quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

MEUS OLHOS

(...) Meus olhos são uns olhos para não se ver
Ninguém para ver meus olhos
Meus olhos são uma tarde, meus olhos são uma tarde para sempre entardecer.

João Lins Caldas

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

POESIA

ORGULHO

És orgulhoso e altivo, também eu...
Nem sei bem qual de nós o será mais...
As nossas forças são rivais:
Se é grande o teu poder, maior é o meu...

Tão alto anda esse orgulho!... Toca o céu.
Nem eu quebro, nem tu. Somos iguais.
Cremo-nos inimigos... Como tais,
Nenhum de nós ainda se rendeu...

Ontem, quando nos vimos, frente a frente,
Fingiste bem esse ar indiferente,
E eu, desdenhosa, ri sem descorar...

Mas, que lágrimas devo àquele riso,
E quanto, quanto esforço foi preciso,
Para, na tua frente, não chorar...

Virgínia Victorina
(Poetisa portuguesa)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

PAPAI NOEL


MONÓLOGO DO NATAL

Por Aldemar Paiva*

Não gosto de você Papai Noel.
Também não gosto desse seu papel
De vender ilusões a burguesia.
Se os garotos humildes da cidade,
Soubessem do seu ódio à humanidade.
Jogavam pedras nessa fantasia!

Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa e me tornei rapaz,
Sem esquecer no entanto o que passou.
Fiz-lhe um bilhete pedindo um presente,
A noite inteira eu esperei contente,
Chegou o sol e você não chegou.

Dias depois, meu pobre pai cansado
Trousse um trenzinho velho, empoeirado,
Que me entregou com certa hesitação.
Fechou os olhos e balbuciou:
"É pra você... Papai Noel mandou..."
E se esquivou contendo a emoção.

Alegre e inocente nesse caso,
Pensei que meu bilhete com atraso
Chegara às suas mãos no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu,
Deu muitas voltas, meu pai sorriu
E me abraçou pela última vez.

O resto só eu pude compreender
Quando cresci e comecei a ver
Todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse, a medo:
"Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro na cidade".

Dei-lhe o trenzinho quase a soluçar,
E como quem não quer abandonar
Um mimo que lhe deu quem lhe quer bem,
Disse medroso: "Eu só quero ele...
Não quero outro brinquedo, quero aquele
E por favor, não vá trocar meu trem".

Meu pai calou-se e pelo rosto veio
Descendo um pranto que eu ainda creio,
Tão puro e santo, só Jesus chorou.
Bateu a porta com muito ruído,
Mamãe gritou, ele não deu ouvidos,
Saiu correndo e nunca mais voltou.

Você Papai Noel, me transformou
Num homem que a infância arruinou,
Sem pai e sem brinquedos. Afinal,
Dos seus presentes, não há um que sobre
Para a riqueza do menino pobre
Que sonha o ano inteiro com o Natal!

Meu pobre pai doente, mal vestido,
Para não me ver assim desiludido,
Comprou por qualquer preço uma ilusão:
Num gesto nobre, humano e decisivo,
Foi longe pra trazer um lenitivo,
Roubando o trem do filho do patrão.

Pensei que viajara. No entanto
Depois de grande, minha mãe, em pranto,
Contou-me que fora preso. E como réu,
Ninguém a absolvê-lo se atrevia,
Foi definhando, até que Deus um dia
Entrou na cela e libertou pro céu!

