quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O fundo da corrupção é a perfídia. O corrupto é um animal rebelde ao bem.

Vargas Vila

TEU SEMBLANTE APAIXONANTE

Chamou minha atenção
Arranhou meu olhar
Prendeu meu coração
Aparência suave
Semelhança inapreensivel
Simbolizando o primor
Da flor que cultivo
Suplicando o amor

J. A. Simonetti @ja_simonetti

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

 PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS


DOIS TALENTOSOS POETAS (II)

Publicado em 17 de novembro de 2023



Marcílio Pá Seca Siqueira e Jesus de Ritinha de Miúdo, colunista do JBF


* * *


O poeta Marcílio Pá Seca, pernambucano de Tabira, escreveu a seguinte sextilha:


Chorando me debrucei

Na tela da imensidade

Não foi de dor que chorei

Com tamanha intensidade

Foram lágrimas salgadas

Com soluços de saudade


Jesus de Ritinha de Miúdo, acariense do Seridó Potiguar, em cima da bucha respondeu-lhe:


Tais soluços na verdade

Quebrantaram o peito meu

Senti no rosto um riacho

Que do meu olhar desceu

Aguando os meus desejos

De me afogar nos seus beijos

E morrer num abraço seu.


* * *


Mote:


Sou poeta, sou mais um nordestino

Que defende demais nossa cultura.


Sou vaqueiro, gibão, sou vaquejada

Sou viola, Poeta e cantoria

Sou bancada, caneta e poesia

Sou beiju, tapioca e farinhada

Eu sou junta de boi,sou terra arada

Sou engenho de cana e rapadura

Sertanejo pintado na moldura

Meu chapéu e de couro de caprino

Sou poeta, sou mais um nordestino

Que defende demais nossa cultura.


Marcílio Pá Seca Siqueira


Sou caatinga na seca acinzentada

Sou o vento soprando a poeira

Sou tramela, mourão, eu sou porteira

Sou babugem no chão, pós invernada.

Sou mugido, balido e sou risada

Do Sertão quando vê que tem fartura

Sou vaqueiro aboiando com candura

No ofício real de tangerino

Sou poeta, sou mais um nordestino

Que defende demais nossa cultura.


Jesus de Ritinha de Miúdo


* * *


Um soneto de Marcilio Pá Seca Siqueira:


EU… PALHAÇO


Quando quero chorar choro sozinho

Pra fugir do olhar que me censura

Minha lágrima sensível no caminho

Com a tinta da face se mistura


Meu sorriso se perde em desalinho

Nos momentos medonhos de amargura

Meus segredos são pontas de espinho

Que exploram meu ego, fere e fura


Sou artista do palco do universo

Sou Poeta, componho, faço verso

Estou preso ao meu eu por forte laço


Sou ator desse bloco da ilusão

Sou as grades cruéis da solidão

Eu sou eu, sou você, eu sou palhaço.


Um soneto de Jesus de Ritinha de Miúdo:


SONETO DE OLHOS E DE LÁBIOS


O marrom dos teus olhos me encantaram

Prenderam-me a ti, me deixando louco

Mas esses teus olhos, não achando pouco

Olhando nos meus, logo se abalaram.


Então os meus lábios não se aguentaram

Sorriram para ti, sem nenhum apouco

E os teus lábios, lindos, assim tampouco,

De sorrir pros meus, também, não se negaram.


Senti teus lábios só chamando os meus

Percebi teu olhar me dando avisos

Recebidos por mim, um escravo fiel


Adentrando contigo no mais lindo céu,

Instante que meus lábios deitaram nos teus

E o meu sorrir beijou os teus sorrisos.


