quarta-feira, 12 de junho de 2024

Dix-huit, o revolucionário de 30 – Por Júlio Rosado

 

Dix-Huit, você sempre foi um bravo.
Desde as barrancas do rio São Francisco, nos idos de 1930, quando soldado revolucionário, enfrentava sob o comando de Agildo Barata, os jagunços de Horácio de Matos.
Guerreiro de mais alta estatura, cavando a picareta o seu próprio abrigo, era o último a repousar, dentre os da falange rebelde
.” Vingt-Un Rosado

O ano era 1930, o mês era outubro

O país mal havia saído do regime monárquico e ensaiava os primeiros passos de uma República. As estruturas antigas ainda não estavam totalmente superadas e o novo não se implantara de todo e por igual no território. Entre tantas outras contradições, persistia a existir as mazelas do coronelismo (com seus derivativos patrimonialismo, mandonismo e clientelismo).

Café com leite e a quebra da bolsa

Famílias tradicionais se mantinham no poder oligárquico regional e, a nível nacional, perdurava a política do ‘café com leite’, acomodando as elites de São Paulo e Minas Gerais no comando do poder central. Todos se ressentiam dos efeitos da quebra da bolsa de Nova York – EUA, que afetaria os bancos e a economia mundial, provocando a crise de 1929. O Brasil, dependente das comodities agrícolas, via se acumularem os prejuízos dos produtores cafeeiros e a grande depressão da América do Norte afetar a vida de nossos trabalhadores.

Um presidente estradeiro

Washington Luís, paulista eleito Presidente da República em 1926, lembrado pela frase ‘governar é abrir estradas’, rompeu o acordo tácito que deveria indicar, a sua sucessão, um político vinculado ao Estado de Minas Gerais. O ‘estradeiro’ resolvera designar Júlio Prestes como seu candidato presidencial, tendo Vital Soares, do Estado da Bahia, como vice.

A Aliança Liberal

Os humores nacionais já não eram mais os mesmos. Os governantes dos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba negam apoio ao candidato Júlio Prestes, da situação, e encontram no gaúcho Getúlio Dornelles Vargas (que fora Ministro da Fazenda de Washington Luís) o perfil ideal para formar uma chapa de oposição ao governo, contando com o paraibano João Pessoa como seu vice. Respaldado por setores de oposição de outros Estados e do movimento tenentista, estava formada a Aliança liberal.

A vitória de Júlio Prestes

Mesmo com reações, a candidatura de Júlio Prestes sagrou-se vitoriosa nas eleições de 1º de março, com apurações concluídas em 21 de maio de 1930. Somando-se ao governo central, dezessete governantes estaduais mobilizaram toda a estrutura de seus governos para garantir a eleição de Júlio Prestes.

O acaso na política

Os vencidos mal haviam digerido a derrota eleitoral quando, em 26 de julho, o acaso acende o estopim da Revolução de 30: em uma confeitaria de Recife, o paraibano João Pessoa, que fora candidato a vice de Getúlio, é assassinado por João Dantas, um adversário político regional ressentido e com motivações pessoais.
Este era um fato novo. Não demoraria a surgir a ideia de que o assassinato de João Pessoa fora encomendado. Os próximos dias apenas serviriam para dar o tempo de fermentar as conspirações até que, em 3 de outubro, estoura a Revolução que impediria a posse de Júlio Prestes e levaria Getúlio Vargas ao poder.

O nordeste descrito nos romances

O nordeste brasileiro que, no período monárquico, criou riquezas com o plantio de cana de açúcar, assistia as mudanças no cenário nacional como participante ativo. Ainda que pouco perceptível, formava-se um novo extrato social composto por profissionais de diversas áreas de ocupação e intelectuais.
Como fosse o enredo de um livro de Jorge Amado, surgia uma elite social mais próxima do povo, com interesses que não dependia dos latifúndios e que estava representada em variados setores profissionais: médicos, farmacêuticos e jornalistas, entre outros.
Este cenário urbano nos leva a lembrar da personagem fictícia de Mundinho Falcão, exportador que chega à região de Ilhéus com a mentalidade aberta para as mudanças que viriam com o novo momento e se vê a enfrentar os coronéis cacaueiros que baseiam seu poder e autoridade na propriedade de terras, reagindo a qualquer possibilidade de progresso.
Após submeter os coronéis, Mundinho Falcão, inevitavelmente, iria galgar economicamente e se projetar politicamente. Este cenário retratado na obra ‘Gabriela, cravo e canela’ sintetiza o Brasil daquela época.