*Aldemar Paiva é jornalista, poeta, escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras, animador cultural, radialista, apresentador do programa "Pernambuco Você é Meu", da Rádio Clube de Pernambuco. Paiva gozava da amizade com o poeta assuense Renato Caldas, a quem sempre visitava quando de passagem para. Paiva, sempre declama os poemas do velho poeta assuense, falecido em 1991, através daquela rádio da terra pernambucana.




sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

VIRGÍNIA VICTORINO

Virgínia Victorino, poeta sonetista e dramaturga portuguesa de Alcabaça. Nasceu no dia 13 de agosto de 1898 e faleceu em 1967. Por sinal, o amargurado e amoroso poeta potiguar, também sonetista, chamado João Lins Caldas, era um dos seus admiradores de Virginia. No dia em que veio a falecer em 1967, conta-se que estava a ler o livro sobre o título "Apaixonadamente", daquela poeta lusitana autora do livro "Namorados, já em quatorze edições. A primeira é de 1918. De Virgínia conta-se que ela "foi amada e odiada ao extremo". Seus versos são recheados de melancolia. e paixão. Transcrevo adiante o soneto  sob o título "Renúncia", que diz assim:

Fui nova, mais fui triste... Só eu sei
Como passou por mim a mocidade...
Cantar era o dever da minha idade!
Devia ter amado e não cantei...

Fui bela... Fui amada e desprezei
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade...
Devia ter amado e não amei...

Si de mim!... Nem saudade, nem desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis perder...

E o que me resta?! Uma amargura infinda...
Ver que é, para morrer, tão cedo ainda...
E que é tão tarde já, para viver!...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

POESIA

Só faltam usar maçarico
Instrumento de arrombar
E o povo fica a clamar
É pena o Brasil tão rico!
Com essa gente eu não fico,
Quero servir de espião,
Mas, todo esforço é em vão,
Roubam mesmo sem respeito,
Para o Brasil não há jeito
Com tanto filho ladrão.

Luizinho Caldas

AMÉRICO SOARES DE MACEDO

O bardo assuense Américo Soares de Macedo era membro de uma família vocacionada para a poesia. Publicou em 1939, dois livros sob o título "Sombras" (sonetos) e "Motes e Glosas". Daquele último volume, está transcrito a décima (glosa), que diz asim:

Ante o prazer me detive,
Gosei a vida um momento,
Depois veio o desalento,
Assim vive, quem não vive.
De sofrer, não me contive,
Procurei então saber,
Se a gente deve morrer,
Por não achar neste mundo,
Um amor firme e profundo
Com quem deseja viver.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"DIO COME TI AMO"


O filme intitulado Dio come ti amo, na minha observação, foi o filme que mais rodou na telinha do Cine Theatro Pedro Amorim, de Assu (1966,67,68, 69,70). É o meu filme favorito. Relembra a minha adolescência prazenteira e feliz, na minha cidade então provinciana chamada Assu. O filme é dirigido por Miguel Iglesias e a canção Dio come ti amo, é de Domenico Modugno. Gigliola interpreta além daquela canção, No ho lé´tà, dentre outras.. Gigliola (Gigliola di Francesco), a protagonista, é uma jovem inocente e bela, de família pobre que se apaixona por um jovem rico chamado Luis (Mark Damon), noivo de sua melhor amiga. Vejam o vidio do filme que levou multidões às salas dos cinemas.

"O ASSÚ É +"

