segunda-feira, 10 de maio de 2010
ASSU EM VERSOS I
ASSU
Por Edinor Avelino, escrito em 18.2.1923
Assu, formoso vale! Expressão, harmonia
Para um canto divino, poema superior
Daquele que, Anacreante, em seu tempo, dizia
Cantando a formosura, a natureza e o amor.
Terra boa! Visão que o habitante extasia
- Terra mãe lhe estendendo o seio acolhedor -
Onde ele achou a paz, a esperança, a alegria,
A abundância da seara e o perfume da flor!
Jardim da inspiração! Retiro doce e branco!
Cercanias que têm rebanho e zagais!
Várzea onde o rio vai, claro, se debruçando,
A distância a vence com as águas musicais,
E onde se escuta a voz dos pássaros louvando
A selva e a ostentação dos verdes carnaubais.
Postado por Fernando Caldas Fanfa
ME ENGANA QUE EU GOSTO
Por Paulo Sérgio Martins, jornalista
O mundo gira, os anos passam, o buraco de ozônio aumenta e as pessoas continuam a acreditar em discursos seculares sem propósito algum. “Vamos nos separar, mas vamos continuar amigos”, diz a fulana para as colegas na academia de ginástica. Por mais que você acredite neste discurso, no fundo sabe ser humanamente impossível gostar muito de alguém e vê-la nos braços de outra pessoa e ainda ser aquele amigo para as horas de angústia ou alegria. É balela do tipo premium.
Convívio civilizado não é amizade. E às vezes é pura necessidade quando há filhos na equação. Ex-namorados podem ser amantes, jamais amigos. Se forem, na prática é porque nunca sentiram nada realmente comovente ou foi só um passatempo ou namorico de adolescência. Em geral, um dos dois sempre vai gostar mais do que o outro. E não vai engolir essa de amizade depois que a gente vai embora. Até tentam, mas não leva muito tempo para um dos lados pedir penico e sumir do mapa. A gente conhece outras pessoas, se apaixona novamente, casa e tem filhos, se separa, casa de novo, mas ninguém fica amigo de ninguém.
Se nem Albert Einsten conseguiu decifrar os mistérios matemáticos do tempo, os casais acham que vão conseguir a proeza quando pedem “um tempo”. Metade das vezes, se você pede um tempo é porque está de olho em outra pessoa e quer ter a certeza que vai dar certo com ele (ou ela), nunca é para refletir coisa alguma. Na outra metade das vezes, é um jeito relativamente sincero de dizer que aquilo não vai dar certo em tempo algum.
Em uma pequena parcela das situações, os casais voltam a se encontrar depois do tal tempo. E até tentam se reconciliar. E funciona até o dia em que você descobre que o tempo serviu para um dos lados dormir com 37 pessoas diferentes que vão se transformar em 37 fantasmas iguais. Mas os dois melhores discursos são mesmo o da fidelidade e o do ex-marido.
Quando uma mulher compromissada vira para você e faz questão de dizer que é “super fiel”, pode pedir a conta do jantar e ir para o motel. É batata. Se alguém lhe diz que nunca fez “isso” antes, é porque já pulou mais cercas do que as ovelhinhas carnudas de Abrãao no Velho Testamento.
Fidelidade nunca foi um registro em cartório. Se alguém precisa dizer com todas as letras, é melhor você aceitar – ou aproveitar logo – porque é exatamente o inverso. E se a pessoa na sua frente falar mal do ex-marido ou ex-esposa, esqueça. É tesão enrustido, no mínimo.
Perceba como todo ex-marido é cafajeste, cachorro, egoísta, não vale um centavo. E toda ex-mulher é louca, surtada, ignorante e ruim de cama. O mais lógico seria a gente perguntar: e você precisou casar com ele para descobrir? Nada, foi preciso mesmo casar e ter filhos para descobrir a verdadeira face do mal, do carcará, do anhangá-tinhoso, do cão chupando manga, do belzebu disfarçado de ex-marido.
Mas a gente mantém a civilidade e concorda, faz até coro e dá apoio, principalmente se a divorciada for bonita. Mesmo quando a gente acha que em boca fechada não entra mosquito. Vai que no futuro sobra uma casquinha para você, né? Não tem jeito, nem assim, todos vão continuar falando mal do ex para todos os novos pretendentes, como se fosse um atestado de interesse por você.
Os discursos são realmente infalíveis e a lista é extensa. Tem o tal do “foi só um beijo”, tem aquele “somos apenas bons amigos”, além do imbatível “foi apenas uma vez” ou “não significou nada”. Geralmente não significa nada mesmo, o problema é definir o grau de intensidade do “nada” para você e para ela.
Às vezes a gente gosta tanto de alguém que ainda acredita nessas pequenas mentiras mesmo quando não acreditamos nem no começo. É o tal do bem maior. Ou do medo de perder, sem entender que às vezes a perda é o nosso maior ganho. Afinal, como diria a poeta Elizabeth Bishop, “a arte de perder não tarda aprender”.
O problema do discurso não são as palavras em si, é a necessidade que as pessoas têm de querer empurrar essas mentiras verdadeiras goela abaixo. Dos outros. É como uma verdade universal oriunda de uma sinceridade que simplesmente não existe.
No dia que a gente aprender a dar menos valor às palavras e mais valor às atitudes, quando uma pessoa abrir a boca para soltar um discurso infalível você pode voltar para casa com a consciência tranquila por ter ido embora antes de ouvir o resto da história. Evidente, seria um mundo inalcançável quando as mulheres vão parar de fazer questão de mostrar às amigas o namorado novo, mesmo sem gostar dele.
Até esse dia, resta-nos a complacência de ouvir um clássico “não sinto mais nada por você” e ver nos olhos dela que bastaria o som do primeiro pingo de chuva no chão para ela jogar tudo para o alto e entrar no primeiro táxi com você rumo ao desconhecido. Porque discurso sincero de verdade é aquele que a gente não responde falando. Muito menos escrevendo.
O JUMENTO NO SERIDÓ
Foto: Ilustração do blog.
Por Paulo de Balá, carta a Wodem Madruga, Tribuna do Norte 25 de abril de 2010
Entre um chuvisco e uma chuva e um relâmpago no meio, que ainda não definem uma quadra regular de inverno, como aconteceu no ano passado, o doutor Paulo Bezerra desvia o olhar do horizonte para cuidar de escrever suas cartas. Esta semana me chegou uma dando conta de quando o jumento apareceu no sertão e da enorme e valiosa serventia do muar para o desenvolvimento da região. É uma delícia sentar nessa garupa recontada pelo ilustre missivista:
- Woden, quando o jumento (Equus asinus) chegou ao sertão, significou uma enorme força de progresso e falam da entrada dele, no chão do Seridó, num prazo dilatado de trinta anos que vai de 1840 a 1870. Com a cruz nas costas e o casco duro e resistente a ponto de nunca estropiar, abriu veredas, carregou feira, levantou açude, transportou xiquexique, levou cangalha e sela, multiplicou a raça e deu origem ao híbrido burro(a)-mulo(a) – (Equius asinus caballo), outra peça importante no desenvolvimento do sertão. Por isso que os artesãos de Nova Jerusalém, em Pernambuco, num belo talhe de cantaria, lhe prestaram significativa e justa homenagem em monumento erigido à beira da estrada.
- Na caatinga das Barrentas, terra adquirida de João Raimundo, meu pai criava um magote de jumentas soltas com o “pai do lote”, para produção do valioso animal de trabalho. Terreno de caatinga com muito espinho, jurema e pereiro e, nos anos de chuva, capim panasco que de verde chegava a amarelo-dourado quando seco. Na cacimba, já funda de tanto lhe cavarem o fundo em busca d’água nos repetidos anos de estiagem, era onde os bichos iam matar a sede. Notavam-se muitos rastos nos caminhos e veredas e na praça da cacimba, levando a presumir a presença de animais além dos da fazenda e, como estercavam sempre no mesmo canto, o volume de esterco levava à mesma conclusão. Foi dado um aviso aos vizinhos, sem resultado. Feito um ajuntamento, os de dentro foram entregues a Cornélio do Bico pra lhes dar descaminho, mas na segunda apartação eram poucos os de fora e os donos estavam lá para resgatá-los. Depois disso os limites da terra foram respeitados.
- A maior concentração de jumentos era vista quando se levantava a parede de um açude. Dezenas deles e até centenas... Cada tropa se compunha de quatro a seis jumentos que carregados iam a passo curto, gemendo com o peso da terra e de volta, parede abaixo e escoteiros, chouteando. Logo se habituavam a andar na mesma trilha, ir ao ponde onde esvaziar as caçambas e voltar ao mesmo lugar de origem para enchê-las de novo, sempre na mesma ordem. A ração principal era o milho posto de molho de véspera pra amolecer, servido em mochila com um punhado de sal. Tropeiros chegavam de longe para o trabalho que principiava cedo, tinha uma pausa ao meio dia e se encerrava quando o sol ia se escondendo no poente. Fichas de zinco gravadas com o valor unitário de 1, 10, 50, 100 e 500, eram o comprovante das cargas de terra despejadas. Com o feitor da parede, de quem recebia a ficha, o tangedor trocava as fichas menores pelas maiores.
- Além dos jumentos de carga que eram muitos, havia os de sela que eram poços e os de besta, mais escassos ainda. Foi um corisco, num ano seco, que matou o jumento andaluz da sela de seu Antão da Ping’água e, de sangue pega, era o jumento roxo e graúdo dado por Tiburtino Bezerra ao irmão Silvino para cobrir as éguas do seu rebanho. Mas tudo foi passando, sobretudo, depois do abatedouro de Belo Jardim, em Pernambuco, que quase acaba com a raça. As apostas quanto ao número deles à direita ou à esquerda das estradas desapareceram e até a sua presença no “Beco da Troca” das cidades interioranas minguou. Na oportunidade em que um cidadão tecia loas ao seu jerico, por que isso, por que aquilo, um “caboco” bom de verso arrancou do miolo do seu versejar, o repente depreciativo:
“Não eleve esse jumento
Que isso é coisa muito à-toa
No caminho ele se deita
No terreiro ele se ‘acoa’
Apertado na espora
Solta um peido e a merda avoa.”