Mossoró é de vanguarda

Mossoró sempre teve o perfil de uma sociedade pioneira, rebelde, que não se verga. Aqui, Ana Floriano desafiou o império com o seu motim, pessoas escravizadas foram libertas anos antes da abolição proclamada pela Princesa Regente e os que se evadiam de outras regiões para cá acorriam em busca de abrigo, a terra de Santa luzia enfrentou os cangaceiros de Virgulino Ferreira e, também, registrou o primeiro voto feminino em uma eleição.
O chão de Mossoró era um centro comercial regional. Atraia comerciantes e industriais, nacionais e estrangeiros, assim como profissionais liberais e produtores. A tudo isso, soma-se a formação de uma elite intelectual comprometida em pensar e construir um mundo onde todos possam usufruir dos benefícios gerados pela coletividade.

A formação universitária

De acordo com a estrutura da época, os estudantes locais que pretendessem concluir formação em um curso superior teriam que se deslocar para as capitais do nordeste. Se o curso desejado fosse medicina, o indicado seria ir para Recife ou Salvador.
Conforme Genário Freire de Medeiros diz, em sua saudação a Dix-Huit Rosado, durante solenidade da Loja Maçônica 24 de junho, este fora incentivado pelo irmão, Tércio Rosado (provavelmente por já estar estabelecido e conhecer a capital pernambucana e suas nuances), a prestar exame vestibular para o curso de medicina em Recife.

A decisão de se alistar

Sob as atenções de Tércio Rosado, Dix-Huit prosseguia os estudos até o momento em que os instintos de rebeldia da juventude são instigados. Com os rumores de revolução e as convicções de que deveria se somar ao Comando de Juarez Távora, na Paraíba, sob ordens imediatas de Agildo Barata, Dix-Huit Rosado deixa a seguinte mensagem para o irmão mais velho:

Tércio,
Me alistei na coluna revolucionária, talvez siga para Alagoas, não lhe disse porque você poderia não querer que eu fosse.
Adeus,
Dix-Huit.
Recife, 8 de outubro de 1930
,”

Um bilhete que, apesar de conter poucas palavras, traz um discurso dos mais eloquentes. Note-se que, ao se despedir do irmão, Dix-Huit não faz referência a seu esperado retorno, mas concentra suas emoções no lacônico ‘Adeus’ ao fim da mensagem, externando o compromisso com a causa, ciente dos riscos que correria e suas possíveis consequências.

Sangue do Nordeste

A Tércio, vinte anos mais velho, coube informar a seus pais, Jeronymo e Isaura, a decisão do jovem revolucionário. Porém não ficaria estático. Tércio Rosado pregava na imprensa e nas instituições reforçando o apoio aos ideais revolucionários. E, em ação prática, ainda se ofereceu para atuar, na condição de farmacêutico e professor da faculdade de medicina de Recife para atuar no Hospital Militar, tendo recebido da 7ª Região Militar a recomendação de aguardar oportunidade.
Tércio alimentava a imprensa com artigos e notícias em geral. Contudo, foi uma mensagem de Isaura Rosado, sua mãe, reproduzida nas páginas de vários periódicos, em especial no Diário de Pernambuco de 14 de outubro de 1930, demonstrando a determinação de uma mulher forte e mãe confiante que seria a maior expressão de apoio ao movimento:

SANGUE DO NORDESTE
O professor Tércio Rosado, recebeu de sua respeitável progenitora d. Isaura Rosado, residente em Mossoró, o seguinte telegrama em resposta ao em que lhe communicara haver partido para o sul como soldado seu irmão Jeronymo Dix-huit Rosado, acadêmico de medicina:
‘MOSSORÓ, 13 – Com enthusiasmo, abençôo o meu filho na marcha feliz da redempção. Meus filhos são para o Brasil. (a) Isaura Rosado’
.”