Da esquerda para a direita: Mara Betúlia de Sá Leitão Boettcher (brasileira, potiguar de Assu), acompanhando a senadora (natural de Chicago) do Estado de Nova Iorque, Hillary Clinton. Hillary já foi primeira-dama dos Estados Unidos na qualidade de esposa do ex-presidente Bill Clinton. É pré-candidata a presidente por aquele país, pelo Partido Democrata. Fica o registro desta ilustre assuense, que atualmente mora em East Lansing, Michigan (EUA). Ela, Mara, é filha do ex-prefeito do Assu/RN, Walter de Sá Leitão que hoje empresta o seu nome a universidade daquela terra assuense. É por isso que eu concordo com o jornalista Alderi Dantas, com a sua campanha que tem como lema: "O Assu é +".
Eu conheci o senador Dinarte Mariz (1903-1984) nos idos de sessenta, numa concentração pública na cidade de Assu, de passagem para Mossoró, candidato ao governo do Rio Grande do Norte. Me lembro que ele usava paletó de linho Braspérola de cor bege. No Assu, ainda menino, já metido a gente grande, eu pelas saía pelas ruas da cidade, distribuindo fotografias (propagandas) daquele "velho senador do coração do povo", como ele era chamado pelos seus correligionários, pelos Norte-rio-grandenses. Sobre ele, diz o poeta matuto Renato Caldas, num verso: "Dinarte, velha aroeira que sustenta a cumeeira do Rio Grande do Norte". Eu tive o prazer de ter sido convidado, salvo engano, em 1983, para a sua festa de aniversário (naquele tempo eu era vereador do Assu), seus 80 anos de idade, que aconteceu na cidade de Caicó. Foi a maior festa que eu já vi no sertão, com a presença do deputado Paulo Maluf. Dinarte era amigo leal, decidido. Para falar com ele, fosse no palácio do governo ou na sua residência, era a maior facilidade. Conta-se que certa vez, seu compadre e prefeito de Serra Negra do Norte, chamado Euclides, no tempo em que ele, Dinarte, era governador, chegou à sua casa no instante em que ele se encontrava no banheiro, fazendo suas necessidades fisiológicos. Aquele prefeito apressadamente logo se aproximou do WC, bateu na porta e foi direto ao assunto: "Compadre Dinarte, é sobre a nomeação daquele nosso amigo". Dinarte sentado no vaso sanitário logo pediu caneta e papel a sua secretária, e ali mesmo despachou autorizando com um simples bilhetinho, a nomeação do amigo do prefeito que, ao sair daquela residência oficial, saiu-se com essa: "Dinarte é governador até cagando!" Para risos dos circunstantes.

sábado, 13 de dezembro de 2008

COMENTÁRIO SOBRE O RENOMADO ESCRITOR POTIGUAR WASHINGTON ARAÙJO

Fernando,

Fiquei bem emocionado com a leitura do texto do Washington. Ele escreve como ninguém. E passa muita sinceridade, coisas pouco comum com pessoas já renomadas. Tenho acompanhado seus comentários diariamente na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e na Rádio Câmara de Brasília. Seus textos no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, são também primorosos. Não entendo como ele ainda não foi intimado a integrar a Academia de Letras do Rio Grande do Norte, se já é da Academia do Distrito Federal e tem tantos prêmios no currículo. Foi muito bom ver que seu maior impulso partiu da Maria Eugênia Montenegro. Àrvores boas produzem bons frutos. Essa dona Gena pode ter produzido muita coisa boa mas ter influenciado tão fortemente o Washington é um dos seus frutos mais saborosos. Parabens pelo seu site!!! Quando puder me envie o email do W. Araújo e o endereço do blog dele.

cavijunior@bol.com.br

Em tempo: cavijunior, ainda hoje informo o endereço eletrônico de Washington - esse potiguar "cidadão do mundo" -, que tem bagagem literária suficiente para dar vender e emprestar, como se diz aqui no Nordeste. Agora, me faz lembrar uma frase do grande pintor e cronista norte-riograndense chamado Newton Navarro, que diz assim: "É tempo de lembrarmos mais dos nossos escritores, não deixar para depois, para mais tarde". Obrigado pelo elogio ao meu blog e, ao meu conterrâneo do Assu que o Brasil consagrou, chamado Washington Araújo.

Fernando Caldas

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

POESIAS

POEMETO

A lua que me dirão?
Precisa talvez de irmão.

Eu sou tão só sobre a Terra,
Tanta luta, tanta guerra...

A lua, que me dirão?
Se a Lua precisa irmão
Eu já que abandono a Terra.

João Lins Caldas

POEMA

Venham comigo poetas...
Venham com a alegria desta terra...
Não me venham com lágrimas na voz...
Tirem a venda dos olhos
E olhem com os olhos alegres
Todas essas paragens de morros e de sol...
Todo esse verde buliçoso de coqueiros.

Jorge Fernandes
(poeta natalense)

(Continuo com mais poesias mais tarde).

