Por Celina Marinho [Do Facebook de Themis Marinho]
Falar sobre Djalma Marinho, meu pai, é sempre uma emoção grandiosa que toma conta de mim. Cada dia que passa, sinto um privilégio imenso de ter convivido e conhecido tão de perto uma criatura única!
A história política brasileira foi marcada por esse homem sensível e corajoso. Não se pode negar sua passagem ímpar. Djalma, mesmo sendo g...rande, era simples e suas atitudes, em momentos tão delicados, mostravam que ele era um liberal democrata, que amava a justiça e acreditava em um parlamento forte.
Para mim, sua filha caçula, o momento mais marcante foi na ocasião da renúncia à presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados – que hoje tem seu nome -, quando citou a frase de Pedro Calderón de La Barca, dramaturgo espanhol, “ao rei tudo, menos a honra”, em discurso realizado ao plenário da Câmara relacionado ao pedido de licença para cassação do mandato do Deputado Márcio Moreira Alves. Logo após esse corajoso discurso, o líder do então MDB, Deputado Martins Rodrigues exclamou: “de pé, para aplaudir um homem!”, no que foi prontamente atendido pelas galerias da Câmara, entoando o Hino Nacional. Mesmo muito jovem, fui tomada por um sentimento de orgulho e felicidade com essa manifestação única, de tamanha comoção. Percebi, então, que meu pai – sim, esse era o meu pai! -, fazia a diferença na política do Brasil e sua perda continua, ainda, sendo sentida.
Como pai, ele foi a primeira pessoa que me falou sobre a força do perdão e olhar o próximo com compaixão. Ele dizia ser preciso respeitar as diferenças, lembrando que o homem é apenas um ser vulnerável. Cresci dentro desse contexto, o que me fez e faz sempre buscar ser uma pessoa melhor.
Márcio Marinho, meu irmão, se vivo estivesse diria: “ele é grande e nas suas mãos eu me seguro”.
Minha irmã Hebe sempre diz: “Meu pai era sábio, amoroso, amigo, presente, sempre com a palavra certa no momento que dela precisávamos. Valorizava a amizade, a fé e a crença em Deus e nas pessoas. Com a voz mansa falava com serenidade sobre a ética, amor, vida, igualdade e solidariedade. Nosso pai era humano e humanitário.”
Minha irmã Tânia costuma lembrar que, todas as vezes que nosso pai a visitava, ela sentia uma “enorme vontade de jogar um tapete vermelho com pétalas de rosa e depois se jogar em seus braços protetores”.
Valério, também meu irmão, diz: “falar sobre meu pai é como falar de um rio de águas azuis e transparentes, onde sempre procuramos dessedentar nosso sofrimento, buscando a proteção contra todos os males”.
Minha filha Daniela diz que seu avô era simplesmente “tudo para ela, pois agia como avô, herói, confidente, parceiro de peraltices e brincadeiras. Enfim, sua total referência de família e um amigo com quem sempre podia contar”. Ela afirma que sua convivência com ele, conquanto tenha sido breve, porque a morte do avô tenha ocorrido aos seus oito anos, foi de tal maneira tão especial que se tornou eterna, não havendo um dia sequer em todos esses anos que não o tenha lembrado com um enorme carinho no coração.
Ilce, sua neta e minha sobrinha, diz que “"embora não tenha convivido muito com vovô Djalma, já que morávamos em cidades diferentes, ele em Brasília e eu em Natal, tinha por ele um sentimento especial, misto de amor, admiração, carinho e respeito. Sua riqueza cultural me fascinava.
A nação brasileira reconhece que seus padrões morais e intelectuais eram elevados. Sua nobreza também refulgia na família. Ele foi um exemplo de esposo, pai e avô. Sua lembrança enternece-me o coração, reaviva a consciência de minha identidade familiar e impulsiona-me a honrar o privilégio de ser sua descendente."
Meu pai tinha um coração sempre aberto para nos acolher. Compreendia, como ninguém, a natureza humana e sua fragilidade, sempre com uma palavra para desculpar desvios ou ingratidões. Era, sem dúvida, um homem que se reinventava com os netos e tudo fazia para concretizar ou, ao menos, não destruir os sonhos daquela geração. Não fazia distinção para com seu amor. Quando em momentos de vitórias delas compartilhava, valorizando a todos indistintamente e naqueles de infortúnio procurava assumir a dor para suavizar a dos outros.
Este era o meu pai, Djalma Aranha Marinho.
Postado por Fernando Caldas