- O trator passou a fazer muito do que faziam os jegues. A carroça puxada a boi, que tem força no cangote, substituiu a do jumento, que tem força no espinhaço; os que andavam a cavalo passaram para o caminhão que anda mais ligeiro e pega mais gente e leva para a escola os poucos estudantes da zona rural. As motos se multiplicaram até por atender com mais ligeireza nas necessidades. Aos jegues, porém, continuam reservadas afazeres de grande valia.
- A velha Angélica, uma vitalina contadora de história de Trancoso e mestra em fiar algodão, morreu em consequência da queda de um jumento assim como o meu avô Félix da Pendanga que caiu de Moleque, um jumento preto, em 1937.
- Em Carnaúba dos Dantas, contou-me o Dr. Humberto Dantas, menino bom de lá, houve uma corrida de jegues onde dois eram os favoritos. Logo tomou distância Zé Cabeçote em sua monetária que botou boa dianteira na de Caco de Naninha. Folgado na frente, no entanto, ao passar diante de um grupo de pessoas, um sem vergonha gritou: “Vai Zé Cabeçote, vai!” como a incentivá-lo. Odiando o apelido, riscou o jumento e já se apeou de manga arregaçada, brabo, comendo um galo, grossas as veias do pescoço, investindo contra o povo, furioso: “Qual foi o ‘fela’? Apareça!”. Ninguém se mexeu, mas ele abufelado perdeu a corrida que estava ganha.
- E o rincho deles, amigo velho, como substituir? Aí, não. Aí há de sempre haver um casal procriando para que seus descendentes continuem a rinchar marcando as horas e quebrando o silêncio do sertão seja durante o dia, seja em noites claras de luar, seja em noites escuras que nem breu, daquela se meter dedo no olho.
- E lá no seu mundo chove? No meu chuvisca e, vez por outra, chove. Ronald Gurgel repete que o chão do Seridó é muito bom; o céu é que não presta...”
O burro dos poetas
Jorge Luis Borges também tem o seu jumento, “o asno de três patas”, criação de Zaratustra, que vive no meio do oceano e “que três é o número de seus cascos e seis o de seus olhos e nove o de suas bocas e dois o de suas orelhas”. Diz ainda que o “âmbar é o esterco do asno de três patas”. Está escrito em O livro dos seres imaginários.
Outro poeta, o espanhol Juan Ramõn Jiménez, Prêmio Nobel de Literatura de 1956, tinha o jumentinho Platero (Platero e Eu) com quem conversava sobre filosofia, debulhando “reflexões sobre os mistérios da vida e da alma”. E o burro de Sancho Pança, o fiel escudeiro de Dom Quixote, heim? Glória maior só o do jumentinho baixeiro que conduziu Jesus, o filho do Senhor, pelas ladeiras pedregosas de Jerusalém.
- Woden, quando o jumento (Equus asinus) chegou ao sertão, significou uma enorme força de progresso e falam da entrada dele, no chão do Seridó, num prazo dilatado de trinta anos que vai de 1840 a 1870. Com a cruz nas costas e o casco duro e resistente a ponto de nunca estropiar, abriu veredas, carregou feira, levantou açude, transportou xiquexique, levou cangalha e sela, multiplicou a raça e deu origem ao híbrido burro(a)-mulo(a) – (Equius asinus caballo), outra peça importante no desenvolvimento do sertão. Por isso que os artesãos de Nova Jerusalém, em Pernambuco, num belo talhe de cantaria, lhe prestaram significativa e justa homenagem em monumento erigido à beira da estrada.
- Na caatinga das Barrentas, terra adquirida de João Raimundo, meu pai criava um magote de jumentas soltas com o “pai do lote”, para produção do valioso animal de trabalho. Terreno de caatinga com muito espinho, jurema e pereiro e, nos anos de chuva, capim panasco que de verde chegava a amarelo-dourado quando seco. Na cacimba, já funda de tanto lhe cavarem o fundo em busca d’água nos repetidos anos de estiagem, era onde os bichos iam matar a sede. Notavam-se muitos rastos nos caminhos e veredas e na praça da cacimba, levando a presumir a presença de animais além dos da fazenda e, como estercavam sempre no mesmo canto, o volume de esterco levava à mesma conclusão. Foi dado um aviso aos vizinhos, sem resultado. Feito um ajuntamento, os de dentro foram entregues a Cornélio do Bico pra lhes dar descaminho, mas na segunda apartação eram poucos os de fora e os donos estavam lá para resgatá-los. Depois disso os limites da terra foram respeitados.
- A maior concentração de jumentos era vista quando se levantava a parede de um açude. Dezenas deles e até centenas... Cada tropa se compunha de quatro a seis jumentos que carregados iam a passo curto, gemendo com o peso da terra e de volta, parede abaixo e escoteiros, chouteando. Logo se habituavam a andar na mesma trilha, ir ao ponde onde esvaziar as caçambas e voltar ao mesmo lugar de origem para enchê-las de novo, sempre na mesma ordem. A ração principal era o milho posto de molho de véspera pra amolecer, servido em mochila com um punhado de sal. Tropeiros chegavam de longe para o trabalho que principiava cedo, tinha uma pausa ao meio dia e se encerrava quando o sol ia se escondendo no poente. Fichas de zinco gravadas com o valor unitário de 1, 10, 50, 100 e 500, eram o comprovante das cargas de terra despejadas. Com o feitor da parede, de quem recebia a ficha, o tangedor trocava as fichas menores pelas maiores.
- Além dos jumentos de carga que eram muitos, havia os de sela que eram poços e os de besta, mais escassos ainda. Foi um corisco, num ano seco, que matou o jumento andaluz da sela de seu Antão da Ping’água e, de sangue pega, era o jumento roxo e graúdo dado por Tiburtino Bezerra ao irmão Silvino para cobrir as éguas do seu rebanho. Mas tudo foi passando, sobretudo, depois do abatedouro de Belo Jardim, em Pernambuco, que quase acaba com a raça. As apostas quanto ao número deles à direita ou à esquerda das estradas desapareceram e até a sua presença no “Beco da Troca” das cidades interioranas minguou. Na oportunidade em que um cidadão tecia loas ao seu jerico, por que isso, por que aquilo, um “caboco” bom de verso arrancou do miolo do seu versejar, o repente depreciativo:
“Não eleve esse jumento
Que isso é coisa muito à-toa
No caminho ele se deita
No terreiro ele se ‘acoa’
Apertado na espora
Solta um peido e a merda avoa.”
- O trator passou a fazer muito do que faziam os jegues. A carroça puxada a boi, que tem força no cangote, substituiu a do jumento, que tem força no espinhaço; os que andavam a cavalo passaram para o caminhão que anda mais ligeiro e pega mais gente e leva para a escola os poucos estudantes da zona rural. As motos se multiplicaram até por atender com mais ligeireza nas necessidades. Aos jegues, porém, continuam reservadas afazeres de grande valia.
- A velha Angélica, uma vitalina contadora de história de Trancoso e mestra em fiar algodão, morreu em consequência da queda de um jumento assim como o meu avô Félix da Pendanga que caiu de Moleque, um jumento preto, em 1937.
- Em Carnaúba dos Dantas, contou-me o Dr. Humberto Dantas, menino bom de lá, houve uma corrida de jegues onde dois eram os favoritos. Logo tomou distância Zé Cabeçote em sua monetária que botou boa dianteira na de Caco de Naninha. Folgado na frente, no entanto, ao passar diante de um grupo de pessoas, um sem vergonha gritou: “Vai Zé Cabeçote, vai!” como a incentivá-lo. Odiando o apelido, riscou o jumento e já se apeou de manga arregaçada, brabo, comendo um galo, grossas as veias do pescoço, investindo contra o povo, furioso: “Qual foi o ‘fela’? Apareça!”. Ninguém se mexeu, mas ele abufelado perdeu a corrida que estava ganha.
- E o rincho deles, amigo velho, como substituir? Aí, não. Aí há de sempre haver um casal procriando para que seus descendentes continuem a rinchar marcando as horas e quebrando o silêncio do sertão seja durante o dia, seja em noites claras de luar, seja em noites escuras que nem breu, daquela se meter dedo no olho.
- E lá no seu mundo chove? No meu chuvisca e, vez por outra, chove. Ronald Gurgel repete que o chão do Seridó é muito bom; o céu é que não presta...”
O burro dos poetas
Jorge Luis Borges também tem o seu jumento, “o asno de três patas”, criação de Zaratustra, que vive no meio do oceano e “que três é o número de seus cascos e seis o de seus olhos e nove o de suas bocas e dois o de suas orelhas”. Diz ainda que o “âmbar é o esterco do asno de três patas”. Está escrito em O livro dos seres imaginários.
Outro poeta, o espanhol Juan Ramõn Jiménez, Prêmio Nobel de Literatura de 1956, tinha o jumentinho Platero (Platero e Eu) com quem conversava sobre filosofia, debulhando “reflexões sobre os mistérios da vida e da alma”. E o burro de Sancho Pança, o fiel escudeiro de Dom Quixote, heim? Glória maior só o do jumentinho baixeiro que conduziu Jesus, o filho do Senhor, pelas ladeiras pedregosas de Jerusalém.