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

WASHINGTON ARAÚJO, "CIDADÃO DO MUNDO"

O escritor potiguar Washington Araújo é, salvo engano, natalense. Seu avô paterno Venâncio Zacarias foi prefeito de Macau (região salineira, litoral do Rio Grande do Norte) por várias mandatos. Seu pai Adonias Bezerra de Araújo, macauense, chegou na cidade de Assu no começo da década de setenta, nomeado coletor da fazenda estadual. Adonias foi diretor do importante Ginásio Pedro Amorim, daquela terra assuense. Pois bem, Washington Araújo viveu parte da sua infância e começo da juventude na aristocrática cidade de Assu, onde conviveu com a imortal da Academia Potiguar de Letras, Maria Eugênia. Washington estudou no Colégio Nossa Senhora das Vitórias (um dos melhores educandários do interior do Estado). Depois que deixou o Assu, para trabalhar no Banco do Nordeste, estreou bem nas letras brasileiras, no mundo literária, publicando o livro sob o título "Estamos Desaparecendo da Terra", já em terceira edição na Espanha. Aquele volume, segundo depoimento do missionário, poeta , escritor e bispo católico catalão chamado Pedro Casaldáliga, que viveu ou ainda vive na Amazônia, defendendo as injustiças sociais, diz que o volume daquele escritor Norte-riograndense, "deveria ser a Bíblia dos povos Indígenas nas Américas". Pois bem, Washington além de escritor, é jornalista, colabora em importantes revistas e jornais do Brasil, como O Globo, Jornal de Brasília, dentre outros do país, bem como é autor de mais de dez livros publicados no Brasil e até no exterior. Ele é sempre convidado para proferir palestras pelo Brasil afora. Será que é a toa que ele é membro da Academia de Letras do Distrito Federa (Brasília), do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Da Bahia, do Rio Grande do Norte e de tantas outras instituições culturais do Brasil?
Recentemente ele acessou este blog (que organizo e escrevo de forma simples e despretensiosa), fazendo um comentário a propósito da escritora Maria Eugênia Montenegro, com quem ele conviveu na intimidade, que transcrevo para o nosso deleite adiante:

