Soelistyo, levantou a possibilidade de que ele esteja no fundo do mar.
"As últimas coordenadas foram no mar, portanto é possível que se encontre no fundo dele", declarou Soelistyo em entrevista coletiva no aeroporto de Jacarta.
"É inacreditável", afirmou durante uma entrevista coletiva ao lado de outros executivos da empresa. "Nós esperamos que a aeronave seja encontrada rápido e que possamos descobrir a causa do que aconteceu."
O MH370 desapareceu quando ia de Kuala Lumpur, na Malásia, para Pequim, na China. Mais de nove meses depois, nenhum destroço foi localizado. As principais buscas ocorrem numa área próxima à costa oeste da Austrália. (Com agências internacionais)
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Avião da AirAsia desaparece em voo entre Indonésia e Cingapura32 fotos

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29.dez.2014 - Mulher reza por familiares que estavam a bordo do voo QZ 8501 da AirAsia, nesta segunda-feira (29), no aeroporto internacional de Juanda, na Indonésia. O avião com 162 pessoas a bordo perdeu contato com a torre de comando em Jacarta, na Indonésia, cerca de 40 minutos após a decolagem. Este é o terceiro grande incidente envolvendo uma companhia malaia neste ano Leia mais Manan Vatsyayan/AFP
Leia mais em: http://zip.net/bbqxtV

Se eu pudesse, pegava a dor; colocava a dor 
dentro de um envelope e devolvia ao remetente.
_____ Mário Quintana



domingo, 28 de dezembro de 2014

Como é bom morar no mato
Num ano bom de fartura
Dá cangapé no açude
Depois comer rapadura
Ouvindo o som dos chocalhos
Dando pedrada nos galhos
Pra tirar manga madura

Hélio Crisanto

ESTÓRIAS DE CANTADOR




Deste livrinho (imagem acima) de minha autoria intitulado "Tiradas e Boutades do Povo Assuense", 1996, publicação independente é feito de estórias pitorescas, jocosas, espirituosas do povo da minha terra - o Assu importante interior do Rio Grande do Norte, conhecida como "Terra dos Poetas." . Assu é terra celeiro de figuras espirituosas, folclóricas. É feito também de estórias contadas por poetas cordelistas/cantadores de viola em forma de versos. Vejamos as estórias contadas abaixo, para o nosso bem estar: :

Francisco Agripino de Alcaniz, poeta cantador de viola/cordelista conhecido em todo Nordeste brasileiro pelo apedo de "Chico Traíra (Traíra é um peixe de água doce muito comum nos rios, lagoas e açudes da terra nordestina), viajando em cima da carroceria de um caminhão juntamente com seu colega e igualmente poeta chamado "Patativa" (Patativa é nome de um pássaro de canto melódico e suave), escutou aquele companheiro reclamar da viagem em razão da trepidante estrada esburacada, dizer a frase adiante: "Traíra. Eu acho que a nossa viagem não vai ser muito sublime!" - Chico Traíra pegou na deixa, dizendo no melhor da sua criatividade poética:

Se o amigo não está
Achando a viagem boa
Você é pássaro, eu sou peixe
Eu mergulho e você voa
Você volta para o ninho
E eu volto à minha lagoa.

De outra feita, na cidade de Areia Branca (RN) cantando com outro afamado poeta violeiro chamado Manoel Calixto, cantoria realizada na casa de um amigo, Chico Traira fora desafiado por Calixto com a seguinte estrofe:

Aviso ao dono da casa
Que não vá fazer asneira
Tenha cuidado em Traira
Que ele tem uma coceira
Se não quiser que ela pegue
De manhã queime a cadeira.

Chico retrucou:

Você é que tem coceira
Dessas que rebenta a calça
Está tomando por dia
Dezoito banhos de salsa
Quando a coceira se dana
Num dia acaba uma calça.

Certa vez, Câmara Cascudo recebendo homenagens na UFRN, Chico Traíra, "o mestre do repente e da viola" presente, homenageou aquela figura [que se tornou por merecimento, o escritor potiguar mais conhecido no mundo] com os versos seguintes:

Eis o doutor Cascudinho.
Que valoroso tesouro!
Lá no sertão também tem,
Cascudo, aranha e besouro.
Os de lá não valem nada.
Mas este aqui vale ouro.

Fernando Caldas
Quisera eu dizer-te que sinto
Mas não posso e jamais o farei.
Por teu amor lutei e ainda resisto,
Não quero perder-te, senão morrerei.