VIAJANDO O SERTÃO (III)
L. da C. C.[Percurso – Santa Cruz – Cabeço Branco – Serro Corá – São Romão – Angicos – Assú]"Assú dá-nos impressões várias. Aqui houve o ‘fogo de 40’, ali falavam os oradores na campanha da abolição que foi vitoriosa antes da lei de 13 de maio, além apruma-se o mais velho sobrado. As andorinhas passam, inúmeras, povoando o ar de sonoridade pelo frêmito do vôo rápido. A praça é deserta sob o palor das lâmpadas. Eu falo de integralismo, toponímia, algodão. (...)""Pela manhã tivemos a linda festa do Colégio Nossa Senhora das Vitórias. A vitória maior é viver aquelas freiras ilustres, quase todas nórdicas, num clima ardente como do Assú. O colégio é uma maravilha de ordem, disciplina, rendimento educacional e beleza de espírito. Sente-se que ali se trabalha para receber no outro mundo paga maior.""Na saída sei que iremos para o Centro Artístico Operário Assulense. Mas o Ângelo Pessoa tem um operário para mostrar-me e atravesso os areais da cidade (...) onde, numa casa caindo de velha e negra de velhice, mora José Leão, sexagenário, ‘fazedor de santos’.Esse José Leão, como as andorinhas, são duas fortes impressões do Assú. É o tipo do imaginário primitivo, sereno, resignado, incompreendido, passando fome, trabalhando sem esperança, sem ambiente, sem auxílio, sem estímulo, insensível e obstinado, artista legítimo, com uma intuição de escultura, um senso decorativo, um tipo de moldar as fisionomias que lembra a rudeza elegante e máscula de Memling. José Leão mostra-me dezenas de santos, crucifixos, anjos, ovelhas místicas. Não tem instrumentos. São pedaços de canivetes (...), cacos de louça, pires bolorentos, quingas de coco (...). Longe de ter nossa mania de beleza dos Santos moldados em gesso e feito à maquina, iguais e bonitinhos, José Leão grava na imburana plástica rostos humanos, bem semelhantes ao tipo humano, possíveis e naturais. Ninguém compreende a maestria daquela intuição que lá fora o faria rico e aqui o mata de fome. Eu tive nas mão uma Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro verdadeiramente maravilhosa. Um São José, um São João Batista, que estão sem preço, pedem uma página de elogio pela firmeza incrível com que aquele velho gravou os traços morais na árvore que lhes deu nascimento e vesti-os com uma precisão minuciosa e pictórica dum desenhista à Batps.O studio é fumacento e frio. Andrajoso e triste, com uma melancolia superior e expontânea, o imaginário recebeu-nos erguendo-se devagar duma rede sem cor. Na mão havia um livro. Não era o ‘Flos Santorum’. Era a ‘Retirada da Laguna’ E creio que o símbolo é fiel. Aqui esta ele fazendo sua retirada, sem roupa, sem pão, sem aliados, sem abrigo mas guardando todas as armas do trabalho, as forças da vontade e as bandeiras da fé. José Leão trabalhador sem reclame, saúdo-te em nome dos que trabalham com alma e morrem sem glória."Assina desta forma:
- O jornal publica novamente a versão oficial da viagem ao Sertão.
"No dia 18 o Interventor chegou a vila de Augusto Severo (...).""O Dr. Mário Camara teve uma magnífica recepção por parte dos mais significativos elementos sociais de Augusto Severo (...).""Às 16 horas deu-se a partida falando o Dr. Câmara Cascudo, despedindo-se da terra de seus pais e avós e evocando as famílias tradicionais dos Melos, Veras e Jacomes, sendo demoradamente aplaudido.""A viagem para Caraúbas retardou-se pelo estado do caminho (...).""Realizou-se o banquete assistido pelo escol local. (...) Dr. Mário Camara , (...) pediu ao Dr. Câmara Cascudo que, em nome dos presentes da comitiva, saudasse a Família de Caraúbas, ali representadas pelos seus mais legítimos elementos. O Dr. Câmara Cascudo (...) levantando sua taça em saudação à mulher caraubense, mãe, esposa e filha, tecedeira de felicidade, artífice da paz, mãe de soldados e de marinheiros e de lavradores, seiva de fé que se perpetua na coragem com que o sertanejo enfrenta e vence a natureza, corrigindo-lhe a fisionomia (...)."
Rosalba Ciarlini destaca licença maternidade no dia das mães
- Publicado por Robson Pires,A senadora Rosalba Ciarlini aproveitou o Dia das Mães para lembrar a Proposta de Emenda à Constituição(PEC) da Licença Maternidade de seis meses para todas as mães trabalhadoras. “Nossa Proposta que universaliza o direito para as mães já foi aprovada nas Comissões e está esperando apenas a votação no plenário do Senado”, informou a senadora, adiantando que está confiante na aprovação unânime da Casa.
Rosalba voltou a falar sobre a PEC, na Festa das Mães da pequena comunidade de Entrocamento, município de Carnaubais. Ao lado do ex-prefeito Zenildo Batista, vereador Keide Soares – que promove a confraternização desde 2004-, deputado José Adécio, prefeito de Açu, Ivan Júnior e lideranças comunitárias, a senadora defendeu mais creches, escolas, saúde de qualidade e segurança pública. “Esses direitos sociais trazem tranqüilidade para as mães”, declarou, ressaltando as oportunidades de geração de emprego pelas potencialidades econômicas do Vale.
Durante o discurso Rosalba também se emocionou ao lembrar da mãe Conchecita, que morreu há 6 anos, no Dia das Mães. Depois da confraternização, a senadora participou de almoço em homenagem a sogra dela, Adalgisa Rosado, viúva do ex-governador Dix-sept Rosado, em Mossoró.
Escrito por juscelinofranca às 06h42
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domingo, 9 de maio de 2010
MÃES DA LITERATURA FEMININA ACADEMIA FEMININA DE LETRAS E MEMORIAL DA MULHER SOBREVIVEM COM GARRA AO IMORTALIZAR AS ILUSTRES POTIGUARES
Sérgio Vilar- sergiovilar.rn@dabr.com.br
A Academia Feminina de Letras vai além da difusão da literatura produzida pela mulher potiguar. Mesmo confundida com a atmosfera conservadora das academias de letras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, ela representa os novos tempos, distante do espaço renegado às mulheres durante séculos. É hoje mãe e guardiã da produção literária feminina, tendo como baluarte a figura de Nísia Floresta e Zila Mamede. A figura feminina esteve à margem das decisões sócio-políticas, religiosas e culturais.
Figuras como Nísia Floresta, Auta de Souza e Isabel Gondim têm espaço privilegiado na Academia e também no Memorial Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Na literatura, embora consagrada por nomes como Clarice Lispector e Hilda Hilst, a mulher sempre esteve vertiginosamente atrás dos homens. A Academia Norte-Riograndense de Letras (ANL) tem três mulheres e 37 homens como patronos. Apenas Nísia Floresta, Isabel Gondim e Auta de Souza. Na ocupação das cadeiras atuais, apenas Ana Maria Cascudo, Sônia Ferreira e a indicação da poetiza Diva Cunha.
A pedagoga e escritora Zelma Furtado fundou a AFL há dez anos para abrigar todo o talento feminino renegado pela cultura machista ainda persistente na dita modernidade. Das 40 vagas disponibilizadas, apenas 25 estão ocupadas. Como mãe, a instituição protege sob as suas asas um rico acervo ja produzido, a exemplo de obras raras de Nísia Floresta, expostas recentemente no I Encontro de Escritores da Língua Portuguesa de Natal.
Zelma também é responsável por intermináveis pesquisas sobre o papel da mulher na literatura potiguar. Foi a partir dessas pesquisas que descobriu a tentativa de se fundar a Academia Feminina de Letras da Casa Bertha Guilherme, em 1952. Bertha foi uma professora de português do colégio Atheneu. Morreu em 1951, quando a poeta Elione Dantas mobilizou escritoras potiguares a fundar a academia. As poucas reuniões ocorreram no antigo cinema Rio Grande. Mas logo Elione se mudaria para Recife para cursar Filosofia e a ideia ficaria esquecida nas entrelilnhas da história.
Uma década "Quando li sobre a ideia, em 1998, procurei criar a nossa AFL, fundada em 22 de abril de 2000". Zelma conta que a instituição nunca recebeu apoio dos governos. Todo o custo é cotizado entre as integrantes da AFL. Se a sede da academia tradicional do Rio Grande do Norte foi cedida e recebe manutenção do Governo do Estado, a AFL chegou a ser proibida, via decreto, de se reunir uma vez ao mês no Palácio da Cultura. A solução foi transformar a própria casa da presidente, Zelma Furtado, em sede.
(Transcrito do jornal Diário de Natal, edição de domingo, 9 de maio de 2010)
A Academia Feminina de Letras vai além da difusão da literatura produzida pela mulher potiguar. Mesmo confundida com a atmosfera conservadora das academias de letras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, ela representa os novos tempos, distante do espaço renegado às mulheres durante séculos. É hoje mãe e guardiã da produção literária feminina, tendo como baluarte a figura de Nísia Floresta e Zila Mamede. A figura feminina esteve à margem das decisões sócio-políticas, religiosas e culturais.
Figuras como Nísia Floresta, Auta de Souza e Isabel Gondim têm espaço privilegiado na Academia e também no Memorial Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Na literatura, embora consagrada por nomes como Clarice Lispector e Hilda Hilst, a mulher sempre esteve vertiginosamente atrás dos homens. A Academia Norte-Riograndense de Letras (ANL) tem três mulheres e 37 homens como patronos. Apenas Nísia Floresta, Isabel Gondim e Auta de Souza. Na ocupação das cadeiras atuais, apenas Ana Maria Cascudo, Sônia Ferreira e a indicação da poetiza Diva Cunha.
A pedagoga e escritora Zelma Furtado fundou a AFL há dez anos para abrigar todo o talento feminino renegado pela cultura machista ainda persistente na dita modernidade. Das 40 vagas disponibilizadas, apenas 25 estão ocupadas. Como mãe, a instituição protege sob as suas asas um rico acervo ja produzido, a exemplo de obras raras de Nísia Floresta, expostas recentemente no I Encontro de Escritores da Língua Portuguesa de Natal.
