Yuno Silva - repórter
A máxima pode até afirmar que o “brasileiro tem memória curta!”, e para evitar um esquecimento generalizado não há nada melhor do que iniciativas que estão à frente de seu tempo, como a do poeta e jornalista Sanderson Negreiros. No início dos anos 1970, então presidente da Fundação José Augusto, Negreiros percebeu a necessidade de se registrar passagens históricas para conhecimento de futuras gerações quando esteve no Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro. Quando voltou à Natal, começou a criar um acervo que agora, após mais de quatro décadas, volta à tona através da Coleção Cultura Potiguar.
Aproveitando a deixa do Dia Na
joão maria alvesSanderson Negreiros: ideia nasceu de uma visita ao museu da imagem
cional da Poesia, o primeiro volume da Coleção, intitulado “Conversas de Poetas”, organizado pelo poeta e jornalista Adriano de Sousa, traz raridades que estavam guardadas nos arquivos do Centro de Documentação Cultural Eloy de Sousa como entrevistas com Zila Mamede e João Cabral de Melo Neto. O lançamento, que acontece nesta segunda-feira (14) no Teatro de Cultura Popular, faz parte da programação promovida pela FJA.
O material, organizado por Adriano, também reúne conversas inéditas com outros sete poetas potiguares: Dorian Gray Caldas, Nei Leandro de Castro, Fagundes de Menezes, Moacy Cirne, Homero Homem, José Bezerra Gomes e Jaime Wanderley. “São entrevistas longas e não foram transcritas literalmente, dei preferência às passagens de maior relevância”, disse Adriano, que assina a organização e edição do volume com Flávia Assaf. “É uma espécie de antologia, uma seleção de trechos de falas sobre a vida cultural da cidade, sobre as obras dos entrevistados... pincei os melhores momentos”, disse ele.
As gravações ficaram esquecidas por décadas, até o poeta e jornalista Sanderson Negreiros instigar a professora Isaura Rosado, então responsável pela Centro de Documentação, sobre essas relíquias. “Em 2005, recebi ligação de Sanderson dizendo que havia um ‘tesouro’ na FJA, e que eu precisa encontrar”, disse Isaura. Na época (início da década de 1970), Sanderson Negreiros era presidente da Fundação José Augusto e foi quem viabilizou as gravações.
“E era realmente um tesouro, constituído de gravações com poetas, prosadores, atores, músicos, empresários e estudiosos”, entusiasma-se a atual secretária de cultura. Na época, as entrevistas foram realizadas por nomes conhecidos da intelectualidade e do jornalismo local, como Tarcísio Gurgel, Franco Maria Jasiello, Racine Santos, Vicente Serejo, Rejane Cardoso, Newton Navarro e Carlos Lyra, sob a coordenação de Celso da Silveira.
Negreiros relembra projeto
Nos anos 1970, Negreiros contou que, na época, esteve no Rio de Janeiro em busca de novas ideias e ficou entusiasmado com o Museu da Imagem e do Som: “Trouxe essa experiência para Natal, mesmo sabendo que seria bem difícil criar um museu com esse perfil por aqui. Mesmo assim, convidei o professor Carlos Lyra (já falecido), que tinha um velho gravador, e começamos a entrevistas personalidades de todas as áreas”, lembra o escritor.
Uma das gravações que mais marcaram essa experiência de Negreiros, foi quando convenceu o poeta e diplomata pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) a conceder entrevista. “Ele (João Cabral) esteve em Natal a convite de Zila Mamede, que estava lançando um livro com pesquisa sobre sua obra, e era sabido que não era afeito a declarações na imprensa. Felizmente acabou dando tudo certo e conversamos longamente”, orgulha-se.
Como Sanderson Negreiros foi o primeiro diretor da TV Universitária - UFRN, e as entrevistas foram muito bem recebida, a iniciativa acabou servindo como ponto de partida para se criar o programa televisivo “Memória Viva”, até hoje no ar com apresentação do jornalista Tarcísio Gurgel. “Juntei tomé com bebé”, finaliza com bom humor.
Veja entrevista de joão cabral, na íntegra, na Edição on line
Coleção Patrimônio Potiguar
Além de Adriano de Sousa, que recebeu a missão de compilar nove das 51 entrevistas do acervo, ainda estão previstos os lançamentos de livros sobre música, organizado pelo pesquisador e escritor Cláudio Galvão, onde figuram nomes como Glorinha Oliveira, Oriano de Almeida, Sílvio Caldas e o Maestro Ricardo Cravo Albin, entre outros; sobre teatro, organizado por Maria Maria do Nascimento Bezerra, com depoimentos de Meira Pires, Procópio Ferreira e Raul Cortez; sobre prosa, sob a batuta da professora Isaura Rosado, que compilou entrevistas com Murilo Melo Filho, Walter Lima, João Fagundes, e Ffrancisco Augusto Caldas, entre outros; sobre memória, compilado por José Lacerda Alves Felipe, com entrevistas de Onofre Lopes, Theodorico Bezerra, Antônio Fagundes, entre outras; e sobre cultura popular e folclore, volume organizado por Francisco Alves e previsto para ser lançado em agosto durante a Semana do Folclore, com depoimentos de Ariano Suassuna, Zé Relampo (mamulengueiro), Câmara Cascudo, o palhaço Carequinha, o escritor Carlos Scliar, entre outros nomes não menos famosos.
Outros lançamentos
O Dia Nacional da Poesia é uma data propícia para se publicar novos títulos. Vários autores escolheram o período para lançar suas recentes obras. E não são apenas livros de poesia que chegam às prateleiras, a biografia do poeta Othoniel Menezes também está entre as novidades.
No evento programado pela Fundação José Augusto, que acontece no próprio dia 14 a partir das 18h no Teatro de Cultura Popular (TCP), além do livro “Conversas de Poetas”, o leitor irá conferir os versos de Maia Pinto, no livro “Noturno Quase Infinito”; e de Antônio Júnior em “Alma que Voa”. Ainda no TCP, temos a biografia “Príncipe Plebeu”, do escritor e pesquisador Cláudio Galvão. Apesar do livro sobre Othoniel ter sido publicado em 2010, só agora ele será oficialmente lançado: “Ainda faltava finalizar a gravação do CD que vem encartado no livro, com poemas declamados por Tarcísio Gurgel e outros musicados, com interpretação de Fernando Tovar, Senerino Monteiro e José de Almeida”, disse o pesquisador. “Haverá serenata com Tovar durante o lançamento”, adianta Galvão, cuja pesquisa partiu de duas fontes: o irmão de Othoniel (já falecido), que o autor havia guardado entrevista, e o filho Laélio Menezes. “Mas a maioria das informações consegui no Instituto Histórico e Geográfico do RN e em arquivos de jornais. Também pesquisei no Arquivo Público”, informou Cláudio Galvão, que fez questão de dizer que toda a renda sserá revertida para ajudar o Varela Santiago.
Completam a lista de lançamentos os independentes “Circo de Poesias”, de Weid Souza; “Conselhos pra Juventude”, de José Acaci; e “O Orvalho Áspero de Clarice Lispector”, de Mona Lisa Bezerra Teixeira.
(Tribuna do Norte)