O dia 29 de outubro de 1935 amanheceu em clima de intranquilidade. A tarde, na Assembléia Legislativa do Estado (onde hoje funciona o Tribunal de Justiça do Estado), seria realizada a eleição indireta para governador do Rio Grande do Norte. Dois nomes disputavam o cargo: Rafael Fernandes e Elviro Carrilho. O interventor, Mário Câmara, ameaçava a realização de eleição. A oposição fugiu para a Paraíba, onde pediu garantias ao Governo Federal. Um clima de apreensão perturbava todo o Rio Grande do Norte. Ninguém poderia fazer prognóstico sobre o pleito. A Assembléia Legislativa era composta de 25 deputados e o voto era secreto. A ameaça do interventor pairava sobre a aposição.
O governo Getúlio Vargas resolveu garantir o pleito. As tropas do 22. BC, da Paraíba, foram deslocados para Natal. Estava garantida a realização da eleição. Os deputados chegaram à Assembléia escoltados pela tropa federal. Depois da votação secreta o resultado da apuração: Rafael Fernandes obteve 14 votos e o candidato governista, Eiviro Carrilho, 11 votos. Uma maioria, portanto, de apenas três votos. Uma comissão de parlamentares foi encarregada de comunicar o resultado ao candidato eleito. O Sr. Rafael Fernandes fez o juramento de praxe perante o desembargador Antonio Soares, que presidiu a eleição. Rafael Fernandes era o primeiro governador do Rio Grande do Norte eleito pela Assembléia Legislativa.
AGORA, CORTEZ
Os anos passaram e 35 anos depois, no mesmo mês de outubro, o Poder Legislativo do RGN repete a história. O governador do Estado, em pleito indireto, depois de escolhido pelo presidente Médice. No ano de 1935, sua irmã, Maria do Céu Pereira Fernandes, única deputada com assento na Assembléia Legislativa, votou em Rafael Fernandes. Hoje, 35 anos depois, seu irmão, deputado Bevenuto Pereira, vai dizer SIM para eleição de seu irmão Cortez Pereira.
Naquele tempo, a eleição foi realizada em clima de suspense e apreensão. Hoje, constata-se um clima de harmonia e tranquilidade. Não existia ameaça de ninguém, e já se sabe antecipadamente o resultado da eleição. O voto será aberto: SIM. Cortez Pereira terá trinta votos dos trinta e sete parlamentares que compõem a Assembléia Legislativa. Haverá apenas sete abstenções do partido oposicionista. Não será preciso a presença da escolta federal para proteger os deputados. Apenas um policiamento normal para manter a ordem do povo nas galerias da Assembléia Legislativa em virtude do pequeno espaço destinado à assistência.
OS ELEITORES DE CORTEZ
Os eleitores de Cortez Pereira são trinta deputados estaduais da ARENA. Antes eles pertenceram aos mais diversos partidos políticos: UDN, PSD, PTB, PDC e outras siglas de partidos existentes antes do movimento revolucionário de 1964. Depois, todos eles foram obrigados num mesmo partido: Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Embora existam divergências externas e internas entre eles, há bem pouco tempo se abrigavam sob bandeiras e cores diferentes. Contudo, um nome voltou a uní-los: Cortez Pereira. Todos são unânimes em afirmar: foi mesmo a melhor escolha para o Rio Grande do Norte.
Os eleitores são: Anderson Dutra, Antônio Melo, Benvenuto Pereira, Boanerges Barbalho, Dari Dantas, Edgard Montenegro, Ezequiel Ferreira, José FernandesS, José Josias, José Pinto, Leão Filho, Luiz Antônio, Manoel Avelino, Milton Marinho, Marcílio Furtado, Moacyr Duarte, Mônica Dantas, Olavo Montenegro, Onésimo Maia, Paulo Barbalho, Paulo Diógenes, Paulo Gonçalves, Radir Pereira, Rainél Pereira, Raimundo Abrantes, Ramiro Pereia, Tertius Rebelo, Ulisses Potiguar, Valmir Targino e Veras Saldanha.