Zelma também é responsável por intermináveis pesquisas sobre o papel da mulher na literatura potiguar. Foi a partir dessas pesquisas que descobriu a tentativa de se fundar a Academia Feminina de Letras da Casa Bertha Guilherme, em 1952. Bertha foi uma professora de português do colégio Atheneu. Morreu em 1951, quando a poeta Elione Dantas mobilizou escritoras potiguares a fundar a academia. As poucas reuniões ocorreram no antigo cinema Rio Grande. Mas logo Elione se mudaria para Recife para cursar Filosofia e a ideia ficaria esquecida nas entrelilnhas da história.
Uma década "Quando li sobre a ideia, em 1998, procurei criar a nossa AFL, fundada em 22 de abril de 2000". Zelma conta que a instituição nunca recebeu apoio dos governos. Todo o custo é cotizado entre as integrantes da AFL. Se a sede da academia tradicional do Rio Grande do Norte foi cedida e recebe manutenção do Governo do Estado, a AFL chegou a ser proibida, via decreto, de se reunir uma vez ao mês no Palácio da Cultura. A solução foi transformar a própria casa da presidente, Zelma Furtado, em sede.
(Transcrito do jornal Diário de Natal, edição de domingo, 9 de maio de 2010)
sábado, 8 de maio de 2010
"EM ENCONTRO DO PR, VIVALDO DIZ QUE UMA DAS CADEIRAS NO SENADO JÁ É DE WILMA DE FARIA"
O ex-governador Vivaldo Costa está participando do encontro do PR, em Mossoró, neste sábado (08).
Na oportunidade, o Papa-Jerimum avaliou a disputa para o Senado no estado.
Segundo ele, será uma batalha “entre titãs”, referindo-se a Garibaldi Filho (PMDB), José Agripino (DEM) e Wilma de Faria (PSB).
Vivaldo não tem dúvidas de que uma das vagas já é da ex-governadora, o que acirraria a disputa entre Garibaldi e Agripino.
Escrito por Juscelino Franca às 17h53
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Na oportunidade, o Papa-Jerimum avaliou a disputa para o Senado no estado.
Segundo ele, será uma batalha “entre titãs”, referindo-se a Garibaldi Filho (PMDB), José Agripino (DEM) e Wilma de Faria (PSB).
Vivaldo não tem dúvidas de que uma das vagas já é da ex-governadora, o que acirraria a disputa entre Garibaldi e Agripino.
Escrito por Juscelino Franca às 17h53
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DIA DAS MÃES
Mãe! Eu volto a te ver na antiga sala
onde uma noite te deixei sem fala
dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
porque a sina das mães é esta sina:
amar, cuidar, criar, depois...perder.
Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
sorrindo, o rouba; e a velha mãe aflita
ainda se volta para abençoá-la.
Assim parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
olhando o leito que eu deixei vazio,
cantando uma cantiga de ninar.
Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijarte a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
Não sinto que me caiba este direito.
O direito de dar-te este desgosto,
de te mostrar nas rugas do meu rosto
toda a miséria que me aconteceu.
E quando vires a expressão horrível
da minha máscara irreconhecível,
minha voz rouca murmurar: "Sou eu".
Eu bebi na taberna dos cretinos,
eu brandi o punhal dos assassinos,
eu andei pelo braço dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
eu fui vilão em todas as tragédias,
eu fui covarde em todas as batalhas.
Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
e só agora, quando chego ao fim,
traído pela última esperança,
e só agora, quando a dor me alcança
lembro quem nunca se esqueceu de mim.
Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
A cadeira rangeu;é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
e, me envolvendo num milhão de abraços,
rendendo graças, diz: "Meu filho", e chora.
E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,
em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
quase é como se o Céu me perdoasse,
me limpasse de todos os pecados.
Mãe! Nos teus braços me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:
o filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa.
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
mas que me beija como agradecendo
toda dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
mas tu me olhas num olhar tão doce
que, nada tendo, não te falta nada.
Dia das Mães! É o dia da bondade
maior que todo o mal da humanidade
purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um ser mesquinho,
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
cantará a esperança para o mundo!
Postado por Fernando Caldas Fanfa
onde uma noite te deixei sem fala
dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
porque a sina das mães é esta sina:
amar, cuidar, criar, depois...perder.
Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
sorrindo, o rouba; e a velha mãe aflita
ainda se volta para abençoá-la.
Assim parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
olhando o leito que eu deixei vazio,
cantando uma cantiga de ninar.
Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijarte a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
Não sinto que me caiba este direito.
O direito de dar-te este desgosto,
de te mostrar nas rugas do meu rosto
toda a miséria que me aconteceu.
E quando vires a expressão horrível
da minha máscara irreconhecível,
minha voz rouca murmurar: "Sou eu".
Eu bebi na taberna dos cretinos,
eu brandi o punhal dos assassinos,
eu andei pelo braço dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
eu fui vilão em todas as tragédias,
eu fui covarde em todas as batalhas.
Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
e só agora, quando chego ao fim,
traído pela última esperança,
e só agora, quando a dor me alcança
lembro quem nunca se esqueceu de mim.
Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
A cadeira rangeu;é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
e, me envolvendo num milhão de abraços,
rendendo graças, diz: "Meu filho", e chora.
E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,
em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
quase é como se o Céu me perdoasse,
me limpasse de todos os pecados.
Mãe! Nos teus braços me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:
o filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa.
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
mas que me beija como agradecendo
toda dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
mas tu me olhas num olhar tão doce
que, nada tendo, não te falta nada.
Dia das Mães! É o dia da bondade
maior que todo o mal da humanidade
purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um ser mesquinho,
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
cantará a esperança para o mundo!
Postado por Fernando Caldas Fanfa
DE SAUDADE
O grande poeta brasileiro potiguar do Açu chamado João Lins Caldas (1888-1967) estando no Rio de Janeiro em 1912 escreveu saudoso de sua mãe que residia em Açu-RN o soneto intitulado de "De Saudade". Vejamos para o nosso deleite:
Lírio do meu amor, celeste lírio
Da graça e da saudade! Que a ventura
Desanuvie as sombra do martírio
Dessa infinita, lânguida tortura.
Sagrado ninho, resplendor da altura
Do céu do meu prazer! És tu o círio
Que me guia na noite do delírio,
Que me acalma na noite da amargura.
Não sei de amor sem teu amor. Amasse
O mundo inteiro e não teria, creio,
Na terra amor que o meu amor pagasse.
Porém, te amando, ó minha mãe, receio
Que o grande amor que para o mais sobrasse
O amor não pague que te vai no seio.
Postado por Fernando Caldas Fanfa
Lírio do meu amor, celeste lírio
Da graça e da saudade! Que a ventura
Desanuvie as sombra do martírio
Dessa infinita, lânguida tortura.
Sagrado ninho, resplendor da altura
Do céu do meu prazer! És tu o círio
Que me guia na noite do delírio,
Que me acalma na noite da amargura.
Não sei de amor sem teu amor. Amasse
O mundo inteiro e não teria, creio,
Na terra amor que o meu amor pagasse.
Porém, te amando, ó minha mãe, receio
Que o grande amor que para o mais sobrasse
O amor não pague que te vai no seio.
Postado por Fernando Caldas Fanfa
QUEM TEM MEDO DOS DIREITOS GAYS?
Alípio de Souza Filho - Professor UFRN
Não é novidade e igualmente não é estranho que conservadores e reacionários se manifestem todas as vezes que transformações sociais e políticas, jamais pensadas por eles, alterem leis, instituições e convenções sociais e morais que acreditavam imutáveis. Atualmente, na sociedade brasileira, torna-se possível verificar a reação conservadora a propósito de importantes modificações em âmbitos diversos, mas talvez nenhuma outra mudança incomode tanto quanto a materializada pelo avanço dos direitos gays e por políticas públicas voltadas a lésbicas, gays e travestis e transexuais implementados pelas diversas esferas do poder público no país.
Não é novidade e igualmente não é estranho que conservadores e reacionários se manifestem todas as vezes que transformações sociais e políticas, jamais pensadas por eles, alterem leis, instituições e convenções sociais e morais que acreditavam imutáveis. Atualmente, na sociedade brasileira, torna-se possível verificar a reação conservadora a propósito de importantes modificações em âmbitos diversos, mas talvez nenhuma outra mudança incomode tanto quanto a materializada pelo avanço dos direitos gays e por políticas públicas voltadas a lésbicas, gays e travestis e transexuais implementados pelas diversas esferas do poder público no país.
A irritação conservadora leva a que os cães de guarda da moral rabugenta (fonte de opressões, discriminações e violências praticadas contra muitos) ataquem governantes, parlamentares, militantes, cientistas e intelectuais por suas decisões, iniciativas e posicionamentos críticos em defesa de grandes parcelas da sociedade que permanecem discriminadas e excluídas: entre outros, negros, homossexuais, travestis, transexuais, indígenas e mulheres.