* * *


Marcílio Pá Seca Siqueira fez uma décima glosando mote da poetisa Paloma Brito, de Livramento da Paraíba:


Sou a alma matuta da campina

O aboio sonoro do vaqueiro

Sou a flor da caatinga, sou o cheiro

Da cacimba de água cristalina

Sou o som da seresta matutina

Da orquestra de vozes do sertão

Sou as vozes da seca e o trovão

Sou a própria quentura da poeira

Sou matuto no pé d’uma porteira

Sou poeira que veste esse meu chão.


Jesus de Ritinha de Miúdo lhe respondeu:


Sou gemido do eixo da carroça

Transportando comida para o gado

Sou a força do boi puxando o arado

Sou zoada da chuva quando engrossa.

Sou a lama depois que a água empossa

Sou a sombra da tarde, num oitão,

Sou a áurea divina do gibão

Eu sou pau de miolo da aroeira

Sou matuto no pé d’uma porteira

Sou poeira que veste esse meu chão.


* * * 


Duas glosas de Marcílio Pá Seca Siqueira:


Perco o sono, já Alta madrugada

Boto o rosto no quadro da janela

Para ver se encontro as feições dela

Mas no rasgo da noite não tem nada

Só se eu encontrasse uma fada

Pra fazer uma mágica com vareta

E mostrar com seu truque a silueta

Ou a face do amor que já foi meu

Tô chorando por ela igual Romeu

Que chorava querendo Julieta


* *


Um poeta não serve de semente

Nem é grão de semente que renova

Nem a lágrima surgiu pra regar cova

Quando cai na poeira do chão quente

Mas se morre um Poeta do repente

Desce inerte a matéria para o chão

E nas tábuas molhadas do caixão

Vão as lágrimas regando o trovador

Quando morre um poeta cantador

Nasce um pé de saudade no sertão


Duas glosas de Jesus de Ritinha de Miúdo:


Minha sombra não vem da obstrução

De uma luz que esteja à minha frente

Não rasteja na terra me seguindo

Sem missão, sem valor, inconsciente

Minha sombra é meu anjo da guarda

Bem armado e que nunca se acovarda

Mas que luta por mim diariamente.


Esse ser, esse espectro valente

É reflexo do bem e em mim produz

Alegria e paz, mais segurança

Me ajudando a andar sempre na luz

Eu não sei sua forma, aparência,

Mas, eu sei qu’essa sombra em sua essência

Me aconselha, me guia e me conduz.

A flor do maracujá


Encontrando-me com um sertanejo

Perto de um pé de maracujá

Eu lhe perguntei:


Diga-me caro sertanejo

Porque razão nasce roxa

A flor do maracujá?


Ah, pois então eu lhi conto

A estória que ouvi contá

A razão pro que nasci roxa

A flor do maracujá


Maracujá já foi branco

Eu posso inté lhe ajurá

Mais branco qui caridadi

Mais brando do que o luá


Quando a flor brotava nele

Lá pros cunfim do sertão

Maracujá parecia

Um ninho de argodão


Mais um dia, há muito tempo

Num meis que inté num mi alembro

Si foi maio, si foi junho

Si foi janero ou dezembro


Nosso sinhô Jesus Cristo

Foi condenado a morrer

Numa cruis crucificado

Longe daqui como o quê


Pregaro Cristo a martelo

E ao vê tamanha crueza

A natureza inteirinha

Pois-se a chorá di tristeza


Chorava us campu

As foia, as ribera

Sabiá também chorava

Nos gaio a laranjera


E havia junto da cruis

Um pé de maracujá

Carregadinho de flor

Aos pé de nosso sinhô


I o sangue de Jesus Cristo

Sangui pisado de dô

Nus pé du maracujá

Tingia todas as flor


Eis aqui seu moço

A estoria que eu vi contá

A razão proque nasce roxa

A flor do maracujá


[Catulo da Paixão Cearense


domingo, 26 de novembro de 2023

alma da mulher está no beijo.

(Vargas Vila, poeta colombiano)




 

Frei Damião no Assu. Na fotografia: Frei Damião, João Pio e Edmilson Da Silva. Década de setenta. Foto tirada em frente a igreja matriz de São João Batista.