Dona Gena - Porque nem todos morrem

Tinha 12 ou 13 anos de idade e minha família foi morar na calorenta Assu. Nossa casa ficava ali na praça central da cidade, a Getúlio Vargas. A vida social da cidade girava em torno desta praça. O programa noturno tanto de jovens quanto de idosos era passear pela praça. Pois bem, em um sóbrio casarão de paredes azuladas vivia dona Gena - diminutivo carinhoso para um nome pomposo: Maria Eugênia Maceira Montenegro. Era casada com doutor Nelson Borges Montenegro, um agrônomo formado em Lavras, cidade mineira onde iria conhecer Maria Eugênia. Um sujeito igualmente formidável: parcimonioso, ensimesmado, leal e amigo. Não sei se foi no verão de 1971 ou de 1972 que com a mudança de Macau para Assu vim a conhecer "estes montenegros" Mas sei, com enorme certeza, que ter conhecido dona Gena, ainda adentrando na adolescência, foi provavelmente a força mais importante a impulsionar meus anos vida afora. É que ela era uma poeta, com diversos livros publicados. Uma intelectual enclausurada na província e mais ainda, em uma diminuta cidade de um dos estados mais pobres do país. Era além de poeta, cronista, pintora. Sendo seu marido de tradicional família de líderes políticos da região não haveríamos de nos admirar que dona Gena também respirasse política. E assim foi prefeita da ainda menor cidade de Ipanguaçu. Ela gostava de música clássica, de ópera. Seu apreço pela arte dramática era tal que chegou a escreve. algumas peças e, como autoridade municipal, criou e depois ampliou um incipiente Teatro Sandoval Wanderley. Certo dia, vendo que já era chegado à literatura, dona Gena me convidou para organizar sua biblioteca particular. O trabalho consistia em catalogar todos os nomes dos livros com seus respectivos autores e depois etiquetá-los. Foram quase três meses de trabalho vespertino: pela manhã estudava no Colégio Nossa Senhora das Vitórias e a tarde me enfurnava com livros na casa de dona Gena. Não era raro que tinha como fundo musical de algumas óperas de Verdi, como La Traviatta. Os livros passaram a me ser familiares. Conheço Victor 
Hugo e Alexandre Dumas, Júlio Verne e Leon Tolstoi, Charles Dickens e Mark Twan. Hoje, reparo que não me lembro de quase nenhum autor brasileiro frequentando a biblioteca da dona Gena. Algumas vezes, naquele momento em que a tarde se vai e a noite principia, ficava muito feliz com dona Gena lendo para mim trechos de um novo livro ou versos de uma poesia ainda inconclusa. Ela criava e depois queria receber algum sinal de aprovação. E caminhava pela casa, uma casa grande, com um viveiro de pássaros, sempre acompanhada de seu cachorro Dayán: Um dia me disse que o nome de Dayán havia sido dado pela semelhança do cachorro com o famoso general Israelense Moshe Dayán: o general tinha uma tapa-olho negro e o cachorro tinha um dos olhos circulado de preto, uma espécie de sinal de nascença. Naqueles anos - é possível que ainda hoje seja assim - era muito comum as pessoas colocarem cadeiras na calçada, para receber as visitas. Certamente que uma das rodas de conversas mais animadas de Assu era a calçada destes Montenegro. Os temas variavam muito, de política internacional a nacional e desta a estadual e local, depois tínhamos sempre pessoas recitando frases, fragmentos de poesias deste ou daquele autor. As cadeiras, dobráveis, ficavam empilhadas no primeiro ambiente, geralmente a sala de estar. Anoitecia e o programa da noite era ficar jogando conversa fora naquela calçada e observar as pessoas chegando, passeando e saindo a Praça Getúlio Vargas. Dona Gena bem conhecida por seu temperamento aéreo, desligado vamos dizer. E suas histórias já habitavam o folclore da cidade interiorana. Uma delas dava conta de haver comprado dois pares de sapato idênticos: havia esquecido que já adquirira um par na mesma semana. Outra mostrava sua estranheza por, ao lavar as mãos no lavabo, o sabonete não fazia surgir espuma. É que esfregava, distraidamente, as mãos com... a tampa da pia. Em uma noite maldizia esta ou aquela atriz da telenovela, considerando-a péssima artista e já na noite seguinte não economizava em rasgados elogios pela maestria da mesmíssima atriz. Sua resposta: "As pessoas podem mudar e eu mudei de opinião". Os muitos quadros a óleo por ela pintados também chamava a atenção do incauto observador. Num deles a figura eloquente de um anjo negro. Uma espécie de Saci-Pererê alado. Noutro, umas borboletas com uma espécie de pequenos chifres nas asas, obviamente, um erro de cálculo cometido enquanto pintava. Tinha imensa admiração pelo poeta João Lins Caldas, um assuense cinco estrelas. Lembro de um dia ter ouvido comentar, a respeito de Clarice Lispector: "Não gosto dessa escritora, com tantos assuntos para escrever um romance ela resolve colocar um personagem comendo uma barata?! As pessoas falam que esta Clarice é muito culta, mas essa eu não engulo não!" Mas sabia que nos anos à frente iria ter tanta intimidade com o texto de Clarice. Até meu mestrado na Universidade de Brasília seria sobre o último livro transposto´para o cinema. A Hora da Estrela. Conversávamos muito. Se existiu alguém por quem sempre dediquei profunda admiração esta pessoa foi dona Gena. Hoje, com uma dezena e meia de livros publicados, após ter viajado quatro dezena e meia de países, de ser membro de diversas instituições culturais, academias etc, vira e mexe pensando nos dias de dona Gena, nas conversas varando a noite em sua acolhedora calçada, nos sons de Verdi pontuado a solidão assuense. Quando do lançamento de meus primeiros livros em Natal, dona Gena veio me abraçar. Era sempre a mesma senhora de rosto sorridente e alma de criança prestes a aprontar alguma. Há alguns anos minha mãe me telefonou para dizer que Gena havia morrido. Já morava em Brasília. Nem que quisesse conseguiria chegar a tempo de me despedir. Como diria Clarice, não fui ao enterro porque nem todos morrem.