No tocante especificamente à questão gay, temos uma verdadeira cruzada moral dos conservadores contra diversas iniciativas importantes do governo federal, em programas de ministérios, secretarias, contra iniciativas de governos estaduais, de deputados e senadores que, entre outros programas e projetos de lei, criaram o Brasil Sem Homofobia, medidas administrativas que reconhecem os direitos gays ou propõem, em projetos de legislação, o estatuto de casamento para as uniões homossexuais ou a tipificação do crime de homofobia. Visando instalar o pânico moral, os conservadores, em seu fundamentalismo, pretendendo subordinar o Estado, o Direito e a Lei a crenças religiosas e convicções morais particulares, atacam essas iniciativas, qualificando-as de “escândalo”, “decadência”, “tentativas de institucionalização de aberrações sexuais”, “legitimação de condutas indecentes”, entre outras pérolas do discurso ideológico-conservador, que, de tão atrasado, faz rir. Ora, se há que se falar de decadência, que esta seja entendida como a reação conservadora a transformações que colocarão o Brasil ao lado das nações civilizadas do mundo que já instituíram os direitos gays: Espanha, França, Alemanha, Suécia, Holanda, entre outros. A sociedade brasileira não pode, por decadência de seus conservadores rabugentos, ficar ao lado de nações como Malauí, Uganda e Irã que praticam atrocidades contra homossexuais, delas como prisão e pena de morte, por pretendida defesa da moral, da decência e de valores religiosos. E por qual razão há que se admitir valores religiosos (sempre particulares, são diversas as crenças religiosas, e, na sociedade, há os que nenhuma religião professam!) para definições da lei, do direito e para conceitos e práticas da sexualidade? Por que cargas d’água terá o indivíduo (qualquer ele) que ver seus direitos (em todos os âmbitos) subtraídos em razão de crença religiosa alheia?
Por fim, desesperados, reconhecendo que não haverá retrocesso, os conservadores alardeiam sua histeria, proclamando que gays, lésbicas e travestis, com apoio de governos, políticos e intelectuais, instituirão cenas “aberrantes” de carinhos gays em público e ainda levarão à prisão todos aqueles que ousarem hostilizá-los por isso. Que querem os conservadores: o direito de insultar, agredir, discriminar, violentar (como sempre fizeram até aqui!) gays, lésbicas, travestis e transexuais, impedindo-os de exercerem livremente seus desejos e afetos, publicamente, como podem fazer aqueles a quem certa moral dominante chama de heterossexuais e entrega a estes todos os direitos? Não!, fiquem certos, senhores conservadores, daqui por diante, não será mais assim: leis e novas mentalidades, no Brasil e em diversas partes do mundo, impedirão a discriminação homofóbica e assegurarão liberdades e direitos devidos aos homossexuais, travestis e transexuais!
Por fim, desesperados, reconhecendo que não haverá retrocesso, os conservadores alardeiam sua histeria, proclamando que gays, lésbicas e travestis, com apoio de governos, políticos e intelectuais, instituirão cenas “aberrantes” de carinhos gays em público e ainda levarão à prisão todos aqueles que ousarem hostilizá-los por isso. Que querem os conservadores: o direito de insultar, agredir, discriminar, violentar (como sempre fizeram até aqui!) gays, lésbicas, travestis e transexuais, impedindo-os de exercerem livremente seus desejos e afetos, publicamente, como podem fazer aqueles a quem certa moral dominante chama de heterossexuais e entrega a estes todos os direitos? Não!, fiquem certos, senhores conservadores, daqui por diante, não será mais assim: leis e novas mentalidades, no Brasil e em diversas partes do mundo, impedirão a discriminação homofóbica e assegurarão liberdades e direitos devidos aos homossexuais, travestis e transexuais!
Tribuna do Norte, 8 de maio de 2010
INMVESTIMENTOS NA ÁREA DE MORADIA COMPREENDERÃO TODO O MUNICÍPIO, DIZ PREFEITO
INVESTIMENTOS NA ÁREA DE MORADIA COMPREENDERÃO TODO O MUNICÍPIO, DIZ PREFEITO
Ao presidir na manhã de hoje (07) as cerimônias de entrega oficial de 20 unidades residenciais nas comunidades rurais de Janduís e Simão o prefeito Ivan Lopes Júnior reiterou o compromisso de seu governo com o setor de habitação popular. “A entrega destes imóveis mostra de forma inequívoca o comprometimento de nossa administração com todo o município”, exclamou o prefeito municipal. Nas duas localidades rurais houve a emissão dos Títulos de Propriedade dos imóveis doados pela prefeitura às famílias contempladas.
A agenda do prefeito nas duas comunidades foi acompanhada por diversos secretários municipais e os vereadores Odelmo de Moura Rodrigues, Francisco Xavier de Medeiros Filho, João Batista de Brito e Heliomar Cortês Alves. Segundo informação do secretário de Obras, Isaías Peres da Fonseca, o investimento foi parte do volume de recursos – quase R$ 1,6 milhão – conseguido através da dotação emergencial proveniente da União, via Ministério da Integração Nacional, para o enfrentamento das conseqüências do inverno passado, precisamente votado para a construção de casas.
Especificamente nas comunidades de Janduís e Simão o valor global do investimento foi superior a R$ 248 mil. Em seu pronunciamento nas duas povoações o prefeito Ivan Júnior registrou que o empreendimento deve-se não somente à ação do poder público municipal como a parceria com o governo federal. “O governo do presidente Lula tem se constituído num importante parceiro do município e uma série de obras estão sendo entregues à população”, reiterou. Ele lamentou que idêntica parceria não tenha sido possível até aqui ser construída com o Governo do Estado. “Infelizmente, apesar dos apelos que fizemos, o Estado não tem sido sensível”, manifestou.
Parlamentares enaltecem responsabilidade e compromisso da gestão
Um dos parlamentares a se expressar na mesma oportunidade, o presidente da câmara, Odelmo Rodrigues, reforçou “o compromisso que tem sido demonstrado pelo prefeito Ivan Júnior com as comunidades e o povo em geral do município do Assú se observa com a entrega de obras públicas”. Outro vereador, Francisco Xavier, ressaltou que “o prefeito Ivan Júnior está respondendo à confiança do povo com realizações que estão atendendo praticamente todos os recantos do município”. A programação de inauguração de casas populares vivenciará uma próxima etapa ainda este mês, com a entrega de 20 unidades residenciais na localidade rural de Santa Clara.
A agenda do prefeito nas duas comunidades foi acompanhada por diversos secretários municipais e os vereadores Odelmo de Moura Rodrigues, Francisco Xavier de Medeiros Filho, João Batista de Brito e Heliomar Cortês Alves. Segundo informação do secretário de Obras, Isaías Peres da Fonseca, o investimento foi parte do volume de recursos – quase R$ 1,6 milhão – conseguido através da dotação emergencial proveniente da União, via Ministério da Integração Nacional, para o enfrentamento das conseqüências do inverno passado, precisamente votado para a construção de casas.
Especificamente nas comunidades de Janduís e Simão o valor global do investimento foi superior a R$ 248 mil. Em seu pronunciamento nas duas povoações o prefeito Ivan Júnior registrou que o empreendimento deve-se não somente à ação do poder público municipal como a parceria com o governo federal. “O governo do presidente Lula tem se constituído num importante parceiro do município e uma série de obras estão sendo entregues à população”, reiterou. Ele lamentou que idêntica parceria não tenha sido possível até aqui ser construída com o Governo do Estado. “Infelizmente, apesar dos apelos que fizemos, o Estado não tem sido sensível”, manifestou.
Parlamentares enaltecem responsabilidade e compromisso da gestão
Um dos parlamentares a se expressar na mesma oportunidade, o presidente da câmara, Odelmo Rodrigues, reforçou “o compromisso que tem sido demonstrado pelo prefeito Ivan Júnior com as comunidades e o povo em geral do município do Assú se observa com a entrega de obras públicas”. Outro vereador, Francisco Xavier, ressaltou que “o prefeito Ivan Júnior está respondendo à confiança do povo com realizações que estão atendendo praticamente todos os recantos do município”. A programação de inauguração de casas populares vivenciará uma próxima etapa ainda este mês, com a entrega de 20 unidades residenciais na localidade rural de Santa Clara.
Lúcio Flávio
Secretaria de Comunicação Social
Prefeitura Municipal do Assú
(84) 9106-1440
comunicacao@prefeituradoassu.com.br
sexta-feira, 7 de maio de 2010
AMOR DE MÃE
Por Clênio Caldas
Mais um dia das Mães se aproxima e com ele a oportunidade de lembrarmos-nos de valorizar aquela que nos trouxe ao mundo. Mesmo quem não desfrute da alegria de ter sua genitora ao lado, tem na memória, certamente, maravilhosos momentos de recordação ao lado de sua mamãe. Quando deu os seus primeiros passos, pronunciou suas palavras balbuciantes de tenra criança, chorou por algo que sentiu no íntimo, sempre ao lado estava sua mãe extremosa e querida.
Com pesar, notamos que muitos filhos não respeitam seus pais, são desobedientes, estúpidos até mesmo grosseiros e fazem os seus pais se entristecerem. Um dia haverão de sentir falta deles e aí será tarde demais.
Deus concedeu a paternidade e a maternidade para serem levadas a sério e cabe também aos pais a responsabilidade pela educação e formação de seus filhos, a começar de um lar bem estruturado e equilibrado. Lugar de paz, de harmonia, de quietude, de entendimento, e sadia camaradagem e amizade.
A Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, possui inúmeras citações em que reforça esses conselhos e advertências. Se lares hoje se ressentem de momentos de serenidade e tranquilidade, muito provavelmente vem negligenciando os padrões estipulados por Deus para a consolidação de uma família.
Esperamos que no decorrer deste final de semana haja muitos motivos para que sua família goze de momentos de saudável companheirismo, gozo e descontração, homenageando com justiça a “Rainha do Lar”, a mamãe querida. Se não a tiver ao seu lado, pelo menos tenha na lembrança e a honre pelo que ela lhe fez durante toda a vida em que esteve ao seu lado. E dê muitas graças a Deus pelo presente que ela representa ou representou em sua existência.
Desejo-lhe um proveitoso e feliz final de semana junto aos seus queridos familiares.
O abraço deste amigo de hoje e de sempre
Clênio
COLUNA SOCIAL
Escrito por juscelinofranca às 10h40
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Transcrito do Correio Popular por Fernando Caldas Fanfa - Pré-candidato a deputado federal - PPS.