História do Assu em revista de quadrinhos - Encarte da Tribuna do Norte.


 

sábado, 25 de novembro de 2023

TÚMULO DE NÚBIA LAFAYETTE "RAINHA DA SOFRÊNCIA"

 MONSENHOR AMÉRICO SIMONETTI

Por Gilberto Freire de Melo*
Conhecemo-nos quando o Açu ainda tinha para exibir:
- A inteligência Excepcional de Osvaldo Amorim;
- Os manifestos radicais de João Lins Caldas;
- As crises boêmias de Renato Caldas;
- Os eventos saudados com versos e glosas dos poetas locais;
- A genialidade modesta de Demóstenes Amorim;
- A intelectualidade de Expedito Silveira;
- A saudade de Moysés Sesyom;
- A sede dos Escoteiros;
- O Plano de Valorização do Vale do Açu;
- Os argumentos jurídicos de Lou no Júri Popular;
- A gráfica medieval de Cabralzinho;
- A ética incontestável de Sandoval Martins;
- A ternura angelical de Cecéu Amorim;
- O charme perpetuado de Enói Amorim;
- A inteligência hibernada de A Vara;
- A integridade moral de Miga Fonseca;
- As bandas internacionais de Costa Leitão;
- O show de dança em boleros de Carlos Aladim;
- As aulas de Português de D. Glorinha;
- A surpresa antidemocrática do Golpe Militar;
- Os projetos de irrigação de D. Eliseu;
- Os bares de Lourival Duda, João Nogueira e Sebastião Alves;
- A candura da garçonete Cândida Nogueira;
- As cajazeiras de Rui Soares;
- Os tira-gostos de cabidela de Chiquito Macedo;
- A chegada da Fundação SESP;
Convivendo com todo esse manancial, éramos conduzido por Pe. Américo numa época de transição em que João XXIII embaralhava as cartas e D. Helder Câmara as distribuía para D. Eliseu, Pe. Américo, Pe. Zé Luiz e Pe. João Penha, aqui na Várzea do Açu montarem o esquema preparatório para uma espécie ainda nanica de modernização. Assim, os fiéis religiosos da Várzea do Açu passaram a ser tratados com uma dose de humanização superior às da evangelização catequética que ainda não se projetara para além da Idade Média.
Em Mossoró, D. Eliseu carreava para o Vale do Açu, tudo quanto houvesse de projetos e de práticas de irrigação; Pe. Américo, no Açu, implantava a educação de base nas comunidades rurais, os serviços de comunicação através dos radinhos de pilha e de serviços telefônicos, quando, à época, só existia a precariedade dos Correios e Telégrafos; Pe. Zé Luiz, em Pendências,, humanizava mais que evangelizava, e já celebrava as missas em português e de frente para a plateia; Pe. João Penha, em Macau, preparava os operários da messe para o enfrentamento da mecanização das salinas e do Porto Ilha, criando o ensino de Segundo Grau.
Foi assim que nós, os beradeiros do Vale do Açu, fomos preparados para ver o homem pousar na lua, para as novidades da chamada Nova Igreja, para a era dos cinemas e da televisão, para a entrada triunfal do iê-iê-iê, e não sucumbimos com as angústias das torturas do Golpe Militar, para o advento do ano dois mil sem traumas maiores na transição universal.
(Gilbert Freire de Melo, escritor, sociólogo, natural de Pendências. Morou no Assu na década de sessenta como funcionário da ECT, atual Correio e Telégrafos).
(Postado por Fernando Caldas)
Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da nação e da formação múltipla da raça brasileira”, João Lins Caldas (nascido no Rio Grande do Norte em 1888, ano da abolição da escravatura no Brasil), já teria produzido no seu tempo de Rio de Janeiro, 1921, o poema patriótico e de exaltação ao Brasil intitulado 'Negra', que para Augusto Frederico Shimidt (1906-1965), depõe que "o 'negra' de Caldas vale por toda uma 'Raça' de Guilherme de Almeida." Transcrevo adiante, o citado poema.
O teu avô Costa d’África, filhinha,
Bárbaro, de uma negra irremediabilidade,
O teu avô, de tanga, acostumado ao Brasil.
Noites que despertou sob o chão do chicote!
O chão... tudo era um chão de látegos rangendo,
E ao longe o cafezal, a mata enorme se desbravando...
Hoje tem sangue turco em cada veia,
Um sangue português, a gemer gargalhada.
Um índio chegou, de solto, as tuas velas que se brilharam...
És muitos continentes, na verdade,
Quase negra, nos olhos,
Deixa ver-te os cabelos, enroscados,
Vamos, meu timbre louro,
Tu morrestes nas raças, diluída,
E nas raças do teu corpo eu que adoro a verdade.



quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Ai! Quando um dia eu te cingir, cativa
De meus afetos, desmaiada e nua,
Tu rolarás como uma chama viva
Quando eu morder-te a fina carne crua...

Tu’alma branca, que em ilusões flutua,
Que à amargura e ao desprazer se priva
- Gás dessa chama que o meu peito atua
Irá rolando loucamente, esquiva...


E sobre a nave desse leito branco,
Bem enlaçados, num aperto franco,
Os nossos corpos rolarão, querida.

Então verei do teu olhar fogoso:
A viva chama que alimenta o gozo,
A viva chama que alimenta a vida.

(João Lins Caldas, Natal, 1909)

Festival de Samba Ribeira Boêmia agita a Arena das Dunas neste sábado

 

A terceira edição do Festival de Samba Ribeira Boêmia, promete contagiar os potiguares amantes do samba, no dia 18 de novembro, na Arena das Dunas. Seguindo o padrão Ribeira Boêmia de qualidade, a festa oferecerá  uma superestrutura, proporcionando conforto e segurança ao seu público.

As atrações farão uma verdadeira maratona de samba, pra ninguém ficar parado! Trazendo o seu talento e doçura, Roberta Sá apresenta o seu show “Samba Sá” – no roteiro, as canções do repertório da cantora se mesclam a alguns sucessos de nomes como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Martinho da Vila. A força feminina no samba é lembrada e reafirmada através de clássicos de Dona Ivone Lara, Alcione, Jovelina Pérola Negra e Beth Carvalho.

Jorge Aragão dispensa apresentações! Dono de um talento incomum, além de romântico e espirituoso, Jorge tem canções gravadas por quase todos os grandes intérpretes de samba (Beth Carvalho, Alcione, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila) . No repertório o poeta vai interpretar clássicos de sua autoria, presentes nas rodas de samba de todo o Brasil, como “Lucidez” e “Eu e você sempre”.

Toninho Gerais tem centenas de canções na voz de nomes como:  Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Beth carvalho, Agepê, Jovelina Pérola Negra, Neguinho da Beija-Flor e Neguinho da Estácio. O cantor e compositor, representante do samba mineiro, fez da arte de escrever o fomento da herança deixada por antigos sambistas.

E completando o time de peso, o talento do nosso samba potiguar: os anfitriões, Roda de Samba Ribeira Boêmia; o contagiante Samba Preto no Branco e o doce batuque do samba do Rosas na Cartola.

O 3º Festival de Samba Ribeira Boêmia tem patrocínio do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Fundação José Augusto, Lei Câmara Cascudo, Lei Djalma Maranhão, Prefeitura do Natal, Sterbom, Supermercado Nordestão e Unimed Natal.