Por mais que procuro te esquecer
Cousa que nunca eu consegui,
Mas sentia o meu amor crescer
Mas hoje sinto o que me iludi.

Iludí-me, sim, porque sempre tentei
Esquecer de um amor, que nunca procurei
Saber se me amava ou se me enganava.

E agora muito sofro a pensar,
Que um dia, não queiras me amar,
E que nunca a me amar procurou.

Maria Lourdes Moura/Luluda


"Tres coisa que nunca se deve quebrar: Confiança, promessas e corações"

SAÚDE NO FIOFÓ

O título referenciado acima é o último verso do poema intitulado "Qué vê matuto humilhado, é tá doente das parte", do grande poeta matuto Jessier Quirino. , penso eu, é o poeta matuto mais aperfeiçoado da Literatura Popular Brasileira, além de excelente declamador e apresentador de causos matutos, ou mulher dizendo: É um grande artífice da poesia escrita em linguagem genuinamente sertaneja. Eis o citado poema para o nosso bem estar:

No tronco do ser humano
Nos finá mais derradêro
Tem uma rosquinha enfezada
Que quando tá inframada
Incomoda o côipo intêro.

Se tussí se faz presente
Se chorá se faz também
O caba não pode nada
Cum nada se entretem
Eu lhe digo, meu cumpade,
Não deseje essa maldade
Pra "rosca" de seu ninguém.

Não sei o nome da cuja
Desta cuja eu tiro o já
O que resta é quase nada
Bote o nada na parada
Quero vê tu aguentá.

Eu lhe digo, meu cumpade,
Que é grande humilhação
Um caba do meu quilate
Adoecido das parte
Fazê uma operação
Não suportando mais dô
O meu ato derradêro
Foi procurá um doutô
De "bocá de arenguêro 

De bocá de arenguêro
Fejoêro e Fiofó
Bufante, Fresco e Lôrto
Apito, Brote e bozó.

De Furico e Fedegôso
Piscante, Pelado e Bóga
Fosquete, Frinfra e Sedém
Zuêro, Ficha e Vintém
De Ás de Copa e de Fóba.

De Oiti, Ôi de Porco
Ané de Couro e Caguêro
De Gira-sol e Goiaba
Roseta, Rosa e Rabada
Bôto, Zéro e Mialhêro.

De Nó dos Fundo e Buzéco
De Sonoro e Pregueado
Rabichol, Furo e Argola
Ané de Ouro e de Sola
Boca de Véia e Zangado.

Um doutô de Aro Treze
De Peidante e Zé de Bóga
Que não aperte o danado
Nem deixe com muita folga.

Um doutô piscialista
Em Bocá de Tarraqueta
Doutô de Quinca e Dentrol
Zebesquete e Carrapeta.

Doutô de Rosca e Rosquinha
Tareco, Frasco e Obrom
Ceguinho, Butico e Zero
Tripa Gaitêra e Fon-Fon.

Mialhêro e Mucumbuco
Buraco, Brôa e Boguêro
For Ever. Cruaca e Urna
Gritadô, Frande e Fuêro.

Cano de Escape e Pretinho
Rodinha, X.P.T.O.
Zerinho, Subiadô
Tripa Ôca e Fiofó.

De Joli de Zé de Quinca
Canal 2 e Cagadô
Buzina, Vesúvio e Cego
Federá e Simsinhô
Fagulhêro e Zé Zuada
Rosquete, Fim de Regada...
... Eu só queria um doutô.

O doutô se preparou-se
Parecia Galileu
Aprumou um telescópio
Quem viu estrela foi eu
Ele disse arribe as perna
- Tenha calma, sonho meu
A parti daquela hora
Perante Nossa Senhora
Não sei o que sucedeu.

C´as as força da humildade
Já me sinto mais mió
Me desejo um ânus novo
Cheio de velso e forró
Pros cumpade com franqueza
Desejo grande riqueza:
Saúde no Fiofó.

Em tempo: Aquele bardo paraibano no seu livro de estréia sob o título "Paisagens de Interior", 1996, editora Bagaços, do Recife, faz referência na introdução daquele volume, ao consagrado poeta assuense Renato Caldas, pois certamente a sua poesia teve influência do poeta assuense. Sobre o poeta de "Fulô do Mato", disse certa vez numa entrevista: "particularmente eu admiro muito o Renato Caldas, os poetas do Assu em geral. Como pesquisador, minha admiração pela obra de Renato Caldas é latente porque a poesia dele tem um lado lírico, como Zé Limeira e Zé da Luz". 

Fernando Caldas

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