Sem parar: Mariano Tavares volta à cena musical
Por Redação em 01/07/2012 às 16:30 - Gaseta do Oeste
Novo trabalho que será lançado no dia 5, às 22h, no Séletc Nouveau
FOTO: DIVULGAÇÃO
Mariano Tavares: de Rimbaud a Shakespeare
Mariano Tavares faz parte da nova geração
de músicos do Estado. Lançou seu primeiro trabalho com músicas autorais
e um estilo diferenciado. "O SoBrado" (2005) foi apenas o início da
carreira de Mariano Tavares. Agora, ele retorna com um novo CD,
intitulado "Sem Parar", que faz justiça à disposição do artista em
continuar produzindo um repertório ligado à poesia e à música folk.
Mariano
destaca que o título do novo trabalho foi inspirado da canção que abre o
disco, mas também se refere à relação que mantém com o palco e com a
canção, que, apesar dos aparentes hiatos, nunca se interrompe. Na
perspectiva do artista, involuntariamente o álbum Sem Parar acabou
resultando num grupo coeso de canções que, cada uma a seu modo, acabam
dialogando com a ideia de tempo, e se reportando "à continuidade de tudo
aquilo que não controlamos no mundo: a natureza, o sonho, o amor, o
acaso, a beleza, o futuro, a inocência, a morte; tudo aquilo que desliza
nos espaços da vida, continuamente, ininterruptamente, sem parar".
Para
ele, neste novo trabalho o objetivo é sempre o de conseguir alcançar
uma voz própria, que não remeta a influências, mas a um discurso musical
e poético próprio, autoral. "Por outro lado, nunca nos livramos daquilo
que nos formou ou forma-nos enquanto artistas, daquilo que lemos, vemos
ou ouvimos durante toda a vida. Influência é uma questão de observação e
assimilação não apenas de outros discursos artísticos, mas da própria
vida, da experiência. Para mim, em Sem Parar há uma presença clara do
folk e do country norte-americanos, que eu tenho ouvido muito nos
últimos tempos. Mas, até já me disseram que isso só fica claro para mim
mesmo. No mais, são as influências de sempre: a canção tradicional
brasileira, a música regional e o rock, diluídos nessa tentativa de
encontrar o próprio som, a própria voz", declara o artista.
Segundo
Mariano, de modo geral, o novo disco vem sendo muito bem avaliado e
recebendo excelentes críticas. "Para mim, um álbum nunca é uma simples
coletânea de peças avulsas, mas uma obra inteira, um grupo de canções
que representa as visões de um momento que o artista está vivendo.
Durante o processo de gravação, lembro que gostava de observar como ele
ia, aos poucos e quase involuntariamente, se convertendo numa obra
inteira e coesa. Comparando-o com O SoBrado, meu primeiro álbum, penso
também que Sem Parar é uma obra mais orgânica, com uma presença corpórea
mais clara, mais aparente e mais sensível. Vejo-o como uma evolução,
nesse sentido. Acho que ainda há muito o que esperar desse álbum,
estamos apenas começando, fazendo agora os primeiros shows e tentando
trilhar esse caminho movediço e cheio de incertezas que é o de
apresentar uma obra autoral inédita", salienta.
Avaliando o
cenário musical do Estado, o músico acredita que podemos estar vivendo
"o melhor momento da música popular no Estado, em termos de produção e
volume, sobretudo porque só vejo crescer nos artistas uma consciência em
relação à ideia de autoria. Creio que a construção da tal "identidade
local", ainda que eu não seja chegado a regionalismos extremados, passa
necessariamente por aí, pela composição, pela construção de um discurso
que nasça e dê frutos aqui, para depois trilhar outros caminhos.