Em 24 de outubro de 1930, Washington Luís foi deposto e, em 3 de novembro, Getúlio Vargas assumiu o governo federal.
O jovem Dix-Huit retorna, vitorioso, para concluir o curso de medicina (o que ocorreria na Bahia, em 1935) e, com o passar do tempo, inscrever seu nome, com honradez, na história da política e da administração pública nacional.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Acabou-se comigo a adorada.
A que amei, que busquei, agora vejo
Pobre d’ela , tão pobre, transformada...
Como um resto de amor neste meu beijo.
(João Lins Caldas, poeta potiguar do Assu. Poema transcrito da Revista Souza Cruz, RJ, 1924).







 Assu Antigo

TAPAR O BURACO
Do livro (de minha autoria), imagem abaixo, transcrevo: junot Araújo dos Santos foi vice-prefeito do Assu eleito na chapa encabeçada por Lourinaldo Soares, nas eleições municipais de 1992, em Açu. Junot prometeu na campanha a uma senhora, uma cirurgia de períneo. A operação seria feita pelo seu pai dr. Nelson, logo após as eleições. Pois bem. Certo dia, a eleitora procurou o vice-prefeito com outra conversa: “Junot, no lugar da cirurgia me arranje cinco sacos de cimento”. Fátima, sua esposa, escutando a conversa e a exploração da eleitora, saiu-se com essa: “Essa égua quer agora tapar o ‘buraco’ com cimento!”.
(Clique na imagem)

Fernando Caldas)
(Fernando Caldas)R O BURACODo livro (de minha autoria), imagem abaixo, transcrevo: junot Araújo dos Santos foi vice-prefeito do Assu eleito na chapa encabeçada por Lourinaldo Soares, nas eleições municipais de 1992, em Açu. Junot prometeu na campanha a uma senhora, uma cirurgia de períneo. A operação seria feita pelo seu pai dr. Nelson, logo após as eleições. Pois bem. Certo dia, a eleitora procurou o vice-prefeito com outra conversa: “Junot, no lugar da cirurgia me arranje cinco sacos de cimento”. Fátima, sua esposa, escutando a conversa e a exploração da eleitora, saiu-se com essa: “Essa égua quer agora tapar o ‘buraco’ com cimento!”.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

BOINHO, O POETA DA RUA



Francisco Inácio Ferreira era o nome de batismo de "Boinho" como era mais chamado com carinho, na cidade de Assu, Terra dos Poetas. Tipo baixo, cordial. Ele era funcionário público municipal aposentado (gari de profissão). Encantou-se, foi fazer versos no outro lado.
Poeta popular de versificação fácil. Carregava um caderninho e uma caneta, fazendo versos e mais versos amorosos, aproveitando os temas que a cidade inspirava. Boinho revelou-se poeta já maduro. Deixou vários livros como ‘Estrada da minha vida’, 2003, com a colaboração da prefeitura da sua terra. E o poeta, na estrada da sua vida no seu próprio dizer, escreveu um dia, na sua melancolia, dizendo assim:
Hoje vivo torturado
Perdi tudo em minha vida
Perdi a jovem querida
Para falar do passado
Quando moço fui beijado
Vivo hoje nos escolhos
Sou tampa sem arrolhos
Velho gemendo com dor
Por causa de um grande amor
Molho com lágrimas meus olhos.
Afinal, a cidade de Assu, a cultura, a poesia popular do Assu ficou mais pobre e deserdada do seu talento, da sua arte de versejar. E o poeta querido do povo, externou certa vez em cinco versos:
Quando a gente se liquida
Irão botar nos jornais:
“Foi poeta querido”
Valor só quero em vida
Depois de morto não me serve mais.
Boinho morreu hoje, 5, aos 92 anos. O descanso eterno para Boinho!

(Fernando Caldas)

terça-feira, 4 de junho de 2024

A terceira guerra mundial

                       

  

Em vários lugares do mundo, já começou a terceira guerra mundial. Não será entre países, mas a guerra entre o homem e a natureza. Uma guerra que evidentemente não podemos ganhar.