IBERÊ DEVE OFICALIZAR FERNANDO MINEIRO NA LIDERANÇA DO GOVERNO NA AL ATÉ A PRÓXIMA SEMANA
Charge: Blog do Brito
Já está definido: o deputado Fernando Mineiro(PT) será mesmo o líder do Governo Iberê Ferreira na Assembléia Legislativa.
Mineiro espera somente o anúncio oficial de Iberê, que deve ocorrer até o início da próxima semana.
Mesmo sem ter sido oficializado ainda como líder governista, Mineiro é quem está defendendo o Governo Iberê dos ataques da oposição.
Durante as três sessões ordinárias da Assembléia nesta semana – terça, quarta e quinta – nenhum outro deputado governista saiu em defesa do Governo Iberê.
Foi Mineiro quem rebateu todas as críticas da oposição e mostrou o sotaque de líder governista.
Mineiro espera somente o anúncio oficial de Iberê, que deve ocorrer até o início da próxima semana.
Mesmo sem ter sido oficializado ainda como líder governista, Mineiro é quem está defendendo o Governo Iberê dos ataques da oposição.
Durante as três sessões ordinárias da Assembléia nesta semana – terça, quarta e quinta – nenhum outro deputado governista saiu em defesa do Governo Iberê.
Foi Mineiro quem rebateu todas as críticas da oposição e mostrou o sotaque de líder governista.
Postado por Oliveira Wanderley
Escrito por juscelinofranca às 13h22
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domingo, 2 de maio de 2010
ANOS DOURADOS - PRAIS DO MEIO E DOS ARTISTAS
Os anos dourados da Praia dos Artistas começam na década de 70, quando a grande frequencia da galera que fazia teatro, artes plásticas e música começou a frequentar aquele pequeno trecho de areia. Por causa exatamente desses frequentadores é que o local terminou conhecido como Praia dos Artistas. A partir das onze horas da manhã, o pedaço começava a se encher de gente.
No barzinho que ficava embaixo do Salva-Vidas, o Caravela, ficavam os surfistas e os campeonatos de surfe também eram famosos, apresentados ao microfone com muita gíria e loucura.
À noite, nos dividíamos entre o Castanhola e o Asfarn, bares onde comíamos isca de peixe com molho rosé e sempre havia confusão na hora de pagar a conta. No Asfarn, havia uma cadelinha chamada Nuvem, adotada como mascote pela turma.
Na eleição de 1976 – se não me engano – nos juntamos todos num mutirão para eleger Sérgio Dieb nosso vereador, o que fizemos, e era uma graça ver Serginho usando paletó e gravata, dizendo "Vossa Excelência podes crer..."
Eram dias e noites de muita criação. Poesia, literatura, teatro, música, cada um naquilo que sabia fazer. Tudo isso ao som de Belchior ("Eu sou apenas um rapaz..."), Fagner ("Ave noturna"), Ellis Regina ("Como nossos pais"), João Bosco ("Transversal do tempo"), Gonzaguinha ("Doidivanas"), Milton Nascimento ("Paula e Bebeto") e Chico Buarque ("Meus caros amigos"). Bebíamos qualquer coisa que contivesse álcool e os nossos vestidos eram bordados de lantejoulas. Os rapazes (com exceção dos que faziam política) usavam camisas floridas e cabelos enormes e passávamos a noite de bar em bar. Às vezes, a violência da ditadura descia o seu punho selvagem sobre nós, e os tiras entravam nos bares, ameaçavam todo mundo, derramavam no chão o conteúdo de nossas bolsas. Mas na maioria das noites tudo era curtição na República Independente da Praia dos Artistas onde amanhecíamos o dia e muitas vezes subíamos direto para a Faculdade, onde tentávamos assistir às aulas, mortinhos de sono.
Daquele núcleo de gente maluca surgiu a Banda Gália, que revolucionou o Carnaval de rua na cidade e que também fez história, em época posterior.
Mas o movimento da vida é esse mesmo, e como diz João Bosco na música memorável não podemos ficar "parados dentro dum táxi, numa transversal do tempo". Mudamos, evoluímos, crescemos, ficamos mais velhos e hoje somos empresários, profissionais liberais, políticos e, é claro, artistas. Alguns já se foram: Sergio Dieb, Chico Miséria, André de Mello Lima, Malu Aguiar...
Não podemos mais viver aquela época, que pertence ao passado. O que dá tristeza é ver aquele belo pedaço de praia, que foi palco de um momento de intensa efervescência cultural para a cidade entregue ao abandono e ao descaso. No nome da praia – Artistas – está a sua vocação e seu destino. Talvez com um centro de Artes e um pequeno espaço para shows e espetáculos de teatro – um teatro de bolso, com uns 100 lugares – a Praia dos Artistas poderia ser conduzida de volta ao seu clima original. Fica o recado para os donos do poder e do dinheiro que, quando querem, podem e pagam.
Extraído do texto de Clotilde Tavares
"VIAJANDO O SERTÃO (II)"
"Até Santa Cruz rodamos sobre areia úmida e quase silenciosa. Oscar Guedes, inspetor do serviço de plantas têxteis, arriscava idéias sobre campos experimentais. O outro companheiro era Alcides Franco, chefe de serviço, um técnico de renome, com cursos especiais nos Estados Unidos e Inglaterra , saudoso da vida universitária e contando story deliciosas. Anfiloquio, junto ao motorista, só falava para desmentir quem o julgava cochilando." [companheiros de viagem]
"Serro Corá é uma surpresa. Povoado claro, com instalações elétricas, escola, capela, comércio, residências amplas e com um ar leve e frio que lembra Teresópoles, encantou-nos."
"O Ford dança no piso irregular. São Romão passa vagaroso como uma amostra de trabalho raciocinado e tranqüilo. A usina domina a eminência. Parece uma vila operária, azafamada e trepidante."
"Duma colina, bruscamente, aparece Angicos, um Angicos duplicado, espalhando uma casario numa área infinitamente maior que há dez anos passados. Prédios novos, estradas (...), caminhões pesados de algodão dizem índices de produção radicada.
O interventor visita o Grupo Escolar. Eu fico olhando as calçadas cheias de povo que afirma a impossibilidade de transpor o rio Assú, trasbordante e seu aliado, o Paraú, de barreira a barreira."
[Percurso – Santa Cruz – Cabeço Branco – Serro Corá – São Romão – Angicos.]
"Duas canoas oscilam como pêndulos no dorso trêmulo daquela água viva. Anfiloquio pergunta se tenho seguro de vida. Respondo que tenho a vida segura na confiança de Deus. (...) Apesar de contar algumas coragens, para que não confessar, estou com medo. Medo de molhar-me que, algumas vezes, é pior que morrer."
Assina desta forma:
L. da C. C.
Ao lado da segunda crônica de Câmara Cascudo da série "Viajando o Sertão", o jornal publica uma reportagem intitulada "A excursão do Interventor ao Interior do Estado".
"Partindo de Natal no dia 16 de maio (...), o interventor Federal [Mário Camara], que se fazia acompanhar dos drs. Anfiloquio Camara, diretor geral do departamento de Educação, Antônio Soares Júnior, Prefeito de Mossoró, Alcides Franco, chefe da segunda seção técnica do Serviço de Plantas Têxteis, Oscar Guedes, inspetor do mesmo Serviço e Camara Cascudo, chegou a Santa Cruz."
A reportagem descreve a trajetória do interventor Federal pelas cidades do interior do Rio Grande do Norte, as homenagens prestadas a ele, almoços, jantares, as recepções e condecorações. É interessante contrastar essa versão oficial da viagem com as crônicas escritas por Cascudo. Tanto a crônica quanto a reportagem relatam a viagem para o Sertão, mas com perspectivas diferenciadas; são olhares que se direcionam para paisagens distintas.
Na minha opinião, importam menos a Cascudo, e isto, fica claro em seu relato, as homenagens, o caráter político da ida ao Sertão e mais a preocupação em descrever o cotidiano das cidades, a gente simples e anônima.
Cascudo transita tanto no espaço oficial, âmbito da política e da notoriedade (cargos importantes, amizades influentes etc.), quanto no espaço anônimo onde reside o popular (conversas, estórias, casos, etc.).
Cascudo aparece na versão oficial discursando:
"Concedida a palavra, o Dr. Dario de Andrade pediu que o Dr. Câmara Cascudo, filho do município [Paraú] , falasse. (...), falou o Dr. Câmara Cascudo aceitando o título de saudar a velha terra de seus pais e avós. Falou sobre a função das escolas e a saudade de seus dias de menino decorridos naquela terra, sob a benção carinhosa daquela bondade que novamente o recebia e agasalhava. A grande assistência aplaudiu longamente o orador.(...)"
03/06/1934
"Serro Corá é uma surpresa. Povoado claro, com instalações elétricas, escola, capela, comércio, residências amplas e com um ar leve e frio que lembra Teresópoles, encantou-nos."
"O Ford dança no piso irregular. São Romão passa vagaroso como uma amostra de trabalho raciocinado e tranqüilo. A usina domina a eminência. Parece uma vila operária, azafamada e trepidante."
"Duma colina, bruscamente, aparece Angicos, um Angicos duplicado, espalhando uma casario numa área infinitamente maior que há dez anos passados. Prédios novos, estradas (...), caminhões pesados de algodão dizem índices de produção radicada.
O interventor visita o Grupo Escolar. Eu fico olhando as calçadas cheias de povo que afirma a impossibilidade de transpor o rio Assú, trasbordante e seu aliado, o Paraú, de barreira a barreira."
[Percurso – Santa Cruz – Cabeço Branco – Serro Corá – São Romão – Angicos.]
"Duas canoas oscilam como pêndulos no dorso trêmulo daquela água viva. Anfiloquio pergunta se tenho seguro de vida. Respondo que tenho a vida segura na confiança de Deus. (...) Apesar de contar algumas coragens, para que não confessar, estou com medo. Medo de molhar-me que, algumas vezes, é pior que morrer."