Termino este breve texto com a singeleza da poesia de dona Gena:

FLOR DO AMOR

Quero te ofertar a flor
Dos beijos que plantei em tua boca.
Tem o perfume suave do amor
E a ternura de almas se encontrando.

Quando vires a flor entreaberta,
Lembra - te, querido amor,
Das Lágrimas que a regaram.

E sentirás, quando beijá-la,
Um amargo sabor de sal
Que as pétalas trêmulas captaram.

MINHA PERSONALIDADE ESPECIAL - DR. FERNANDO EZEQUIEL FONSECA


Vilmaci Viana

FERNANDO EZEQUIEL FONSECA
Assuense nascido em 26 de abril de 1927, é filho de Dr. Ezequiel Epaminondas da Fonseca Filho e dona Maria Helena Nunes Fonseca. Foi alfabetizado no Colégio Santo Antônio de Natal - RN (dos Irmãos Maristas), cursando o científico no Colégio Pedro Augusto, em Recife / Pe. Em 1946, após sua aprovação no vestibular, matriculou-se na Faculdade de Medicina de Recife / Pernambuco, graduando-se em 8 de dezembro de 1951.
ATIVIDFADES: Dr. Fernando Fonseca (como é mais conhecido), foi cirurgião geral do então Hospital Miguel Couto e obstetra da Maternidade Escola Januário Cicco. Serviu durante muito tempo, como plantonista do Serviço de Pronto Socorro em Natal. Foi médico estagiário do Hospital das Clínicas em São Paulo / SP, em 1955, juntamente com o Dr. Edmundo Vasconcelos. Sumeteu-se a concurso de provas e títulos nomeado efetivamente, cirurgião Geral do IAPC, servindo, ao longo dos anos, no Ambulatório de Natal. Foi professor fundador da Faculdade de Medicina de Natal, onde exerceu a cátedra de Patologia Geral e Clínica. Foi quem primeiro chefiou o Departamento de Cirurgia da UFRN e membro do Conselho Universitário. Foi Diretor do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da UFRN. Frequentou, como médico visitante, a Universidade de Georgetown em Washington / EUA, convidado pelo Hoope. Credenciado pela UFRN visitou as Universidades de Coimbra / Portugal e Sorbone / França.
Durante a sua jornada profissional, Dr. Fernando Fonseca exerceu a medicina clínica em todos os hospitais de Natal, e no seu consultório à avenida Afonso Pena. É casado com a professora, escritora e artista plástica - Graziela Costa Fonseca - com quem teve quatro filhos e 12 netos. Foi admitido em Rotary Internacional desde 1958, presidindo seu clube rotário em dois mandatos.
Compareceu com sua esposa, às Convenções Internacionais de Rotary em Calgary / Alberta, no Canadá (1996), e em Glasgow, na Escócia, em 1977. É membro da Academis de Medicina do Rio Grande do Norte desde O6 de junho de 1995, ocupando a cadeira número 34. É autor de um livro em homenagem ao seu pai - Dr. Ezequiel Epaminondas da Fonseca - reeditado pela Livraria Clima.
(Transcrito do Blog: VIvi Eventos Culturais)