Quando pensamos na natureza, pensamos nela de forma poética e telúrica. Mas terremoto é também natureza; tsunami também é natureza; seca, nevasca, chuvas torrenciais, avalanche – é tudo natureza. A natureza está agindo em legítima defesa. Ela não aguenta mais ser invadida, desrespeitada, queimada.

O que é o Rio Grande do Sul? É a morte anunciada de Gabriel García Márquez. Não vou escrever mais um texto ingênuo sobre o assunto. É tudo uma questão contábil: explorar a natureza é receita; preservação é despesa. E ninguém está disposto a pagar, nem o consumidor.

Mas o que tem a ver este texto “bicho grilo” neste jornal tão circunspecto? Tem tudo. Estive ano passado em Davos, sobre uma discussão sobre aquecimento global, e para meu estarrecimento e pânico, de uma mesa de 12 debatedores, 10 eram as grandes seguradoras do mundo. Elas tinham dados mais assustadores que o Greenpeace e sabiam avaliar as perdas catastróficas que aconteceriam a cada décimo de aquecimento global.

O aquecimento global é fato e fato econômico. Napoleão e Hitler perderam a guerra porque foram lutar contra um general chamado Inverno. Estamos entrando numa guerra que não podemos vencer. A devastação do Rio Grande do Sul é um drama humano: centenas de mortes humanas, milhares de mortes empresariais. Uma catástrofe fiscal, desempregadora.

Assisti a uma palestra no Itaú BBA Conference em Nova York de Al Gore, que fez o famoso documentário “Uma Verdade Inconveniente”. Hoje, ele poderia fazer outro documentário chamado “I Told You” (eu te disse).

Todos os leitores deste jornal estão ocupados em gerar e gerir patrimônio em sucessão familiar. Então eu chamo esta comunidade a pensar nos nossos filhos e netos. Seus filhos pequenos vão enfrentar um mundo muito difícil, nossos netos vão enfrentar um desastre.

Está na hora de ouvir quem mais entende de desastres climáticos: as seguradoras mundiais. Agora vamos colocar os pingos nos iis: o planeta não vai acabar, quem vai acabar são os seres humanos.

Você nunca se perguntou como o Titanic afundou? Como eles não viram um iceberg gigantesco? Simples: eles se achavam indestrutíveis. Não dá para negar que temos feitos avanços suficientes para gerar uma economia verde (que pode ser muito lucrativa).

Mas os projetos verdes devem ter processos de aprovação (que são infindáveis) mais céleres, muitos incentivos fiscais. O futuro precisa ter um fast track, o futuro tem que ser lucrativo. Chega de poesia.

Só se fala em inteligência artificial, mas a burrice anda mais rápido que a inteligência. A inteligência tem limites, a burrice não.

Os organismos multilaterais estão de mãos atadas por regras inoperantes. As ditaduras se movem muito mais rápido que a democracia, com suas infindáveis instâncias. E faltam Churchill e De Gaulles verdes.

No Rio Grande do Sul, a natureza não poupou ninguém. Os pobres perderam muito do pouco que tinham e os ricos, muito do muito que têm.

Este é mais um texto que os ricos não lerão porque estão cansados de textos assim e têm uma reunião hoje de manhã. Eles são regidos por um mercado sem alma. E os pobres não vão ler porque muitos não sabem nem ler.

A bomba atômica é um traque de São João. A caminho de Davos, vi, em pleno inverno, mas os mandatários não veem nem avalanches nem falta de neve porque estão no celular.

A natureza está avisando, tchê. Sirva nossa tragédia de aviso a toda a Terra.

Sou capitalista liberal. Gosto de dinheiro, de margem, mas não sou cego nem surdo. Senhores, estamos na primeira classe do Titanic.

(por Nizan Guanaes para o Estadão)



segunda-feira, 3 de junho de 2024

 

RECORDAÇÃO

Como está tão diferente a minha terra!
No meu tempo, era só brincadeira
Ninguém falava em guerra
Ninguém sabia,
Se existia
Diabo de alemão
Tudo era esperança!
- Como a vida nos cansa! -
E, como a saudade nos faz bem
Ao velho coração.
O prazer que contém
Recordar, vale tudo na vida!
Minha vida vivida: -
Meu jôgo de Castelo, a vaquejada,
O brinquedo de arraia...
Ah! velho tempo mau!...
Que saudade danada,
Do cavalo de pau.
Tudo era esperança...
Minha mestra França,
A palmatória...
Quem me dera de novo
Meu povo,
Uns bolos apanhar
Para poder de tudo recordar.