SERVIÇO

Festival de Samba Ribeira Boêmia

Dia 18 de novembro, sábado, a partir das 16h,  na Arena das Dunas

Lote Extra de Ingressos: Outgo

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Antonio Francisco, o rei do cordel no Brasil


Um dos maiores poetas populares do mundo é brasileiro; e, para nossa felicidade, nascido em solo potiguar. Mossoroense, Antonio Francisco talvez seja a melhor revelação da poesia popular surgida no Rio Grande do Norte, desde Fabião das Queimadas, famoso escravo cantador de rabeca, que comprou sua própria alforria ganhando dinheiro através dos seus versos.

Filho de Francisco Petronilo de Melo, um ex-jogador de futebol das décadas de 1940 e 50, e Pêdra Teixeira de Melo, Antonio Francisco nasceu aos 21 de outubro de 1949; mas, somente após os 40 anos, tomou gosto pela poesia, pelo menos como autor, tornando-se um poeta popular. Múltiplo, fez-se também historiador (bacharel em História, pela UERN), xilógrafo e compositor.

Esportista, dedicou bastante tempo ao ciclismo, fazendo passeios de bike por toda região Nordeste; daí, talvez, a razão de sua estreia tardia nas letras. “Meu Sonho”, seu primeiro poema, traz versos impressionistas e surrealistas, onde o autor recorre à fantasia para demonstrar sua inquietação com a interação entre o homem e o meio.

NA CADEIRA DE PATATIVA

O reconhecimento da qualidade da sua produção levou-o a ser eleito, em 2006, para a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), onde ocupa a cadeira de número 15, cujo patrono é o poeta cearense Patativa do Assaré. Por falar nisso, alguns estudiosos do cordel o consideram uma espécie de Patativa de Assaré da nova geração.

Um dos seus livros mais conhecidos, Dez cordéis num cordel só (2001), representa, sem dúvidas, um marco na poesia popular brasileira; nele, o poeta mossoroense retrata inúmeras situações e imagens da vida cotidiana do homem nordestino, sempre costurando, ao longo dos seus enredos, um fundo de reflexão social e espiritualidade. A linguagem utilizada é a do homem comum, na fala simples do cotidiano nordestino.

Sua poesia de alto nível vem sendo estudada em universidades e escolas públicas e privadas do Rio Grande do Norte. Além da valorização local, instituições de ensino de outros estados, como São Paulo, Pernambuco e Ceará, adotaram os cordéis de Antonio Francisco.

Seu nome é unanimidade entre os estudiosos e pesquisadores do cordel. Crispiniano Neto, Luiz Antônio, Rubens Coelho, Clotilde Tavares, Caio César Muniz, Geraldo Maia, Marcos Ferreira, Kyldelmir Dantas, Cid Augusto, Francisco Martins, Manoel Cavalcante e Nildo da Pedra Branca, todos se referem aos seus versos com as melhores palavras.

HOMENAGENS

Antonio Francisco já recebeu inúmeras homenagens, como, por exemplo, aquela que lhe foi prestada pela Prefeitura Municipal de Areia Branca, através da Secretaria de Educação, tendo em vista o seu trabalho em prol da cultura nordestina e potiguar. Foi homenageado por diversas outras instituições, e distinguido com o título de cidadão honorário das cidades de Natal e de Icapuí (CE).

Antonio Francisco foi um dos que carregaram a Tocha Olímpica, quando dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, durante a passagem desta pelo Brasil, como reconhecimento pelo seu trabalho de divulgação e elevação do nome da cidade de Mossoró nacionalmente. Em todas as apresentações que o carismático poeta realiza pelo Brasil, faz questão de enfatizar que é mossoroense e destaca que nasceu e sempre morou na Lagoa do Mato, bairro popular da cidade.

Por falar na terra que tanto ama, a Câmara Municipal aprovou, ano passado, a inclusão do Dia do Poeta Antonio Francisco no calendário oficial de eventos de Mossoró. Antonio já foi homenageado no espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró; e, este ano, já está confirmada grande festa em homenagem aos 70 anos do artista múltiplo.