sábado, 6 de dezembro de 2008

O BRASIL DESCOBERTO POR ASSÚ

*Bruno Magalhães

Há uma coletânea de textos que eu estou degustando no momento, que já imaginava que me causaria imenso prazer em ler; mas não dimensionara o quanto. Estou lendo a "História do RN" em fascículos, da Tribuna do Norte (texto obrigatório para todos os potiguares leiam). Já no segundo fascículo, início da colonização, título "Prioridade Européia", subtítulo "Controvérsias Sobre a Presença Espanhola", tive o imenso prazer de notar a importância do Açu na história mundial, universal e interláctica. Está escrito que o Brasil foi realmente descoberto por Açu (morram de inveja). Antes de 1500, o navegador espanhol Alonso de Ojeda teria atingido o Delta do Açu no Rio Grande do Norte. Outro herói que atingiu o Rio Grande do Norte foi Diego de Lepe, que chegou à enseada do Açu antes de Cabral. Tudo comprovado e registrado por diversos e variados pesquisadores. Sendo assim, determino que a partir de hoje Açu seja declarado como ponto de descobrimento, e não Porto Seguro. Sugiro trocar o Hino Nacional pela supra-sumo do cancioneiro popular na letra de Renato Caldas, açuense da gema, com a canção "Reboliço" (segue texto abaixo). O pavilhão Nacional (Bandeira) terá que ter carnaúbas, assim como a bandeira da Atenas Norte-riograndense, com os dizeres "um pedacinho do céu dentro do mundo. Sete-de-setembro será dia 16 de outubro, quando os valentes portugueses escaparam da morte certa por canibalismo dos Janduís (tribo local) e declararam como terras do Senhor e fundaram a "Vila Nova da Princesa", nos idos de 1700 (se não me falha a memória).
Dessa forma, a cidade do Açu alcançará finalmente o lugar que de direito é dela e que foi surrupiado de maneira calamitosa por essa cidade insignificante e oportunista conhecida como Porto Seguro e, consequentemente, por toda a Bahia. Outro que merece o nosso mais total repúdio é esse ilustre segundo ou terceiro colocado na corrida para as Américas, Pedro Álvares Cabral. Um sujeitinho aproveitador e mesquinho que nem as glórias contemporâneas conseguiu para si. Os espanhóis descobriram o Brasil e foi por AÇU.
Tenho dito.

*(Bruno Magalhães é assuense, médico reumatologista em Natal)
Transcrito do jornal cultural "Reboliço", de Assu, outubro e novembro de 2005

CORTEZ PEREIRA, NO ASSU

Em data de 31 de julho de 1972, o governador Cortez Pereira esteve no Assu inaugurando uma usina de beneficiamento de cera de carnaúba, da Cooperativa Agropecuária do Vale do Assu Ltda - Coaperval. Da esquerda para direita, vejamos na fotografia abaixo, o Superintendente da Sudene general Evandro de Souza Lima, o deputado Edgard Montenegro, o governandor Cortez e o estudante Fernando Caldas. Fica o registro.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

BRAZÃO DO ASSU

Meu caro leitor assuense: Na minha observação, acho que o importante (me ufano em chamá-lo assim) mucípio do Assu, de antigas glórias, de tantas tradições, conhecida até internacionalmente, merece um brazão melhor graficamente trabalhado, que represente não somente a carnaubeira (economia principal há quase trinta anos atrás daquela região varzeana) e o marco da virada do século 1900, bem como a nossa economia atual, a cultura, os casarões centenários. Faço essa sugestão ao poder legislativo e executivo do município do Assu. Fica o registro.

ASSU DE ANTIGAMENTE

Antes da Praça do Rosário (que Edgard Montenegro construiu com os recursos da prefeitura e em cooperação com alguns comerciantes daquela terra assuense, inaugurada em 29 de julho de 1949, e Ronaldo Soares reconstruiu na sua administração e inaugurou em 16 de outubro de 1984), era assim, como está na fotografia acima.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O POETA "JOÃO DE PAPAI"

João Evangelista Soares de Macedo era o nome de registro de "João de Papai" que, como bom assuense gostava de tomar uma "pinga" ou melhor dizendo, "umas e outras. Nos idos de quarenta ainda na época da segunda grande guerra João se encontrava nun certo botequim da cidade e, ao tomar conhecimento do mais novo delegado do Assu chamado Revoredo (tenente da polícia militar que já tinha muita ligação com o povo assuense por ser ele, Revoredo, natural da vizinha cidade de Mossoró), escreveu a décima (glosa) que logo se espalhou pela cidade inteira, conforme transcrito adiante: 


Logo o tipo é muito feio
De cabra tem a mistura
Não pode ter compostura
Esse tenente que veio
Ontem veio muito cheio
Com Vem-Vem a conversar,
E eu de longe a escutar
As proesas que fazia
Em vista do que dizia,
Pra mim não pode prestar.