Vou contar uma história:
O Circo de Sansone,
- Alvo como madapolão -
Estava armado,
Como um funil de pano emborcado,
Bem no meio da Praça da Proclamação.
No dia do espetáculo,
- Um obstáculo,
Veio de encontro a mim -
Minha avó não podia - coitada,
Por falta de dinheiro
Pagar a minha entrada.
Terrível desengano!
Que fazer?
Fui forçado a meter,
A cabeça, por debaixo do pano.
E lá dentro, que alegria taful!
Um bocado de gente,
Assim na frente,
Dava alguns vivas ao cordão azul.
Do outro lado,
Todo mundo gritava: o encarnado.
Depois, a artista do azul apareceu.
A platéia, toda estremeceu.
Então,
Um cidadão,
Fez um discurso danado de comprido
E, entregou à mocinha,
Um bonito vestido;
Ela, agachou-se toda e saiu.
De repente,
Como se fosse uma alvorada,
Bem na frente,
Uma outra surgiu.
No meio do picadeiro,
A morena estacou.
Todo mundo vivou...

Um velho jornalista,
- Nesse tempo era moço -
Fez, para a artista morena,
Um discurso colosso.
Ao terminar sua linda oração,
"Curvou-se reverente"
E foi beijar-lhe a mão.
... Eu fiquei despeitado.
Não dei nem mais um viva
Ao cordão encarnado.
Fiquei disiludido...
A morena bonita não ganhou
Nem sequer um vestido.
O encarnado apanhou!...
Mas, o tempo passou...
Toda gente esqueceu!
Menos eu.
Naquele tempo, o encarnado venceu.
Quinita,
A morena bonita,
Morena sensação,
Ganhou da inteligência,
Um beijo, em sua mão.

Renato Caldas

domingo, 2 de junho de 2024

CHÁ  COM BOLACHA

Antônio Josino Tavares, ou "Caboré," como era mais chamado na cidade de Assu e região, era vaqueiro, negociante de gado, corredor de vaquejada, boêmio, glutão famoso. Tipo baixo, voz grave. Caboré era primo de meu avô materno chamado Fernando Tavares (Vemvem), bem como, se não me engano, irmão ou sobrinho de Luiz Tavares, figura muito conhecida em Natal, pelas suas peripécias. Pois bem. Certa vez, Caboré viajando com destino à cidade de Natal, chegou num restaurante à beira da estrada onde costumava almoçar quando em viagem a capital potiguar, sentou-se numa das mesas daquele recinto e logo pediu ao garçom que lhe trouxesse comida para seis pessoas. Carne seca, feijão verde, batata doce, arroz, cuscuz, era o seu prato preferido. Comeu tudo sozinho, além de três pratos de coalhada com rapadura do brejo, ainda mais, queijo de coalho com mel de engenho. Logo após o almoço, ainda sentado na cadeira, começou a dormir. Mergulhado no sono, roncando muito alto, o dono do restaurante preocupou-se com aquela roncaria de Caboré e, ao se dirigir ao antigo cliente, acordou-o em voz alta dizendo: "Caboré. O senhor está passando mal! Quer tomar um chá?" Caboré ainda esfomeado, saiu-se com essa: “Meu amigo. Só se for com bolacha!"