Assina desta forma:
L. da C. C.
Ao lado da segunda crônica de Câmara Cascudo da série "Viajando o Sertão", o jornal publica uma reportagem intitulada "A excursão do Interventor ao Interior do Estado".
"Partindo de Natal no dia 16 de maio (...), o interventor Federal [Mário Camara], que se fazia acompanhar dos drs. Anfiloquio Camara, diretor geral do departamento de Educação, Antônio Soares Júnior, Prefeito de Mossoró, Alcides Franco, chefe da segunda seção técnica do Serviço de Plantas Têxteis, Oscar Guedes, inspetor do mesmo Serviço e Camara Cascudo, chegou a Santa Cruz."
A reportagem descreve a trajetória do interventor Federal pelas cidades do interior do Rio Grande do Norte, as homenagens prestadas a ele, almoços, jantares, as recepções e condecorações. É interessante contrastar essa versão oficial da viagem com as crônicas escritas por Cascudo. Tanto a crônica quanto a reportagem relatam a viagem para o Sertão, mas com perspectivas diferenciadas; são olhares que se direcionam para paisagens distintas.
Na minha opinião, importam menos a Cascudo, e isto, fica claro em seu relato, as homenagens, o caráter político da ida ao Sertão e mais a preocupação em descrever o cotidiano das cidades, a gente simples e anônima.
Cascudo transita tanto no espaço oficial, âmbito da política e da notoriedade (cargos importantes, amizades influentes etc.), quanto no espaço anônimo onde reside o popular (conversas, estórias, casos, etc.).
Cascudo aparece na versão oficial discursando:
"Concedida a palavra, o Dr. Dario de Andrade pediu que o Dr. Câmara Cascudo, filho do município [Paraú] , falasse. (...), falou o Dr. Câmara Cascudo aceitando o título de saudar a velha terra de seus pais e avós. Falou sobre a função das escolas e a saudade de seus dias de menino decorridos naquela terra, sob a benção carinhosa daquela bondade que novamente o recebia e agasalhava. A grande assistência aplaudiu longamente o orador.(...)"
03/06/1934
PREFEITO DE ASSU, IVAN JUNIOR ANUNCIA QUE SEGUNDO VOTO DO SENADO É DE AGRIPINO
Domingo amanheceu gordo para o senador José Agripino. Numa reunião agora há pouco na casa da governadorável Rosalba Ciarlini, o prefeito de Assu, Ivan Júnior, definiu seu segundo voto para o Senado: será do senador José Agripino. Ivan foi ao apartamento da Rosa, em Natal, onde estavam Agripino e o deputado-vice Robinson Faria. O primeiro voto de Ivan Júnior já estava definido para o senador Garibaldi Filho. Anteontem Ivan Júnior saiu de Assu para encontrar com a ex-governadora Wilma de Faria, exatamente para tratar sobre segundo voto para o Senado.
Do Blog de Thaisa Galvão
Do Blog de Thaisa Galvão
EM ASSU CARLOS EDUARDO DIZ QUE O PRESIDENTE LULA VEM AO RN E SUBIRÁ NO SEU PALANQUE
Em entrevista à imprensa na cidade de Assú, neste sábado(1º), o pré-candidato a governador pelo PDT, Carlos Eduardo, afirmou que a prioridade do PDT é fazer coligação com partidos que integram a base do presidente Lula no Rio Grande do Norte.
"Até junho, quando ocorrerão as convenções, nós estaremos conversando. Mas a prioridade será para os partidos da base aliada do presidente Lula", disse Carlos Eduardo.
O pré-candidato ao Governo revelou ter recebido a informação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, de que o presidente Lula virá ao Rio Grande do Norte durante a campanha para subir em seu palanque.
"Como prefeito, fui um grande parceiro do Governo Lula e conseguimos projetos importantes para Natal", lembrou Carlos Eduardo.
Ainda durante entrevista à imprensa de Assú, o líder pedetista respondeu que o quadro eleitoral para o PDT é animador e que ele está confiante de que atingirá a liderança durante a campanha.
"O que eu sei dessas pesquisas é que 70% do eleitorado do Rio Grande do Norte ainda não sabe em quem vai votar. Então, eu estou viajando pelo interior e tenho sido muito bem recebido, o que é bom", enfatizou Carlos Eduardo.
Postado por Oliveira Wanderley
"Até junho, quando ocorrerão as convenções, nós estaremos conversando. Mas a prioridade será para os partidos da base aliada do presidente Lula", disse Carlos Eduardo.
O pré-candidato ao Governo revelou ter recebido a informação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, de que o presidente Lula virá ao Rio Grande do Norte durante a campanha para subir em seu palanque.
"Como prefeito, fui um grande parceiro do Governo Lula e conseguimos projetos importantes para Natal", lembrou Carlos Eduardo.
Ainda durante entrevista à imprensa de Assú, o líder pedetista respondeu que o quadro eleitoral para o PDT é animador e que ele está confiante de que atingirá a liderança durante a campanha.
"O que eu sei dessas pesquisas é que 70% do eleitorado do Rio Grande do Norte ainda não sabe em quem vai votar. Então, eu estou viajando pelo interior e tenho sido muito bem recebido, o que é bom", enfatizou Carlos Eduardo.
Postado por Oliveira Wanderley
sexta-feira, 30 de abril de 2010
EXECUTIVO PODE EMITIR ORDEM DE SERVIÇO PARA CALÇAMENTO NO FELIZ ASSÚ NA PRÓXIMA SEMANA
Por todo o decorrer da próxima semana a prefeitura do Assú poderá publicar a Ordem de Serviço referente à execução de obras de pavimentação a paralelepípedos em varas artérias públicas do conjunto Feliz Assú Pra Você. De acordo com informação do secretário municipal de Planejamento e coordenação de Infra-estrutura, Antonio Virgílio Ferreira Machado, desde o ano passado o poder Executivo aguarda pelo desfecho judicial de um contencioso envolvendo duas empresas que participaram da licitação com referência ao empreendimento.
Ele registrou que durante todo este tempo a prefeitura aguardou unicamente pela manifestação do poder Judiciário com referência ao litígio envolvendo as empresas licitantes para que possa iniciar uma agenda de obras de pavimentação compreendendo o Conjunto Feliz Assú Pra Você. O secretário municipal declarou que da parte do poder público está tudo pronto para começar as obras já determinadas dentro do planejamento ordenado pelo prefeito Ivan Lopes Júnior. “O prefeito é ciente da carência de calçamento naquele trecho urbano e sabe que esta é uma velha reivindicação dos habitantes”, frisou.
“A preocupação do prefeito Ivan Júnior é no sentido de que haja uma definição imediata em torno deste problema e a administração possa dar andamento ao itinerário de obras de calçamento no Feliz Assú Pra Você”, registrou o secretário. Para esse investimento a prefeitura disporá de um aporte financeiro de R$ 311 mil. As artérias que serão dotadas de pavimentação a paralelepípedos no Conjunto Feliz Assú Pra Você são: Rua Prefeito Walter de Sá Leitão, Travessa Prefeito Walter de Sá Leitão, Travessa Nova Esperança, Travessa Linda Flor e Travessa João Batista Lacerda Montenegro.
Investimento será feito por intermédio de parceria com a União
O projeto será executado em parceria com o governo federal, por intermédio do programa Pró-Municípios, do Ministério das Cidades. Serão R$ 295.300,00 transferidos através da Caixa Econômica Federal e outros R$ 15.700,00 relativos à contrapartida do município. O titular da pasta municipal de Obras enfatizou que o interesse do prefeito é na execução do calçamento do conjunto residencial. O secretário municipal de Planejamento e Coordenação de Infra-estrutura informou que a determinação do prefeito foi no sentido de incluir no organograma de pavimentação todas as ruas e travessas não-calçadas do município.
Postado por Nelson Dantas às 15:44 0 comentários
Ele registrou que durante todo este tempo a prefeitura aguardou unicamente pela manifestação do poder Judiciário com referência ao litígio envolvendo as empresas licitantes para que possa iniciar uma agenda de obras de pavimentação compreendendo o Conjunto Feliz Assú Pra Você. O secretário municipal declarou que da parte do poder público está tudo pronto para começar as obras já determinadas dentro do planejamento ordenado pelo prefeito Ivan Lopes Júnior. “O prefeito é ciente da carência de calçamento naquele trecho urbano e sabe que esta é uma velha reivindicação dos habitantes”, frisou.
“A preocupação do prefeito Ivan Júnior é no sentido de que haja uma definição imediata em torno deste problema e a administração possa dar andamento ao itinerário de obras de calçamento no Feliz Assú Pra Você”, registrou o secretário. Para esse investimento a prefeitura disporá de um aporte financeiro de R$ 311 mil. As artérias que serão dotadas de pavimentação a paralelepípedos no Conjunto Feliz Assú Pra Você são: Rua Prefeito Walter de Sá Leitão, Travessa Prefeito Walter de Sá Leitão, Travessa Nova Esperança, Travessa Linda Flor e Travessa João Batista Lacerda Montenegro.
Investimento será feito por intermédio de parceria com a União
O projeto será executado em parceria com o governo federal, por intermédio do programa Pró-Municípios, do Ministério das Cidades. Serão R$ 295.300,00 transferidos através da Caixa Econômica Federal e outros R$ 15.700,00 relativos à contrapartida do município. O titular da pasta municipal de Obras enfatizou que o interesse do prefeito é na execução do calçamento do conjunto residencial. O secretário municipal de Planejamento e Coordenação de Infra-estrutura informou que a determinação do prefeito foi no sentido de incluir no organograma de pavimentação todas as ruas e travessas não-calçadas do município.