Recentemente, no programa “Encontro” com Fátima Bernardes, da Rede Globo, foi ovacionado pelo público e pelo escritor cearense Bráulio Bessa, que diz ter se inspirado no mossoroense. “É o maior poeta do mundo”, afirmou Bessa na TV.

ANTONIO FRANCISCO, SUA TERRA E SUA GENTE

Nascido e criado na Lagoa do Mato, o poeta tem fortes laços com a sua terra e sua gente. Seus pais tiveram 17 filhos, sendo 14 criados. “O milagre era diário. Onde faltava dinheiro, sobrava felicidade. Os pré-natais de minha mãe eram lavando roupa no rio”, asseverou o poeta em uma entrevista.

Com o passar dos anos dedicados à poesia, vieram livros valorosos, que orgulham não só o povo mossoroense, como toda a cultura do Nordeste: Por motivos de versos; Veredas de sombra; Sete contos de Maria são bons exemplos. Em 2012, com incentivo da Petrobras, alguns dos seus livros foram transformados em uma coleção, que conta ainda com dois CDs, em que o autor recita seus poemas.

A projeção de Antonio Francisco extrapola os limites dos seus versos; o poeta teve a sua obra ‘Os animais têm razão’ trabalhada dentro de um projeto pedagógico em várias escolas. Por sua vez foi homenageado em Rap, com a música “Brazambique”, dos artistas Shot B e Mossoró RAPentista, mossoroense radicado em Lisboa.

Em um desfile de 7 de setembro, em sua cidade, Antonio Francisco desfilou em carro aberto e foi muito aplaudido pelo imenso público. O momento mais aguardado ficou reservado para a passagem do artista em frente ao palanque oficial, quando ele recitou o cordel ‘Os animais têm razão’.

INCENTIVADORES

Homem simples, do povo, sempre reconhece suas raízes, suas origens, e os que o incentivaram no início da caminhada poética, como, por exemplo, Crispiniano Neto, Nildo da Pedra Branca, Luiz Campos e Aldacir de França.

De vez em quando, encontro com ele por aí, vejo-o de longe, ao lado do jornalista Rilder Medeiros; os dois já têm uma parceria de longa data. Por sinal, a Editora Comunique, gerenciada por Rilder, acabou de publicar o novo livro de Antonio Francisco, ‘Um caroço de manga’, e os dois andam viajando por todo o Estado no projeto “Casa das Palavras”, divulgando tal trabalho.

Às vezes, vejo-o com o poeta pauferrense Manoel Cavalcante, que afirma sempre que tem Antonio como principal fonte de inspiração de sua poesia, e se orgulha de haver recebido um telefonema dele.

Antonio Francisco tem sintetizado e divulgado a cultura nordestina por todo o Brasil, fazendo algo muito parecido com o que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, fazia, conseguindo enorme sucesso entre as massas; e, ao mesmo tempo, tendo seu talento reconhecido pela intelectualidade e pela crítica.

Pois é, caro poeta Antonio Francisco, como no xote de Gonzagão: “De Itaboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó, você é o maior!”

THIAGO GONZAGA 

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

https://papocultura.com.br/antonio-francisco-o-rei-do-cordel-no-brasil/


 25/09/2021

Diogenes da Cunha Lima 

[ Escritor, advogado e presidente da ANL ]

 

Nenhuma região do país é tão pródiga na inventividade como o Nordeste. A arte do repente identifica a nossa região. É o exercício da poética popular, do sertão ao litoral, com versos de fazer inveja a poetas eruditos.


O repente nordestino é duelo verbal de cantadores com o acompanhamento de viola, rabeca ou pandeiro (embolada). Em todas as suas formas, participa do rico Patrimônio Imaterial do Brasil. É o diálogo do improviso e da liberdade vocabular.

Muito se discute sobre a sua origem. Como sempre, Câmara Cascudo vai mais longe. Para ele é o desafio oriundo do canto amebeu, grego, do tempo de Homero. É canto alternado, obrigando resposta às perguntas do companheiro.