O QUE PENSAM
Moacyr Duarte, constituinte de 1946, 45 anos, advogado. Foi líder da oposição e de governo na Assembléia Legislativa. Chefe da Casa Civil do governo Dinarte Mariz, possui o maior "curriculum vitae" do Poder Legislativo. Sobre o futuro governador afirmou: "não é a primeira vez em nossa história política que um colegio de representantes do povo elegerá seu governante e lhe transmitirá com os deveres e atribuições inerentes ao mandato executivo, os anseios mais justos da coletividade. Todavia, na sessão de hoje, a Assembléia Legislativa não cumprirá à apenas a letra de um dispositivo de nossa Carta Magna, pois na verdade homologará uma preferência já manifestada na vontade popular. Cortez Pereira vai alcançar os sufrágios da eleição indireta pela aclamação dos seus méritos, pela soma incontestável de bons serviços prestados à nossa terra".
Mais adiante, frisou: "Sabedor dos percalços e dificuldades que irá encontrar. Cortez Pereira tem o senso e a medida dos programas que se tornaram, desde longa data, a herança dos administradores nordestinos, a estrela, por vezes funesta, assinalando rochedos e turbilhões onde sobraram os melhores propósitos e os mais sinceros desígnios. Saúdo, por isso, no futuro governador, o coroamento e o prêmio do esforço revolucionário em prol de um Rio Grande do Norte voltado para o futuro e integrado nas mais nobres aspirações de sua gente".
PALAVRA DO VALE
O deputado Edgard Montenegro, agrônomo, 50 anos, representantes do Vale do Açu, diz que "Cortez Pereira é uma mensagem viva de desenvolvimento. É técnico de certa visão política, moço, capaz, empreendedor e representa, para o Rio Grande do Norte, a certeza da participação do nosso povo na caminhada firme que daremos todos na busca das soluções dos problemas do Estado". O deputado Olavo Montenegro, também representante do Vale, 50 anos, aduz: "Como deputado e como político, deposito em Cortez Pereira as melhores e maiores esperanças. Pois ele é um profundo conhecedor dos problemas do Estado. Confio plenamente no êxito do seu governo".
RAINEL, ALEGRIA
Rainel Pereira de Araújo, 57 anos, criador e agricultor, explica: Sempre lembrei o nome de Cortez Pereira
para governador do Estado, pois sabia que ele representava uma solução para o nosso Estado. Vou encerrar minha vida pública votando nele. Vou deixar a Assembléia Legislativa com saudades. Aqui, durante quatro anos, só tive alegrias, mas, meu filho, política é para gente moça". Por outro lado, o deputado Ezequiel Ferreira diz que "Cortez Pereira foi a melhor solução para o Estado. Sua gestão no BNB, como ele costuma dizer, foi a grande faculfade de sua vida, aprendeu as grandes lições que serão empregadas para o desenvolvimento do RGN". Paulo Gonçalves, representante do Seridó, confirma: "É uma satisfação ver Cortez Pereira assumir o governo do Estado. É homem da geração de 45, que lutou nas praças de Recife pela redemocratização do país. Tem tudo para fazer um bom governo no RGN". O deputado Veras Saldanha, 70 anos, o mais velho, agrônomo, afirma: "Foi a melhor escolha do Presidente Médice. Cortez corresponderá à confiança de todos". Seu irmão, Bevenuto Pereira, lembra que "o governo Cortez Pereira vai trazer uma completa modificação no sistema administrativo do Estado. Sua experiência no BNB é o suficiente para implantar uma nova mentalidade político-administrativa no Estado. Todos nós estamos confiantes na ação do seu governo que será implantado a partir de 1. de janeiro".
Finalmente, é lembrar a frase de um influente parlamentar arenista, referindo-se a eleição: "Acreditei no prognóstico. Cortez está eleito".
João Batista Machado
Em tempo: O texto transcrito acima é parte do livro de estrea do escritor potiguar do Assu João Batista Machado intitulado "De 35 Ao AI5", 1986. São matérias publicadas nos jornais como "Diário de Natal" e "O Poti", de Natal, entre 1970 a 1976. Sobre aquele livro, Cassiano Arruda Câmara também jornalista, depõe que as reportagens que Machado reuniu naquele volume "desde uma reconstituição da eleição de Rafael Fernandes, em 1935, até o final da década de 70, são indispensáveis para quem quizer entender a política do Rio Grande do Norte". Já, o jornalista da Tribuna do Norte Woden Madruga comenta que "João Batista Machado conta em seis anos de jornalismo político, 35 da própria vida do Rio Grande do Norte".
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