Produz-se muito mais música no Rio Grande do Norte, tanto em termos de
quantidade quanto de qualidade, do que nas décadas anteriores. Estuda-se
mais e melhor também", explica, reforçando que em Mossoró essa
consciência ainda está engatinhando. "Vejo os músicos daqui ainda muito
presos à reprodução da obra de artistas consagrados. Isso os distancia
de um trabalho artístico mais profundo, e da construção de um discurso
próprio, autoral. Porém, a chegada do selo DoSol à cidade me parece ser
uma luz para isso tudo. Se eles conseguirem desenvolver aqui o mesmo
trabalho que vêm desenvolvendo em Natal há anos, vai ser uma evolução e
tanto", diz.
‘Pouquíssimas vezes me arrisquei a publicar versos’A
poesia sempre esteve presente nos trabalhos de Mariano Tavares. "A
literatura me acompanha em tudo, tanto no meu trabalho artístico e
acadêmico quanto na vida mesmo", explica. "Talvez ela me inspire muito
mais na forma de viver e de estar no mundo, moldando minha
sensibilidade, as vontades, o espírito. Claro que existem escritores
especiais, aqueles que vivi mais ou dos quais me aproximei mais,
sobretudo os poetas, que mais me interessam. Shakespeare, especialmente,
construiu a obra mais impressionante que conheço. Embora seja um lugar
comum dizer isso, não há como fugir desse feito. Além dele, releio
sobretudo Walt Whitman e Fernando Pessoa, que considero, cada um a seu
modo, os dois maiores poetas da literatura. Mas há tanta gente, e em
tantas línguas. Wilde, Rimbaud, Dylan Thomas, Sylvia Plath, Emily
Dickinson, Drummond, Lorca, é difícil citar", fala, sorrindo.
Porém,
apesar de toda a carga de leitura que pode "respingar" no trabalho,
Mariano procura uma voz própria. E, diferente de muitos de seu tempo,
dedica-se a compor poemas que estejam, já em sua gênese, ligados à
música. "Pouquíssimas vezes me arrisquei a publicar versos como poemas,
sem o suporte da canção. Digo isso no sentido tradicional: aquele que
concebe com sendo um poeta o sujeito que arquiteta versos sobre a página
em branco do livro. Acho mesmo que não sou um poeta. Mas a história da
literatura antiga está aí para provar que a canção e o poema são faces
de um mesmo truque, de uma mesma magia, de um mesmo poder", explica.
Para
ele, a forma como um texto ou uma canção nasce nunca é a mesma, a
inspiração e a vontade podem vir de qualquer lugar e a qualquer hora.
"Há canções que simplesmente 'chegam', como se estivessem prontas e
caíssem sobre você, vindas de algum lugar além do seu, enquanto outras
podem demorar meses para ficarem prontas, precisam de lapidação,
trabalho, transpiração. Muitas vezes nascem de um pensamento, de uma
vontade, de uma frase guardada, de uma exigência sua, ou do mundo",
complementa.
O DISCO
Baseando-se principalmente nas canções do
álbum, o show de lançamento do álbum reconstitui sua sonoridade ao
mesmo tempo universal e regional, contemporânea e tradicional, para
compor pequenas reflexões sobre o tempo do amor, do sonho, da natureza e
da morte.
A banda que acompanhará o cantor é formada por
músicos da cena potiguar que participaram diretamente da elaboração do
cd: o pianista e co-produtor do álbum, Humberto Luiz (teclado,
contrabaixo), e o guitarrista Alison Brazuka (violões, guitarra), além
do baterista Gustavo Almeida. Juntos, o trio forma a banda Brazuka Jazz,
que atua no cenário da música instrumental em todo o Brasil. Para o
show em Mossoró, Mariano contará também com a participação
especialíssima da cantora Renata Falcão.
Tendo como base
principal as canções do novo CD, no repertório do show Mariano Tavares
incluiu ainda a canção Idade de Ouro (poema do Francês Arthur Rimbaud
musicado pelo artista, inédita em disco), novas versões para algumas
canções de seu primeiro álbum (Dias de Espera, Disfarce e Carnaval),
além de releituras para clássicos de Raimundo Fagner, Los Hermanos e
Gilberto Gil.
Depois da apresentação em Mossoró, o show segue com apresentações já marcadas em Assu (07/07) e Natal (14/07).