Tenente Revoredo ao tomar conhecimenteo daqueles versos, logo se dirigiu ao famoso bar de Ximenes, esquina com a prefeitura municipal daquela terra assuense e, ao chegar naquele recinte foi logo perguntando ao bardo glosador: "O senhor é o autor daqueles versos a meu meu respeito? " João não se deu por medroso. Tirou do bolço uma caneta e um papel de carteira de cigarros e alí mesmo produziu a glosa seguinte: 

De errar não tenho medo,
Nem temo ser contestado,
Dizendo é bom delegado
O tenente Revoredo.
E não se diga que é cedo
Pra exaltar o oficial,
Aqui não tem outro igual
Faz justiça em profusão,
Em qualquer ocasião
É bom, é firme, é leal.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O HISTORIADOR

O poeta, escritor e pesquisador potiguar do Assu, Celso da Silveira, morava em Natal desde os anos cinquenta, mas sempre ia a sua terra natal, rever familiares, amigos e, como não podia ser diferente, tomar "umas e outras". Pois bem, certo dia, estando naquela cidade dos poetas como ele próprio, tomou conhecimento através de um amigo que, no Mercado Público daquela terra assuense, existia um certo velho estabelecido naquele mercado que era metido a historiador e se dizia saber muitos sobrer o passado e o presente das coisas do Assu e sua gente. Celso, ao chegar no local de trabalho do referido historiador, foi logo perguntando: "Meu amigo, você conheceu o escritor Francisco Amorim, que era chamado por "Chisquito?" "Conheci, sim senhor!" "Sabe a data que ele faleceu"? Indagou Celso, novamente. "Tanto de tanto, de mil novecentos e tanto!" Informou o historiador. "E Cecéu, filha de Chisquito?" "Tanto de tanto, de mil novecentos e tanto"! E Celso, bonachão e gosador que era, para encerrar o assunto, fez a útilma indagação: "E Tarcísio Amorim, filho de Chisquito?" "Esse, meu amigo, morreu lá por Natal e faz muito tempo!" - Morau da história: Tarcísio Amorim mora em Natal (ele é engenheiro eletricista, funcionário aposentado do Incra) e gosa de uma boa saúde).

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"TALENTO DE HOMEM"

José Caldas Soares Filgueira ou Dedé Caldas, como era chamado na intimidade pelos assuenses, era uma figura folclórica que deixou muita falta ao Assu. Ele morava numa casa centenária da praça Getúlio Vargas. Vigilante permanente das acontecência daquela terra, contava que uma certa senhora chamada dona Maria, tinha casado uma filha que muito reclamava pela falta de conforto. Dedé, na sua especulação, aprofundou-se daquele assunto: "Ou dona Maria, a sua filha casou-se recentemente e a senhora comenta que ela não tem conforto? O que é que está faltando na casa dela?" "Dedé, na casa de minha filha tem de tudo: fogão, geladeira duplex, freezer, dormitório completo, tem até ar condicionado... um luxo, né?" Dedé ficou bastante ansioso: "Dona Maria o que é que a senhora entende por conforto?" Maria naquele seu jeitão grosseiro, fechou a mão, estirou o braço e usou o seu linguajar na forma mais direta: "Dedé, Conforto é talento de homem!". - São coisas que só no Assu, acontece!

MANOEL CALIXTO CHEIO DE GRAÇA E quem não se lembra de Manoel Calixto Dantas também chamado de "Manoel do Lanche?" Era um dos nosso...