Muitos poetas cantadores tornaram-se célebres. Pinto do Monteiro (sempre considerado o mestre da cantoria), um dia, recebeu Lourival Batista, crescente em versos quentes. Glosaram os dias da semana com o humor produzido por trocadilho. Pinto: “No lugar que Pinto canta/não vejo quem o confunda. / Que o rio da poesia/o meu pensamento inunda. /Terça, quarta, quinta e sexta, /sábado, domingo e segunda”. Lourival respondeu: ”Sábado, domingo e segunda, /quarta e quinta. / Na sexta não me faltando/a tela, pincel e tinta/pinto pintando o que eu pinto. /Eu pinto o que o Pinto pinta”.

Ninguém sabe dizer melhor das coisas da região do que o poeta mossoroense Antônio Francisco. É sempre expressiva a sua linguagem para fazer pensar. Brevíssimo exemplo: Falando sobre a fome, ele começa: “Engoli três vezes nada...”.

Fabião das Queimadas, escravo que tangia bem o verso e a rabeca, foi provocado para falar sobre a paga dos seus vinténs arrecadados. Que seria um poeta? Ele explicou: “Canta longe um passarinho/do outro lado do rio, /uns cantam porque têm fome, /outros cantam por ter frio. /Uns cantam de papo cheio, /outros de papo vazio”.

Não era cantador, mas poeta popular, popularíssimo. Aliás, Renato Caldas foi um lírico, improvisador, bem-humorado. Pediram-lhe que fizesse saudação ao escritor e pintor Newton Navarro. Versejou: “Adão foi feito de barro/mas você Newton Navarro foi feito de inspiração. / Dos passarinhos, das cores/da noite feita de amores/do luar do meu sertão”. Certa vez, o poeta tomou café em uma residência na cidade de Angicos e ao guardar suas coisas, distraidamente, incluiu uma colherinha. Já na sua cidade, em Assu, verificou o equívoco e voltou. Desculpou-se dizendo: “Eis aqui, dona Chiquinha, /devolvo sua colher. / De coisa que não é minha/eu só aceito mulher”.

Na função de conselheiro do Iphan, esforçar-me-ei para que o Repente Nordestino seja reconhecido como Patrimônio Imaterial Brasileiro.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Uma quase "confusão" pelo nome do convidado ao baile

De: https://jornaldagrandenatal.blogspot.com/


Primeiro prédio do grupo escolar "José Correia" construído pelo parente do patrono

O patrono da escola municipal açuense homenageia parente do segundo José Correia

José Vanilson Julião

Fiz o primário no Grupo Escolar Querubina Silveira e o terceiro ano ginasial no colégio “Pedro II” – vinculado a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) – em Cerro-Corá.

Quando meu irmão e um colega de infância resolveram mudar de ares para um centro maior, ainda sem o planejamento do mini vestibular da Escola Técnica Federal/RN, inventaram de terminar o primeiro grau na Escola Estadual Presidente Juscelino (Açu) e fui junto.

Foi no Vale que ouvi falar pela primeira vez e vi o prédio do grupo escolar municipal e depois escola estadual que homenageia um natural do Açu, o patrono “Tenente-coronel José Correia de Araújo Furtado” (10/11/1788 – 9/5/1870).

Que veio a ser o número 62 como governante da Capitania do Rio Grande do Norte (18/3/1822 – 24/1/1824) após o governo provisório durante os movimentos da declaração da Independência e as atividades golpistas no Pernambuco.

O estabelecimento de ensino é fundado em 7/9/1911 e funcionou 37 anos no prédio da Rua São Paulo (atual Minervino Wanderley). Com o crescimento da demanda na matrícula é remodelado e novamente inaugurado em 2/2/1949.