Fernando Caldas 



 

sábado, 1 de junho de 2024

Não existe maior penar,
E nem dor mais renitente:
Do que a gente gostar
De quem não gosta da gente.
RC

 Assu Antigo

TRÊS TIRADAS DE BONZINHO
1 - "Bonzinho" (não sei do nome de bastismo dele) era filho de Joca Marreiro. Certo dia, bebendo num bar da cidade, foi surpreendido por seu seu pai que lhe convidou para ir pra casa, pois já estava embriagado. Bonzinho aceitou o convite e filosofou: "Papai, vá na frente que o mundo tá cheio de gente ruim!"
2 - Certo dia, Bonzinho fora solicitado por certo viajante que fazia a praça de Assu, para comprar uma caixa de charuto. Aceitou fazer o favor, porém, no primeiro bar que encontrou, tomou umas dozes de cachaça gastando todo o dinheiro daquele vendedor de produtos que, demorando muito Bonzinho voltar, tomou outro destino. Meses depois aquele mesmo viajante retornou ao Assu e, logo dá de cara com Bonzinho. Não deixando para depois, indagou: "Você é aquela pessoa que meses atrás eu pedi para comprar uma caixa de charuto? Bonzinho não se fez de rogado: Foi, meu senhor. Quer mandar comprar outra!
3 - Bonzinho fazia mandados para ganhar um trocado. Pois bem. Certo dia, no Bar de Ximenes (era um bar e casa de jogo de cartas - baralho - muito frequentado pelos mais abastados da cidade assuense). Um dos seus assíduos frequentadores era Walter de Sá Leitão que não perdia a oportunidade para fazer um gracejo, dizer um dito espirituoso ou fazer uma prezepada, no bom sentido. Disse Walter: "Bonzinho. Vá alí na esquina da prefeitura e veja se eu estou lá!" Bonzinho na sua esperteza, saiu-se com essa: "Seu Walter, me dê o cabresto, se o senhor estiver lá, eu trago!"
(Fernando Caldas)

quinta-feira, 30 de maio de 2024

PANELA DE BARRO

Walter de Sá Leitão era uma figura humana espirituosa, chistosa. Por sinal, além de meu tio afim, era meu padrinho de batismo. Pois bem. Aos sessenta e poucos anos de idade, doente, é surpreendido por um amigo em sua casa. “Olá, Walter como vai de saúde?” Interrogou o amigo. Walter, sem nem pestanejar, saiu-se com essa: “Olá, amigo. Estou aqui me acabando pelo ‘fundo’, feito panela de barro!”

(Fernando Caldas)
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e sorrindo


De: Assu Antigo

MANÉ RAPOSA, A ESTRELA DO MUNICIPAL


Manoel Balbino dos Santos, 60 anos, casado com Raimunda Maria de Souza, pai de três filhos, nasceu em Timbaúba, Ipanguaçu, veio para o Assu com quatro anos morar com os avós. Estudou até o ginásio no Ginásio Pedro Amorim, concluindo em 1972.

O primeiro emprego foi como padeiro de Jaime de Antônio Carneiro, depois com Tarcísio da Sorveteria, em seguida (1967), ingressou como vocalista na Banda de Seu Cristóvão, “Os Professores”. Aí vieram: Sambrasa (Caicó), Fórmula 5 (Macau), The Love (Lages), Alta Tensão (Sapé-PB), Perdidos e Achados (Mossoró), Brasa Samba Show (Assú). Sempre vocalista.

Atualmente Manuel não exercita mais essa atividade, se limitando a ficar em casa com a esposa, que é aposentada, ele não, e a enviar “bilhetes” para amigos quando tem alguma dificuldade. Mora na casa numero 1738, na rua 24 de junho vizinho a AABB.

Você desistiu de ser interprete. O que deu errado? “Um arrependimento. Foi só uma oportunidade que eu tive de gravar com Roberto Muller, ele quis me levar, eu não fui. Isso contribuiu muito para não dá certo. Foi o meu primeiro erro na carreira, em 1972, aqui em Assu.

Mesmo com esse arrependimento, continuou cantando? Continuarei. Era minha vida, né? O conjunto era melhor do que vestibular em conjunto nunca me decepcionarei.

Mané Raposa, como surgiu esse nome? A gente vinha de um jogo em Jucurutu num carro tipo Pau-de-arara fomos jogar lá aí, de lá pra cá, eu me levanto e grito: Lá vai uma raposa! Todo mundo olhou e ninguém viu. Daí pra cá, Chico Lamparina e outros me batizaram de “Mané Raposa”. Hoje se perguntarem quem é Manoel Balbino, ninguém sabe.