Postado por Nelson Dantas às 15:44 0 comentários
'VIAJANDO O SERTÃO"
CÂMARA CASCUDO, Luis da. Viajando o Sertão . 3ª ed. Natal: Fundação José Augusto - CERN, 1984; por Mirella Farias
• Ementa:
"Viajando o Sertão" foi publicado em 1934 no formato de livro e também como uma série de crônicas no jornal "A República" de 31/05 a 22/07 de 1934. Precederam a primeira edição mais duas, uma em 1975 e outra, em 1984, decorrente da "I Semana de Estudos Cascudianos", promovida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Livro composto por dezoito crônicas, que narram a viagem realizada por Luis da Câmara Cascudo, no período de 16 a 29 de maio de 1934, ao interior do Estado do Rio Grande do Norte. Cascudo faz esta viagem a convite do Interventor Federal Mário Câmara e ingressa na comitiva oficial composta por mais outras quatro personalidades ligadas a Educação, a Agricultura e Açudagem; Anfilóquio Câmara (Diretor geral do departamento de Educação), Antônio Soares Júnior (Prefeito de Mossoró), Alcides Franco (Chefe da segunda seção técnica do Serviço de Plantas Têxteis) e Oscar Guedes (inspetor do mesmo Serviço). Em 1934, Luis da Câmara Cascudo, ocupava o cargo de Chefe Provincial do Integralismo.
Segundo uma nota presente na edição de 1975, escrita por M. Rodrigues de Melo, o fato de Câmara Cascudo ser um integrante da comitiva oficial do Interventor Federal Mário Câmara, acabou por suscitar uma grande polêmica. A ala revolucionária do Integralismo não gostou nem um pouco, assim como, o grupo político que tinha por chefe o Deputado José Augusto Bezerra de Medeiros, segundo a nota, um "político apeado do poder pela revolução de 1930 julgando-se herdeiro natural da política do Seridó" e que por isto, não queria que "lhe escapassem as rédeas e a liderança da política do Estado." O Deputado levou publicamente a acusação de suborno (27 de abril de 1934), afirmando, que Luis da Câmara Cascudo teria recebido o " ‘pagamento de quatro contos e tantos mil réis’ " do governo do Estado, transformando-se em "orador das caravanas interventoriais". A nota apresenta a transcrição da acusação e da defesa.
Cascudo defende-se da acusação afirmando:
"(...) Tenho feito vários discursos em presença de chefes locais do Partido Popular e Povo, e desafio, de maneira formal, que qualquer um desses senhores afirme, sob sua assinatura, que me ouviu abordar qualquer tema que se referisse ao momento político atual. Se o tivesse feito, assumiria absolutamente toda e completa responsabilidade.
Chefe Provincial Integralista, miliciano convicto, considero os Partidos Políticos meras fórmulas desacreditadas e incapazes de uma renovação social. Não pertenço a nenhuma agremiação partidária e mantenho relações íntimas com vários próceres que não ignoram a retidão de minha atitude assumida publicamente a 14 de julho de 1933.
Aos ‘camisas – verdes’ de minha Província não dou explicações, porque eles me conhecem de perto. Aos políticos é desnecessária qualquer justificação em contrário às suas afirmações, porque ‘política é isso mesmo.’ (Ver "A República" de 04. 09. 1934.)"
31/05/34
"Viajando o Sertão (I)"
"Viajamos, da madrugada de 16 à manhã de 29 de maio, 1307 quilômetros: 837 de automóvel, 40 de auto-de-linha, 38 de trem, 30 de canoa, 2 de rebocador e 360 de hidroavião.
Esse cômputo é a expressão oficial e sisuda, mas não corresponde inteiramente à verdade. Andamos a pé, de cadeirinha, de macaquinho, dentro d’água, na lama (...), saltando de pau em pau (...), carregando maletas, levando companheiros no ombro, livrando os xiquexiques, galopando a cavalo, apostando velocidade nas retas areientas enquanto o Ford empacava, atolado."
"Falta anotar a fome, o frio das roupas molhadas, a fadiga das caminhadas, a mania obsequiosa do sertanejo oferecer-nos galinha e macarrão em vez de carne-de-sol e coalhada. Tudo se compensava, quando chegávamos aos povoados, às vilas e cidades embandeiradas e cheias de povo, assombrados com a ousadia dos ‘pracianos’."
"Minha curiosidade acendia-se ao contato dos temas prediletos. Os portões dos cemitérios, todos guardando reminiscências do barroco jesuítico (...); a jornada pelo rio Mossoró, noitinha, numa canoa balouçante, ao palor dum luar hesitante (...), vinte outros assuntos, perdem espaço para registo e saudade."
"(...) tipos, anedotas, casos, observações (...) a incrível espirituosidade das respostas sertanejas, são dignos de maior demora numa leve e breve série de registos."
[Termina afirmando]
"Por mim, não escreveria nada. Creio que não interessaria a ninguém saber se gostei ou não das terras que visitei. Mas pedidos foram muitos e em várias localidades. Acabei prometendo e as promessas, digam lá o que disserem, cumprem-se ..."
Assina desta forma:
L. da C. C.
02/06/1934
• Ementa:
"Viajando o Sertão" foi publicado em 1934 no formato de livro e também como uma série de crônicas no jornal "A República" de 31/05 a 22/07 de 1934. Precederam a primeira edição mais duas, uma em 1975 e outra, em 1984, decorrente da "I Semana de Estudos Cascudianos", promovida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Livro composto por dezoito crônicas, que narram a viagem realizada por Luis da Câmara Cascudo, no período de 16 a 29 de maio de 1934, ao interior do Estado do Rio Grande do Norte. Cascudo faz esta viagem a convite do Interventor Federal Mário Câmara e ingressa na comitiva oficial composta por mais outras quatro personalidades ligadas a Educação, a Agricultura e Açudagem; Anfilóquio Câmara (Diretor geral do departamento de Educação), Antônio Soares Júnior (Prefeito de Mossoró), Alcides Franco (Chefe da segunda seção técnica do Serviço de Plantas Têxteis) e Oscar Guedes (inspetor do mesmo Serviço). Em 1934, Luis da Câmara Cascudo, ocupava o cargo de Chefe Provincial do Integralismo.
Segundo uma nota presente na edição de 1975, escrita por M. Rodrigues de Melo, o fato de Câmara Cascudo ser um integrante da comitiva oficial do Interventor Federal Mário Câmara, acabou por suscitar uma grande polêmica. A ala revolucionária do Integralismo não gostou nem um pouco, assim como, o grupo político que tinha por chefe o Deputado José Augusto Bezerra de Medeiros, segundo a nota, um "político apeado do poder pela revolução de 1930 julgando-se herdeiro natural da política do Seridó" e que por isto, não queria que "lhe escapassem as rédeas e a liderança da política do Estado." O Deputado levou publicamente a acusação de suborno (27 de abril de 1934), afirmando, que Luis da Câmara Cascudo teria recebido o " ‘pagamento de quatro contos e tantos mil réis’ " do governo do Estado, transformando-se em "orador das caravanas interventoriais". A nota apresenta a transcrição da acusação e da defesa.
Cascudo defende-se da acusação afirmando:
"(...) Tenho feito vários discursos em presença de chefes locais do Partido Popular e Povo, e desafio, de maneira formal, que qualquer um desses senhores afirme, sob sua assinatura, que me ouviu abordar qualquer tema que se referisse ao momento político atual. Se o tivesse feito, assumiria absolutamente toda e completa responsabilidade.
Chefe Provincial Integralista, miliciano convicto, considero os Partidos Políticos meras fórmulas desacreditadas e incapazes de uma renovação social. Não pertenço a nenhuma agremiação partidária e mantenho relações íntimas com vários próceres que não ignoram a retidão de minha atitude assumida publicamente a 14 de julho de 1933.
Aos ‘camisas – verdes’ de minha Província não dou explicações, porque eles me conhecem de perto. Aos políticos é desnecessária qualquer justificação em contrário às suas afirmações, porque ‘política é isso mesmo.’ (Ver "A República" de 04. 09. 1934.)"
31/05/34
"Viajando o Sertão (I)"
"Viajamos, da madrugada de 16 à manhã de 29 de maio, 1307 quilômetros: 837 de automóvel, 40 de auto-de-linha, 38 de trem, 30 de canoa, 2 de rebocador e 360 de hidroavião.
Esse cômputo é a expressão oficial e sisuda, mas não corresponde inteiramente à verdade. Andamos a pé, de cadeirinha, de macaquinho, dentro d’água, na lama (...), saltando de pau em pau (...), carregando maletas, levando companheiros no ombro, livrando os xiquexiques, galopando a cavalo, apostando velocidade nas retas areientas enquanto o Ford empacava, atolado."
"Falta anotar a fome, o frio das roupas molhadas, a fadiga das caminhadas, a mania obsequiosa do sertanejo oferecer-nos galinha e macarrão em vez de carne-de-sol e coalhada. Tudo se compensava, quando chegávamos aos povoados, às vilas e cidades embandeiradas e cheias de povo, assombrados com a ousadia dos ‘pracianos’."
"Minha curiosidade acendia-se ao contato dos temas prediletos. Os portões dos cemitérios, todos guardando reminiscências do barroco jesuítico (...); a jornada pelo rio Mossoró, noitinha, numa canoa balouçante, ao palor dum luar hesitante (...), vinte outros assuntos, perdem espaço para registo e saudade."
"(...) tipos, anedotas, casos, observações (...) a incrível espirituosidade das respostas sertanejas, são dignos de maior demora numa leve e breve série de registos."
[Termina afirmando]
"Por mim, não escreveria nada. Creio que não interessaria a ninguém saber se gostei ou não das terras que visitei. Mas pedidos foram muitos e em várias localidades. Acabei prometendo e as promessas, digam lá o que disserem, cumprem-se ..."
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L. da C. C.
02/06/1934
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