Para minha surpresa um personagem com nome idêntico aparece na lista dos 110 convidados para a cerimônia do casamento (civil e religioso), seguido do baile receptivo no casarão do pai da nova, o senador Pedro Velho.

Trata-se de José Correia de Araújo Furtado (Açu, 30/1/1865 – Recife, 15/2/1926), filho de Luiz Correia de Araújo Furtado e Clara Maria Soares de Araújo, este sim, presente ao baile no casarão do senador Pedro Velho.

Cursou humanidades no Atheneu e bacharelou-se em Direito na capital pernambucana (1889). Indicado pelo chefe do Partido Liberal, José Bernardo de Medeiros (1837 – 1907) foi eleito Deputado Provincial (1888) aos 23 anos, ainda acadêmico, em substituição ao deputado Antônio Carlos de Medeiros, falecido a 15 de dezembro daquele ano.

Foi Promotor Público em Pau dos Ferros (1890), Açu (1891-1892) e Cabo/PE (1893-1894). Retornando ao RN estabelece-se como advogado (1895 – 1899) e mais uma vez fora do estado é designado juiz municipal (Glória de Goitá/PE) e retorna em 1902 a terra natal.

Juiz distrital em Natal (1902 – 1906), magistrado em Apodi (1907) e juiz e chefe político em Açu (1907 – 1914), sob a liderança dos Albuquerque Maranhão.

Casa com Maria da Natividade Caldas de Amorim sem descendência. Desembargador (1925) pelo decreto pelo governador José Augusto Bezerra de Medeiros (1884 – 1971) no mesmo ano, face a complicações de saúde, requer aposentadoria.

Sócio do Instituto Histórico e Geográfico publica pesquisa “Administração da Justiça no Assu: O Assu Julgado” (revista XXIII – XXIV, 1926 – 1927).

Foi em quem construiu o Grupo Escolar Tenente-coronel José Correia, remodela o Mercado Público e implanta o sistema de iluminação a querosene. Faleceu em Recife, após intervenção cirúrgica a que se submeteu no Hospital Centenário do Recife.

Prédio do "José Correia", "remodelado" e inaugurado em 1949, na Rua Minervino Wanderley, no Açu


FONTES/IMAGENS

A República

Açu Na Ponta da Língua

Fundação José Augusto


segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Auri Fernandes Sales foi minha professora de geografia no meu tempo de estudante do curso secundário. Que pena, encantou-se! Como profissional dona Auri foi exemplar e como figura humana, uma joia! Que sua boa alma brilhe no céu!

Fernando Caldas




CREIO

Creio na beleza do teu porte,
Na doce floração do teu receio.
Creio, feliz, no teu melhor anseio
E creio-me feliz por ver-te forte.
Creio em teus olhos divisar meu norte
Nos teus olhares julgo ler mais forte.
Creio na fé de ter nos teus afetos
Nos teus sorrisos doces, prediletos,
Na luz que vem seus divisar escolhos...
Na serena visão dos teus castelos...
Na pureza infantil dos teus desvelos
Creio na prece muda dos teus olhos.

(João Lins Caldas. Assu, 1909)

sábado, 11 de novembro de 2023

VOLÚPIA é titulo de um livro que estou organizando para breve publicação, do lírico potiguar modernista do Assu, João Lins Caldas. Volúpia é titulo também de um dos milhares de poemas que aquele amoroso e amargurado vate produziu ao longo de sua existência, que abre às páginas daquela antologia que. sem aspirações maiores irei publicá-la! Vejamos para o nosso deleite, o citado poema:

Eu fui perturbar teu sono.
Despertar a carne da tua mocidade.
Desgrenhar teu cabelo.
Dar febre ao teu sangue.
Perdoa, pela minha mocidade
Pela tua mocidade.
O lençol revolvido
O travesseiro molhado...
Se houve a tua a tremer, a minha cama
na noite não soube também o que era ter sono.

(Postado por Fernando Caldas)

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...