E quanto a “Mané Fox!’ Foi a turma do Municipal; Ronaldo, Lourinaldo, Jaques sobrinho de Chico Lamparina e outros... Abrahão que está no Canadá, Olegário de Seu Ademar do Correio que era professor de inglês... eu não sabia não, mas depois me disseram que fox era raposa, raposa em inglês, mas num pegou não. Até hoje, graças a Deus, a raposa é mais forte.

Quando foi o auge e Mané Raposa? De 70 a 85 quando acabou a Roda de Samba.

O que você ganhou nessa época. O que tirou de positivo? As amizades que eu tenho, eu ganhei com a música. Gilvan, eu vou dizer uma coisa a você: tem um amigo meu em Macau, fui tocar uma vez lá, assim que tinha surgido “Mar de rosas.” Eu cantei 25 vezes numa festa só pra esse senhor, ele era estivador, eu cantava, ele fazia assim (faz gesto) com o dedo. Eu cantava de novo. Até hoje é o maior amigo que tenho em Macau. Seu Gino.

Como era cantar em inglês, sem saber inglês? Decorava a pronúncia e a melodia. Pronto. Cantava por intuição. Eu dizia uma coisa, as pessoas entendiam outra. Mas, eu acho que isso nunca existiu não.

Está a quanto tempo fora de banda? Desde 1985.
Segundo Barrinho, companheiro de roda de samba e farra, você já se despediu da vida artística 16 vezes, vai ter outra? Todo ano, né? Enquanto tiver voz.

Que história é essa dos bilhetes? É assim: as vezes eu não quero falar no seu ouvido na frente de alguém, aí escrevo um bilhete com aquilo que tô necessitando, você ler e me atende. Né certo?

Quem são as pessoas mais endereçadas, você pode dizer? Ah! A pessoa que recebeu mais bilhete foi Rivanildo do Cartório. Perdi a conta. Depois dele, Quinha de João Branco, Batistinha do Jogo do jogo do bicho e outros. Agora quero ver bandas, tá com amigos e gosto muito de Djavan. É.

(Entrevista de Gilvan Lopes. Revista Reboliço, n. 17, janeiro, fevereiro e março, 2008) 

quarta-feira, 29 de maio de 2024

 Assu Antigo


UM POUCO SOBRE LULUDA

Maria de Lourdes Moura era o nome de batismo de Luluda. Lembro-me dela desde os tempos que trabalhava no Segundo Cartório de Registro, até o ano de 1967, cujo tabelião era João Germano que funcionava ao lado da praça da Matriz onde hoje mora Zélia Tavares.
Luluda era uma figura humana muito querida na cidade. Pena que se encantou ainda no início da sua maturidade. Convivi com ela desde os tempos da minha adolescência, durante quase quarenta anos, trabalhando com meu pai Edmilson Caldas na importante Cooperativa Agropecuária do Vale do Açu, desde os tempos que aquela instituição funcionava como Banco Rural do Açu, ali na rua São João, ao lado do Sobrado conhecido com Sobrado de Sebastião Cabral.
A sua simplicidade lhe fez esconder a sua arte de poetar, revelando-se poetisa já na sua maturidade. Por sinal, alguns dos seus sonetos clássicos e amorosos, de versificação fácil, viraram canções, musicados e interpretados por seu sobrinho Judson, além de gravados e publicados em jornais do Assú.
Por fim, os versos de Lourdes Moura são recheados de amores e verdades. Vejamos o soneto Quisera, do seu livro de estreia intitulado “Voou Livre, 2007, também publicado numa antologia póstuma intitulada Despedida, 2024, organizado pela escritora Isabel Firmino, que diz assim:
Quisera eu dizer-te que sinto
Mas não posso e jamais o farei.
Por teu amor lutei e ainda resisto,
Não quero perder-te, senão morrerei.
Por mais que procuro te esquecer
Cousa que nunca eu consegui,
Mas sentia o meu amor crescer
Mas hoje sinto o que me iludi.
Iludi-me, sim, porque sempre tentei
Esquecer de um amor, que nunca procurei
Saber se me amava ou se me enganava.
E agora muito sofro a pensar,
Que um dia, não queiras me amar,
E que nunca a me amar procurou.
(Fernando Caldas)



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